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Dilemas de Uma Agroindústria Ultra Especializada em Uma

também agroindústrias, talvez a mais antiga forma de indústria da agricultura. Mas trata-se de uma agroindústria particular, tal como a agroin- dústria sucroalcooleira, que tem uma associação direta com a produção da matéria-prima. Sua es- pecificidade revela-se particularmente na sazona- lidade de seu funcionamento, que acompanha de perto a estacionalidade da produção de algodão. As algodoeiras trabalham apenas três a quatro meses do ano no beneficiamento de algodão, per- manecendo com suas estruturas subutilizadas nos demais meses. As empresas contratam mão- de-obra temporária para operar a safra, manten- do apenas o pessoal de escritório e de manutenção de equipamentos no restante do período. Nesse caso, para garantir o funcionamento no resto do ano, as algodoeiras funcionam como depósitos de pluma e, na maioria das vezes, adentram na co- mercialização, atuando como agentes atravessa- dores, comprando a safra na forma de algodão em caroço, beneficiando e vendendo pluma e subpro- dutos. Assim, para operarem doze meses, e não apenas três ou quatro, as algodoeiras passaram a constituir, no caso brasileiro, canais de comercia- lização, mesmo porque a capilaridade dessas es- truturas próximas da cotonicultura foi importan- te para fluir a produção, em especial nos períodos de expansão dos plantios.

As algodoeiras, em certas áreas do Sul-Sudeste, apresentam uma tendência de se tornarem sim- plesmente prestadoras de serviços aos cotonicul- tores, tal como ocorre nos grandes países produ- tores de algodão. Essa alternativa pode mostrar- se viável numa situação em que existam outras opções de atividade compatíveis, uma vez que o conjunto de equipamentos de beneficiamento de algodão não se presta ao benefício de outros pro- dutos agrícolas. Assim, nos custos de beneficia- mento não apenas deve estar embutida a depreci- ação global das máquinas por todo o período, mas também os gastos fixos dos meses de não- operação. Em outras palavras, ao não atuar como

comerciante de pluma após a safra, o proprietário das algodoeiras, de alguma forma, para sobrevi- ver, vai repassar, aos preços cobrados pelo servi- ço de beneficiamento, adicionais que compensem a inexorável ociosidade sazonal. Isso porque nem todas as algodoeiras são de empresas integradas para frente, atuando na fiação e tecelagem.

O segmento brasileiro das algodoeiras, como de- corrência dos efeitos da crise e das transforma- ções do complexo têxtil, enfrenta ao mesmo tem- po a necessidade de recompor-se, elevando os ní- veis de utilização dos equipamentos, e o desafio da modernização tecnológica e da alteração de sua função no complexo têxtil. Não é sem razão que suas principais lideranças têm sido solidárias às reivindicações dos cotonicultores nos enfrenta- mentos com a indústria têxtil. Não há como resol- ver a crise das algodoeiras sem a solução da crise da cotonicultura, que, por sua vez, envolve a ree- quação das relações internas de orquestração de interesses do complexo têxtil brasileiro, incluin- do a produção de matéria-prima como elemento estratégico.

Outro aspecto pouco ressaltado é o elevado in- vestimento global de montagem de uma unidade algodoeira, que, para os padrões medianos, gira em torno de US$ 5 milhões, enquanto uma unida- de sofisticada com processos informatizados e sucção direta alcançaria cerca de US$ 12 milhões. Numa realidade de crise e elevada ociosidade, tra- ta-se de inversões irrealizáveis mesmo para grandes grupos. Esses montantes aproximam-se dos níveis necessários para outros segmentos do complexo têxtil, como a fiação e a tintura- ria/acabamento. Não é sem razão que a maioria dos grandes grupos têxteis não adentrou o negó- cio de beneficiamento, montando, em vez de algo- doeiras próprias, excepcional estrutura comerci- al capaz de identificar agentes idôneos e garantir, desse modo, à indústria têxtil, a aquisição de ma- téria-prima na quantidade e qualidade necessári-

as a seus usos. No máximo, certos grupos operam com algumas unidades de beneficiamento para garantir um mínimo de matéria-prima e elevar o poder de barganha no mercado de pluma.

O desafio das algodoeiras, como de toda estrutu- ra produtora de algodão em caroço e pluma do Sul- Sudeste, está em ultrapassar esse quadro difícil em que se defronta com a concorrência desleal, tendo de suportar a entrada maciça de pluma es- trangeira, ancorada em condições favoráveis de financiamento. O nível de sucateamento da estru- tura produtiva das algodoeiras torna-se a cada ano mais expressivo, pelo abandono e não- realização de manutenção adequada. Por sua vez, a expansão da cotonicultura no Brasil Central tem propiciado a crença na inexorabilidade da in- viabilização da cotonicultura e, conseqüentemen- te, das algodoeiras do Sul-Sudeste. Assim, com a pecha de não-competitiva em custos e qualidade, aliada à menor produtividade, em razão da su- premacia das condições naturais de plantio e do clima estável das chapadas do Centro-Oeste, con- dena-se à morte e escreve-se antecipadamente o epitáfio de uma atividade que, até pouco tempo, era o exemplo maior do sucesso da modernização e orgulho nacional em termos de capacidade de geração de base técnica autóctone. Esses determi- nismos, da supremacia inexorável do mercado auto-regulável e do indelével fim da cotonicultura do Sul-Sudeste, causam arrepios à história. Pior ainda quando se verifica que, com base neles, abandona-se a atividade à decadência.

A análise da rentabili- dade e competitividade das algodoeiras, diante da

realidade vivida por essas agroindústrias nas úl- timas safras, deve levar em conta não apenas seus custos e receitas, operando à plena capacidade, mas também o resultado econômico efetivo des-

2.4 Rentabilidade e Competitividade das Al-