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2.2 Capital Social

2.2.1 Dimensões do Capital Social

2.2.1.1 Dimensão Cognitiva

A dimensão cognitiva assume um papel fundamental no entendimento da construção das redes organizacionais. É representada pelo compartilhamento de significados entre os membros que compõem as redes, isto é, suas interpretações e sistemas de significados incluindo a linguagem, os códigos e as narrativas compartilhadas (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998). As autoras também destacam a importância desta dimensão por acreditarem que ela representa uma série de avaliações pouco estudadas na literatura sobre o capital social no que se refere à teoria das organizações.

Por outro lado, a devida importância já é dada a esta dimensão pelos teóricos da estratégia organizacional (CONNER; PRAHALAD; GRANT apud RÉGIS, 2005). Esses autores entendem que o capital social, através da dimensão cognitiva, possibilita o desenvolvimento do capital intelectual, criando as condições necessárias para que a troca e o compartilhamento entre os atores.

2.2.1.1.1 Mapas cognitivos

Mapas cognitivos são entendidos por meio de uma metáfora, cujo sentido analisa a natureza do fenômeno “organização”. Weick e Bougon (1986, p. 102) afirmam que: “as organizações existem largamente na mente, e sua existência toma a forma de mapas cognitivos, nesse sentido o que une uma organização é o mesmo que vincula, ou coloca junto, pensamentos”. Para Laukkanen (1992), os mapas cognitivos servem como instrumentos que demonstram as informações orais ou escritas que expressam afirmações, explanações, regras, dentre outros, de forma que se possa acessar os pressupostos do investigado, mesmo que o mesmo tente esconder.

Segundo Nicolini (1999, p. 836), a utilização pelos pesquisadores dos mapas cognitivos nos estudos das organizações poderá ser uma das táticas possíveis para representar cognições sociais. “Mapas poderiam ser considerados apenas instrumentos de descrição e representação que ajudam na discussão e análise de alguns modos de pensamento e explicações dos eventos”. Assim, o trabalho de mapear estruturas cognitivas envolveria “explorar as maneiras pelas quais essas entidades representacionais são unidas, transformadas ou contrastadas”.

2.2.1.2 Dimensão Estrutural

É possível, através da dimensão estrutural, observar características marcantes como centralidade dos atores, força dos laços (laços fracos e fortes) e densidade.

A dimensão estrutural do capital social trata dos aspectos estruturais dos relacionamentos entre os atores da rede e pode ser analisada a partir de dois diferentes ângulos: o aspecto da configuração da network e a perspectiva dos laços da network (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998), como já apresentados na Figura (4), e descritos a seguir.

2.2.1.2.1 Configuração da Network

A apreciação da dimensão estrutural, quando se analisa a configuração da

participantes. Pode-se destacar como exemplo, a conectividade entre os membros das redes existentes em APLs de empresas que é usualmente constituída através de relações interpessoais informais (INKPEN; TSANG, 2005). Em termos de densidade, Inkpen e Tsang (2005) também exemplificam que nos APLs de empresas, as redes são normalmente densas e não hierarquizadas, chegando a haver sub-grupos coesos, conhecidos na literatura como cliques.

É possível realizar uma avaliação básica da estrutura de uma rede social mediante a análise da densidade e da centralidade desta rede, já conceituados anteriormente. A densidade significa o número de ligações existentes com relação ao número de ligações possíveis (SCOTT, 2000). A centralidade é a medida de quão acessível um determinado ator está para os demais atores da rede e depende do padrão de distribuição, ou da maneira como os diversos atores estão interligados. A centralidade, além de medir a acessibilidade de um indivíduo, mede o número de caminhos de comunicação que passam por ela (MARINHO-DA-SILVA, 2003).

2.2.1.2.2 Laços da Network

O conceito de laços da network diz respeito às maneiras como os atores estão relacionados entre si, especificamente com relação à proximidade do relacionamento (RÉGIS, 2005).

Granovetter (1985) traz uma contribuição importante ao considerar que nem sempre as redes sociais detentoras de ligações fortes entre seus membros são as mais adequadas. O autor qualifica dois tipos ligações: os “laços fracos” e os “laços fortes”. Laços fortes são aqueles que se caracterizam pela intimidade, pela proximidade e pela intencionalidade em criar e manter uma conexão entre duas pessoas. Os laços fracos, por outro lado, caracterizam- se por relações esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade.

Laços fortes constituem-se em vias mais amplas e concretas para as trocas sociais (WELLMAN apud RECUERO, 2005), enquanto os laços fracos possuem trocas mais difusas. O primeiro envolve uma elevada dose de tempo e um esforço maior dedicado à relação, existindo aspectos como a reciprocidade, a feição emocional e a confiança. Já os laços fracos envolvem transações pontuais em que não há tanta preocupação com a reciprocidade e a confiança, porém, servem como

“pontes” para aumentar o fluxo e a abrangência de informações numa rede de relacionamentos mais ampla (GRANOVETTER, 1985).

Os laços fortes fornecem confiança e troca de informações, que podem ser confidenciais ou não, mas sempre importantes para a organização. Estas são discutidas e confrontadas com a realidade organizacional e com os processos de mudança existentes. Daí a importância da visualização da network e os laços fortes existentes, pois estes, se bem trabalhados facilitarão o entendimento, participação e colaboração dos atores da network na implementação das mudanças organizacionais necessárias (KRACKHARDT, 1992).

A força de um laço é caracterizada como inter-relacional, numa combinação de tempo, de intensidade emocional, de intimidade (confiança mútua), e das atividades recíprocas que caracterizam o laço. Os laços podem ser considerados como fortes, fracos ou ausentes.

Ao considerar duas pessoas quaisquer relacionadas arbitrariamente e outro conjunto de pessoas, onde todos os indivíduos têm ligações com cada um deles ou com os dois, percebe-se que existe sobreposição em seus círculos de amizade, resultando, primeiro, na tendência de que, quem tem os laços mais fortes, envolve maiores compromissos de tempo. Fica subentendido a idéia na qual quanto mais freqüentemente as pessoas interagem uma com as outras, mais seus sentimentos de amizade de uma pela outra podem ser fortes. Há também a evidência baseada na experiência de que quanto mais forte o laço que liga duas pessoas, mais semelhantes elas são, sob vários fatores, aumentando a probabilidade de amizade uma vez que haja o encontro. Ou seja, pode-se acreditar que relações de amizade, e, portanto o viés da sobreposição dos círculos de pessoas conhecidas, se tornem menos estreitas (GRANOVETTER, 1985).

Krackhardt (1992) avalia que os laços fortes podem gerar grupos internos dentro de uma network. A denominação dada a estes laços é Philos. Este é definido como uma particularidade presente em pequenos grupos que tendem a apresentar grande afinidade entre os atores, em que é possível encontrar fortes relações de amizade, confiança, cooperação, reciprocidade, disponibilidade, interação e demais aspectos que definem o conceito de laço forte.

As três principais variáveis para que haja Philos em um grupo são:

1. Interação: para dois atores formarem um Philos estes devem interagir entre si, em que a troca de informações é estável e espontânea entre eles, solicitando e

disponibilizando informações que possuem ou precisam, onde encontros proporcionam altos níveis de troca de informações (KRACKHARDT, 1992).

2. Amizade: demonstração de respeito e afeto com os companheiros, e deve estar presente entre os atores. A amizade proporciona estabilização e compreensão para tratarem e superarem assuntos diferentes (KRACKHARDT, 1992).

3. Disponibilidade / Tempo: relacionamentos intensos, mas de curta estabilidade não permitem que as pessoas se conheçam profundamente. Em períodos superiores a um ano de relacionamento pode-se afirmar que a relação caracteriza um Philos e conseqüentemente um laço forte. De outra forma, o período de um ano acompanhado de contatos estáveis (freqüência semanal) irá concretizar a confiança, respeito e demais condições necessárias para quebra de reservas e restrições no tocante à troca de informações, solicitação de ajuda e compartilhamento de dificuldades (KRACKHARDT, 1992).

2.2.1.2.2 Laços fracos

Os laços fracos podem ser considerados por meio de contatos menos freqüentes ou intrínsecos a um cargo ocupado, com baixa percepção de amizade, reciprocidade e confiança entre os atores. Os laços fracos têm a função de disseminar informações, trabalhando nas regiões de limite da network, os quais funcionam como interface entre redes, permitindo troca de conhecimentos e busca por soluções externas, em função da posição que ocupa (BROWN; KONRAD apud SOARES, 2008).

Os laços fracos são um recurso importante, podendo atuar como fonte de coesão social, conectando indivíduos e interesses profissionais. Estas ligações podem ser feitas entre atores que estão dentro da própria network ou com atores que estão externos a ela. Os laços fracos viabilizam a troca instantânea de informações e idéias entre profissionais, e têm papel indispensável para integração entre comunidades e grupos diferentes (GRANOVETTER, 1973 apud SOARES, 2008).

2.2.1.3 Dimensão Relacional

Para se fazer a análise da dimensão relacional das redes pode se fazer uso da diversidade de papéis e do conteúdo transacionado (REGIS; DIAS; BASTOS, 2006).

Ao se analisar a dimensão relacional, observa-se que esta enfoca os conteúdos transacionados através dos laços diretos entre os atores nas interações e as diversidades dos laços (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998). Entre os conteúdos transacionados nesta dimensão estão a amizade, a troca de informações, o respeito, a confiança, as normas, as sanções e a identificação (INKPEN; TSANG, 2005). Define-se conteúdo transacionado como sendo informações materiais e não- materiais trocadas entre dois atores em uma situação ou relação privada (BOISSEVAIN, 1974).

As relações que ligam as pessoas derivam dos mais diferentes campos de atividades dos quais cada indivíduo de um grupo participa. Estas relações advêm de papéis que, sociologicamente, correspondem às normas e expectativas que se aplicam ao ocupante de uma determinada posição (BOISSEVAIN, 1974). O conceito de papel pode ser considerado uma abstração da realidade, uma vez que pressupõe o isolamento das posições ocupadas por uma pessoa em suas representações sociais. Cada pessoa assume um ou mais papéis específicos: professor, sócio, amigo, empregado, marido, pai, etc.. Através de cada papel, uma pessoa entra em contato com grupos particulares de pessoas que compartilham a mesma atividade ou interesse (RÉGIS, 2005).

Os elementos transacionados estão sujeitos em parte ao papel, e em parte, da maneira como o papel é exercido pelos atores. A natureza dos itens transacionados indica não apenas o investimento dos atores no relacionamento, mas, especialmente, indica os benefícios que os atores esperam ganhar da relação. Desta forma, indica a importância desta relação específica em comparação com outras relações (MARINHO-DA-SILVA, 2003).

Kuipers (apud RÉGIS, 2005), uma das precursoras na abordagem das redes de amizade, de informação e de confiança, afirma que, o conteúdo transacionado em cada um destes tipos de rede é específico. Seus significados para estas três redes são oferecidas a seguir.

1) Rede de informação: é uma rede informal em que o conteúdo transacionado relaciona-se ao que está ocorrendo na organização como um todo em relação à oportunidades de promoção, processo decisório em outras divisões e/ou sucesso organizacional e que atinge todos os seus membros.

2) Rede de amizade: é uma rede informal baseada na permuta de amizade e socialização que provê apoio e melhoram a auto-estima, além de encorajar certos comportamentos que aumentam a aceitação junto a grupos dentro das organizações.

3) Rede de confiança: apresenta-se como uma rede de laços informais em que um ator corre riscos ao abrir mão do controle dos resultados por aceitar a vinculação em relação a outro ator, sem força ou coação da relação contratual, estrutural ou legal.

Neste estudo, a abordagem do capital social toma como base os conceitos de Nahapiet e Ghoshal (1998). Porém, é importante destacar o trabalho de Uphoff (apud RIGO; OLIVEIRA, 2007b) que apresenta duas categorias do capital social: a estrutural e a cognitiva. Para o autor, a categoria estrutural está relacionada às formas de organização social, como regras, papéis, funções, redes e outras relações interpessoais. Já a categoria cognitiva advém dos processos mentais e refere-se às normas, valores, atitudes e crenças derivadas dos processos mentais reforçada pela cultura e ideologia do grupo. Para o autor, “os ativos do capital social estrutural são extrínsecos e observáveis, enquanto que os ativos do capital cognitivo não são“ (UPHOFF apud RIGO e OLIVEIRA, 2007b, p. 06). Comparativamente ao modelo de Nahapiet e Ghoshal (1998), a diferença básica entre os dois modelos é que estes autores separam a dimensão estrutural de Uphoff em estrutural e relacional.

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