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4 LINGUAGEM E COGNIÇÃO

4.2 DIMENSÃO COGNITIVA

Dijk (2000) contextualiza os pressupostos que norteiam essa dimensão apresentando um exemplo, um acidente de trânsito, mas com perspectivas diferentes: em um primeiro momento um sujeito que vê o acidente, e em outro, um sujeito que ouve sobre um acidente. Assim, o autor conclui que em ambos os casos, os sujeitos irão construir mentalmente uma representação do acidente, seja ela por meio de uma base visual (parte de quem viu o acidente) ou linguística (parte de quem ouviu sobre o acidente). E essa representação se dá pelo pressuposto construtivista.

Para explicar o outro pressuposto que faz parte da dimensão cognitiva, Dijk (2000) continua a exemplificar por meio do acidente de trânsito. Segundo o autor, quando ambos os sujeitos deixam de apenas representar os dados sobre o acidente, seja visual ou verbalmente, e passam a atribuir significado ao fato ocorrido ou à história ouvida, ou seja, interpretam o acontecimento e o enunciado, é que desenvolvem o pressuposto interpretativo.

Ambas as ações, a da construção da representação do acidente e a atribuição de significado aos fatos, segundo Dijk (2000, p. 15) ocorrem “mais ou menos simultaneamente”, ou seja, no mesmo momento do processamento da informação. Assim, a compreensão ocorre simultaneamente ao momento que o sujeito recebe a informação, de maneira gradual, on-line.

As pessoas que compreendem acontecimentos reais ou eventos discursivos são capazes de construir uma representação mental, principalmente, uma representação mental significativa, somente se tiverem um conhecimento mais geral a respeito de tais acontecimentos. Para interpretar alguns desses acontecimentos, tais como um acidente, elas devem saber alguma coisa a respeito de acontecimentos e ações comuns ao trânsito no qual estão envolvidos carros e motoristas e, para histórias, elas devem dispor de um conhecimento mais geral de histórias e a relação entre essas e os acontecimentos contidos.

Além desses conhecimentos gerais que contribuem para a compreensão, Dijk (2000, p. 15) salienta que outras informações coletivas podem conduzir à compreensão, como “crenças, opiniões ou atitudes em relação a tais acontecimentos, [...] motivações, objetivos ou tarefas específicas”. Portanto, compreender está além do processamento e interpretação da informação, pois se relaciona com a ativação de relações internas e cognitivas, as quais o autor nomeia de conjetura pressuposicional do modelo, também conhecidas como “estratégias de uso do conhecimento” (KOCH, 2011, p 35).

Dijk (2000) destaca que as informações podem ser processadas em diversas ordens, mas que o objetivo da representação mental é ser eficaz. Portanto, o pressuposto estratégico diz respeito à maneira como essas informações se organizam no processo de construção da representação mental:

[...] o processamento de discurso, como outros processos complexos de informação, é um processo estratégico no qual uma representação mental na memória é construída a partir do discurso, usando informações externas e internas, com o objetivo de interpretar (entender) o discurso. (DIJK, 2000, p. 16)

Portanto, para ocorrer o processamento textual no âmbito cognitivo, há a necessidade de se trabalhar com diferentes estratégias processuais. Essas estratégias se referem à compreensão do texto como local (parte dele) ou global (todo o texto), acerca da construção de hipóteses em relação à estrutura e o significado. (KOCH, 2011).

O processamento estratégico no contexto escolar permite ao educando, por meio de atividades planejadas pelo educador, realizar vários níveis interpretativos, do mais simples ao mais complexo, mas de maneira simultânea para a interpretação da informação, ou seja, ocorre de maneira on-line.

As estratégias cognitivas, em sentido restrito, são aquelas que consistem na execução de algum “cálculo mental” por parte dos interlocutores. Exemplo prototípico são as inferências, [...] que permitem gerar informação semântica nova a partir daquela dada, em certo contexto. (KOCH, 2011, p. 36).

Koch (2011) menciona que a inferência também é uma estratégia cognitiva do processamento textual. O leitor ou o ouvinte diante da informação, presente no texto e também no contexto, constrói novas representações mentais a partir das representações que já possui, ou também, essas representações são a ligação necessária para perceber a informação explícita e a implícita.

Quando se adota a concepção de língua como uma atividade sociointerativa e cognitiva, adota-se também que a teoria da compreensão é relativa a essa concepção de que compreender é inferir em que o texto é analisado levando em consideração a noção de referência e coerência, produzidas em um determinado evento comunicativo. Inferir implica resgatar conhecimento prévio. Cabe ressaltar, novamente, que a compreensão de um texto é um processo cognitivo, em que se desenvolvem atividades inferenciais, ou seja, o sujeito parte daquilo que ele sabe em relação aos conhecimentos, sejam eles novos ou não, presentes no texto e, também, em relação aos conhecimentos pessoais, que juntos inferem, na produção de sentido. (MARCUSCHI, 2010).

A dimensão cognitiva é a responsável pelo estudo dos processos de aquisição do conhecimento, e quando relacionada à linguagem, ao processamento do discurso (DIJK, 2000), e particularmente, ao processamento textual (KOCH, 2011), utiliza-se de várias estratégias para a produção de sentido e compreensão, além das apresentadas nesse referencial teórico, o que torna essa linha de estudo muito ampla. Portanto, para delimitar o foco referencial da pesquisa, tomou-se o cuidado de selecionar os pressupostos e estratégias cognitivas que se enquadrassem na proposta da pesquisa, em um contexto escolar. Atribuiu-se mais atenção aos pressupostos construtivistas e interpretativos, juntamente com a compreensão on-line, na análise de produções orais e escritas dos educandos e, também, as estratégias de uso do conhecimento, por parte das atividades planejadas e aplicadas pelo educador em sala de aula.

Porém, como salientam Dijk (2000) e Koch (2002; 2011), a dimensão cognitiva, em uma visão isolada, não compreende todas as estratégias necessárias

para ocorrer o processamento textual. A linguagem como ato social requer também a compreensão de estratégias da dimensão contextual.

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