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2 CONCEPÇÕES ACERCA DO TERMO CORRUPÇÃO

5.2 Dimensão econômica

Avaliando as conseqüências econômicas do fenômeno da corrupção, Silva (2000) mostra em seu ensaio três visões, de acordo com a economia política: a primeira, associada à teoria dos caçadores de renda; a segunda, ligada à teoria econômica da propina; e a terceira, referente à relação existente entre desempenho econômico (eficiência e crescimento) e corrupção.

Segundo a teoria da atividade caçadora de renda, agentes econômicos têm motivação para maximizar seu bem-estar econômico, mas essa maximização verifica-se em um conjunto de normas de acordo com conveniências pessoais. Referidos agentes buscam maximizar suas rendas observando ou não as normas reguladoras de conduta econômica e social, não importando que essa obtenção de renda possa implicar transferências dentro da sociedade por meio de monopólios ou outras formas de privilégio.

A essência dessa atividade está na ação arrecadadora do Estado (tributação), em nome do que facções da sociedade exercem mecanismos de pressão sobre o governo visando à transferência de renda para si, por meio de subsídios, isenções etc.

Num sistema de sociedade ou de mercado competitivo, os indivíduos, regra geral, são remunerados de acordo com a produtividade de cada um. Descontado o tributo sobre a renda, poderá ele ser realocado em desacordo com critérios técnicos de políticas públicas e em benefício de determinados grupos da sociedade. Assim sendo, avesso à justiça econômica, a distribuição da renda poderá premiar mais o poder de influência e menos o mérito e a

capacidade, com os custos da atividade caçadora de renda maiores que os benefícios privados conseguidos por alguns agentes.

Dessa forma, há estímulo por atividades caçadoras de renda, em detrimento da produtividade. Com efeito, sendo mais rentável para um economista trabalhar como lobista, enquanto homo economicus preferirá referida ocupação a lidar como analista de projetos, por exemplo. Com isso Silva (2000) mostra a existência de desvio de talentos para atividades improdutivas, gerando custo e ineficiência.

Assim sendo, corruptos e corruptores podem ser legalmente moldados como agentes caçadores de renda, tendo em vista que a diferença entre esses agentes stricto sensu está no fato de que os corruptos agem ao arrepio da legislação.

Com esse ponto de vista econômico sobre corrupção, há três formas possíveis de contornar a situação:

minimizar a regulamentação e buscar um desenho institucional que iniba as oportunidades de caçar renda ilegalmente; b) impor um sistema de crime e castigo que aumente o risco, na margem, da ação corrupta; e c) criar um sistema de incentivos e uma cultura organizacional, dentro da máquina pública, que valore negativamente a corrupção (ética do mérito e da correção) (SILVA, 2000, p. 67-68). Diante do exposto, deduz-se que o fenômeno da corrupção possa prevalecer numa sociedade onde haja predominância de centralismo da máquina estatal, de impunidade ou inexistência de risco com relação ao crime e baixa moral, permissão ou legitimidade informal relacionada à corrupção.

A segunda visão refere-se à economia da propina e guarda estreita relação entre o comportamento de políticos e as transações feitas visando à possibilidade de reeleição, o que ocorre, principalmente, em bases eleitorais desfavoráveis à pretensão do candidato.

A propina, no caso, é definida “como o meio financeiro de se transformar relações impessoais em pessoais, geralmente visando à transferência de renda ilegal dentro da sociedade, ou à simples apropriação indevida de recursos de terceiros” (SILVA, 2000, p. 69).

O controle da propina, enquanto vinculada às imperfeições de mercado, depende, essencialmente, da moral do político e do interesse do eleitor com relação à postura do candidato. Como os governos são potentes compradores de bens de capital e de construções infra-estruturais, cujos preços não seguem a lógica de mercado, referidos bens alcançam grandes somas de recursos financeiros manipulados por agentes públicos e privados interessados no aviltamento de preços, superfaturamento e divisão de propinas entre os envolvidos, pavimentando caminho para a corrupção.

A terceira intervenção diz respeito às relações existentes entre instituições e corrupção e entre corrupção e crescimento econômico. A premissa básica é de que o fenômeno da corrupção surge com maior força quando as instituições políticas privilegiam o estabelecimento de normas e o centralismo do Estado, bem como quando referidas instituições não estão sob controle da maior parte da sociedade.

Diferentemente dos impostos, a propina envolve distorções no emprego da máquina pública, é mantida em sigilo e gera custos adicionais com a cooptação e manutenção de uma rede de funcionários para um esquema de corrupção, manipulação de informações orçamentárias etc. Em termo de custo, a corrupção, calculada pelo Índice de Percepções da Corrupção (IPCorr) da ONG Transparência Internacional, responde pela “redução do crescimento econômico (alocação de recursos em atividades improdutivas) e pela deformação das políticas sociais de desenvolvimento” (SILVA, 2000, p. 71).

Consoante Oliveira (1991), como conseqüência da corrupção, um sem número de escândalos prosperam, especialmente no âmbito dos benefícios, dos incentivos fiscais e das anistias tributárias. Nesse contexto, pessoas de bem relaxam a própria consciência para isentar-se de tributos ou conferir a si próprio o privilégio de decompor seus proventos, de forma a fazer incidir apenas sobre parte dele o imposto de renda.

Para Medeiros (2006), tal como as causas, as conseqüências da corrupção, também, reclamam por seu enfrentamento e combate. Os prejuízos dela resultantes devem ser objeto de total ressarcimento, acompanhado de indenização pelos danos morais causados à administração estatal. De igual forma, os programas públicos alvos de corrupção, bem como cidadãos por eles eventualmente assistidos devem receber as compensações devidas.

Isso não se refere à conclusão isolada, havendo quem corrobore com esse raciocínio, ao afirmar que “o custo da corrupção acaba embutido no preço de bens e serviços ou no aumento de tributos pagos aos governos” (FURTADO, 2005, p. 46).

Para Lira (2005), as conseqüências da corrupção, em termos de alocação e distribuição de riqueza são, principalmente: aumento dos custos das transações com simultânea redução de investimentos, má alocação de recursos públicos ocasionada por favorecimentos à elite econômica, desestímulo à inovação tecnológica e ao desenvolvimento gerencial e redução da qualidade dos bens e serviços adquiridos pelo Estado.

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