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- A DIMENSÃO IMAGINÁRIA NAS PSICOSES

As críticas de Lacan às relações de objeto privilegiadas pelos pós-freudianos no cenário analítico, fez com que ele desvinculasse o seu ensino da intersubjetividade e se dobrasse sobre a incidência do significante nas psicoses (1955-56), enfatizando, assim, a relação simbólica do sujeito ao Outro, e não a do eu ao outro (a). Era necessário, naquele contexto, propor algo diverso das relações imaginárias e duais que serviam como guia no tratamento psicanalítico. A dimensão imaginária aqui é definida, então, como aquela baseada no "reflexo do semelhante ao semelhante" (Lacan 1972-73: 111).

No que diz respeito especificamente às psicoses, era preciso sair do campo da compreensão que as relações baseadas no imaginário proporcionavam. Lacan, então, submete este à primazia do simbólico.

Não há nada a esperar do modo de abordagem da psicose no plano imaginário, pois que o mecanismo imaginário é o que dá a sua forma à alienação psicótica, mas não sua dinâmica" (...) "(...) temos a noção de que além do outro com minúsculo do imaginário, devemos admitir a existência de um outro Outro. (...) Ele não nos satisfaz somente porque lhe damos uma maiúscula, mas porque o situamos como o correlato necessário da fala (1955-56: 170).

Em seu seminário RSI (1974-75), diferentemente da primazia dada ao simbólico nos anos 50 pelo seu ensino, Lacan atribui uma mesma importância aos três registros e considera a consistência imaginária como de igual valor diante do simbólico e real.

Mas é por homogeneizá-los que dou a eles essa consistência e, homogeinizá-los, é trazê-los de volta ao valor que, comumente, é considerado como o mais baixo - a gente se pergunta em nome de que - é dar a eles uma consistência, para dizer tudo, do imaginário. É bem aí que há algo a endireitar: a consistência do imaginário é estritamente equivalente à do simbólico, assim como à do real" (Lacan, lição de 11/02/75).

Poderemos ver na constituição do eu a interdependência dos registros simbólico, imaginário e real. O eu aqui entendido no sentido freudiano, de uma superfície corporal, de uma projeção da superfície do corpo (Freud 1923: 40).

Sabemos que na relação ao semelhante, também chamada relação narcísica, constitutiva do sujeito, "há sempre para o sujeito algo esvanecido" (Lacan 1963: 43), pois ele se confunde com o outro, e uma das saídas é a abolição deste, como expressão da dimensão da agressividade. Daí a necessidade, como diz Lacan (ibid), de um "ponto transcendente", que constitua uma separação entre o sujeito e o outro.

O estádio do espelho tal como exposto por Lacan (1949), é o modelo da dimensão imaginária. Na perspectiva do estádio do espelho, a criança tem a antecipação da imagem do corpo unificada com júbilo. É a captura do real pela imagem. Porém, é só no momento em que a criança se volta para o adulto à espera do seu consentimento que a imagem se constitui como tal. Deste modo, o corpo não é dado de antemão. É necessário, como nos diz Freud, uma "nova ação psíquica" a fim de provocar a unidade do eu (Freud 1914: 93).

Em elaborações posteriores, podemos ver a resposta de Lacan às críticas dirigidas ao estádio do espelho. Lacan ressalta que a imagem do semelhante não basta para constituir a imagem do corpo próprio. O esquema ótico nos traz, em sua retomada ao estádio do espelho, uma maior clareza da função do Outro. Esta posição fica evidente em seu seminário, livro X, a angústia (1962-63) quando expõe a sua nova versão do esquema ótico1, que é também, de uma certa forma, uma revisão do seu estádio do espelho de 1949.

Com a revisão inserida no esquema ótico em 1962 fica evidente a necessidade de que a imagem tenha um furo, representado pelo - da castração, para que a imagem do corpo ganhe consistência. Nesse sentido, o falo aparece a menos, como lacuna na imagem especular (Lacan 1962-63: 49). Com isso, podemos tomar o Outro como o que produz uma estabilização na imagem corporal através da inserção de um vazio, uma distância entre o real do corpo e sua captura na imagem do espelho.

Porém, a função do Outro é passível de se apagar progressivamente. Desta forma, a estabilização da imagem corporal é ameaçada e ilustra os fenômenos de despersonalização e toda ordem de perturbações, como por exemplo, a do esquizofrênico e sua “fantasia do corpo despedaçado” citada por Lacan (1962-63: 133).

Segundo Lacan, graças ao Outro, os pedaços de corpo original são captados e vestidos pela imagem. Caso isso não ocorra, os pedaços de corpo permanecerão na

1 A primeira versão do esquema ótico realizada por Lacan consta em seu seminário, livro I, os escritos técnicos de Freud (1953-54); em seguida, o encontramos em seu texto "Observações sobre o relatório de Daniel Lagache" (1960a). E por último, o esquema ótico é retomado no seu seminário X, a angústia (1962-63).

desordem dos pequenos a: "esse é o verdadeiro sentido, o sentido mais profundo a ser dado ao termo do „auto-erotismo‟- ou sentir falta de si, (...), de uma ponta à outra. Não é do mundo externo que sentimos falta,(...), mas de nós mesmos" (Lacan 1962-63: 132).

Vemos, assim, que a incidência ou não do objeto a em sua vertente real está estreitamente relacionada e dependente do estatuto do Outro. Além disso, podemos destacar a importância da imagem como uma vestimenta ao objeto pulsional.

Antes de abordamos a compensação imaginária como uma via de estabilização para o psicótico, faz-se necessário considerar que a condição do sujeito psicótico seja reduzida, em determinados momentos, a uma relação especular.

Como dissemos no primeiro capítulo, a captura do psicótico na relação especular pode ocorrer antes ou após o desencadeamento. No momento logo após o desencadeamento, temos o que Schreber denominou como assassinato d'almas. Lacan comenta sobre este período de Schreber:

Esse é o fenômeno, que é para ele o sinal de entrada na psicose, pode tomar para nós, comentadores-analistas, toda espécie de significações, mas o único lugar em que ele pode ser colocado é no campo imaginário. (...). Há aí uma relação puramente dual, que é a fonte mais radical do próprio registro da agressividade. (...) Esse texto nos traz mil provas do que eu avanço, e isso é perfeitamente coerente com nossa definição da fonte da agressividade, e seu surgimento quando se acha curto-circuitada a relação triangular, edipiana, quando esta é reduzida a sua simplificação dual (1955-56: 343).

No entanto, em nosso trabalho priorizaremos as compensações imaginárias, denominadas por Lacan (1955-56) como "bengalas imaginárias", vista como solução do psicótico por evitar o desencadeamento.

Logo após, veremos qual era a elaboração teórica disponível no cenário psicanalítico na década de 50, para Lacan articular o modo de compensação imaginária do psicótico sem o desencadeamento. Para tal, recorreremos à concepção de personalidade "como se" desenvolvida pela própria Helene Deutsch.

Traremos também a discussão de um caso da literatura psicanalítica - o caso Mlle. B., entrevistada por Lacan em 1976 no âmbito de uma apresentação de paciente.

2.2- A COMPENSAÇÃO IMAGINÁRIA

As bengalas imaginárias

Algumas formulações de Lacan em seu seminário sobre as psicoses apontam soluções, via imaginário, encontradas pelo psicótico para se manter estável e organizar a sua realidade antes do desencadeamento. Além disso, descreve o período anterior ao desencadeamento propriamente dito. Para isto, se serve dos trabalhos de H. Deutsch sobre a personalidade "como se" e o de M. Katan sobre a "fase pré-psicótica".

A pré-psicose - termo de Katan - é utilizada por Lacan para se referir ao momento de alienação ao outro minúsculo, a um amigo, por exemplo, que pode servir como ancoradouro da existência do sujeito (1955-56: 181-219). No entanto, o termo é utilizado especialmente para se referir ao momento prévio à entrada na psicose, onde se apresenta um estado de "confusão pânica" e "fenômenos de franja" em que o Outro como conjunto de significantes está posto em jogo (ibid.: 233). A pré-psicose é tida em uma acepção diacrônica caracterizada por um período inicial de perplexidade em que o sujeito sabe que algo lhe concerne, mas não consegue significar a sua experiência.

Segundo Lacan (1955-56), o sujeito na pré-psicose tem o sentimento de ter chegado à

"beira do buraco", momento que antecede à dissolução imaginária.

Lacan também faz uso da concepção de "personalidade como se" de H.

Deutsch para falar destes sujeitos que não entram jamais no jogo dos significantes, exceto por uma espécie de imitação exterior com o semelhante. São casos onde houve um mecanismo de "compensação imaginária do Édipo ausente" evitando o desencadeamento. Certos psicóticos podem viver compensados e se apresentarem com uma aparência viril ao serem sustentados por bengalas imaginárias (1955-56: 233) até o momento em que se deparam com a ausência de um significante e suas muletas tornam-se insuficientes, descompensando-os.

É assim que a situação pode se sustentar durante muito tempo, que certos psicóticos vivem compensados, têm aparentemente os comportamentos comuns considerados como normalmente viris, e de uma só vez, misteriosamente, Deus sabe por que, se descompensam (Lacan, 1955-56: 233).

A realidade, no contexto da teoria lacaniana dos anos 50, é sustentada por uma trança de significantes e, sobretudo, constituída pela presença do significante Nome-do-Pai. E é justamente este significante que vem a faltar na relação do sujeito com a realidade, levando o psicótico na "pré-psicose" a ter o sentimento que chegou à beira de um abismo que atesta a falta ao nível do significante.

Lacan nos mostra em seu seminário sobre as psicoses que a dimensão do Outro - lugar onde se produz a fala - é reduzida nestes casos ao outro imaginário que o prende em uma relação de miragem com o seu semelhante. O sujeito permanece antes do desencadeamento como prisioneiro da relação especular, de uma identificação massiva ao semelhante situado como eu ideal. Ao contrário da identificação histérica, que se opera através de um traço, a identificação mimética tende a reproduzir integralmente o objeto da identificação (Recalcati, 2003). A compensação imaginária se apresenta, segundo Recalcati, como uma "modalidade de amarração da psicose que se organiza como um enodamento entre o imaginário e o real sem a ajuda da mediação simbólica"

(p. 210).

As bengalas imaginárias indicam uma identificação possível e um uso do imaginário que consegue, de certa forma, dissimular a falta do operador do Nome-do-Pai.

Esse fenômeno (...) que parece preceder aqui o desencadeamento, basta para mostrar que, em relação à falta do simbólico, o imaginário longe de ser apenas subordinado, pode funcionar como recurso ou prótese e que é uma das razões de colocar a equivalência entre essas duas ordens, como Lacan o faz quando ele constrói seu nó borromeano (Soler: 1997a: 9).

Por outro lado, podemos nos perguntar como as bengalas imaginárias descritas por Lacan em seu seminário sobre as psicoses podem ser puramente relações imaginárias. Somente uma ordem, um registro imaginário é capaz de sustentar um sujeito na existência?

O uso do imaginário como uma prótese à falha do simbólico pode como no caso de Schreber, servir como restauração da realidade após o surto. Dessa maneira, fica mais clara a equivalência do imaginário em relação aos outros dois registros - simbólico e real. Mas até que ponto o uso do imaginário é eficaz para manter um psicótico estabilizado já que, muitas vezes, as identificações imaginárias não impedem o desencadeamento psicótico?

Lacan não deixa de apontar o caráter precário destas identificações ao associá-las a um banquinho de três pés. Descreve-os como "pontos de apoio significantes" que sustentam o mundo dos homens e diz ser possível um sujeito se manter firme na existência com um banquinho de três pés até que em um certo momento, "quando o sujeito, numa encruzilhada de sua história biográfica, é confrontado com esse defeito que existe desde sempre" (1955-56: 231).

Somos advertidos por Lacan sobre a possibilidade dos "pré-psicóticos" terem a sua psicose desencadeada ao serem convocados pela análise a "tomar a palavra". Deste modo, são destituídos de sua compensação imaginária ao serem chamados a discorrer sobre algo não simbolizado.

Acontece recebermos pré-psicóticos em análise, e sabemos em que isso dá - isso dá em psicóticos. (...) [a psicose] é desencadeada quando das primeiras sessões de análise um pouco acaloradas, a partir das quais o sentencioso analista se torna rapidamente um emissor que faz ouvir ao analisado durante o dia todo o que deve ou não fazer. (...) Trata-se algumas vezes de um empenho mínimo de tomada de palavra, quando o sujeito vivia até então em seu casulo, como uma traça (Lacan 1955-56: 285).

Concordamos com a advertência acima, mas não com a existência de uma contra-indicação a priori, pois consideramos que a postura daquele que conduz a análise em relação ao seu saber e ao seu desejo de analista seja fundamental no manejo de tratamentos com pacientes cuja psicose ainda não tenha se desencadeado. Através desse comentário, Lacan sinaliza haver uma especificidade na direção do tratamento da psicose que concerne na sua posição diante da linguagem. Com isso, mostra a pertinência de estarmos advertidos sobre o que é possível em cada caso, sobretudo nestes sobre os quais tentamos discorrer.

Vimos que uma psicose pode ser compensada através das ditas relações duais, imaginárias, onde a saída do objeto da identificação ou a entrada de um elemento terceiro ocasiona uma desestabilização; porém, na clínica temos contato com outras formas de estabilizações. Além da compensação imaginária, podemos considerar a suplência pela nomeação, como veremos no próximo capítulo, um outro modo de estabilização sem que tenha havido necessariamente um desencadeamento (Recalcati 2003). Podemos nos perguntar, então, qual a diferença e a semelhança entre elas.

Recalcati assinala que a primeira está orientada a partir do registro imaginário e é o efeito de uma identificação especular. Enquanto que a segunda, pelo contrário, implica um trabalho significante. A natureza simbólica da suplência, segundo Recalcati, se revela em primeiro lugar como aquela que pode levar ao sujeito fazer-se um nome próprio.

A referência ao nome próprio toca o núcleo da operação de suplência em sua diferença a respeito da compensação. Se nesta última o sujeito se engancha de forma narcisista à imagem especular do outro, na suplência [pelo nome-próprio] o sujeito não se adere, por assim dizer, ao ser do outro, senão que põe em prática uma espécie de individuação no sentido que é precisamente a suplência o que individua esse sujeito diferenciando sua identidade (o ego, como diria o último Lacan) da dos demais (Recalcati 2003: 212).

O termo suplência é utilizado por Lacan desde o seu seminário, livro IV, a relação de objeto (1956-57) para designar uma suplência fóbica do pequeno Hans à carência paterna2. Além disso, Lacan refere-se em um pequeno comentário - no seu seminário, livro V, as formações do inconsciente (1957-58b) - à compensação imaginária como sendo ela mesma uma suplência. Na ocasião indica que o mecanismo da redução do Outro ao outro imaginário "é uma suplência do simbólico pelo imaginário" (1957-58b: 14). Ao longo de seu ensino utilizou o termo de forma esporádica em algumas situações. No entanto, a perspectiva de uma clínica das suplências só toma corpo no seminário sobre O sinthoma (1975-76) em que Lacan empreende o estudo da obra de J.Joyce.

O "como se"

Vimos que a referência de Lacan para comentar os casos de psicose que conseguem manter-se compensados antes do desencadeamento é tomada de Hélene Deutsch em sua concepção da personalidade "como se". Veremos como a própria autora refere-se a esses casos e, com isso, podemos ter uma pequena visão do que era possível ser dito a este respeito na época do seminário de Lacan sobre as psicoses (1955-56).

2 "Todo o problema reside aí. Trata-se de que o pequeno Hans encontre uma suplência para este pai que se obstina em não querer castrá-lo". Cf. Lacan, J. O seminário livro 4: A relação de objeto (1956-57). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., p. 375.

H. Deutsch (1968) - no texto Algumas formas de transtorno emocional e sua relação com a esquizofrenia escrito em 1942 - utiliza o termo "como se" retirado, segundo a autora, da "filosofia do Como se", para analisar casos que apresentam uma capacidade para a identificação atribuída a uma "natureza imitativa", sendo este o motivo de uma relação aparentemente normal com o meio. Deste modo, expressam uma falta de autenticidade e algo intangível se interpõe entre eles e seus semelhantes. Nestes casos, a "relação emocional com o mundo exterior e com o próprio eu parece empobrecida ou ausente" (p. 413).

As relações afetivas são marcadas por um "caráter adesivo". Possuem uma facilidade para estabelecer identificações com os objetos, mas estas identificações ficam atreladas à estabilidade destes. Devido à "plasticidade" nas identificações, caso o objeto se ausente, logo ele é substituído. A sugestionabilidade em relação ao objeto com o qual se identificam também é assinalada, levando, por vezes, o paciente a cometer atos criminosos e outras condutas anti-sociais. Deutsch faz uma diferença entre os

"indivíduos narcisistas" e os "como se". Nos primeiros haveria um bloqueio afetivo; e no segundo há uma tentativa de simular uma experiência afetiva.

A pobreza das relações objetais e o narcisismo característicos do "como se", leva H. Deutsch aproximar estes casos com a esquizofrenia. Entretanto, a prova de realidade se mantém intacta, e este aspecto é decisivo para a autora recuar nesta hipótese. Mas admite a possibilidade do processo esquizofrênico comportar uma fase "como se" antes de adquirir a "forma delirante". Considera justificável nestes casos a designação de esquizóide, independente de evoluir para a esquizofrenia ou não. Enfim, admite a falta de clareza para distinguir se estes casos possuem uma "disposição esquizofrênica ou constituem sintomas rudimentares da esquizofrenia" (p. 431).

Podemos observar que na concepção de H. Deutsch, o elemento determinante para se ter ou não o diagnóstico de uma psicose é ligado à prova de realidade. Assim, os

"como se", por possuírem um eu bem adaptado à realidade estariam, a princípio, excluídos do campo das psicoses, e seriam melhor designados como situados na fronteira entre a psicose e a "normalidade". Diante da indeterminação, Deutsch elege os esquizóides. Segundo a autora, "estes pacientes não correspondem às formas habitualmente aceitas de neurose, e sua adaptação à realidade é demasiado boa para chamá-los de psicóticos" (p. 431). A concepção da psicose é vinculada, então, a uma

"falha do eu" (idem), de modo a tornar incompatível a admissão de uma psicose a alguém tão bem adaptado.

2.3- UMA APRESENTAÇÃO DE PACIENTES DE LACAN

Fundar-se na ignorância da língua que fala é a disciplina necessária em toda a apresentação de doentes.

J.-A.Miller

Originária da psiquiatria clássica, Lacan se serviu da apresentação de pacientes desde o seu caso Aimée. É uma prática de interseção entre a psicanálise e a psiquiatria que serve como orientação diagnóstica e para discutir as direções a serem tomadas no tratamento. Com Lacan, esta prática diferenciou-se da psiquiatria, deixou de ser uma mostração e ilustração de casos clínicos para tornar-se um exercício de fala.

A entrevista ocorre com um paciente que responde as perguntas do analista-entrevistador, geralmente ela é longa e o público - composto pela equipe-assistente, alunos e profissionais seletos - permanece em silêncio. Ao contrário do interrogatório em que o saber prévio serve de guia às perguntas, na apresentação de pacientes guiadas por Lacan, a ênfase é dada à fala do sujeito, e só tem sentido se permitir o efeito de surpresa durante a entrevista.

Um sujeito à procura da imagem do semelhante - o caso Mlle. B.

O que a imagem tem que se mostra tão cativante? A fascinação pela imagem em todo sujeito está por ela vir recobrir a falta relacionada à castração, que aqui pode ser entendida tanto como prematuração, quanto um déficit diante do júbilo oferecido na experiência do espelho.

No estádio do espelho, a criança tem a imagem do corpo unificada com um júbilo que lhe oferece um descompasso diante de seu desamparo. Desta forma, o sujeito se empenha em dissimular essa falta recorrendo à imagem do semelhante.

Caso o sujeito fique excessivamente capturado pela sua imagem, “é porque a relação dual pura o despoja de sua relação com o grande Outro”, diz Lacan (1962-63:

135).

O imaginário serve de suplência à falha do simbólico. Vimos que é nesta perspectiva que Lacan aborda as chamadas "compensações imaginárias" descritas em

O imaginário serve de suplência à falha do simbólico. Vimos que é nesta perspectiva que Lacan aborda as chamadas "compensações imaginárias" descritas em

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