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2. A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL

2.3. As dimensões prático-formativas do Serviço Social

2.3.3. Dimensão técnico-operativa

A dimensão técnico-operativa se refere mais estritamente aos elementos técnicos e instrumentais para o desenvolvimento da intervenção. Os instrumentos devem ser vistos como potencializadores do trabalho, que devem ter a sua utilização constantemente aprimorada de forma a que se tornem úteis ao objeto e aos objetivos do trabalho, como aponta Trindade:

[considera-se] instrumental técnico-operativo como a articulação entre instrumentos e técnicas, pois expressam a conexão entre um elemento ontológico do processo de trabalho (os instrumentos de trabalho) e o seu desdobramento - qualitativamente diferenciado - ocorrido ao longo do desenvolvimento das forças produtivas (as técnicas). Portanto, as técnicas se aprimoram a partir da utilização dos instrumentos, diante da necessidade de sua adequação às exigências de transformação dos objetos, visando o atendimento das mais variadas necessidades humanas. A técnica pode ser tomada, então, como uma qualidade atribuída ao instrumento para que ele se torne o mais utilizável possível, em sintonia com a realidade do objeto de trabalho (1999, p.65).

É a técnica que vai viabilizar esse aprimorar dos instrumentos. Contanto, que não seja isolada em uma concepção tecnicista, mas imbuída e implicada nos referenciais teóricos e metodológicos.

Há um certo consenso de que a palavra “técnica” é empregada para designar procedimentos, processos e tarefas humanas as mais diversas. É identificada como algo próprio do homem e que nasce dele, acompanhando assim,

sua trajetória histórica. Ao longo da história da humanidade, a técnica foi assumindo significados diferentes.

Campagnolli (1993), resgata a etimologia da palavra. O vocábulo técnica tem origem no grego téchne, que é originário da raiz sânscrita Tvaksh, que significa fazer, aparelhar. Na Grécia, o termo técnica foi utilizado desde a idéia de habilidade, arte ou maneira de proceder, geralmente à transformação da realidade natural em artificial e mais à diante, deixou de restringir-se à fabricação material, passando referir-se à idéia de um fazer com eficácia e adequação, até chegar a uma compreensão mais ampla, a partir de Heródoto, de Píndaro e dos trágicos, em que a

téchne passa a ter um sentido de habilidade geral, ou seja, habilidade apropriada e

eficaz (p. 12).

Com o advento do capitalismo industrial do século XVI, a concepção de técnica ligada à arte mecânica se acentuou consideravelmente até a compreensão que temos atualmente, que é a da tecnologia. Daí, então, a técnica se distancia da concepção grega de criação, o que se acentua pelo distanciamento do trabalhador dos seus meios de produção ocorrido no processo de produção capitalista.

Ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX entusiastas e contrários ao desenvolvimento tecnológico fizeram a defesa ou a refutação da técnica, pensando nas conseqüências que seu desenvolvimento vem acarretando para a humanidade. Há segmentos que defendem que a técnica em si não é de todo maléfica ou benéfica para a humanidade, mas a questão preocupante é a subordinação de todas as esferas da vida a ela, o que concorre para a escravidão do homem pela máquina e para a desorganização social (CAMPAGNOLLI, 1993, p. 34)

A compreensão acerca da dimensão técnico-operativa está relacionada a um campo do fazer profissional, especialmente relacionado com a prática, mas que vai além de instrumentos aplicáveis puramente. Entende-se que o Serviço Social não dispõe de um conjunto específico e exclusivo de instrumentos e técnicas, mas faz um uso diferencial do instrumental técnico criado pela ciência (sociologia, psicologia, direito, antropologia, por exemplo), priorizando aqueles instrumentos, recursos e técnicas que conduzem às suas finalidades e iluminando, permanentemente, o uso da técnica com sua intencionalidade.

Em oposição às práticas ou procedimentos executados mecânica e irrefletidamente, o instrumental técnico apóia-se em conhecimentos científicos correspondentes é fruto de uma escolha consciente e reflexiva. Sua escolha ou

seleção leva em conta os determinantes específicos de uma dada realidade e de cada situação em particular, devendo ser posto em prática no sentido de facilitar e fortalecer as ações propostas

Assim sendo, o instrumental não porta única e exclusivamente um aspecto técnico, uma vez que demanda uma competência ao criar, selecionar e aplicar. Mas também precisa ser considerado em sua dimensão política, uma vez que pressupõe e se vincula a um projeto político que pode ou não ser de superação, sendo primordial o estabelecimento de mediações adequadas no seu manejo.

Portanto, fica evidente a implicação das demais dimensões sobre a dimensão técnico-operativa. No momento em que os instrumentos, técnicas, estratégias ou procedimentos são acionados pelo profissional, é preciso que este tenha consciência da intencionalidade que se investe no processo. Sobre isso, Pires comenta que

[...] O instrumental técnico não indica esquemas ou modelos rígidos e pré-estabelecidos que se mostram sob uma capa de neutralidade política. Sua utilização demanda obrigatoriamente seleção, adaptação e/ou aprimoramento à luz da perspectiva teórico- metodológica e política do agente profissional, assim como dos determinantes específicos da realidade ou situação particular enfrentada e dos objetivos mediatos e imediatos da ação profissional (2005, s.p.).

O objetivo ao se forjar a instrumentalidade do assistente social é torná-lo mais do que um agente técnico, um profissional atento às finalidades e objetivos, assim como às conseqüências do seu trabalho. Um profissional técnico, mas também intelectual, capaz de realizar leituras críticas da realidade social, num processo investigativo por meio de sucessivas aproximações, identificando os nexos que constituem os fenômenos, ou seja, apreendendo as mediações.

Assim, o domínio do instrumental técnico-operativo é muito importante, mas não é suficiente. Precisa ser agregado ao desenvolvimento das demais capacidades do profissional.

Considerar a instrumentalidade do Serviço Social em sua complexidade implica fugir do modelismo, tecnicismo e metodologismo vislumbrando a possibilidade de uma intervenção profissional mais conseqüente.

3. A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, OS CRAS E O SERVIÇO