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SUMÁRIO

2. A QUESTÃO DAS POLÍTICAS CULTURAIS NO ESTADO CAPITALISTA

2.2 Dimensões antropológica e sociológica da cultura

Definir ‘cultura’ não é tarefa fácil devido à complexidade que encerra o conceito por ser antagônico, o qual exige que deva se estudar desde sua dialética:

Esta fenda é o resultado da divisão do trabalho instituída pelo capitalismo, o que significa que ele não apenas produz a própria cultura, nas suas formas impiedosamente dialéticas, como também permite que se assuma uma posição crítica relativamente àquela cultura. Assim, a alienação, produzida pela divisão do trabalho, tanto cria a cultura quanto permite uma perspectiva crítica sobre ela (YOUNG, 2005, p. 36).

‘Cultura’, etimologicamente, vem do latim cultura, e este de cultus, particípio de colore associado a significados como habitar, cultivar, ir a, assistir a, cursar, proteger, honrar com adoração. No começo, esteve relacionada com o cultivo voltado para o trabalho da terra, para a agricultura (CHAUI, 2006, 2008; YOUNG, 2005). Da sua acepção no sentido de ‘habitar’ derivaram-se as palavras colono, colônia e colonização, pelo que “a cultura envolve sempre uma forma de colonização, até mesmo em seu sentido convencional de cultivar o solo” (YOUNG, 2005, p. 37). Desde o século XVI, começou-se a falar de cultivar a mente como parte do processo de desenvolvimento humano com acepções em puericultura (CHAUI, 2006, 2008; YOUNG, 2005), e do cultivo da relação com os deuses e o sagrado, com o culto (CHAUI, 2006, 2008).

Dois séculos depois, “passou a representar também o lado intelectual da civilização, o inteligível contra o material” (YOUNG, 2005, p. 37) sendo associada a um padrão ou critério que mede o grau de ‘civilidade’ (CHAUI, 2006, 2008), utilizada, nesta perspectiva, por primeira vez com este sentido de ‘refinado’ em contraposição àquilo

considerado selvagem, ou seja, civilizado seria o cidadão da cidade, por oposição ao homem silvícola do exterior ou ao bárbaro mais distante, caracterizados por sua falta da cultura civilizada e intelectual. “Esta cultura refinada da cidade foi pela primeira vez chamada de ‘civilização’ em inglês pelo escocês James Boswell” (YOUNG, 2005, p. 38), em 1772, com o sentido iluminista da sociedade moderna, conectado intrinsecamente com a capacitação, o treinamento, a educação e o “conjunto de práticas (artes, ciências, técnicas, filosofia, ofícios) que permitem avaliar e hierarquizar as sociedades, segundo um critério de evolução” (CHAUI, 2006, p. 129-130).

No século XIX, estas concepções mudaram substancialmente, com o surgimento da antropologia como ciência internacionalizada, época marcada pelas ideias difundidas do liberalismo econômico e a eclosão de inovações tecnológicas que permitiram o aumento do comércio e o crescimento das fábricas diante do florescimento das cidades como centros industriais, ocasionando grandes movimentos de informação, matérias-primas, mercadorias e pessoas a escala global26 (ERIKSEN & NIELSEN, 2007), todo mediado pelo Estado mínimo. Assim, ‘civilização’ e ‘cultura’ vieram a serem termos diferentes, segundo os alemães que as separaram drasticamente.

Além disso, para esta época, começou a se considerar que não existe só uma cultura ou civilização. Por um lado, na década de 1770, “[Johann Gottfried von] Herder defende o uso da palavra “cultura” no plural (antecipando assim o seu sentido mais relativo, antropológico) para denotar a diversidade das culturas tanto entre as nações quanto no interior destas” (YOUNG, 2005, p. 49); por outro lado, “o uso da palavra ‘civilização’ no plural, como ‘civilizações’, só se tornou comum nos anos de 1860. A ideia de que pudesse haver outras civilizações pode ser encarada como a marca do aparecimento de uma visão mais relativista da história humana” (YOUNG, 2005, p. 58). Apesar disso, estas considerações envolvem o fato de estabelecer que existem diferenças entre as sociedades com o que, finalmente, esta forma liberal moderna de relativismo cultural enfatiza nas diferenças raciais e culturais, descrevendo as formas de vida das sociedades não-europeias. Aliás, “no conceito de cultura introduz-se a ideia de tempo, mas de um tempo muito preciso, isto é, contínuo, linear e evolutivo, de modo tal que, pouco a pouco, a cultura torna-se sinônimo de progresso. Avalia-

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Algumas das mudanças descritas por Eriksen & Nielsen (2007) que mais influíram foram: o aumento da produção agrícola e manufatureira que estimulou o crescimento da população europeia, a construção das primeiras ferrovias que repercutiram nas migrações internas de áreas rurais a centros urbanos e que impulsaram a urbanização em condições precárias e a industrialização, a expansão da navegação de navios a vapor pelo Atlântico que induziram a migrações aos Estados Unidos, Austrália, Argentina, África do Sul e Sibéria principalmente, o surgimento de novas relações de poder nas colônias entre colonizador e aborígene o que levou ao nascimento de novas ideologias, e a invenção do telégrafo.

se o progresso de uma civilização pela sua cultura e avalia-se a cultura pelo progresso que ela traz a uma civilização” (CHAUI, 2006, p. 130).

Os aportes da antropologia ao estudo da cultura se encontram principalmente em duas tradições intelectuais que começam a se popularizar formalmente em 1930, mas cujas diferenças foram se construindo com anterioridade. Ainda quando a antropologia cultural e a antropologia social não denotam uma divisão no enfoque, delimitam estilos etnográficos distintos. Por um lado, a antropologia cultural, tradição dominante nos Estados Unidos, constitui-se como trabalhos etnográficos de talante holístico, estudando como a cultura afeta a experiência individual ou visões globais de conhecimento, costumes e crenças; ou seja, visa apreender a totalidade da vida cultural humana. Por outro lado, a antropologia social, tradição dominante na Grã Bretanha e na França, aplica-se a trabalhos etnográficos que pretendem aislar um sistema concreto de relações sociais (como pode ser a vida doméstica, a economia, as leis, a política ou a religião), outorgando prioridade analítica às bases organizativas da vida social (BARFIELD, 2000, p. 43-48).

A continuação vão se revisar brevemente as definições de cultura ou elementos relacionados que aportam a seu entendimento sob a perspectiva de diferentes autores que contribuíram ao fazer antropologia. Alguns deles abertamente pertencem a uma das duas tradições científicas como Morgan, Durkheim, Mauss, Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard cujas ideias direcionam à antropologia social e Tylor, Boas ou Herskovits que sentam as bases da antropologia cultural. Outros como Malinowsky ou Lévi-Strauss preferem não entram em qualquer tipo de categorização (BARFIELD, 2000).

No século XIX, graças ao imperialismo britânico e estadunidense, destacaram-se os primeiros antropólogos como Lewis Henry Morgan (1818-1881), quem influenciado pela teoria da evolução biológica de Charles Darwin, concebeu seu modelo da evolução cultural conforme o qual todas as sociedades passavam por três estágios unilineares de desenvolvimento: selvagem, barbárie e civilização (MORGAN, 1973) ; visão que tem uma marcada concepção etnocêntrica por quanto considerava o atraso cultural dependendo da presença ou ausência de elementos como o Estado, o mercado e a escrita, próprios dos países ocidentais avançados, na Europa capitalista (CHAUI, 2006). Dentro dessa mesma linha, Edward B. Tylor (1832-1917) introduziu o termo ‘cultura’ ou ‘civilização’ “tomada em seu sentido mais amplo, etnográfico, [como] aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade” (TYLOR, 1958 apud ERIKSEN & NIELSEN, 2007, p.

35), definição clássica que abarca uma grande quantidade de elementos díspares, de modo que a cultura pode ser descrita, mas jamais analisada (KUPER, 2002, p. 84).

No século XX, Franz Boas (1858-1942) criticou fortemente a teoria evolucionista de seus predecessores e adotou uma posição teórico-metodológica focada no relativismo cultural que defendia a autonomia cultural e a importância dos costumes que são uma manifestação da cultura. Ele insistiu na necessidade de estudar cada cultura de modo singular com a fim de identificar as diferenças e as similaridades. Nesse sentido, adotou a noção de ‘culturas’, no plural, destacando o particularismo histórico destas, colocando no centro do debate a mudança ou transformação como elemento fundamental do processo dinâmico que as caracterizam. Assim, sugeriu a reconstrução da história de uma cultura para poder compreendê-la (PEREIRA, 2011). Com isto, Boas propôs o conceito de ‘padrão cultural’ definido como

[...] à soma das atividades de um povo, ou grupo, como, por exemplo, as atitudes deste grupo, os objetos por ele utilizados, seus costumes, suas ideias, enfim, ao ajustamento dos diversos traços e complexos característicos de cada agrupamento humano que traduzem o conjunto de valores que esse grupo expressa (PEREIRA, 2011, p. 110).

Finalmente, Boas entendeu o comportamento humano como uma concepção variada e complexa ligada ao ambiente, ao patrimônio linguístico como chave do entendimento e ao contexto no qual este se insere. Suas contribuições foram tão amplas e inovadoras que é considerado o pai da antropologia cultural moderna.

Ainda que Emile Durkheim (1858-1917) não usou de forma extensiva o conceito de ‘cultura’ e, portanto não se tem uma definição pontual desde sua concepção, ele expôs interpretações dos fenômenos que chamamos ‘culturais’. Mediante o conceito de ‘fato social’, estudou representações coletivas que identificou como imagens do mundo e processos mentais que dão a condição de possibilidade do conhecimento (MURGUÍA LORES, 2002). Assim, explicou que as categorias variam culturalmente e que são parte da realidade que as apreendem pelo que cada cultura constitui uma realidade e uma verdade do mundo.

Estas representações coletivas são produzidas e reproduzidas através de três mecanismos: as formas de classificação, os mitos e os ritos. As formas de classificação constituem a origem dos códigos e organizam a estrutura de significados típicos compartilhados pelos indivíduos. Os mitos são “las narraciones a través de las cuales los miembros de una cultura le otorgan sentido a lo que ocurre en su comunidad y que dibuja el mapa moral que guía su acción” (MURGUÍA LORES, 2002, p. 94). Estes não são estruturas

fixas, mas mudam como resultado de processos reflexivos dos valores, das crenças e das ideias. E os ritos são “mecanismos mediante el cual los códigos y las narrativas de una cultura se convierten en la fuerza que hace que los constreñimientos sociales sean considerados no sólo como legítimos, sino inclusive como deseables” (MURGUÍA LORES, 2002, p. 96). Para participar nestes, cada membro deve recordar qual é seu rol e seu status na sociedade, pelo que estes têm funções de reiteração dos laços de solidariedade social e preservação de integração do grupo. Por outra via, Durkheim explicou que a incoerência cultural corresponde a uma condição patológica da sociedade que chamou ‘anomia’ para representar a conduta psicológica que evoca essa disjunção (LEACH, 1965, p. 28).

Na mesma escola francesa, Marcel Mauss (1872-1950) introduziu o conceito de ‘fato social total’ o qual “indica a necessidade de se refletir acerca das condutas humanas em todas suas dimensões, uma vez que os fenômenos são sociais, porém ao mesmo tempo fisiológicos e psicológicos” (FAGUNDES, 2014, p. 43). Estes fatos se expressam em todos os aspectos das representações dos grupos (valores, condutas, símbolos, sistema econômico, objetos materiais, conhecimento, etc.) e também na noção que o grupo tem de si mesmo em relação ao território que habita.

Desta maneira, o conceito de cultura de Mauss compreende uma expressão simbólica coletiva natural da condição humana, em que as sociedades exprimem seus costumes e instituições através de símbolos. Nestes termos, a cultura nunca é individual dado que além de ser criada por uma coletividade, precisa ser interpretada pelos membros e transmitida de forma grupal. A cultura, então, define a identidade e representa a forma de vida de uma sociedade no tempo e no espaço. Este componente espacial que Mauss incluiu, motiva reflexões em torno do conceito de ‘paisagem cultural’ o qual é parte do sistema de significações, dotado de conteúdo sobre elementos do ambiente, sociológicos, econômicos, políticos, históricos, até ideológicos. Portanto, o modo de vida implica relações com questões sociais e também com a natureza. Esta junto com a cultura “são fenômenos de totalidade, em um sistema harmônico e interconectado, de forma a garantir uma unidade coesa e de equilíbrio entre ambos” (FAGUNDES, 2014, p. 46, grifo do autor). Em consequência, mudanças culturais são ocasionadas por variações em aspectos religiosos, jurídicos, ideológicos, sociais e também em questões climáticas ou ambientais. Além disso, o modo de vida e a dinâmica cultural são imbricados por elementos que não podem ser considerados de forma isolada.

definiu detalhadamente sua concepção de ‘cultura’ como a herança social que o indivíduo recebe do grupo do qual faz parte. Ele iniciou distinguindo o termo ‘cultura’ de ‘civilização’, este último descrito como o aspecto espacial das culturas. Segundo Malinowski (1931), a cultura se divide em dois componentes fundamentais: a massa de artefatos e o sistema de costumes, que funcionam direta ou indiretamente para satisfazer as necessidades humanas. Estes dois assuntos contêm as principais categorias que determinam a cultura de um grupo: a língua, a organização social, o conhecimento intelectual, as ferramentas utilizadas dentro das atividades cotidianas, a forma em que estas são construídas, o modo em que os indivíduos satisfazem suas necessidades biológicas, as relações familiares e o papel de cada membro da família, a educação, os costumes e as tradições, os rituais, a magia, a religião, os jogos, os esportes, os passatempos e a arte em suas diferentes manifestações (música, dança, decoração do corpo, escultura e arquitetura, poesia, uso da linguagem e artes dramáticas). Desta forma,

[…] culture is then essentially an instrumental reality which has come into existence to satisfy the needs of man in a manner far surpassing any direct-adaptation to the environment. [...] Culture, the cumulative creation of man, extends the range of individual efficiency and of power of action. [...] The source of all this consists in the cumulative character of individual achievements and in the power to share in common work. Culture thus transforms individuals into organized groups and gives these an almost indefinite continuity. [...] Organization and ail concerted behaviour, the results of traditional continuity, assume a different form for every culture. Culture deeply modifies human innate endowment, and in doing this it not only bestows blessings but also imposes obligations and demands the surrender of a great many personal liberties to the common welfare. The individual has to submit to order and law; he has to learn and to obey tradition; he has to twist his tongue and to adjust his larynx to a variety of sounds and to adopt his nervous system to a variety of habits. He works and produces objects which others will consume, while in turn he is always dependent on alien toil. Finally, his capacity of accumulating experience and letting it foretell the future opens new vistas and creates gaps which are satisfied in the systems of knowledge, or art and of magical and religious beliefs. Although culture is primarily born out of the satisfaction of biological needs, its, very nature makes man into something essentially different from a mere animal organism (MALINOWSKI, 1931, p. 32).

Assim sendo, Malinowski aclarou que para o estudo da cultura deve se levar em conta a diversidade das funções e não unicamente a identidade da forma; além de ressaltar a função da família como uma das principais instituições em matéria legal, econômica e muitas vezes religiosa que dá continuidade à cultura mediante a educação.

Por outro lado, “antropólogos sociais ingleses, como Radcliffe-Brown e Evans- Pritchard rejeitavam a noção de cultura, talvez por razões nacionalistas” (KUPER, 2002, p. 86). Alfred R. Radcliffe-Brown (1881-1955) discutiu que o objeto do estudo da antropologia social não devia ser a cultura, mas a sociedade humana visto que a ‘cultura’ “denotes, not any concrete reality, but an abstraction, and as it is commonly used a vague abstraction”

(RADCLIFFE-BROWN, 1940, p. 2). Por isso, ele observou que os seres humanos estão conectados por uma rede complexa de relações sociais que chamou ‘estrutura social’. Estas relações sociais, diferentes às estudadas pelos sociólogos, existem “between two or more individual organisms when there is some adjustment of their respective interests, by convergence of interest, or by limitation of conflicts that might arise from divergence of interests” (RADCLIFFE-BROWN, 1940, p. 9), pelo que o estudo da estrutura social levaria à análise dos interesses e os valores como os determinantes das relações sociais. Além disso, existem outros fenômenos sociais que dependem ou afetam essas relações tais como a língua, a moral, a lei, a etiqueta, a religião, o governo, a educação e o sistema econômico que são partes de mecanismos complexos pelo que a estrutura social existe e persiste.

Em uma perspectiva diferente, Melville J. Herskovits (1895-1963), revisando trabalhos da psicologia e da biologia no referente ao comportamento dos indivíduos e comunidades animais, compreendeu ‘a cultura’ como um conjunto de forças carregadas de sentido que atuam sobre o homem integrando-o com o ambiente natural do qual faz parte, o passado histórico de seu grupo e as relações sociais que tem que assumir, manifestadas em instituições, normas de pensamento e objetos materiais, sendo estas resultado das experiências particulares da população; ou seja, entendeu a cultura como “una ‘construcción’ que describe los modos semejantes de conducta de los que forman una sociedad dada” (HERSKOVITS, 2002, p. 69) permitindo a adaptação às complexidades dando sentido à realidade e que só poderia ser analisadas levando em conta o passado. Por conseguinte, segundo Herskovits, a cultura deve ser aprendida “mediante un proceso que se denomina indistintamente habituación, imitación, acaso mejor, condicionamiento inconsciente” (HERSKOVITS, 2002, p. 38, grifo do autor); além de ser variável e estática ao mesmo tempo.

Alguns aspectos da cultura em seu conjunto podem se resumir como os atributos que todos os grupos humanos têm conforme o modo no qual se apropriam do viver:

Lo consiguen por medio del equipo tecnológico empleado para arrancar de su ambiente natural los medios de sostener la vida y llevar adelantes sus actividades diarias. Conocen algún modo de distribuir lo que así producen, sistema económico que les permite sacar el mayor partido a los ‘escasos medios’ de que disponen. Todos los pueblos dan expresión formal a la institución de la familia o a varios géneros de estructura de más amplio parentesco, y a asociaciones basadas en lazos que no son de sangre. Ninguno vive en completa anarquía, sino que en todas partes se han hallado muestras de algún género de control político. Ninguno hay sin una filosofía de la vida, un concepto del origen y funcionamiento del universo y de cómo debe tratarse con los poderes del mundo sobrenatural para conseguir los fines deseados; en síntesis, un sistema religioso. Con cantos, danzas, consejas, y formas de arte gráficas y plásticas para obtener satisfacción estética, lenguaje para dar paso a las ideas, y un sistema de sanciones y metas para dar significación y dirección al vivir (HERSKOVITS, 2002, p. 31).

Para Herskovits, ‘cultura’ e ‘sociedade’ são categorias distintas, mas relacionadas, porquanto ‘cultura’ é o modo de vida de um povo e ‘sociedade’ é um agregado de indivíduos que seguem um mesmo modo de vida. A diferença entre as sociedades humanas e as sociedades de animais radica em que a primeira tem cultura, dado que seus hábitos, costumes, comportamentos, etc. respondem a práticas que não só se desligam de necessidades fisiológicas. Finalmente, este autor comenta que a cultura é ‘coisificada’ ou ‘reificada’ quando aparece “una serie de instituciones capaces de ser descritas objetivamente como si existieran con independencia de la gente que vive de acuerdo con ellas” (HERSKOVITS, 2002, p. 69).

Contrário a Herskovits, para Edward Evan Evans-Pritchard (1902-1973), ‘cultura’ e ‘sociedade’ são termos equiparáveis, concepção que pode se elucidar na delimitação que ele fez dos objetivos do trabalho do antropólogo social, estabelecendo três fases principais ou níveis de abstração (EVANS-PRITCHARD, 1990): na primeira, o antropólogo tenta compreender as características significativas de uma cultura e traduzi-las em termos de sua própria; na segunda, pretende descobrir, mediante a análise, o modelo que se encontra oculto na sociedade ou cultura; e na terceira, compara as estruturas sociais que revelou a análise sobre determinado número de sociedades. Em palavras de Evans-Pritchard,

[…] en un simple estudio etnográfico, el antropólogo busca algo más que comprender el pensamiento y los valores de un pueblo primitivo y trasladarlos a su propia cultura, busca también descubrir el orden estructural de la sociedad, los patrones que, una vez establecidos le permitan verla como un todo, como un conjunto de abstracciones interrelacionadas (EVANS-PRITCHARD, 1990, p. 15).

Sobre este ponto, Takako Yoshikawa (1999) comenta a importância da tradução cultural para este autor. Através desta se busca reproduzir uma cultura na língua de outra ou dar sentido a costumes estranhos das sociedades que os antropólogos estudam desde o marco cultural deles mesmos. Por conseguinte, o antropólogo entra gradualmente no mundo físico, material e conceitual das pessoas, experimentando a cultura delas mediante a experiência de