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Dinâmica climática e seus efeitos no agroecossistema do milho nos Assentamentos

CAPÍTULO IV: DINÂMICA SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DO

4.3 Materiais e Métodos

4.4.2 Dinâmica climática e seus efeitos no agroecossistema do milho nos Assentamentos

Os dados de precipitação anual do período 1988-2017 do município de Simão Dias apresentaram precipitação média de 947,6 mm (Figura 4.3). A menor precipitação anual acumulada foi encontrada no ano de 1993, que atingiu 594,9 mm e a maior precipitação anual acumulada (1538,3 mm) em 1988.

Figura 4.3 - Precipitação anual do município de Simão Dias-SE no período (1988-2017).

Fonte: SEMARH-SE/INMET

No Estado de Sergipe, a precipitação pluvial é uma das principais responsáveis pelas oscilações na produtividade de grãos de milho, cuja queda está relacionada a variabilidade temporal e espacial das chuvas que ocorrem entre os meses de Março e Agosto (SILVA et al.,

2013). A distribuição das chuvas no município de Simão Dias (1988-2017) mostra dois períodos distintos, um com chuvas mensais abaixo de 80 mm de Setembro a Março e outro acima de 80 mm de Abril a Agosto (Figura 4.4). Segundo Marengo et al. (2011), essa distribuição da precipitação é uma característica da região semiárida do Nordeste resultado principalmente da atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

A ocorrência das chuvas nesta região está normalmente associada ao deslocamento sazonal da ZCIT de sua posição ao norte (~12º N), em Agosto e Setembro, para posições mais ao sul, (~ 4° S), em Março e Abril (FERREIRA, MELLO, 2005).

Figura 4.4 - Dados de Precipitação média mensal de 1988 a 2017 do município Simão Dias, SE, Brasil.

Fonte: SEMARH-SE/INMET

O município de Simão Dias está parcialmente inserido na região semiárida de Sergipe. Esta região apresenta regime pluviométrico caracterizado por extrema irregularidade de chuvas no tempo e no espaço (CRUZ et al., 2014). O mês de Junho apresenta-se como o mês de maior precipitação (145,4 mm), seguido pelos meses de Maio (136,6 mm) e Julho (127,8 mm) que correspondem ao período inverno chuvoso propício de acordo com o zoneamento agroclimático do município como o ideal para o início do plantio da cultura do milho em sequeiro.

A escassez de chuva interfere diretamente no desenvolvimento e crescimento da planta do milho e atua diretamente nas atividades fisiológicas da mesma interferindo na produção dos grãos e de matéria seca (EMBRAPA, 2004). O milho apresenta necessidade hídrica que

varia de 200 a 400 mm para o ciclo completo, que podem variar também de acordo com o local e época de plantio (BERGAMASCHI; MATZENAUER, 2009).

Nos Assentamentos Rurais 8 e 27 de Outubro, o calendário de plantio do milho segue a ocorrência de chuvas entre os meses de Abril e Maio. No entanto, a produtividade aos longos dos últimos anos tem sofrido variações de acordo com a distribuição irregular das chuvas, nos anos de 2010, 2011, 2012 e 2016.

Pesquisas realizadas por Santos (2012) e Silva (2014) mostraram que a média de produtividade do milho para o ano de 2010 foi de 40 sacos/ha (2.400 kg/ha) e no ano de 2011 de 18 sacos/ha (1.080 Kg/ha). A variação correspondeu a uma queda de produtividade de 55 % de 2010 para 2011. No ano de 2012, também em função da estiagem prolongada houve uma diminuição na produtividade do Assentamento 8 de Outubro que atingiu aproximadamente 1.359 kg/ha, uma diminuição de 43,4 % em relação ao ano de 2010 (SILVA, 2014).

O ano de 2016 apresentou uma forte queda da produtividade, tanto em nível municipal quanto nos assentamentos. De acordo com dados do IBGE (2017), a produtividade do milho em Simão Dias para 2016 foi 1.780 kg/ha e apresentou forte queda quando comparada à média de produtividade do milho do município nos últimos dez anos (5.048 kg/ha). Nos Assentamentos Rurais Oito de Outubro e 27 de Outubro essa perda também foi evidente. No ano de 2016, os assentamentos apresentaram produtividade média correspondente a 30 sacos/ha (1.800 kg/ha), o pior índice de perdas desde o ano 2010. Por outro lado, no ano de 2017, a produtividade média no Oito de Outubro atingiu 105 sacos/ha e no 27 de Outubro 100 sacos/ha, isto é, 6300 kg/ha e 6000 kg/ha, respectivamente.

O índice pluviométrico registrado em 2016 em Simão Dias foi 718,9 mm, estando 228,7 mm abaixo da média de chuva do período 1988-2017. Isto mostra que volume anual de chuvas não define a produtividade do milho em Simão Dias e sim a distribuição das chuvas no ciclo da cultura.

Em 2016, a precipitação apresentou maior concentração pluviométrica nos meses de Janeiro, Maio e Junho (Figura 4.5). Nos demais meses, o acumulado mensal de chuvas não atingiu 80 mm, principalmente nos meses de Abril, Julho e Agosto, cuja a precipitação ficou abaixo da média dos respectivos meses. O volume precipitado nos meses de Maio e Junho correspondeu a 40,9 % da precipitação anual, o que mostra a concentração das chuvas de 2016 em apenas dois meses de plantio, o que predispôs a perda da produtividade do milho no período.

Figura 4.5 Precipitação anual e temperatura média do município de Simão Dias – SE no ano de 2016.

Fonte: SEMARH-SE/INMET

A queda no quantitativo de chuvas em períodos normalmente chuvosos é indicativo de ocorrência de veranicos (fenômeno popularmente conhecido no semiárido nordestino como seca verde) que afeta os períodos críticos de desenvolvimento das culturas anuais (MARENGO, 2008). A baixa precipitação no período de Junho e Julho de 2016 comprometeu os estádios reprodutivos da planta, o que prejudicou a formação e preenchimento dos grãos, uma das fases mais críticas e decisivas a boa produtividade da cultura. O período de transição entre os estádios vegetativos e reprodutivos a escassez de chuvas pode afetar a polinização e o número final de grãos e o estresse hídrico pode reduzir o potencial produtivo da espiga levando ao risco de abortamento (CIANPITTI; ELMORE; LAUER, 2011).

Segundo Magalhaes e Durães (2007), o déficit hídrico na sequência de duas semanas antes até duas semanas após a fase de florescimento ocasiona uma queda brusca na produtividade dos grãos na ordem de 25 a 50%. A escassez de chuvas estimulou o estresse hídrico da planta e levando a perda total e/ou parcial da safra nos estabelecimentos rurais produtores de milho no município Simão Dias.

A escassez de chuvas no Nordeste do Brasil está em geral associada ao fenômeno El Niño. O El Niño corresponde a um aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial que produz o enfraquecimento dos ventos alísios4 e a diminuição das águas mais frias próximo à costa oeste da América do Sul, e em anos de ocorrência, produz o aumento de

4 Ventos persistentes, principalmente na atmosfera inferior, que sopram sobre vastas regiões de um anticiclone subtropical em direção às regiões equatoriais. Direção predominante no hemisfério sul é de sudeste (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS, 2008)

chuvas na Região Sul do Brasil e secas severas na Região Norte e Nordeste (MARIN, 2008). Eventos como El Niño exercem papel significativo na dinâmica pluvial dos municípios da região semiárida de Sergipe, principalmente associados a ocorrência de secas (OLIVEIRA, 2017).

De acordo com INPE/CPTEC (2018) a ocorrência do El Niño nos últimos 30 anos (1987 a 2016) obteve três intensidades: Fraca, Moderada e Forte (Quadro 4.1). Os anos de forte ocorrência foram nos períodos de 1987-1988, 1991-1992, 1997-1998 e 2015-2016. Os episódios cíclicos de ocorrência do El Niño que, em geral, reaparecem em intervalos de 2 a 7 anos (MARENGO et al., 2011). O ano de 2015-2016 foi ano de ocorrência de El Niño com forte intensidade o que pode ter influenciado na irregularidade de chuvas em 2016, e contribuído com a queda da produção do milho no território sergipano, notadamente nos assentamentos rurais de Simão Dias.

Quadro 4.1 Anos de ocorrência do El Niño e sua intensidade (1986 – 2016)

Ano de ocorrência Intensidade de Ocorrência

1986-1987 Moderada 1987-1988 Forte 1991-1992 Forte 1992-1993 Fraca 1997-1998 Forte 2002-2003 Moderada 2006-2007 Moderada 2009-2010 Moderada 2015-2016 Forte Fonte: INPE/CPTEC, 2018

A temperatura média anual no ano de 2016 atingiu o valor de 24,5°C, tendo como os meses mais quentes Março e Dezembro. De acordo com a série histórica, as temperaturas mais baixas foram registradas nos meses mais chuvosos, correspondentes ao inverno, em que são realizados o plantio do milho. No entanto, segundo os agricultores o calendário de plantio tem sido cada vez mais irregular devido à espera das primeiras chuvas de inverno.

Associado isto, a baixa capacidade de armazenamento de água das classes de solo do município de Simão Dias contribui com a perda de produtividade. De acordo com Silva et al. (2014) os Neossolos Litólicos abrangem 46% do município de Simão Dias, sendo considerado um solo com potencial pedológico Baixo e Muito Baixo para o cultivo de milho sob manejo com alta tecnologia. Devido a pequena espessura dos Neossolos Litólicos “[...] o fluxo de d’água em seu interior é precocemente interrompido, facilitando o escoamento em

superfície, provocado pela rápida saturação do solo, e em subsuperfície, na zona de contato solo-rocha” (GUERRA; BOTELHO, 2006, p. 190).

Ao contrário, o ano de 2017 foi marcado pela recuperação da produtividade do milho, em relação ao ano de 2016, nos Assentamentos Oito de Outubro e 27 de Outubro pela presença das chuvas na região. Os valores de precipitação atingiram 915,9 mm e a distribuição das chuvas no período de plantio e floração do milho corresponderam a média de chuvas esperada (Figura 4.6), traduzindo-se em condições favoráveis a produtividade do milho.

Figura 4.6 Precipitação anual e temperatura média do município de Simão Dias – SE no ano de 2017.

Fonte: SEMARH-SE/INMET

Observa-se na que no mês de Setembro de 2017 choveu 256,4 % a mais que a média histórica de 57,8 mm (1988-2017), mostrando uma condição atípica para o mês. Contudo, os agricultores de ambos assentamentos relataram na colheita a presença de grãos ardidos associados ao excesso de chuva na presença de espigas não deiscentes (espiga não dobra após atingir a maturidade fisiológica).

A depreciação da qualidade dos grãos pode ser identificada pela ocorrência de grãos ardidos, que está diretamente relacionada ao híbrido de milho e ao nível de empalhamento das espigas, e indiretamente, podem contribuir com seu incremento, a presença de pragas, desequilíbrio nas adubações e período chuvoso no final do ciclo (MAGALHÃES; DURÕES, 2007). Assim como o déficit traz danos a produtividade do milho, o excesso de água no ciclo do milho também traça um panorama de problemas na agricultura de sequeiro. Os grãos ardidos afetam a qualidade final do produto e representa descontos no preço de venda,

comprometendo o rendimento financeiro da produção. A figura 4.7, mostra o brotamento do milho na espiga e sinais de escurecimento dos grãos na lavoura do Assentamento 27 de Outubro. Isto evidencia cultivares não adaptadas a região, que por serem não deiscentes, quando da ocorrência de chuvas após o secamento da espiga, favorece a brotação dos grãos, fazendo-os germinar por conta da retenção de água.

Figura 4.7 - Brotamento do milho na espiga e sinais de escurecimento dos grãos na lavoura dos Assentamentos Oito de outubro e 27 de Outubro, Simão Dias, SE, Brasil.

Fonte: Pesquisa de campo (2017)

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