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O conflito é um fenômeno processual cíclico, pois é construído a partir de uma serie de episódios que funcionam como um evento provocador e que pode se repetir se o mesmo não se resolver definitivamente ou se houver uma grande interdependência entre as partes (WALTON, 1972).

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Segundo Schermerhorn, Jr , Hunt e Osborn (1999, p.270-271), o conflito se desenvolve em cinco estágios: 1º) Condições antecedentes ao conflito – são aquelas denominadas de “causas do conflito”, pois estabelecem as condições a partir das quais os conflitos tendem a se desenvolver; 2º) Conflito percebido – as partes percebem que as condições antecedentes criaram situações de diferenças substantivas ou emocionais, apenas caracterizando-se o conflito se a percepção for das duas partes; 3º) Conflito sentido – experimenta-se uma tensão que motiva a pessoa a tomar medidas para reduzir o sentimento de desconforto (assim como na fase do conflito percebido, aqui também as duas partes precisam desejar resolver o conflito); 4º) conflito manifesto – acontece quando o conflito já está totalmente declarado, expresso em comportamento; e 5º) Resolução ou supressão do conflito – existe a administração da situação do conflito, passando a sua.

Resolução pela busca de providências capazes de atender às necessidades antecedentes ao conflito ou, então, de suprimir essas condições.

Rondeau (1996), em sua análise diacrônica do conflito, representou o fenômeno como ilustrada na Figura 3. Consideram-se as transformações do comportamento das partes à medida que o conflito progride, traduzidas em seis dinâmicas distintas, que devem ser separadas em duas grandes fases:

33 Equilíbrio entre as partes Q U E B R A D A C O M U N I C A Ç Ã O Novo equilíbrio entre as partes CATARSE RUPTURA Viés Perceptivo Simplificação Cognitiva Aprovação de Terceiros Perda do Objetivo Principal Equilíbrio das Perdas Incompatibilidade

Deterioração da percepção do outro Acentuação da coerção em direção ao outro

Escala Desaceleração Figura 3 – Análise diacrônica do conflito

Fonte - Adaptado de Alain Rondeau (1996)

Na primeira fase, observa-se a deterioração da percepção do outro, em que a parte percebe os fatos diferentemente da outra parte, causando desconfiança em relação ao outro. Esta fase pode ser dividida em três etapas: primeira, etapa pelo menos uma das partes começa a perceber a existência de uma situação de conflito; segunda, este viés perceptivo progride para uma condição de reconhecimento entre as partes da situação de conflito; terceira, os envolvidos passam a buscar a aprovação de terceiros, buscando reforçar sua percepção do conflito. Neste ponto do processo, o conflito já está instaurado e acontece a quebra da comunicação, dando-se o que Schermerhorn, Jr , Hunt e Osborn (1999) chamam de “conflito manifesto”. Um processo de mediação passa a ser necessário, uma vez que as partes já têm convicção de que não vale mais a pena manter uma ligação.

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A segunda fase da escalada do conflito é caracterizada pela busca da coerção de

uma parte em relação à outra. As partes já atuam com consciência de se

encontrarem em uma situação de conflito e buscam os mecanismos para poderem preservar suas posições. A primeira etapa desta segunda fase é determinada pela perda do objetivo principal que levou ao conflito e pela busca de vencer a outra parte sem medir as conseqüências dessa posição. Na segunda etapa, as partes começam a perceber que a situação de conflito é mais prejudicial para ela do que para a outra, buscando assim uma reparação antes mesmo de considerar uma reconciliação. Na terceira etapa, ocorre a incompatibilidade, em que as partes consideram que a resolução do conflito não pode incluir a outra parte. Esta percepção provoca o risco de ruptura total entre as partes, o que pode levar o conflito a uma situação de não resolução. Thomas (1976) demonstra que para que haja uma condição de resolução do conflito existe a necessidade de um mecanismo de catarse, que é um meio de as partes diminuírem sua hostilidade a partir da intenção de ambas de espalharem seus sentimentos em relação à situação conflituosa e à outra parte.

Certamente, um conflito pode permanecer estável ou latente (THOMAS, 1976) durante determinado período. É indispensável que esta situação seja apenas transitória, pois aí uma intervenção será necessária para que as partes reencontrem a situação de equilíbrio que existia entre elas anteriormente.

A análise diacrônica do conflito (Fig. 3) coloca em relevo os modos particulares como as partes devem agir segundo o nível de progressão do conflito. O conhecimento destes mecanismos permite reconhecer certo número de comportamentos comuns a diversas situações de conflito, e assim evitar que eles

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deteriorem.

Neste tópico, observou-se que o conflito pode ser analisado de uma forma processual, uma vez que se pode dividi-lo em etapas distintas, facilitando, assim, a compreensão do fenômeno e permitindo às partes reconhecer em qual estágio se encontram no processo. Na análise feita, trabalhou-se com as idéias dos autores Schermerhorn, Hunt & Osborn (1999) e Rondeau (1996), que demonstraram, principalmente, que existe uma fase no processo conflituoso em que as partes ainda não reconhecem o conflito e que somente após esse reconhecimento mútuo é que o conflito se instaura. Outro aspecto importante foi a definição do conflito como um fenômeno cíclico e dinâmico, em que ele se modifica à medida que o tempo de conflito passa ou de acordo com a forma como é tratado. Observou-se que o conflito pode ter como conseqüência uma ruptura completa entre as partes ou uma reconciliação e aproveitamento da situação para o crescimento comum, dependo de como ele é conduzido em seu processo.

No próximo tópico, serão vistas as conseqüências que essas situações conflituosas podem trazer para a empresa e para seus partícipes.