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A dinâmica conversacional envolve um processo cujo objetivo é conduzir a pessoa estudada a campos significativos de sua experiência pessoal, os quais são capazes de

VI BASES EPISTEMOLÓGICAS E MEDODOLÓGICAS DA PESQUISA

6.5.3 A dinâmica conversacional envolve um processo cujo objetivo é conduzir a pessoa estudada a campos significativos de sua experiência pessoal, os quais são capazes de

envolvê-la nos espaços delimitadores de sua subjetividade individual (GONZÁLEZ REY, 2005b, p. 126). Assim, o sujeito pode expressar-se em relação a seu mundo, necessidades, conflitos, envolvendo aspectos emocionais que venham a possibilitar o surgimento de outros processos simbólico-emocionais, levando à trama de novos sentidos subjetivos.

Na dinâmica conversacional a pergunta, os posicionamentos do pesquisador saem da própria expressão do outro, não são um momento de ruptura com as construções dele, mas, precisamente, uma ação dialógica orientada ao aprimoramento de uma construção que vai progredindo simultaneamente em duas vertentes diferentes e inseparáveis: o que o outro vai construindo como importante para si mesmo, sobre as experiências que podem não ter sido nunca alvo de suas elaborações, e o que o pesquisador, nessa trama, vai construindo sobre o que quer conhecer. Esses dois processos, porém, não são separados um do outro, o que é parte essencial da ética que esse tipo de pesquisa exige (GONZÁLEZ REY & MITJÁNS MARTÍNEZ, 2017, p. 96).

Foram realizadas dinâmicas conversacionais coletivas e individuais com alunos envolvidos em situações de indisciplina que atrapalhavam a aula e que eram mencionados nas queixas presentes na escola, por suas professoras, seus pais, pela diretora da escola, coordenadora pedagógica, orientadora educacional e pela psicopedagoga da equipe de apoio especializado – EEAA. Elas aconteceram nas 2 (duas) modalidades abaixo descritas e em diferentes momentos da investigação. Quadro 2 - Momento empírico (Apêndice 25):

1- Diálogos informais e

2- Diálogos realizados a partir de indutores capazes de provocar a produção de informações relevantes para os objetivos da pesquisa, surgidas das intervenções da pesquisadora e das colocações dos participantes.

6.5.4 Instrumentos apoiados em indutores escritos – esses instrumentos, segundo González Rey (2005b, p. 51), permitem ao sujeito expressar- se por meio de outra forma de registro, o escrito, tendo como objetivo “facilitar expressões do sujeito que se complementem

entre si, permitindo-nos uma construção, o mais amplo possível, dos sentidos subjetivos e dos processos simbólicos diferentes que caracterizam as configurações subjetivas do estudado”.

a) Complemento de frases foi proposto aos participantes do estudo de caso na intenção de estimulá-los, a partir de indutores que foram elaborados com base nas situações dialógicas vivenciadas com eles desde o início de nossa inserção nos espaços sociais

e institucionais da escola. O instrumento procurou alcançar a produção de sentidos subjetivos dos alunos em situações de conflito e de indisciplina. Foi proposto aos alunos selecionados como forma de evocar a história de vida relacionada às queixas sobre seu comportamento em sala de aula. Seguida a esta atividade, realizaram-se dinâmicas conversacionais para exploração das respostas, considerando-se que conforme orienta González Rey (2005b) a dinâmica conversacional consiste em um instrumento rico e que permite múltiplas opções de análise qualitativa. (O instrumento Complemento de Frases está disponível no Apêndice 13).

b) Produção de texto/desenho – Após diálogo, foi proposto aos participantes, que mostrassem por escrito ou por meio de desenho a sua opção com relação ao que ele desejava ser quando crescesse. Deixou-se disponível folhas de papel A4, lápis grafite, lápis de cor e borracha. (Apêndice 16).

a) Caderno de Sentimentos – elaborou-se um caderno ao qual denominamos Caderno de Sentimentos, com o objetivo de propor que os participantes escrevessem sobre os sentimentos experimentados em situações vivenciadas em sala de aula ou em casa. Assim, dividiu-se um caderno de 48 páginas ao meio. Na primeira metade haviam perguntas a respeito de situações relacionadas ao tema da investigação, seguidas de 2 (duas) páginas em branco, para que eles se manifestarem com algo que se relacionasse à pergunta. Reservou-se a segunda metade do caderno com páginas em branco, para que eles escrevessem, desenhassem ou colassem livremente o que desejassem compartilhar conosco. (Apêndice 21).

O objetivo desse instrumento foi oferecer mais uma oportunidade de expressão, aos participantes, sobre como se sentiam, diante das experiências vivenciadas, em decorrência das manifestações ditas indisciplinadas. Esta atividade também teve a intenção de observar como os participantes assumiam este instrumento e como lidavam com ele, tendo em vista que haviam muitas queixas do descuido com seus cadernos de atividades escolares. O material foi entregue em uma pasta plástica colorida, contendo, caneta colorida, lápis, tesoura e o caderno.

6.6- A imersão no cotidiano da escola

Para o estudo dos processos subjetivos de alunos que se envolvem em situações de conflitos na sala de aula, e eram considerados indisciplinados, procurou-se organizar variadas alternativas de expressão, de modo a possibilitar-lhes transitarem por diferentes experiências, conforme orienta González Rey, (2011).

Realizamos um encontro com a participação da coordenadora, pedagoga e professora readaptada, chamada pela Coordenação a participar deste momento, para auxiliar na construção de uma representação da situação de indisciplina na escola e dos processos subjetivos que se desenvolvem naquele contexto relacionado ao problema estudado.

Após a indicação da coordenadora pedagógica, conversou-se com cada professora realizou-se uma dinâmica conversacional para trocar informações a respeito da turma e também solicitar-lhes autorização para realização das observações em suas turmas.

A inserção no contexto social da escola aconteceu, no segundo semestre de 2016, a partir do contato inicial com a direção da escola para as questões formais de apresentação das intenções e objetivos da pesquisa e a sensibilização quanto à relevância de estudar o tema no contexto educacional brasileiro do atual momento social. Suas ações foram de colaboração, o que ficou explícito pelos encaminhamentos que passou a fazer, a partir deste momento, embora sem verbalizar sua adesão à ideia. Como próximo passo, realizou-se uma dinâmica conversacional com a coordenadora pedagógica, orientadora educacional e a professora da sala de recursos, indicadas pela direção da escola. O encontro teve o objetivo de apresentar-lhes as intenções de pesquisa e ouvi-las em relação a situações de conflitos entre professor-alunos e o registro de alunos com os quais elas mencionassem estar em dificuldades para lidar. A dinâmica foi desenvolvida a partir de questões gerais, elaboradas com base nos objetivos propostos e no estudo do contexto e das circunstâncias em que estas situações estavam envolvidas.

A partir destas informações as professoras das duas turmas de 4º ano indicadas foram convidadas a conversar sobre as dificuldades que já haviam relatado à coordenação pedagógica, à orientação educacional e à direção da escola sobre a situação em sua turma.

Importante registrar que no encontro com a vice-diretora da escola foi mencionado que estas profissionais eram professoras de contrato temporário, parecendo sinalizar a pouca experiência que tinham para enfrentar, com sucesso, questões comportamentais relacionadas à indisciplina e outros problemas.

Os alunos mais citados nesta etapa foram relacionados em uma lista e as professoras foram desafiadas, por meio de perguntas provocadoras a se manifestar a respeito das situações

que mais lhes causavam incômodos, dificuldades e desafios na relação com aquelas crianças e acerca da natureza dos problemas e o nível de desconforto que sentiam em relação ao comportamento destes estudantes. A partir desta dinâmica foi possível fazer um primeiro levantamento dos participantes e das queixas. Desejávamos estudar alunos mencionados pelos professores como indisciplinados ou que se envolviam em conflitos na sala de aula, causando preocupação a eles.

Foi assim então que iniciamos o processo de observação da escola e da sala de aula. Combinamos com as professoras, que entraríamos na sala na condição de observador, sem, a princípio, interagirmos com os alunos, mesmo sabendo que não passaríamos despercebida e que nossa presença participaria da subjetividade social da sala de aula.

A partir de então, passou-se a fazer registros gravados em áudio, negociados com as professoras, além das anotações no diário de campo, na intenção de ampliar as possibilidades de maior alcance às experiências que se desenrolassem em campo, após aquele momento presencial, por meio da audição das gravações que serviriam à análise construtivo-interpretativa com base na experiência vivida neste contexto. Os áudios foram ouvidos, analisados e transcritos, de acordo com a necessidade de serem apresentados na tese.

A tabela apresentada no Apêndice (3) oferece uma sistematização, na medida do possível dos instrumentos, objetivos e cronograma das ações vivenciadas em campo, a fim de permitir uma visão, mesmo que aproximada de nosso percurso investigativo.