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4 METODOLOGIA

5.3 AUDIÊNCIAS PÚBLICAS

5.3.2 Dinâmica das reuniões

Ao longo das reuniões, a população presente pôde manifestar-se através de perguntas ou contribuições escritas ou orais. De acordo com o roteiro das reuniões descrito nas atas analisadas, os interessados em elaborar perguntas escritas deviam preencher um formulário disponível na plenária, incluindo o nome, o endereço e a pergunta. As inscrições para manifestações orais também deviam ser realizadas no formulário padrão, com o nome, o endereço e, a seguir, a palavra oral. As inscrições para as perguntas encerravam-se após trinta minutos do início dos debates.

As pessoas que fizeram inscrições e não se encontravam presentes durante a leitura das perguntas não tiveram sua manifestação ou questão lida na reunião. Vale mencionar que não foi encontrada nos registros indicação de que essa regra tinha sido apresentada à comunidade no início das reuniões.

Na audiência pública realizada em Linhares, no dia 17 de março de 2011, para licenciamento ambiental do projeto de Complexo Termelétrico no Município, as perguntas foram lidas e respondidas independentemente da presença ou não do manifestante.

Com base nas atas e na identificação dos moradores que se manifestaram ao longo das reuniões, as perguntas foram feitas, em sua maioria, por moradores da região. A segunda rodada de audiências para o projeto de uma siderúrgica foi, sem dúvida, quando as reuniões aconteceram com maior duração. As reuniões foram diferenciadas pelo formato, entre as realizadas no Estado, conforme a análise dos documentos, pela duração e pela participação da equipe técnica nas apresentações e respostas às dúvidas da comunidade.

No início da reunião em Guarapari, houve cerca de quarenta minutos de falas de autoridades. A seguir, aconteceram apresentações de grupos temáticos de trabalho sobre os assuntos ar, água, recursos naturais e socioeconomia. As apresentações realizadas por analistas do Iema, consultoria e empresa duraram cerca de uma hora e meia. Esta reunião teve duração de aproximadamente cinco horas e meia, com manifestações de moradores da região, subsecretários de Estado, secretários municipais, representantes do setor hoteleiro da região, representante de ONGs, entre outros. Os assuntos foram variados, mas algumas preocupações, como

capacidade hídrica da região, impactos no turismo, impactos resultantes da vinda de trabalhadores de fora da região, poluição atmosférica e compensação ambiental, merecem destaque.

Nas reuniões para licenciamento de projeto siderúrgico, a preocupação foi com o aumento da poluição atmosférica, uma vez que na região já existe uma usina de pelotização de minério de ferro, com captação de água para o processo produtivo. Na audiência pública para o processo de licenciamento de um estaleiro em Aracruz, algumas manifestações sobre os impactos vieram da comunidade indígena presente na região. Dessa forma, evidencia-se que, mesmo havendo uma instituição que trata especificamente do componente indígena ao longo do processo de licenciamento ambiental, a presença com questionamentos assim como algumas tratativas acabam sendo realizadas no âmbito do licenciamento pela autoridade licenciadora.

Nessa audiência houve 32 manifestações escritas, e a maioria dos assuntos versou sobre a capacidade de suporte da região para receber o empreendimento. A busca da comunidade por uma autoridade ambiental que a resguarde pôde ser sentida nas manifestações sobre os impactos: se são administráveis e se a autoridade ambiental oferece garantias de que as condicionantes serão cumpridas para que a comunidade não sofra com os impactos. Em manifestação oral, um membro da comunidade queixou-se da falta de informações no Rima, enquanto outro observou que as condicionantes ambientais sobre priorização de mão de obra de outras empresas da região não estão sendo cumpridas, além de reclamar da ausência do Ministério Público na reunião.

De acordo com os Princípios Internacionais de Melhores Práticas, deve ser providenciada a capacitação, facilitação e assistência da comunidade para que todos possam participar. A mediação deve ser realizada por um participante neutro, segundo André e outros (2006), buscando a imparcialidade no processo. As informações devem estar acessíveis a todos os leigos, para que todos tenham oportunidade e a participação seja realmente facilitada (ANDRÉ et al., 2006).

As audiências públicas eram agendadas pela autoridade ambiental, geralmente para as dezenove horas e, frequentemente, tinham de quarenta a cinquenta minutos de atraso, dificultando a permanência da comunidade até o final das reuniões. De acordo com as atas analisadas, vale destacar que nenhuma das reuniões se iniciou

no horário marcado. No caso da audiência para um projeto de estaleiro no município de Aracruz, o atraso foi de quase uma hora.

5.3.3 Documentação

As atas foram, em sua maioria, registradas por um taquígrafo parlamentar, porém sem uniformidade que talvez melhorasse os registros para efeito comparativo, pois muitos empreendimentos são similares, ou ocorrem em regiões similares, e as atas poderiam ser fonte de conhecimento, inclusive para o órgão ambiental, se tratadas de modo adequado.

Em ata do projeto de uma linha de transmissão de energia, que não foi elaborada por um taquígrafo, o responsável registrou as participações de forma resumida, de tal modo que não permitiu ao leitor saber quais foram os assuntos abordados, apenas a quantidade dos membros da comunidade que se manifestaram.

Algumas atas não faziam a distinção entre as perguntas orais e as escritas, nem especificavam o horário em que cada etapa da reunião havia começado ou terminado, e, em apenas 19% delas, estava registrado o número de participantes. Essa ausência de uniformidade nos registros pode dificultar o efeito comparativo entre as atas, porém não compromete os resultados.

As audiências públicas para o projeto de uma siderúrgica foram diferenciadas, pois aconteceram duas rodadas de reuniões, nas quais foi apresentada uma metodologia de avaliação de impacto diferente da usual, com a participação de atores externos a autoridade ambiental na discussão das informações prestadas no EIA.

A primeira rodada de audiências foi iniciada pela analista do Iema, que apresentou o modelo instituído na Instrução de Serviço nº 018-S. Nessa etapa, formaram-se os grupos de trabalho sob a coordenação de analistas do órgão ambiental, para discutir temas, como água, ar, recursos naturais e socioeconomia. Este último foi subdividido em sete temas: infraestrutura, governança regional, saúde, educação, turismo e cultura, emprego e renda, segurança. Foi apresentada a dinâmica dos grupos e seu funcionamento, e os resultados de cada tema eram levados ao Grupo de Trabalho Governança Regional, formado por cinco prefeitos municipais da região

suscetível de impacto direto do empreendimento, alguns responsáveis por secretarias estaduais e empresas que atuavam na região ou que tinham previsão de atuar. Foram realizadas várias reuniões dos grupos, que discutiram, corrigiram e procederam ao encaminhamento das informações referentes aos impactos. Todas as informações geradas estão anexadas ao processo de licenciamento da empresa e serviram para a análise da equipe técnica.

Essa inclusão de atores de grupos de especialistas no processo de participação pública com a realização de workshops objetivos e divididos em tema pode ser considerada um aprimoramento para a eficácia do processo de AIA, conforme abordam Becker e outros (2003) e Saariloski (2000).