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UNGUICULATA (L.) WALP.] COM FIBRA DE COCO 1 RESUMO

O feijão caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp.] é amplamente cultivado na região Nordeste devido à adaptação a altas temperaturas, salinidade e baixa disponibilidade de água. Substratos orgânicos como fibra de coco e esterco bovino podem constituir alternativa para maximizar a produção, minimizar os impactos agrícolas e favorecer os micro-organismos promotores do crescimento de plantas como os fungos micorrízicos arbusculares (FMA). Para testar a hipótese de que a adição de resíduos orgânicos ao solo influencia a esporulação e a infectividade de FMA e a produção de proteínas do solo relacionadas à glomalina (PSRG) em um campo cultivado com feijão caupi foi estudado durante dois ciclos de produção. Amostras de solo rizosférico foram coletadas no Campus de Ciências Agrárias da Univasf em Petrolina/PE, nas seguintes áreas: Caatinga (área de referência), área de pousio, áreas cultivadas com feijão caupi recebendo 10 t ha-1 de esterco e doses de 0, 12, 24, 48 t ha-1 de fibra de coco, totalizando seis tratamentos. Antes do cultivo, amostras de solo foram retiradas da área de referência e da área de pousio. Após 30 dias da primeira coleta de solo, o cultivo de feijão caupi foi estabelecido na área de pousio. As duas coletas seguintes foram realizadas após ciclos de 80 dias nas áreas de cultivo e na área de referência. As seguintes variáveis foram analisadas: número de glomerosporos e de propágulos infectivos de FMA, colonização micorrízica, produção de proteínas do solo relacionadas à glomalina (PSRG). A densidade de glomerosporos não diferiu entre as áreas; a colonização micorrízica não ultrapassou 40,8 % nas áreas cultivadas, mas chegou a 60% na Caatinga e foi influenciada pelo teor de fósforo no solo. O número total de propágulos infectivos de FMA variou de 4,5 a 33 nas áreas cultivadas e alcançou 350 propágulos por cm3 de solo na área de referência. As quantidades de PSRG foram maiores na área de referência e em geral correlacionadas aos teores de argila e de matéria orgânica indicando a influência negativa da mudança da área natural para cultivo. Altos teores de fósforo nas áreas cultivadas devido aos substratos orgânicos introduzidos influenciaram negativamente a colonização micorrízica. A retirada da vegetação natural afeta negativamente a atividade dos FMA, mas a utilização de práticas agrícolas sustentáveis possibilita a recuperação dos propágulos infectivos desses fungos, possibilitando a manutenção da comunidade de FMA nas áreas.

INTRODUÇÃO

O feijão caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp.] também conhecido como feijão

macassar, feijão de corda, feijão fradinho e feijão verde, é uma leguminosa herbácea, anual, geralmente adaptada a zonas temperadas e tropicais (Freire Filho et al., 1999). A produção mundial de feijão caupi, no ano de 2007, estava distribuída por 36 países, destacando-se entre os maiores produtores a Nigéria, o Níger e o Brasil, respectivamente, que representavam 84,1 % da área e 70,9 % da produção mundial (FAO, 2009 apud Silva, 2011).

O caupi é amplamente cultivado nos países tropicais e principalmente na região Nordeste do Brasil onde constitui a base da alimentação, apresentando algumas características adaptativas a condições adversas, como tolerância a altas temperaturas, salinidade e baixa disponibilidade de água (Sousa, 2006).

As sementes de feijão caupi são muito nutritivas, além de apresentar vitaminas como tiamina, riboflavina e niacina (Davis et al., 1991). Devido ao seu valor proteico o feijão caupi é utilizado na alimentação humana na forma de grãos secos ou verdes e como vagens, mas seus ramos e folhas também são utilizados na alimentação animal na forma de grãos e forragem (Freire Filho et al., 1999).

Fungos micorrízicos arbusculares (FMA) formam associação simbiótica com a maioria das plantas terrestres, recebendo carboidratos obtidos durante a fotossíntese, em troca, os fungos fornecem água e nutrientes minerais principalmente os de baixa mobilidade, como o fósforo, além de formas indisponíveis de nitrogênio, absorvidos por suas hifas no solo (Cardoso et al., 2010).

Uma forma de aumentar a produtividade de culturas de interesse econômico é a utilização de resíduos orgânicos. Dentre esses, o esterco bovino é um dos substratos mais utilizados na agricultura pelos benefícios às características físicas, químicas e biológicas do solo, como o aumento da aeração, permeabilidade e diminuição da compactação do solo (Garrido et al., 2008). Outro substrato que vem sendo utilizado é a fibra do coco que se destaca por apresentar alta porosidade, retenção de umidade e baixo custo (Rosa et al., 2001).

Tem sido demonstrada a influência desses substratos na atividade micorrízica, e a fibra do coco tem sido utilizada em culturas como pimentão e melão; no entanto, os efeitos benéficos às plantas pela adição desse substrato só são observados quando aplicado em níveis abaixo de 30 % da fibra, e valores de 80 % prejudicam os FMA (Monteiro et al.,

2009; Silva Junior et al., 2006; 2010). A utilização de esterco tem beneficiado a colonização micorrízica e a eficiência simbiótica em mudas de cafeeiro (Tristão et al., 2006); porém, dependendo da dose, o esterco pode diminuir a colonização micorrízica (Trindade et al., 2000).

O conhecimento sobre a interação das plantas de feijão caupi com FMA na presença de resíduos orgânicos é importante para compreender se essa prática traz benefícios à cultura e à comunidade microbiana. Para aplicação de FMA é necessário conhecer a sua distribuição e seu potencial de infectividade no sistema de interesse, considerando ainda se são produzidos esporos em quantidade suficiente para utilização como inóculo (Smith e Read, 2008; Moreira e Siqueira, 2006).

O objetivo deste trabalho foi verificar se a adição de resíduos orgânicos (fibra de coco e esterco bovino) ao solo influencia a esporulação, a infectividade e a atividade desses fungos, representada pela produção de glomalina, em área cultivada com feijão caupi.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi realizado com amostras de solo coletadas em área experimental instalada no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, PE. O solo da região é classificado como Argissolo Amarelo. Segundo a classificação de Koppen o clima da região é tropical semiárido do tipo BSwh’, caracterizado pela escassez e irregularidade das precipitações com temperatura média anual de 28 °C e precipitação pluviométrica de 548 mm. Para o estudo foram consideradas as seguintes áreas: Caatinga em sucessão espontânea com predomínio da leguminosa

Mimosa tenuiflora (Willd) Poir, utilizada como referência; área em pousio por

aproximadamente 10 anos, localizada próxima à área de referência; área cultivada com feijão caupi, estabelecida na área de pousio, um mês após a primeira coleta de solo. A área cultivada foi dividida em quatro tratamentos (0, 12, 24 e 48 t ha-1 de fibra de coco, todas adubadas 10 t ha-1 de esterco bovino). O solo foi revolvido por meio de aração e gradagem, aplicando-se uma única dose de 10 t ha-1 de esterco bovino na linha de plantio um mês antes do experimento. A área total do experimento abrangeu 320 m2, com parcelas medindo 16 m2 (4 x 4m). Um tubo gotejador foi instalado por linha de plantio e irrigações foram realizadas diariamente por 1 hora.

Figura 1. (A) área em pousio, (B) aspecto da área após a retirada da vegetação, (C) e (D) primeiro e

segundo ciclos de feijão caupi (80 dias), e (E) e (F) aspecto da Caatinga em regeneração, em Petrolina, PE.

DELINEAMENTO EXPERIMENTAL DO CULTIVO

O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com quatro tratamentos (0, 12, 24 e 48 t ha-1 de bagaço de coco verde) em cinco repetições totalizando 20 parcelas de 16 m2 cada. A fibra do coco, parcialmente triturada, foi cedida pela Amacoco Nordeste e utilizado como cobertura. A cultivar de feijão caupi utilizada foi a BRS Pujante, e as sementes inoculadas com estirpe de Rizóbio (BR 3267) enviado pela Embrapa Agrobiologia; o espaçamento foi de 30 cm entre plantas e 50 cm entre as linhas, com

A B

C D

duas plantas por cova. A coleta do solo foi realizada nas quatro fileiras centrais de cada parcela.

COLETAS

O solo foi coletado de forma aleatória na rizosfera das plantas na profundidade de 0-20 cm e utilizado para as análises relativas aos FMA e caracterização físico-química do solo. As três coletas realizadas nesse estudo foram referentes aos meses de julho/2011, outubro/2011 (período seco) e março/2012 (período chuvoso). A primeira coleta foi realizada para o reconhecimento da área no tempo zero (área de pousio antes do cultivo do feijão), para isso, cinco amostras de solo, compostas de seis subamostras, foram coletadas nas áreas de pousio e fragmento de Caatinga. As duas coletas subsequentes foram realizadas aos 80 dias de cultivo, fase de frutificação do feijão caupi (outubro/2011 e março/2012), nas parcelas com 0, 12, 24 e 48 t ha-1de bagaço de coco verde, além da área de Caatinga (referência). No total, foram coletadas 360 subamostras de solo durante as três coletas, considerando cinco amostras compostas de seis subamostras em cada tratamento/área, cada amostra composta continha 4 kg de solo que foi acondicionado em sacos plásticos e encaminhados para análise no laboratório de micorrízas da UFPE.

CARACTERÍSTICAS DO SOLO

A temperatura do solo foi aferida no local da coleta com um termômetro de solo. O pH foi avaliado em amostras de 10 g de solo em água (Embrapa, 1999) e a umidade determinada após secagem de 2 g de solo em estufa (105 °C/24 h), (Debosz et al., 1999). As demais análises do solo foram realizadas na Estação Experimental de Cana-de-açúcar do Carpina, pertencente à Universidade Federal Rural de Pernambuco (Tabela 1).

AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS MICORRÍZICOS

-Densidade de glomerosporos: o número de esporos foi obtido a partir de 50 g de solo, após a extração via peneiramento úmido (Gerdermann e Nicolson, 1963), seguido por centrifugação em água e sacarose a 50 % (Jenkins 1964), sendo a contagem realizada em estereomicroscópio.

-Colonização micorrízica: fragmentos de raízes foram retirados de cada uma das amostras de solo, diafanizados com KOH (10 %) e corados com Azul de Trypan (0,05 %) (Phillips e Hayman, 1970). A percentagem de colonização radicular foi avaliada pelo método da

lâmina com auxílio de microscópio, observando-se a presença ou ausência de estruturas micorrízicas, em 100 segmentos de raízes por amostra (Giovannetti e Mosse 1980).

-Número mais provável de propágulos infectivos: o número de propágulos infectivos de FMA foi estimado em bioensaio como proposto por Feldmann e Idczak (1994). Para cada tratamento uma amostra composta do solo coletado foi diluída com areia esterilizada (diluente), em quatro níveis de diluição (0; 1:10; 1:100; 1:1000), com cinco repetições cada. Como planta hospedeira foi utilizado o milho (Zea mays L.); após 30 dias as raízes foram coradas (Phillips e Hayman, 1970) e analisadas quanto à presença de estruturas de FMA. O número de propágulos foi estimado de acordo com a tabela de Cochran (1950) e expresso em número de propágulos por cm3 de solo.

-Proteínas do solo relacionadas à Glomalina (PSRG): a produção de PSRG foi determinadas segundo o método de Wright e Upadhyaya (1998), com extração por autoclavagem do solo com citrato de sódio, nas porções facilmente extraíveis e total, quantificadas pelo método de Bradford (1976) em espectrofotômetro e os dados expressos em mg glomalina por g de solo.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados de colonização micorrízica e número de esporos foram transformados em arco seno e log x+1, respectivamente, sendo submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P 5 %). Foram também realizadas análises de correlação simples de Pearson (r) entre as variáveis do solo e os teores de glomalina total e facilmente extraível, a porcentagem de colonização micorrízica e número de glomerosporos (Tabela 3). Essas análises foram realizadas com auxílio do programa Assistat 7.6 beta (Silva e Azevedo, 2006).

A B

Tabela 1. Caracterização química e física do solo em área de Caatinga, área em pousio e áreas cultivadas com feijão caupi e concentrações de fibra de coco como cobertura do

solo e adubadas com 10 t ha-1 de esterco bovino (exceto a Caatinga e pousio), em Petrolina, PE.

Áreas de estudo Atributos Químicos

Fe Cu Zn Mn P K Na Al Ca Mg H S.B. CTC mg/dm3 cmolc / dm 3 Caatinga 155,0 a 0,4 bc 10,8 ab 23,4 ab 19,5 c 0,3 a 0,6 a 0,03 a 3,2 a 1,6 a 2,5 a 5,9 a 8,4 a Pousio 45,5 b 0,1 c 5,5 b 30,0 a 88,0 b 0,7 a 0,1 b 0,00 b 2,4 a 0,7 b 0,4 b 4,0 b 4,4 b Feijão+ 0 t ha-1 60,7 b 0,7 ab 10,1 ab 21,3 b 114,0 a 0,7 a 0,1 b 0,00 b 2,7 a 0,9 b 0,5 b 4,5 b 5,0 b Feijão+ 12 t ha-1 70,3 b 1,0 a 10,9 ab 21,1 b 132,0 a 0,7 a 0,1 b 0,00 b 2,8 a 1,0 b 0,6 b 4,7 b 5,2 b Feijão+ 24 t ha-1 56,3 b 0,7 ab 14,0 ab 20,8 b 118,0 a 0,5 a 0,1 b 0,00 b 2,7 a 0,9 b 0,7 b 4,2 b 5,0 b Feijão+ 48 t ha-1 39,2 b 0,7 ab 16,0 a 21,5 b 130,0 a 0,8 a 0,1 b 0,00 b 3,0 a 0,8 b 0,5 b 4,9 b 5,4 b

Áreas de estudo Atributos Químicos Atributos Físicos

V C % m M.O. pH Umidade % TºC Areia Total Areia

Grossa Areia Fina Silte Argila

Caatinga 67,5 b 1,4 a 0,5 a 2,5 a 5,4 b 0,91 b 36,2 a 73,0 b 41,7 b 31,4 a 13,9 a 13,1 a Pousio 90,4 a 0,7 b 0,0 b 1,3 b 7,1 a 0,49 b 27,1 b 84,3 a 53,0 a 31,2 a 6,1 b 9,6 b Feijão+ 0 t ha-1 89,2 a 0,8 b 0,0 b 1,4 b 6,8 a 3,18 a 26,4 b 85,3 a 50,1 a 35,2 a 5,9 b 8,8 bc Feijão+ 12 t ha-1 88,7 a 0,9 b 0,0 b 1,6 b 6,8 a 3,22 a 26,6 b 85,7a 52,3 a 33,5 a 5,8 b 8,4 bc Feijão+ 24 t ha-1 85,7 a 0,9 b 0,0 b 1,5 b 6,8 a 3,44 a 26,4 b 85,5 a 52,1 a 33,4 a 5,8 b 8,7 bc Feijão+ 48 t ha-1 89,7 a 0,9 b 0,0 b 1,6 b 7,0 a 3,74 a 27,2 b 86,4 a 53,9 a 32,5 a 5,9 b 7,7 c

S.B.= Soma de bases trocáveis; CTC= Capacidade de troca catiônica; V= saturação por bases; m= Saturação por Al; M.O.= Matéria Orgânica. Médias seguidas pela mesma letra, nas linhas, não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5 %.

Po n tes, Ju lian a - Div er sid ad e d e Fu n g o s Mic o rr ízico s Ar b u scu lar es e m cu ltiv o d e feijão ca u p i.. . 5 9

RESULTADOS

Não houve diferença significativa no número de glomerosporos entre as áreas cultivadas com feijão caupi e a área de referência. No entanto, na primeira coleta, o número de esporos foi maior na área de referência do que na área de pousio. A média do número de glomerosporos variou de 53,8 a 221,8 esporos 50g solo-1, nas áreas de pousio e de referência, respectivamente. Em relação aos períodos de coleta, o número de glomerosporos diferiu estatisticamente da primeira coleta em relação às demais, em todas as áreas (Figura 2).

Figura 2. Densidade de esporos de fungos micorrízicos arbusculares em áreas de Caatinga (CA) e área antes

do cultivo (I coleta), áreas cultivadas com feijão caupi e fibra de coco nas concentrações 0 t ha-1(F+0), 12 t ha-1(F+12), 24 t ha-1(F+24) e 48 t ha-1(F+48) e 10 t ha-1 de esterco (II e III coleta), em Petrolina, PE. Letras minúsculas comparam os períodos de coleta; letras maiúsculas comparam entre as áreas dentro de cada período. Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5 %.

A colonização micorrízica foi maior na área de referência do que nas demais áreas, com média de 60,8 %. A taxa de colonização não diferiu estatisticamente entre os cultivos, embora tenha sido menor nas áreas acondicionadas com fibra de coco em comparação com a área não acondicionada e também com a área de pousio (Figura 3).

Figura 3. Colonização micorrízica em raízes de plantas da área de Caatinga (CA) e antes do plantio

(gramíneas espontâneas) (I coleta), áreas cultivadas com feijão caupi e fibra de coco nas concentrações 0 t ha-

1(F+0), 12 t ha-1(F+12), 24 t ha-1(F+24) e 48 t ha-1(F+48) e 10 t ha-1 de esterco (II e III coleta), em Petrolina,

PE. Letras minúsculas comparam as coletas; letras maiúsculas comparam as áreas. Médias seguidas pela mesma letra nas barras não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5 %.

O potencial de infectividade dos FMA variou de 4,5 a 350 propágulos por cm3, nas áreas com feijão sem a fibra de coco e na área de referência, respectivamente. Os maiores valores de propágulos foram encontrados na área de referência, na 3º coleta. Nas áreas cultivadas houve tendência para aumento da infectividade dos FMA com o aumento da dosagem de fibra de coco, mas as diferenças não foram significativas, e em todas as áreas o número de propágulos aumentou com o estabelecimento da cultura (Tabela 2).

Tabela 2. Número mais provável (NMP) de propágulos infectivos de fungos micorrízicos arbusculares

(FMA) em solos de área de Caatinga, em pousio, áreas cultivadas com feijão caupi e concentrações de fibra de coco e esterco bovino, em Petrolina, PE.

*Não houve coleta nesses períodos.

As quantidades de PSRG variaram de 0,30 a 1,30 mg glomalina g solo seco-1 da porção facilmente extraível e de 0,40 a 2,20 mg glomalina g solo seco-1 na glomalina total;

Áreas NMP cm-3

I coleta II coleta III coleta

Caatinga 79,0 110,0 350,0 Pousio 33,0 * * Feijão + 0 t ha-1 * 4,5 11,0 Feijão + 12 t ha-1 * 11,0 17,0 Feijão + 24 t ha-1 * 6,8 14,0 Feijão + 48 t ha-1 * 13,0 33,0

os teores de glomalina (frações facilmente extraível e total) foram maiores na área de referência e não diferiram estatisticamente entre as áreas cultivadas (Figura 4). Registrou- se correlação positiva entre as frações de glomalina e o teor de argila, silte, matéria orgânica e colonização micorrízica e correlação negativa com pH e teor de fósforo (Tabela 3).

Figura 4. Proteínas do solo relacionadas à glomalina fração facilmente extraível (A) e total (B) em solos de

área de Caatinga (CA) e área antes do cultivo (I coleta), áreas cultivadas com feijão caupi e fibra de coco nas concentrações 0 t ha-1(F+0), 12 t ha-1(F+12), 24 t ha-1(F+24) e 48 t ha-1(F+48) e 10 t ha-1 de esterco (II e III coleta), em Petrolina, PE. Letras minúsculas comparam os períodos de coleta dentro das áreas; letras maiúsculas comparam as áreas dentro dos períodos de coleta. Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5%.

A

Todas as variáveis dos FMA analisadas foram relacionadas com a umidade; enquanto a produção de esporos aumentou com o aumento da umidade, as demais variáveis decresceram.

Tabela 3. Coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis biológicas e os atributos do solo.

Esporos Colonização GFE GT

Esporos Colonização -0,3461 ns GFE 0,1614 ns 0,4895 ** GT 0,1066 ns 0,5577 ** 0,9688 ** Umidade 0,4155 * -0,6285 ** -0,4001 * -0,4405 * Temperatura 0,1283 ns 0,6327 ** 0,8315 ** 0,8839 ** Fe 0,0623 ns 0,5929 ** 0,7046 ** 0,7770 ** P 0,3429 ns -0,7230 ** -0,6885 ** -0,7598 ** pH -0,0689 ns -0,6184 ** -0,8293 ** -0,8716 ** K 0,1358 ns -0,2226 ns -0,3821 * -0,4098 * Na 0,0564 ns 0,5207 ** 0,8352 ** 0,8772 ** Ca 0,5735 ** 0,0540 ns 0,6172 ** 0,5716 ** Mg 0,2730 ns 0,3509 ns 0,7552 ** 0,8060 ** CTC 0,3115 ns 0,4759 ** 0,8969 ** 0,9235 ** V -0,0371 ns -0,5993 ** -0,8598 ** -0,9037 ** M 0,2212 ns 0,5073 ** 0,6594 ** 0,6861 ** M.O. 0,2827 ns 0,4562 * 0,8844 ** 0,9147 ** Areia Total 0,0059 ns -0,7308 ** -0,8699 ** -0,9225 ** Silte 0,1064 ns 0,6407 ** 0,8871 ** 0,9345 ** Argila -0,1978 ns 0,8126 ** 0,7536 ** 0,8100 **

GFE= Glomalina facilmente extraível; GT= Glomalina total; S.B.= Soma de bases trocáveis; CTC= Capacidade de troca catiônica; V= saturação por bases; m= Saturação por Al; M.O.= Matéria Orgânica. ** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p <0,01); * significativo ao nível de 5% de probabilidade (0,01 =< p <0,05); ns não significativo (p >= 0,05)

DISCUSSÃO

Os valores de glomerosporos foram similares aos encontrados na mesma cultura, em quatro municípios pernambucanos, onde se registrou de 16 a 140 esporos 50 g de solo-1 (Maia e Trufem, 1990). No entanto, em cultivo tratado com substratos orgânicos, no estado da Paraíba, a densidade de glomerosporos variou de 181 a 292 esporos 50 g de solo-1 no segundo ciclo do cultivo (Sousa et al., 2012).

Ao contrário de resultados encontrados por outros autores, o número de esporos foi correlacionado positivamente com a umidade (r=0,41; p<0,05 – Tabela 3); na maioria dos trabalhos a esporulação é maior no período seco, em virtude da escassez de água disponível, gerando estresse e estimulando a produção do propágulo pelos FMA (Souza et

al., 2003; Amorim et al., 2004; Bonfim et al., 2010). Apenas a terceira coleta foi realizada

no período chuvoso, porém todas as áreas cultivadas eram irrigadas periodicamente, por isso não houve diferença entre a segunda e terceira coleta para o número de glomerosporos.

Mesmo com a irrigação e adubação no cultivo de caupi o número de glomerosporos foi semelhante ao da área de referência. O elevado número de glomerosporos se deve provavelmente ao favorecimento da esporulação pela monocultura com leguminosas, tendo em vista que os FMA são influenciados pela comunidade vegetal com a qual estão associados (van der Heijden et al., 1998).

Os valores de colonização micorrízica nas áreas cultivadas são semelhantes aos encontrados em outras leguminosas, com valores de 11 e 64 %, como encontrado por Silva

et al. (2007). Em solos salinos, no estado do Ceará, foram encontrados resultados similares

para a mesma espécie de feijão, com percentual de colonização micorrízica de 48 % (Tavares et al., 2009). No trabalho de Sousa et al. (2012) em cultivo de feijão caupi, na Paraíba, utilizando como fontes orgânicas gliricídia, esterco caprino e gliricídia + esterco, a colonização alcançou 35,3 % no primeiro ano de cultivo. Valores inferiores aos encontrados neste trabalho foram observados em três leguminosas cultivadas em casa de vegetação, em associação com FMA nativos (Caldeira et al., 2003) e em feijão caupi cultivado em Araripina e Serra Talhada, PE com 0,3 e 1,5 % de colonização, respectivamente (Maia e Trufem, 1990).

Na área de referência, o percentual de colonização micorrízica foi significativamente superior ao registrado nos cultivos de feijão, provavelmente porque em condições de longos períodos de seca os FMA investem mais energia colonizando o hospedeiro para se proteger das condições adversas, sendo o ambiente mais favorável às espécies que se propagam por fragmentos de raízes colonizadas (Maia et al., 2010). Para estabelecimento do cultivo a área foi manejada, rompendo-se o micélio micorrízico; além disso, a cultura foi irrigada e recebeu adubação orgânica, o que favoreceu a retenção de umidade no solo favorecendo os hospedeiros vegetais e não os FMA. Em áreas de Caatinga a taxa de colonização micorrízica é variável, com valores entre 4 e 80 % dependendo do hospedeiro (Maia et al., 2010).

A diferença significativa na colonização das plantas, entre as áreas estudadas, também parece estar relacionada com os níveis elevados de fósforo, resultado da adição de esterco ao solo; as plantas da área de referência, com menor nível de fósforo, apresentaram maior colonização micorrízica ao contrário das áreas adubadas, com níveis elevados desse nutriente e elevada umidade; esse dado foi confirmado pela correlação negativa entre o P (r=-0,72, p<0,01 – Tabela 3) e a umidade (r=-0,62, p<0,01 – Tabela 3), com a colonização micorrízica. De acordo com Moreira e Siqueira (2006), níveis elevados de P podem inibir o

desenvolvimento da associação micorrízica. Resultados semelhantes foram encontrados por Rheinheimer (1997) estudando o efeito dos FMA no crescimento de leguminosas forrageiras, e por Sampaio et al. (2012), os quais mencionaram que maior disponibilidade de nutrientes reduziu a colonização micorrízica em plantas de banana maçã(Musa spp.).

Os maiores valores de proteínas do solo relacionadas à glomalina na área de Caatinga e os menores no cultivo indicam que as práticas agrícolas afetam a produção dessa glicoproteína. O revolvimento do solo ocasiona a quebra do micélio e dos agregados, favorecendo a degradação dessa glicoproteína pelos micro-organismos do solo (Treseder e Turner, 2007); a adição da fibra do coco aparentemente não interferiu no teor de PSRG registrado no solo cultivado. As frações GFE e total das PSRG foram correlacionadas positivamente com o teor de argila (r=0,75 e r=0,81, respectivamente; p<0,01 – Tabela 3) e matéria orgânica (r=0,88 e r=0,91, respectivamente; p<0,01 – Tabela 3). Resultados semelhantes de correlação foram encontrados por Souza et al. (2011) que observaram

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