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O Brasil está diante de oportunidades que surgem a partir de um novo ciclo de crescimento econômico e desenvolvimento social. O desafio é ir além de um crescimento quantitativo e iniciar uma transformação na es- trutura produtiva que torne o progresso tecnológico e a inovação força mo- triz da expansão econômica. Refletir sobre as transformações na economia e as formas de mensurar a inovação tecnológica e seus impactos sobre a sociedade é o papel central desta obra, que, na essência, procura distinguir crescimento (“mais do mesmo”) de desenvolvimento (“inovação”), confor- me fez Schumpeter ainda no início do século XX.

Temas como inovação tecnológica e investimento se tornaram presentes não apenas na agenda acadêmica dos institutos de pesquisa e universidades no Brasil, mas também se consolidaram em políticas de desenvolvimento da produção no Brasil no período recente. Dessa forma, a inovação tecnológica passou de reflexões teóricas para ações concretas implementadas em políti- cas públicas como a Política Industrial Tecnológica e de Comercio Exterior (Pitce), de 2003, a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e o Plano de Ação de Ciência Tecnologia e Inovação (Pacti), de 2007. Tais políticas procu- ram impulsionar a alteração da estrutura produtiva do país e o crescimento. Os dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do Instituto Brasilei- ro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao período 2006-2008, que começam a ser difundidos junto com o lançamento deste livro, mostram aumento do número de empresas inovadoras na indústria brasileira.

Motivados por esse virtuoso processo de debate e de ações voltadas para a inovação tecnológica, o Observatório da Inovação e Competitivida-

de (OIC) do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) realizou, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um conjunto de estudos no âmbito do “Projeto Estudos da Produção, Tecnologia e Inovação”, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). São 24 artigos que tratam de temas relevantes sobre inovação tecnológica, sob os mais diversos ponto de vista, sejam macro ou microeconômicos, com foco na metrópole ou na empresa.

Embora seja uma função comum nos países desenvolvidos, nos paí- ses em desenvolvimento, e especialmente no Brasil, o monitoramento, a avaliação e a busca de indicadores que mensurem a inovação tecnológica e seus impactos ainda são atividades pouco frequentes. Tampouco há no Brasil uma tradição de avaliação de políticas públicas. Quando feita, é mais relacionada ao processo de implantação das medidas do que propriamente quanto a seu impacto econômico efetivo. Em geral, os impactos ocorrem em um prazo significativamente mais longo do que aquele de implantação da política e, em alguns casos, só podem se notados e mensurados anos depois.

Se é inegável que a economia brasileira teve avanços significativos nos últimos anos, a base produtiva em que se deu esse ciclo de expansão re- cente ainda é pouco competitiva diante dos grandes concorrentes interna- cionais, especialmente em setores mais intensivos em conhecimento, nos quais estão concentradas as importações do país. Mesmo em setores em que a competitividade nacional é patente, como petróleo, por exemplo, a pauta de importados dos fornecedores-chave da indústria brasileira petro- lífera é constituída de produtos e serviços intensivos em conhecimento, em contraste com os bens e serviços oriundos de fornecedores locais, tecnolo- gicamente mais padronizados.

A sustentabilidade do desenvolvimento no país, no médio e longo pra- zos, depende de salto de qualidade na estrutura produtiva brasileira, que propicie uma inserção maior e mais dinâmica no mercado mundial. Apro- ximadamente 60% das exportações brasileiras são constituídas de produ- tos de baixa intensidade tecnológica (commodities, produtos intensivos em mão de obra e recursos naturais etc.), e apenas 30% estão na categoria de produtos de média e alta intensidade tecnológica. Em sentido inverso, no

comércio mundial, nada menos que dois terços das exportações são inten- sivos em tecnologia, e essa participação vem aumentando ao longo do tem- po. A experiência internacional mostra que todos os países bem-sucedidos na progressão para níveis mais altos de renda e desenvolvimento migraram em direção a uma pauta de exportações mais intensiva em conhecimento.

A possibilidade de o Brasil alcançar maiores taxas de crescimento do produto e da renda depende também de alcançarmos uma estrutura pro- dutiva mais dinâmica que a atual. A estrutura produtiva brasileira é capaz de migrar para uma posição mais avançada do ponto de vista tecnológico. Essa transição para uma estrutura produtiva mais intensiva em conheci- mento e mais integrada aos mercados mundiais requer a calibragem das políticas de governo e a existência de instrumentos eficazes no sentido de promover maior desenvolvimento tecnológico e maior inserção internacio- nal das empresas brasileiras.

Esse é o pano de fundo a partir dos quais as análises deste livro foram feitas. O processo de pesquisa foi inovador em si mesmo. O Ipea e o OIC do IEA-USP lançaram edital chamando pesquisadores em formação – par- ticularmente, mestrandos e doutorandos – para submeterem seus projetos. O Ipea organizou e articulou o acesso às bases de dados nacionais junto à sala do usuário do IBGE, onde se podem obter microdados, sendo assegu- rado o sigilo das informações por procedimentos muito bem projetados e realizados pelo IBGE. Isso retarda a consulta de dados e causa desconforto em alguns jovens pesquisadores, mas é um preço baixíssimo a pagar para garantir a inviolabilidade e o não acesso a informações individuais. Além de legal, é medida absolutamente necessária para a perenidade e confia- bilidade das pesquisas realizadas pelo IBGE. Ainda, o Ipea disponibilizou bases de dados oriundas de outras instituições, como a Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (Rais-MTE) e a base de dados de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, In- dústria e Comércio Exterior (MDIC), que se integraram, na sala do usuário, às bases do IBGE, com sigilo também garantido por este.

A manipulação de grandes bases de dados requer conhecimento de suas características, conhecimentos de estatística, econometria e progra- mação na linguagem de trabalho do IBGE. O projeto disponibilizou profis-

sionais experientes para apoio aos pesquisadores. O projeto também finan- ciou viagens, ajuda de custo e pequeno pro-labore para os pesquisadores selecionados, de forma a que eles pudessem acompanhar in loco a evolução dos processamentos na sala do usuário do IBGE no Rio de Janeiro.

O resultado aqui está. Uma obra volumosa. Desigual. Instigante. Como no Jogo de Amarelinha, de Cortázar, cada capítulo pode ser lido isoladamen- te ou em qualquer sequência; depende do interesse do leitor.

Boa leitura!

Mario Sergio Salerno João Alberto De Negri Lenita Maria Turchi José Mauro de Morais

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