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Dinâmica litorânea em zonas de bypass da planície costeira das

3. PRAIAS DO FUTURO E SERVILUZ: CARACTERIZAÇÃO DOS

4.2. Dinâmica litorânea em zonas de bypass da planície costeira das

As praias possuem um balanço sedimentar peculiar que, dependendo de um aporte de sedimentos: em maior grau poderá ocorrer um processo de acúmulo sedimentar (deposicional ou construcional); e, em menor grau, poderá acontecer um processo erosivo. Esse balanço é interrompido quando são efetuadas atividades antrópicas (Figura 4.1) que ocasionam sucessíveis transformações na dinâmica litorânea. Quando essas modificações são consumadas, ocorrem mudanças tanto no balanço sedimentar quanto em alterações na linha de costa, ou seja, no bypass de sedimentos (areias), traduzido pelo transporte eólico sedimentar ao longo da faixa de praia.

Figura 4.1 – Domínio dos processos litorâneos. Fonte: Modificado de Meireles et al., (2001).

A planície costeira de Fortaleza foi praticamente submetida a diversas intervenções antrópicas em áreas destinadas à regulação dos processos litorâneos, excepcionalmente entre as desemboucaduras dos rios Cocó e Ceará. Tais interferências, uma vez incogitáveis, estão totalmente relacionadas com a implantação de equipamentos urbanos em ambientes que vêm modificando os processos sedimentares, morfológicos, hidrodinâmicos e oceanográficos responsáveis pelas dinâmicas praiais. Neste sentido, as unidades morfológicas caracterizadas pela dispersão de sedimentos, alimentadoras de material arenoso para o sistema praial e reguladoras dos fluxos de energia vêm sendo totalmente utilizadas de forma inadequada e imprópria.

A deriva litorânea dos sedimentos no litoral fortalezense se desenvolve, de leste para oeste, em função da ação das marés, das ondas e dos ventos. Normalmente, as dunas móveis são originadas durante o período de maré baixa quando os ventos transportam parte dos grãos de sedimentos do estirâncio à zona de berma, posteriormente para o interior do continente. Tal dinâmica ocorre numa conjugação tanto da disponibilidade suficiente de um volume de areia quanto da intensidade dos ventos para mobilizar os sedimentos praiais

Uma vez formadas as estruturas dunares e com a continuidade do processo de migração, as que alcançam os canais flúvio-marinhos dos rios Cocó e Pacoti são enfraquecidas através da hidrodinâmica estuarina destes, com os sedimentos originando bancos de areia no leito de seus canais. Nessa altura, os corpos dunares quando atingem a desembocadura desses rios são lançados para a linha de praia; consequentemente, o transporte sedimentar é regido pelo sistema de correntes litorâneas em função da conjugação das ondas, marés e correntes marinhas.

A intensidade da dinâmica evolutiva desta área está relacionada com o

bypass de sedimentos eólicos através de sua incursão num trecho ao longo das

praias do Futuro e Serviluz. Os corpos dunares chegam a invadir qualquer obstáculo que encontra a sua frente, ora inserido no setor de bypass de areia para faixa de praia. Parte deste setor vem sendo ocupada tanto pelas aglomerações residenciais quanto pela instalação de barracas de praias (Figura 4.2).

O promontório do Mucuripe, antes da década de 1940, representava uma importante zona de bypass de sedimentos. Devido o transporte regional ser de leste para oeste, os setores representados pela praia, berma, dunas frontais (em contato com o estirâncio) e campos de dunas imediatamente à oeste deste promontório foram, em grande parte, alimentados pelo fornecimento de areia proveniente das dunas que perpassavam esta ponta. As dunas quando migravam sobre este promontório permitia que os sedimentos retornassem para a linha de praia à jusante, participando do transporte longitudinal proporcionado pelas correntes litorâneas.

Figura 4.2 – Estágios de evolução da situação da zona de bypass de sedimentos na ponta do Mucuripe. Observar que, no estágio 1, antes da década de 1940 a faixa de praia era alimentada por sedimentos eólicos provenientes da antiga zona de bypass. O estágio 2 mostra, após a construção do porto, aliada à expansão de Fortaleza, que houve um impedimento do volume regulador de areias e consequentemente, erosão acelerada à jusante e soterramento à montante. Organizado por: Ernandy Luis Vasconcelos de Lima.

Através da relação de interdependência e interação entre morfologias definidas como prisma de praia, dunas móveis, canais estuarinos e promontórios, que se processa parte da dinâmica costeira, com a manutenção de um fluxo contínuo de areia para a faixa de praia, originado através da participação de sedimentos provenientes dos campos de dunas móveis. Os estuários e o promontório envolvidos com o transpasse de areia para a linha de praia proporcionam a integração entre os fluxos: eólico, estuarino (hidrodinâmica nos canais dos rios Pacoti e Cocó) e de correntes marinhas (ondas e marés), responsáveis tanto pela contínua transformação das unidades morfológicas associadas e quanto em função do prisma praial.

A construção do Complexo Portuário do Mucuripe (a partir do ano de 1939) e a implantação de molhes (anos posteriores a 1939) inviabilizaram esse fluxo de sedimentos. A instalação desses equipamentos acarretou em rápidas mudanças

no padrão morfodinâmico, as quais alteraram a quantidade de areia que definia perfis de praia por meio da ação do clima de ondas, tanto à jusante quanto à montante do promontório. O molhe do Titã (Titãzinho) foi construído em 1966 para impedir o processo natural de assoreamento da enseada do Mucuripe, onde está localizado o Porto. Com a continuidade do transporte de sedimentos pela ação das ondas e sem uma reposição a partir dos setores de bypass, foi desencadeada uma erosão acelerada à oeste e uma ação de engorda à leste.

Portanto, em virtude do exposto, quando o homem agiu neste processo, particularmente, em função do processo de urbanização ao modificar a trajetória, a energia envolvida e o volume de areia em transporte, consequentemente foi originada uma nova dinâmica regida pelo predomínio de fenômenos erosivos e progressivos. Foram intensificados quando grandes volumes de areia, que antes transitavam pela planície costeira do Futuro e Serviluz, na forma de dunas, foram desviados, bloqueados e fixados pela expansão urbana e obras costeiras, pela ocupações de moradias e por vias de acesso.

Este molhe do Titã, no extremo norte ao longo da planicie costeira distribuída entre as praias do Futuro e do Serviluz, estando perpendicular à deriva litorânea dos sedimentos, barra as areias provenientes de sudeste no volume de sedimentos que se armazena constantemente, provocando um engordamento contínuo desta faixa de praia. Os volumes dunares vêm sendo, assim, impedidos de alcançarem à faixa de praia posterior a área em apreço.