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Introdução

Narrar fatos para conhecimento público ainda é a maior característica do jornalismo. A figura do jornalista, com seu bloco de anotações, microfone – ou gravador - à mão continua valendo, todavia, a web 2.0 e a mobilidade mudaram os processos comunicacionais no mundo todo. Dispositivos como smartphones, tablets e notebooks potencializados pelo fácil acesso à internet móvel ampliaram a possibilidade de consumidores midiáticos se tornarem cada vez mais produtores de conteúdo ou prosumidores (TOFFLER, 1980). O clássico conceito “emissor + mensagem + receptor” (MACLUHAN, 1964) deixa de existir quando não mais se pode separar emissor de receptor. As diversas redes sociais, especialmente o Facebook, Twitter e, hoje, com ênfase o YouTube, possuem significativa difusão e oferecem inúmeros recursos para sua utilização. Esses espaços utilizam a narrativa transmídia, conforme explica Jenkins (2009).

Esse novo cenário abriu novos campos de investigação nas Ciências da Comunicação, trazendo novos conceitos ao ecossistema midiático. Originário dos anos 60. O Media Ecology é uma escola teórica que estuda os meios

1 Graduado em Comunicação Social/Publicidade. Pós-graduando em Ensino de Comunicação/Jornalismo: Temas Contemporâneos pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão Observatório de Pesquisas Aplicadas ao Jornalismo e ao Ensino (OPAJE) da Universidade Federal do Tocantins (UFT). E-mail: dioakyra@gmail.com.

enquanto ambientes, estudando não somente a estrutura e o conteúdo como o impacto nos receptores.

Entre esses estão os conceitos de transmídia e crossmedia que embora alguns autores tratem como sinônimos são conceitos distintos.

Crossmedia e Transmídia

Henry Jenkins (2001) alerta, para evitar confusões conceituais, que crossmedia significa a transmissão de um mesmo conteúdo em diferentes plataformas. Estratégia ainda utilizada pelos meios tradicionais de comunicação, nos quais o mesmo conteúdo publicado impresso será duplicado em outros meios como sites, posts em redes sociais e vídeos. Diferenciando os conceitos, crossmedia é uma estratégia e transmídia uma linguagem. A estratégia de crossmedia é mais adotada pelo marketing, enquanto que a narrativa transmídia é mais aproveitada para entretenimento, contudo começa a ser aplicada no jornalismo, mesmo que forma incipiente, provavelmente por conta de um perfil conservador das redações.

Vicente Gosciola (2012, p. 9) define narrativa transmídia como “uma história expandida e dividida em várias partes que são distribuídas entre diversas mídias, exatamente aquelas que melhor possam expressar a sua parte da história”. A multiplataforma, por sua vez engloba a veiculação de conteúdos complementares e, não, simplesmente, uma repetição de conteúdo de mídia em mídia, conforme Jenkins (2009).

A Narrativa Transmídia há muito já é realidade no cinema e se fortalece a cada ano como um novo modo de contar histórias. Um exemplo é a saga de fantasia espacial

Star Wars, que além dos filmes – sete até 2015 (A ameaça

fantasma, O ataque dos clones, A vingança dos Sith, Uma nova esperança, O império contra-ataca, O retorno de Jedi e O despertar da força) e a previsão de mais dois para 2017 e 2018, além de um

Spin Off para 2016 (Rogue one – A Star Wars story) – seguiu ampliando, ainda na década de 1980, a história criada por George Lucas, em diferentes plataformas, como Histórias em Quadrinhos, livros, jogos de videogame e animações para TV, em sua predominantemente escritas e desenvolvidas por fãs que se apropriaram da saga e se tornaram também produtores de conteúdo.

A produção televisiva LOST trouxe uma forma de narrativa transmídia já adaptada para o século XXI, na qual além dos episódios regulares da série na TV – com inúmeras referências a livros e ícones da cultura POP, foram desenvolvidos episódios para internet (websódios), sites fictícios de empresas que figuravam a história da série – fazendo o espectador buscar informações para complementar o entendimento dos mistérios apresentados no programa em outras mídias e produzindo conteúdo em blogs e fóruns de discussão, ampliando a experiência do expectador.

Jornalismo Transmídia

Scolari (2011) defende que mesmo que o conceito tenha sido utilizado inicialmente no entretenimento, é preciso pensar em sua aplicação fora do universo ficcional, para tanto destaca duas vertentes principais da narrativa transmídia. A história contada por meio de vários meios e plataformas: ela começa em um meio e continua em outros, aproveitando o melhor de cada meio para se expandir. O prosumidor - termo criado por Alvin Toffler, no livro A Terceira Onda. -, que seria o consumidor que produz conteúdo (produtor + consumidor) divide suas experiências, pauta tendências e contribui no processo de criação de produtos e serviços também colabora na construção do mundo narrativo: ao relato do emissor (de cima para baixo), deve-se somar a produção de baixo para cima, ou seja, a contribuição dos consumidores, agora também produtores.

No livro A Cultura da Convergência, Henry Jenkins (2009), diz que a convergência midiática aproxima os interesses das indústrias de mídia e tecnologia do processo comunicacional da narrativa transmídia, estimulando a participação e a coprodução de conteúdo nas plataformas. “O Jornalismo transmídia é a notícia contada a partir de diversas histórias (independentes), em distintos meios (e linguagens) que em conjunto oferecem uma nova história passível de comentários e circulação por redes sociais e em dispositivos móveis” (RENÓ; FLORES, 2012, p.87).

Esse novo jornalismo é a ampliação da notícia, que se expande com características virais, compartilhada (e recompartilhada), pelos usuários das diversas redes sociais espalhando seu conteúdo para além do veículo gerador. Assim, o modelo tradicional da grande mídia é ameaçado por essa nova grande mídia, blogs, twitter, sites, YouTube, Facebook, Instagram, entre outras. Vale ressaltar a possibilidade de ampliação do conteúdo da notícia, buscando complementação em outras fontes virtuais uma vez que os dispositivos móveis podem permitir acesso imediato à internet.

O jornalismo brasileiro vem tentando acompanhar esse fenômeno transmidiático como forma de se aproximar do novo consumidor de conteúdo. Grandes portais de notícias ligados às maiores redes de telecomunicações, no país, refletem essa tentativa de aproximação. Em paralelo vemos o surgimento de diversos portais de notícia independentes que produzem conteúdo exclusivamente digital. Exemplos como Mídia Ninja e Catraca Livre que se utilizam das multiplataformas para levar notícias muitas vezes produzidas e editadas em dispositivos móveis, como smartphones e tablets.

Essa mobilidade possibilitada pelas novas tecnologias é extremamente necessária para os jornalistas da atualidade, especialmente os que atuam nas mídias digitais. Assim, sentimos que as redes sociais são capazes de difundir com

destreza a informação publicada pelos jornalistas, criando assim uma audiência midiática de maior alcance e expressividade.

Considerações Finais

A comunicação se torna cada vez mais mista, buscando um discurso mais adaptado às novas tecnologias faz uso de diversas linguagens e mensagens complementares. A narrativa transmídia surgiu naturalmente das características da sociedade contemporânea, que apresenta novas demandas comunicacionais fazendo necessário o desenvolvimento de novas linguagens.

A narrativa transmídia ainda é mais expressiva em produtos ficcionais de entretenimento, principalmente por questões mercadológicas. Jogos virtuais, revistas em quadrinhos, livros e quaisquer outras formas de mídia que possam ampliar a narrativa e consequentemente trazer mais lucro aos produtores. Afina, são explorados muito além do produto inicial. Essa nova linguagem passou a ser notada e atendida por estudos de narrativa transmídia, potencializado pelo rápido desenvolvimento das redes sociais, facilitando aos usuários serem co-autores (prosumidores) de conteúdo na internet.

O estudo das narrativas transmídia (Transmedia Storytelling) é recente, tanto quanto o próprio termo, usado por Henry Jenkings pela primeira vez em 2003, facilmente aplicável ao estudo de produtos de entretenimento, entretanto, ainda são poucos os estudos mais aprofundados sobre outra área importante da comunicação: o jornalismo. Existe uma necessidade do jornalismo à construção de narrativas transmídia com características propriamente jornalísticas, espaço há para estudos que contemplem essa nova linguagem.

O Jornalismo transmídia é uma realidade ampliada todos os dias pelas redes sociais e novas produções

facilitadas pela interatividade e pela necessidade de se comunicar possibilitada a qualquer instante pelos dispositivos móveis.

Todavia, faz-se necessário que os novos estudos de narrativa transmídia dentro do jornalismo busquem desenvolver um estudo de recepção que ajude a analisar o conteúdo produzido e o impacto desse novo modo de fazer jornalismo no consumidor.

Referências

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GOSCIOLA, V.; RENÓ, D.; CAMPLANS, C. Narrativa transmídia: entre teorías y prácticas. Bogotá:

Editorial UOC, 2014.

JENKINS, H. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009.

LAVERY, D.; PORTER, L. Desvendando os Mistérios

de Lost, São Paulo: Novo Século, 2006.

MASSAROLO, J. C. Jornalismo Transmídia: a notícia na

cultura participativa. Revista Brasileira de Ensino de

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MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como

RENÓ, D. P. Interfaces e linguagens para o

documentário transmídia. Fonseca, Journal of

Communication – Monográfico 2 (2013), pp. 211-233. ______; FLORES, J. M. Periodismo Transmídia - Reflexiones y técnicas para el ciberperiodista desde los laboratorios de medios interactivos. Madrid: Editorial Fragua, 2012. Disponível em: < https://www.academia.edu/9779059/Periodismo_tr ansmídia>. Acesso em 19 fev. 2016.

______.; VERSUTI, A. C.; MORAES-GONÇALVES, E.; GOSCIOLA, V. Narrativas transmídia: diversidade social, discursiva e comunicacional. Bogotá: Palabra Clave, v. 14, n, 2, p, 201-215, Diciembre de 2011.

SCOLARI, C. A. Narrativas transmídia - cuando todos los medios cuentan. Grupo Planeta, 2013.

TAYLOR, C. Como Star Wars Conquistou o Universo. São Paulo: ALEPH, 2015