3 4
Autores: Santos, G.A.P.1, Lira, V.F. 2, Vincx, M1., Fonseca-Genevois, V.G. 2, Larrazabal, 5
M.E.L. 2, Moens, T. 1 6
7 1-
Seção de Biologia Marinha, Departamento de Biologia, Universidade de Ghent, 8
Krijgslaan 281 (S8), 9000 Ghent, Bélgica 9
2-
Universidade Federal de Pernambuco, Av. professor Moraes Rêgo, 1235, 50.670-420, 10
Recife, Pernambuco, Brasil 11
12 *
Autor para correspondência: Seção de Biologia Marinha, Departamento de Biologia, 13
Universidade de Ghent, Krijgslaan 281 (S8), 9000 Ghent, Bélgica 14
Endereço de e-mail: giopaiva @hotmail.com (Santos, G.A.P.) 15
16
Resumo
17
Cádmio é um dos metais pesados mais comuns no ambiente aquático e tem sido relatado 18
por possuir um efeito negativo nos organismos bênticos, incluindo os Nematoda. Baseado 19
nisto, o objetivo desde trabalho foi analisar o efeito do Cádmio no desenvolvimento 20
populacional do Nematoda Diplollaimelloides oschei. As concentrações testadas foram: 21
0, 0.3, 1.0, 5.0, 9.0 e 12.0 ppm. Na concentração de 1.0 ppm a população total e os 22
machos tiveram sua densidade reduzida, enquanto que a redução na abundância dos 23
demais níveis populacionais ocorreu a partir do tratamento de 5.0 ppm. Também a partir 24
desta concentração houve redução no tempo de desenvolvimento embrionário. Nas duas 25
concentrações mais altas não foram produzidos novos adultos. Diplollaimelloides oschei 26
aparenta ser mais sensível ao Cd que outros Nematoda marinhos, como Pellioditis 27
marina. 28
29
Palavras Chaves: Ecotoxicologia- Invertebrado- Poluição ambiental– Metais pesados– 30
Bentos – Bioensaio. 31
Abstract
32
Cadmium is one of the most common heavy metals in the aquatic environment and has 33
been related to have a negative effect on the benthic organisms, including nematodes. 34
Based on this fact, the aim of this work was to analyze the effect of Cadmium on the 35
population development of the nematode Diplollaimeloides oschei. The concentrations 36
tested were: 0, 0.3, 1.0, 5.0, 9.0 and 12.0 ppm. In the concentration of 1.0 ppm the total 37
population and the males exhibited a reduction on the density while from the treatment of 38
5.0 ppm onwards the other population levels had a reduction on the abundance. Also 39
from this concentration onwards occurred a reduction on the embrionary developmental 40
time. On the two highest concentrations were not produced new adults. Diplollaimeloides 41
oschei seems to be more sensitive to Cd than other marine nematodes, e.g. Pellioditis 42
marina. 43
44
Keywords: Ecotoxicology- Invertebrates- Environmental pollution – Heavy metals – 45 Benthos – Bioassay 46 47 1. Introdução 48 49
A poluição causada pela liberação de despejos no meio ambiente é um problema 50
mundial, principalmente quando se refere aos resíduos tóxicos, os quais, na maioria, são 51
metais pesados que se acumulam e impactam o substrato e a fauna associada de muitos 52
ecossistemas aquáticos. Consequentemente, muitos ambientes são conhecidos por serem 53
poluídos e possuírem uma alta concentração de contaminantes introduzidos 54
antropicamente (De Groot, 1995). 55
A maioria dos ecossistemas marinhos armazena metais pesados. Estes tipos de 56
poluentes podem gerar efeitos na biota marinha a curto (Vanegas et al., 1997) e a longo 57
prazo (Somerfield et al., 1994, Yarsan et al., 2007). Uma fonte específica de 58
contaminação antrópica por metal pesado em sedimentos de mar aberto são os fluidos 59
aquosos e os não aquosos utilizados nas atividades de perfuração petrolífera e de gás. 60
Estes fluidos normalmente possuem o bário como principal componente (Melton et al. 61
2000; Rezende et al., 2002; Pozebon et al., 2005), mas ao mesmo tempo contêm outros 62
49 metais pesados associados, a exemplo de : Mercúrio, Arsênico, Cobre, Zinco, Chumbo e 63
Cádmio (EPA, 2005), os quais podem impactar significativamente a fauna bêntica 64
(Kropp, 2004). As comunidades meiobentônicas vêm mostrando de forma importante, 65
que são afetadas pela poluição de metais pesados (Austen et al., 1994; Austen e McEvoy, 66
1997; Hagopian-Schlekat et al., 2001). Cádmio é um dos metais pesados mais 67
problemáticos para o ambiente aquático, tendo, sido relatado o seu efeito negativo em 68
uma variedade de organismos bênticos, inclusive Nematoda (Vranken et al., 1985; 69
Sundelin e Elmgren, 1991; Hagopian-Schlekat et al., 2001; De Wolf et al., 2004), mesmo 70
em baixas concentrações (Merrill et al., 2001; Fotakis et al., 2005). 71
Nematoda são os metazoários mais abundantes na Terra, e suas comunidades e 72
populações podem proporcionar informações importantes como bioindicadores em 73
biomonitoramentos de diversos distúrbios ambientais (Bongers e Ferris, 1999; Bongers et 74
al. 2001; Georgieva et al., 2002). A sua onipresença, alta abundância e diversidade de 75
espécies, além de uma alta variedade de grupos funcionais (tróficos e de história de vida), 76
alta tolerância a vários tipos de poluição e uma mobilidade limitada, os tornam 77
indicadores adequados para o estudo de poluição de solo e de inúmeros distúrbios (Höss e 78
Traunspurger, 2003). 79
Para avaliar o efeito do Cádmio foram realizados alguns bioensaios laboratoriais 80
com concentrações letais e sub-letais em culturas monoespecíficas de Nematoda, dentre 81
eles algumas espécies terrestres, como Caenorhabditis elegans (Freeman et al., 1998; 82
Donkin e Williams, 1995), Plectus acuminatus (Kammenga et al., 1996), e outros em 83
marinhas: Diplolaimella dievengatensis, Monhystera disjuncta, Pellioditis marina 84
(Vranken et al., 1985), Enoplus brevis e Enoplus communis (Howell and Smith, 1985; 85
Howell, 1994). Os resultados mostraram respostas diferentes entre espécies, relacionadas 86
com os diferentes propósitos analisados e com a variabilidade interespecífica. 87
As concentrações sub-letais podem causar efeitos diretos e visíveis no ciclo de 88
vida do Nematoda, seja na locomoção, alimentação, desenvolvimento, proporção sexual 89
ou reprodução (Anderson et al., 2003; Derycke et al., 2007). Além do mais, elas não 90
causam um colapso abrupto na população, permitindo, portanto uma análise completa do 91
ciclo de vida do organismo. Contudo, doses sub-letais de tóxicos podem ter respostas 92
diferentes em momentos distintos do ciclo de vida do indivíduo. As avaliações 93
intraespecíficas no desenvolvimento populacional em testes crônicos estão relacionadas 94
com o efeito do poluente no desenvolvimento dos juvenis, visto que os estágios iniciais 95
são considerados os mais susceptíveis à contaminação (Vranken et al., 1989; van Straalen 96
e van Gestel, 1993). 97
Em bioensaios no campo (Gyedu-Ababio e Baird, 2006; Davydkova et al., 2005), 98
assim como no microscomo (Austen et al., 1994; Austen e McEvoy, 1997; Beyrem et al., 99
2007; Mahmoudi et al., 2007) a variação de respostas e de sensibilidade em intervalos de 100
concentrações mais realistas é pouco relatada, e as concentrações utilizadas são ou 101
normalmente baixas (Austen e McEvoy, 1997, Beyrem et al., 2007) ou em intervalos 102
drasticamente altos (Sundelin e Elmgren, 1991). 103
Diferente da maioria dos Nematoda marinho, muitos Monhysteridae, e em 104
particular as espécies dos gêneros Diplolaimelloides e Diplolaimella, são fáceis de 105
manter em cultura de meio artificial e transparente (Vranken, 1987; Moens e Vincx, 106
1998). Desta forma, eles se tornam facilmente controláveis em experimentos 107
laboratoriais, como por exemplo, Diplolaimella dievengatensis (originalmente descrita 108
como Monhystera microphthalma) e Monhystera disjuncta, que já foram utilizadas com 109
sucesso em bioensaios ecotoxicológicos (Vranken et al., 1985). 110
Portanto, este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos, letais ou sub-letais, da 111
espécie Diplollaimeloides oschei sob diferentes concentrações de Cádmio, sob a hipótese 112
de que o aumento no nível de cádmio afeta o desenvolvimento populacional desta espécie 113
em seus vários estágios de desenvolvimento. 114
51 2. Material e Métodos 115 116 2.1. Escolha da espécie 117
Diplolaimelloides oschei pertence à família Monhysteridae, a qual possui 118
representantes marinhos e de água doce distribuídos mundialmente (Fonseca e Decramer, 119
subm.). O gênero Diplolaimelloides é constituído de oportunistas que habitam macrófitas 120
em decomposição, em ambientes litorâneos com temperaturas semelhantes às tropicais. 121
Como outros Monhysteridae, Thalassomonhystera e Monhystera, também podem ser 122
encontrados em sedimento do infralitoral e até de mar profundo. Diplolaimelloides 123
alimenta-se basicamente de bactérias, contudo pequenos protistas também podem ser 124
parte da sua dieta (Moens e Vincx, 1997). Em condições ótimas, seu tempo de 125
desenvolvimento é em torno de oito dias, e cada fêmea pode produzir desde dezenas a 126
centenas de descendentes (Warwick, 1981; Moens et al., 1996; Moens e Vincx, 2000). 127
Os espécimes de Diplolaimelloides oschei para esse estudo foram obtidos através 128
de um cultivo monoespecífico, em crescimento exponencial, originado do estuário de 129
Westerschelde, Sudoeste da Holanda. O cultivo foi mantido em meio Agar (0.7%) 130
composto de Bacto e Nutriente Agar (DIFCO) na proporção de 6:1, juntamente com 131
bactérias não identificadas oriundas do habitat, que serviram de alimento (Moens e 132
Vincx, 1998). Os cultivos possuíam uma salinidade de 25 ups (correspondente à média de 133
salinidade do estuário de origem) e foram mantidos em temperatura constante de 17°C no 134
escuro. No local de origem D. oschei é presente abundantemente em sedimento 135
superficial e sob os detritos de planta, como a fanerógama Spartina anglica ou de algas 136
(Moens, dados não publicados). 137
138
2.2. Desenho experimental e condições do teste 139
O meio e o bioensaio seguiram o descrito no capítulo anterior. Resumidamente, o 140
experimento foi realizado em placas de Petri de 5 cm de diâmetro com 4 ml de Bacto- 141
Agar com uma concentração final de 0.75% e uma salinidade de 25 ups. O Agar foi 142
tamponado para um pH de 7.5 - 8, com 5 mmol de TRIS-HCl e complementado com 100 143
µl l-1 de colesterol; as placas foram mantidas a 17 °C no escuro. Ao invés da bactéria não 144
identificada que existia no meio de cultivo, foi oferecido como alimento 50 µl de 145
Escherichia coli (linhagem K12) morta e descongelada, em uma densidade de 3 x 146
109células.ml-1, a qual foi espalhada gentilmente sob a superfície do Agar. Este valor 147
corresponde a uma viabilidade ideal de alimento para P. marina durante o tempo de 148
experimento (Santos et al., 2008). A transferência e crescimento da bactéria não 149
identificada, vinda do cultivo, foram minimizados mergulhando os Nematoda em água do 150
mar artificial (ASW), e pelo uso de um meio Agar pobre em nutriente (contendo apenas 151
Bacto-Ágar) 152
As concentrações de Cádmio utilizadas foram: 0, 0.3, 1.0, 5.0, 9.0 e 12.0 ppm, 153
obtidas através de uma solução estoque, a qual foi preparada com CdCl22.5H2O. Essas 154
concentrações foram baseadas nas encontradas no entorno de locais de perfuração 155
petrolífera (Rezende et al., 2002; Pozebon et al., 2005) e em um estudo prévio da 156
toxidade do Cd em Nematoda de vida livre (Vranken et al., 1985). 157
Machos e fêmeas grávidas de Diplolaimelloides oschei foram manualmente 158
extraídos do cultivo e mergulhados três vezes em ASW para minimizar a transferência de 159
bactéria vinda do cultivo. Dez machos e dez fêmeas de D. oschei foram inoculados por 160
tratamento e por réplica; os animais foram retirados da ASW com uma agulha de 161
tungstênio e transferidos para uma gota de ASW na superfície do Ágar, mas sem tocá-lo. 162
O experimento possuiu quatro réplicas por tratamento. 163
A população de D. oschei foi observada a cada dois dias até o 16º dia e a cada 96 164
horas até o 32º dia, o que nas condições utilizadas de temperatura, salinidade e 165
alimentação correspondem, no mínimo, a duas gerações completas. 166
Em cada observação foi contado o número de ovos, juvenis e adultos 167
(descriminando em machos e fêmeas), para determinar o efeito do Cádmio na 168
fecundidade, desenvolvimento total da população, desenvolvimento da população de 169
adultos, proporção sexual, tempo embrionário, pós-embrionário e de desenvolvimento 170
total. As definições e forma de determinar o tempo embrionário, pós-embrionário e 171
tempo total de desenvolvimento foram descritas em Moens e Vincx (2000). 172
173
2.4. Análise de dados 174
O efeito das diferentes concentrações de Cádmio foi comparado usando o teste de 175
análise de variância de medidas repetidas (ANOVA). Anterior às análises, os pré- 176
53 requisitos de normalidade (usando o teste Kolmogorov-Smirnov) e a homogeneidade das 177
variâncias (teste Levene no desvio dos scores e teste de Bartlett χ²) foram testados e, 178
quando necessário, os dados foram transformados para log10(x+1). Comparações a 179
posteriori foram realizadas com o teste de Tukey. Caso, após a transformação, os dados 180
ainda não atendessem o critério da normalidade, estes foram analisados pelo teste não 181
paramétrico Kruskal-Wallis, separando-se os efeitos do tratamento e do tempo. Todas as 182
análises estatísticas foram realizadas no programa STATISTICA 6. 183
3. Resultados
184 185
Os ovos ocorreram deste o primeiro dia de contagem em todos os tratamentos e 186
réplicas. A densidade geral dos ovos diferiu significativamente entre os tratamentos (F = 187
123.57; p < 0.0001) (Fig. 1A). A concentração de efeito não observado (CENO) para esse 188
estágio de desenvolvimento foi 1.0 ppm. Os tratamentos superiores a esta concentração 189
apresentaram uma redução significativa na produção de prole (Fig. 1B) com diferenças 190
entre si. 191
192
Figura 1: A: Produção de ovos de Diplolaimelloides oschei ao longo do tempo em cinco 193
concentrações de Cádmio (em ppm) e B: Abundância de ovos no tempo médio. Os dados são 194
expressos pela média de quatro réplicas por tratamento ± 1 erro padrão. As médias que possuem 195
a mesma letra, não diferiram significativamente. 196
197
Os juvenis emergiram do sexto dia em diante em todas as concentrações, mas a 198
sua abundância diferiu entre os tratamentos (F = 71.24; p < 0.0001). Onde a concentração 199
de efeito observado (CEO) foi a mesma apresentada pela produção de ovos, 5.0 ppm (Fig. 200
2A; 2B). 201
55 202
Figura 2: A: Desenvolvimento da população de juvenis de Diplolaimelloides oschei ao longo do 203
tempo em cinco concentrações diferentes de Cádmio (em ppm) e B: Densidade de juvenis de D. 204
oschei no tempo médio. Os dados são expressos pela média de quatro réplicas por tratamento ± 1
205
erro padrão. Médias que possuem a mesma letra, não diferiram significativamente. 206
207
A abundância da população, não seguiu um padrão semelhante da produção de 208
ovos e abundância de juvenis, visto que a CEO, foi 1.0 ppm (F = 111.48; p <0.0001; Fig. 209
3A). Apenas a concentração de 5.0 ppm diferiu das demais, uma vez que as maiores 210
concentrações não diferiram entre si (Fig. 3B). 211
212
Figura 3: A: Desenvolvimento da população total de Diplolaimelloides oschei ao longo do tempo 213
em cinco concentrações diferentes de Cádmio (em ppm) e B: Densidade de total de D. oschei no 214
tempo médio. Os dados são expressos pela média de quatro réplicas por tratamento ± 1 erro 215
padrão. Médias que possuem a mesma letra, não diferiram significativamente. 216
As novas fêmeas (F1) surgiram do 16º dia em diante em todos os tratamentos, 218
com exceção das duas concentrações mais altas, onde não houve maturação de fêmeas (F 219
= 68.97; p <0.0001; Fig. 4A). Portanto os números indicados nas figuras 4A e 4B para as 220
concentrações de 9.0 e 12.0 ppm, refletem a sobrevivência das fêmeas inoculadas no 221
início do experimento. Na comparação par a par entre os tratamentos, mais uma vez o 222
controle formou um grupo com os tratamentos mais baixos, diferindo significativamente 223
das demais concentrações (p <0.01). As três concentrações mais altas também diferiram 224
entre si (p <0.02; Fig. 4B). 225
226
Figura 4: A: Desenvolvimento da população de fêmeas de Diplolaimelloides oschei ao longo do 227
tempo em cinco concentrações diferentes de Cádmio (em ppm) e B: Densidade de fêmeas de D. 228
oschei no tempo médio Os dados são expressos pela média de quatro réplicas por tratamento ± 1
229
erro padrão, a partir do 16º dia em diante. As médias que possuem a mesma letra, não diferiram 230
significativamente. 231
232
Diferentemente das fêmeas, os machos da primeira geração só foram registrados a 233
partir do 16º dia no controle. Nas concentrações até 5.0 ppm os mesmos só foram 234
observados na contagem seguinte (20º dia), enquanto que em 9.0 e 12.0 ppm não houve 235
maturação de machos,sendo mais uma vez a abundância dos mesmos nestes tratamentos 236
relacionada com a sobrevivência dos machos inoculados. A abundância dos machos 237
57 decresceu progressivamente com o acréscimo de Cd (F = 26.41; p <0.0001; Fig. 5A, B), 238
sendo afetado significativamente a partir da concentração de 1.0 ppm. 239
240
Figure 5: A: Desenvolvimento da população de machos de Diplolaimelloides oschei ao longo do 241
tempo em cinco concentrações diferentes de Cádmio (em ppm) e B: Densidade de machos de D. 242
oschei no tempo médio. Os dados são expressos pela a média de quatro réplicas por tratamento ±
243
1 erro padrão, a partir do 16º dia em diante. As médias que possuem a mesma letra, não diferiram 244
significativamente. 245
246
A proporção sexual dos adultos apresentou tendências moderadas em favor das 247
fêmeas no controle e nos tratamentos de 0.3 e 1.0, sendo estas significativamente 248
diferentes de um valor mais “neutro” a partir de 5.0 ppm de Cd (F = 5.40; p = 0.014; Fig. 249
6). Dentre as concentrações testadas a de 9.0 ppm foi a menor a apresentar efeito. 250
251
Figura 6: Proporção sexual (% fêmeas) de Diplolaimelloides oschei em cinco 252
concentrações diferentes de Cádmio (em ppm). Os dados são as médias ± 1 erro padrão 253
de quatro replicas por tratamento e tempo do 16º em diante. As médias que possuem a 254
mesma letra, não diferiram significativamente. 255
256
O tempo de desenvolvimento embrionário apresentou-se significativamente 257
diferente entre os tratamentos (F = 4.26; p < 0.02) (Tabela 1). Em baixas concentrações 258
(até 1.0 ppm) o tempo embrionário possuía uma tendência a crescer com o aumento do 259
nível de Cd, contudo nas maiores concentrações houve uma redução no tempo de 260
desenvolvimento embrionário, com um tempo mínimo 1.42 ±0.49 dias em 9.0 ppm de 261
Cd. Nas comparações par a par, houve diferenças estatísticas apenas entre a concentração 262
de 1.0 ppm e as de 5.0 e 9.0 ppm (ambos p < 0.05). O tempo de desenvolvimento pós- 263
embrionário não diferiu entre os tratamentos (F = 1.31; p = 0.33). Vale salientar que 264
como nenhum juvenil atingiu a maturidade em 9.0 e 12.0 ppm, não foi possível calcular o 265
tempo pós-embrionário nesses tratamentos. O tempo de desenvolvimento não apresentou 266
diferenças significativas entre outros tratamentos (F = 3.08; p = 0.09). 267
59 Tabela 1: Tempo mínimo e médio de desenvolvimento embrionário e pós- embrionário, 268
assim como o tempo total de desenvolvimento em dias, de Diplolaimelloides oschei sob 269
diferentes concentrações de Cádmio (em ppm). Os dados são as médias ± desvio padrão 270
de quatro replicas por tratamento.* = não houve registro do aparecimento de um adulto novo 271 272 Tempo Desenv. Embrionário Tempo Desenv. Pós-embrionário Tempo de Desenvolvimento Tratamento
Mínimo Média ± D.P. Mínimo Média ± D.P. Mínimo Média ± D.P. Controle 1.60 2.91±1.10 7.31 9.88±1.92 11.55 12.79±1.24 0.3 2.40 3.10±0.57 5.63 7.08±1.76 8.97 10.17±1.43 1.0 2.55 3.62±0.92 5.68 9.29±3.93 9.36 12.91±4.09 5.0 1.24 1.82±0.42 4.27 7.09±2.61 6.04 8.91±2.43 9.0 1.08 1.42±0.49 * * * * 12.0 2.11 2.65±0.50 * * * * 273 274 4. Discussão 275 276
Baixas concentrações de Cádmio são frequentemente encontradas nos 277
ecossistemas marinhos e estuarinos e as mesmas são consideradas não ofensivas para a 278
estrutura da comunidade meiobêntica marinha, mesmo em níveis altos no ambiente 279
marinho (Austen e McEvoy, 1997) e terrestre (Korthals et al., 1996). Entretanto alguns 280
crustáceos marinhos, como Copepoda e Cladócera, são conhecidos por serem muito 281
sensíveis a diferentes níveis de Cádmio em experimentos de microcosmo (Hagopian- 282
Schlekat et al., 2001; Barata et al., 2002). Apesar de Nematoda possuir uma maior 283
bioacumulação de Cd (Fichet et al., 1999), os resultados mostraram que são menos 284
sensíveis que os Copepoda epibentônicos. 285
Austen et al. (1994) também relataram que as comunidades de Nematoda de vida 286
livre estuarinas não eram sensíveis ao Cádmio nas concentrações de 0.16 a 2.89 ppm. A 287
concentração de 1.8 ppm utilizada por Austen e McEvoy (1997) não possuiu efeito na 288
comunidade nematofaunistica, mas nenhum parâmetro de desenvolvimento foi verificado 289
por eles. A comunidade foi identificada e analisada pela contagem de indivíduos. Os 290
mesmos resultados foram encontrados por Beyrem et al. (2007) nas concentrações de 291
0.54 a 1.4 ppm de Cd, mas quando houve a combinação de dois compostos, no caso Cd + 292
diesel, houve efeito na nematofauna, sugerindo um sinergismo entre o Cd e o diesel. 293
No presente estudo, os intervalos de concentração que afetaram os adultos de D. 294
oschei, foram distintos, onde para os machos a redução na abundância ocorreu a partir da 295
concentração de 1.0 ppm, enquanto que para as fêmeas o mesmo só ocorre em 5.0 ppm. 296
Essas diferenças são mais pronunciáveis após o desenvolvimento dos adultos da geração 297
F2. Em uma escala de critérios de toxicidade de metal pesado, a inibição do 298
desenvolvimento é mais minucioso que a morte, e é altamente influenciada por fatores 299
abióticos (Vranken et al., 1989). 300
A produção de ovos de D. oschei, assim como o desenvolvimento populacional de 301
juvenis, possuiu uma alta sensibilidade para o nível a partir de 5.0 ppm. Isto afetou o 302
desenvolvimento da dinâmica populacional a partir do 4º dia de experimento, o que 303
refletiu em todos os parâmetros examinados no presente trabalho. As fases do 304
desenvolvimento do ciclo de vida, como a reprodução, proporção sexual, desempenho, 305
sobrevivência e principalmente o desenvolvimento dos juvenis, asseguram uma avaliação 306
adequada de potenciais riscos ecológicos ocasionados por tóxicos e utilizando Nematoda 307
em bioensaios (Van Straalen e Van Gestel, 1993; Kamenga et al., 1996; Camargo et al., 308
1998; Pen-Mouratov et al., 2007). 309
Doses sub-letais explicam um cenário ambiental mais realisticamente, com um 310
alto impacto no ciclo de vida dos Nematoda (Anderson et al., 2001). Derycke et al. 311
(2007) relataram uma redução no desenvolvimento populacional de Pellioditis marina em 312
diferentes concentrações de Cd, mas esses resultados parecem ser ocasionados pela 313
interação do Cd com a salinidade. Nos resultados aqui apresentados, foram observadas 314
algumas diferenças significativas no tempo de desenvolvimento embrionário de D. 315
oschei, contudo o padrão apresentado foi incomum, onde os indivíduos do controle e das 316
concentrações mais baixas demoraram mais a sair do estágio ovo, quando comparado 317
com as demais. Fazendo se, portanto, necessário a realização de mais experimentos para 318
analisar os limites entre as respostas ao contaminante e a estratégia de vida desta espécie. 319
O tempo de desenvolvimento pós-embrionário mínimo e médio diminuiu com o aumento 320
do Cd sem qualquer diferença estatística. O tempo de desenvolvimento mínimo e médio 321
seguiu o mesmo padrão de decréscimo com o aumento da concentração do composto, 322
estando, assim, intimamente ligado com ao adiamento no aparecimento dos juvenis entre 323
os tratamentos. 324
Vranken et al. (1985) trabalharam com outro representante da família 325
Monhysteridae, Monhystera disjuncta e não foi observada qualquer inibição do 326
61 desenvolvimento nos intervalos de concentração de 0 a 10 ppm, sendo inexistente o 327
desenvolvimento de adultos em 25 ppm. Os resultados contidos no referido estudo 328
demonstraram um decréscimo no tempo de desenvolvimento dos adultos, o qual diferiu 329
significativamente entre os tratamentos. Além do mais, já foi observado que H. disjuncta 330
exibe uma alta resistência a poluentes quando comparada com outros organismos 331
bênticos, visto que houve apenas 2% de mortalidade em 10 ppm de Cd (Vranken et al., 332
1991). 333
Muitos gêneros de Nematoda aparentam ser resistentes a poluição de metal 334
pesado, dentre eles estão: Ascolaimus (Austen et al., 1994), Desmodora (Austen e 335
McEvoy, 1997), Oncholaimus, Enoploides, Bathylaimus (Beyren et al., 2007), 336
Oncholaimium (Davydkova et al., 2005) e Enoplus (Howell e Smith, 1985). Destes, a 337
grande maioria é classificada como colonizadores persistentes, ou seja, são mais 338
resistentes a estresses ambientais. Concorda-se aqui com Bonger e Ferris (1999) quando 339
postulam que táxons e grupos tróficos diferentes possuem mecanismos e resistências 340
diferentes ao lidarem com as mudanças ambientais e de concentração de poluentes. Essas 341
diferenças na guilda trófica podem também ser utilizadas como ferramenta ecológica. Os 342
Nematoda analisados aqui possuem uma ampla distribuição, são facilmente cultivados