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Os governos Lula foram marcados por uma ação internacional efetiva, houve uma significativa projeção do Brasil no cenário internacional, especialmente, Lula escolheu com o chanceler Celso Amorim, o qual trabalhou como Ministro das Relações Exteriores do Brasil, até o fim do último mandato, para auxiliar na construção e defesa da projeção mais autônoma e ativa do Brasil na política internacional.

No âmbito nacional, Lula restabeleceu alianças com diferentes setores da sociedade a fim de possibilitar a estabilidade de seu governo e a imagem do Estado brasileiro no cenário internacional.

Além disso, a política externa visou ampliar e aprofundar as relações Sul- Sul, criou coalizões como o G-20 na OMC, participou do Fórum Índia Brasil e África do Sul (IBAS), participou da missão de paz da ONU no Haiti (Minustah) e aproximou-se de estados do continente africano e do Oriente Médio, bem como da China e da Rússia. Essas relações trouxeram grandes benefícios à burguesia interna brasileira ao aumentar o acesso a novos mercados para a exportação de produtos manufaturados e garantir a instalação de empresas brasileiras nesses territórios (BOITO JR.; BERRINGER, 2013, p. 37).

Diante dos exemplos citados no trecho acima, é possível a análise de como foi traçado o posicionamento do Brasil e suas estratégia tomadas como uma atuação mais efetiva e alternativa internacionalmente em relação do que vinham se tomando nos governos anteriores. Não obstante, a diplomacia do governo Lula caracterizou-se pelo esforço articulado com o objetivo de tornar o país uma liderança regional e aumentar a sua ascensão para a posição de potência global (SARAIVA, 2010).

No quesito da integração latino-americana, houve um espaço considerável em sua agenda de política externa. Um exemplo disso, seria a Lei 12.189, sancionada pelo presidente Lula em 12 de janeiro de 2010, que criou a Universidade Federal da Integração Latino- Americana (UNILA). O projeto de Lei foi aprovado por unanimidade em todas as comissões por que passou, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal. Um projeto que visou a construção de um espaço acadêmico para a qualificação de profissionais com uma visão mais sensível às questões latino-americanas8.

Tal tomada de decisão diplomática brasileira exemplifica a preferência na agenda governamental do presidente Lula e no campo das disputas das ideias e seu esforço para promover a pluralidade de pensamento em relação ao Brasil e a América Latina.

Diante desse panorama geral, nota-se que a liderança brasileira, no período dos governos Lula, pautou-se por uma diplomacia diversificada e ativa com o objetivo de estruturar a projeção do país internacionalmente.

[...] dentro desta perspectiva, a diplomacia buscou um comportamento ativo nos foros multilaterais caracterizado pela expressão “global player” e manteve, nos marcos das Nações Unidas, a candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança. Optou pela adesão a regimes internacionais já estabelecidos na área de segurança internacional (SARAIVA, 2010, p. 47, grifo do autor).

O Brasil é visto internacionalmente como um país pacífico, que sabe lidar com sua

8 Informação retirada do site da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Site Oficial da

abrangente fronteira territorial sem grandes conflitos e que propõe um diálogo entre os países como uma resolução de suas controvérsias e a não- intervenção. Com base nessas credenciais, o diplomata Celso Amorim buscou executar o desejo do Brasil em conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Eu diria, é claro, que [o Brasil] é uma potência negociadora. Mas seria muito simplista pensar que o Brasil sempre olhou o consenso pelo consenso. Nós também temos uma visão de como as coisas deveriam ser e nós tendemos a trabalhar nesta direção. Nós batalhamos para ter um mundo mais democrático, para falar. Mais países são ouvidos na cena mundial – um mundo onde as relações econômicas são mais balanceadas e, é claro, no qual países em qualquer área podem falar uns com os outros sem prejuízos. [...] Então, o Brasil tem esta característica única que é muito útil nas negociações internacionais: ser capaz de se colocar no lugar de outro, o que é essencial quando se está procurando por uma solução (AMORIM, 2010b, apud SILVA, 2014, 62).

O discurso de Amorim pode ser direcionado pelo desejo pela reforma do Conselho de Segurança na medida em que critica indiretamente a utilização de recursos militares pelos países detentores de assentos permanentes no Conselho, portanto, o poder duro como defendido por Nye (2004).

No mundo de hoje, o poder militar será cada vez menos utilizável de forma que essas outras habilidades - a capacidade de negociar com base em políticas econômicas sólidas, com base em uma sociedade que é mais justa do que costumava ser, e será mais justa amanhã do que é hoje – todas estas são coisas que ajudam. Eu não acho que há muitos países que podem se gabar de ter 10 vizinhos e não ter nenhuma guerra nos últimos 140 anos (AMORIM, 2010a, apud SILVA, 2014, p. 62).

Diante disso, Amorim trabalhou para demonstrar que o Brasil possuía uma boa estrutura como país pacífico internacionalmente, mesmo diante de sua diversidade, buscou projetá-lo como promotor de diálogo e cooperação, o que culmina em um objetivo comum para todos, a Paz internacional.

Saraiva (2010) relembra a famosa frase de Araújo Castro (1972), de que o Brasil está condenado à grandeza, ilustra o plano de governo brasileiro nos períodos Lula, o qual se mostrou importante para o contexto internacional. Ressalta que o sistema mundial deveria ser reavaliado e, assim, propõe a Reformulação do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Em 1926 e em 1945 o governo brasileiro pleiteou um assento permanente no Conselho de Segurança da Liga das Nações/ Nações Unidas. No início dos

anos 70, Araújo Castro (1972), ex-chanceler e embaixador brasileiro na ONU, afirma que “poucos países no mundo detêm as possibilidades de irradiação diplomática do Brasil” e “nenhum país escapa a seu destino e, feliz ou infelizmente, o Brasil está condenado à grandeza”. Com a eleição de Lula da Silva, este tema retorna à pauta de debates sobre política externa (SARAIVA, 2010, p. 45).

A autora também ressalta que, foram credenciais para a candidatura brasileira, o fato de optarem por defender aspectos mais distributivos do comércio internacional e a questão da fome e pobreza que afetariam a estabilidade internacional (o combate ao terrorismo não foi assumido como prioridade).

Por fim, a diplomacia cultural, dentre suas multi possibilidades de atuação, pode ser utilizada como um mecanismo de pacificação do cenário internacional, propondo uma política externa de não violência e de maior intercâmbio cultural e espaço de diálogo para as questões políticas e econômicas.

Diante do exposto, o tema da paz internacional no Brasil, foi paulatinamente trabalhado por um âmbito diplomático, objetivando uma projeção cultural brasileira com uma imagem de um país tendente a mediação de conflitos, visto que escolhe por propostas de diálogo no cenário internacional. Logo, faz-se necessário compreendermos como o Brasil desenvolveu a diplomacia cultural na prática de política externa nos governos Lula.