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3.3 LEGISLAÇÃO COMPARADA

3.3.2 Diplomas na América do Norte

O caso canadense será estudado tomando-se como base os nascidos após o ato de cidadania canadense, a partir de 15 de fevereiro de 1977. Aqueles que antes deste documento eram considerados389 ou estavam em vias de tornarem-se,

384 VENEZUELA. Constitución de la República Bolivariana de Venezuela, artículo 32, 2. 385 VENEZUELA. Constitución de la República Bolivariana de Venezuela, artículo 32, 3. 386 VENEZUELA. Constitución de la República Bolivariana de Venezuela, artículo 32, 4.

387 A legislação do Suriname não foi estudada em detalhes nesta monografia em razão do

critério da língua oficial que adotamos, uma vez que a língua oficial do Suriname é o neerlandês. 388 SURINAME. Grondwet van de Republiek Suriname, Hoofdstuck 1 De Souvereiniteit, derde afdeling, artikel 3, 1.

389 CANADÁ. Citizenship Act, an act respecting citizenship, C-29, Department of Justice Canada, part I, 3 (1) (d).

nacionais se mantêm canadenses390. Considera-se canadense o nascido no Canadá391, desde que não seja filho de oficial consular ou diplomata, trabalhe em serviços consulares392, até mesmo quando esteja meramente a serviço de um oficial estrangeiro393. Inclui-se neste conceito de diplomata aqueles que o Ministério dos Negócios Exteriores considere equivalentes, como os funcionários das Nações Unidas394. Finalmente, exige-se para a aplicação do ius soli que ao menos um dos pais seja residente permanente legal395, buscando este dispositivo dificultar a nacionalidade dos imigrantes ilegais.

Finalmente, são canadenses os nascidos no exterior, de ao menos um pai canadense, excetuando-se o caso dos adotados396. Ainda, presume-se nascido no Canadá o encontrado no território canadense aparentando no máximo sete anos de vida, podendo esta presunção ser derrubada em sete anos após o encontro397. Pelo estudado, conclui-se que o Canadá é, da mesma maneira que os países da América do Sul, um país de imigrantes, mas zela pela legalidade dos mesmos. Outro aspecto marcante é a aplicação do ius sanguinis sem exigência de registro ou residência e a não concessão de nacionalidade originária aos adotados (que podem, conforme dispositivos específicos, naturalizarem-se canadenses).

No caso dos Estados Unidos da América, adota-se o ius soli em absoluto398 para determinação da nacionalidade e cidadania, inclusive para as populações indígenas, que mantém sua identidade tribal399. Quanto a aplicação do ius sanguinis, há diversas hipóteses para o nascido fora do território estadunidense. A primeira confere a nacionalidade ao filho de ambos os pais cidadãos400 estadunidenses, um destes residiu nos Estados Unidos ou em suas possessões antes do nascimento da

390 CANADÁ. Citizenship Act, part I, 3 (1) (e). 391 CANADÁ. Citizenship Act, part I, 3 (1) (a). 392 CANADÁ. Citizenship Act, part I, 3 (2) (a).

393 CANADÁ. Citizenship Act, an act respecting citizenship, C-29, Department of Justice Canada, part I, 3 (2) (b).

394 CANADÁ. Citizenship Act, part I, 3 (2) (c). 395 CANADÁ. Citizenship Act, part I, 3 (2). 396 CANADÁ. Citizenship Act, part I, 3 (1) (b). 397 CANADÁ. Citizenship Act, part I, 4 (1).

398 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, House of Representatives, title

8, chapter 12, subchapter III, part 1, section 1401 (a).

399 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, title 8, chapter 12, subchapter

III, part 1, section 1401 (b).

400 A lei estadunidense diferencia os nacionais e cidadãos em certos capítulos, o que é uma raridade nos diplomas legais dos Estados Unidos da América.

Diplomas Legais Relevantes 69 criança401. Outra hipótese trata do filho de um nacional (mas não cidadão) com um cidadão que esteve fisicamente presente nos Estados Unidos ou seus protetorados por um ano antes do nascimento402. Também se confere a cidadania e nacionalidade ao nascido num dos protetorados estadunidenses, de um pai cidadão que tenha residido nos Estados Unidos ou seus protetorados por um ano antes do nascimento da criança403.

O encontrado abandonado nos Estados Unidos antes dos cinco anos presume-se nascido em território estadunidense, podendo ser afastada a presunção até os vinte e cinco anos404. O filho nascido no estrangeiro, cujo um dos pais é estrangeiro e outro cidadão, desde que este tenha residido (antes do nascimento da criança) nos Estados Unidos por diversos períodos, totalizando não menos de 5 anos, sendo pelo menos dois anos considerados após os 14 anos de idade405. No entanto, salienta-se que o serviço militar406 e o diplomático (mesmo que em organização internacional) podem cancelar esta exigência temporal407. Uma última hipótese é a dos nascidos no exterior, filhos de um pai estadunidense que tenha residido nos Estados Unidos da América (sem requisito de tempo) com estrangeiro, antes do meio dia, segundo o horário de Washington D.C. do dia 24 de maio de 1934408. Tal horário preciso marca a data do ato que modificou a antiga legislação sobre nacionalidade, acrescentando o trecho reproduzido a seguir:

"Toda criança de ora em diante nascida além dos limites e jurisdição dos Estados Unidos, cujo pai ou mãe ou ambos no momento do nascimento de tal criança é um cidadão dos Estados Unidos, é considerado cidadão dos Estados Unidos: mas os direitos de cidadania não poderão descender a quaisquer criança nesta hipótese salvo se o pai cidadão ou a mulher cidadã, conforme o caso, tenha residido nos Estados Unidos antes do nascimento de tal

401 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, title 8, chapter 12, subchapter

III, part 1, section 1401 (c).

402 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, House of Representatives, title

8, chapter 12, subchapter III, part 1, section 1401 (d).

403 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, title 8, chapter 12, subchapter

III, part 1, section 1401 (e).

404 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, title 8, chapter 12, subchapter

III, part 1, section 1401 (f).

405 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, title 8, chapter 12, subchapter

III, part 1, section 1401 (g).

406 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, title 8, chapter 12, subchapter

III, part 1, section 1401 (g) (A).

407 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, title 8, chapter 12, subchapter

III, part 1, section 1401 (g) (B).

408 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. United States Code, title 8, chapter 12, subchapter

criança. Na hipótese de um dos pais ser um estrangeiro, o direito de cidadania não poderá descender salvo se a criança deslocar-se aos Estados Unidos e ali residir por ao menos cinco anos antes de completar dezoito anos, e salvo, dentro de seis meses após o vigésimo primeiro aniversário da criança, ele ou ela deverá prestar um juramento de aliança aos Estados Unido da América, como prescrito na Secretaria de Naturalização"409

Nestas diversas hipóteses nota-se certa unidade entre nacionalidade e cidadania, sendo a diferenciação entre estas importante em apenas uma hipótese. Além disso, se tomarmos que o Código dos Estados Unidos (United States Code) é um compêndio de legislação federal estadunidense enquanto a Constituição dos Estados Unidos é uma Carta de garantias, podemos afirmar que o Código não é uma lei qualquer, inclusive pela ampla gama de matérias nele tratadas.

O único caso na América do Norte em que a nacionalidade é tratada na Constituição é o mexicano. Em primeiro lugar, confere-se a nacionalidade mexicana ao nascido em território mexicano, não importando a origem dos pais410 (ius soli absoluto), considerando-se também os navios e aeronaves mexicanas411. Também se aplica o ius sanguinis aos filhos de mexicanos nascidos no exterior, sejam os pais natos412 ou naturalizados413. As possibilidades de nacionalidade mexicana são, conforme os critérios adotados, consideravelmente amplas e demonstram intenção tanto de acolher imigrantes e quanto de manter nacionais que vivam no exterior.