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A partir da década de 1980 surge o modelo de integração a partir do qual as crianças poderiam ser integradas ao sistema regular de ensino desde que demonstrassem capacidade para tal. Este modelo se baseava no princípio da normalização cujo ponto de partida era o direito das pessoas com deficiência de participar das mesmas atividades sociais, educacionais e de lazer que os demais. No entanto, para isso, elas teriam que passar por um processo de preparação e, assim, poderem ter uma condição de vida o mais próximo do normal quanto

possível. Tal princípio foi alvo de muitas críticas, principalmente pelos próprios representantes das pessoas com deficiência, pois foi interpretado erroneamente como sendo uma proposta de tentar normalizar a pessoa deficiente quando, na realidade, buscava normalizar suas condições de vida (GLAT e BLANCO, 2007, p. 21).

Desta forma, à escola especial caberia o preparo prévio da criança para que assim pudesse ser integrada na escola.

Com a Constituição de 1988 passa a ser garantido às pessoas com deficiência o atendimento educacional especializado “preferencialmente” na rede regular de ensino e não “na medida do possível” como previa a LDBN/61.

De acordo com Caiado (2003, p. 9), esta Constituição é conhecida como Constituição Cidadã por consolidar várias conquistas de direitos ao expressar a luta do movimento social no país pelo direito de cidadania para todos.

Nesta Constituição, aos cidadãos brasileiros eram garantidos todos os direitos sociais tais como educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social dentre outros. A educação, como dever do Estado e da família visava ao “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania, e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 1988, Título VIII, Capítulo III, Seção I, art. 205). Tinha como um dos princípios do ensino a “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (art. 206). Além de colocar como dever do Estado o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208), previa também o estabelecimento de um plano nacional de educação para: 1) articular e desenvolver o ensino em seus diversos níveis e 2) integrar as ações do Poder Público que levassem à erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino,

formação para o trabalho e à promoção humanística, científica e tecnológica do país (art. 214).

Muitas leis, decretos, portarias foram criadas a partir desta Constituição que favoreceram o crescimento da integração nas escolas regulares para pessoas com deficiência. A primeira Lei foi a de no 7.853, de 24 de outubro de 1989 que estabeleceu as normas gerais “que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência e sua efetiva integração social” (BRASIL, 1989).

Esta lei previa a inclusão da Educação Especial no sistema educacional como “modalidade educativa” desde a educação precoce até a habilitação profissional com currículos, etapas e exigências de diplomação próprias. Desta forma, seriam formadas escolas especiais em estabelecimentos públicos ou privados de ensino. Previa também a matrícula compulsória em cursos regulares das pessoas com deficiência que só seria viabilizada para aqueles capazes de se integrarem no sistema regular de ensino.

Faz-se necessário destacar alguns eventos internacionais que influenciaram sobremaneira os rumos da educação especial/inclusiva no Brasil. A primeira aconteceu no ano de 1990, que foi a Conferência Mundial sobre Educação para Todos em Jomtien (Tailândia); e, a segunda, a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade em Salamanca (Espanha) no ano de 1994.

A primeira é considerada como “grande marco na formulação de políticas governamentais para a educação desta última década” (OLIVEIRA, 2000 apud CAIADO, 2003, p. 17). Desta Conferência, resultaram a Declaração Mundial sobre Educação para Todos e o Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos.

Na Conferência de Salamanca (Espanha), representantes de 88 governos e 25 organizações internacionais reafirmaram o “compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência do providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino” e endossaram a Estrutura de Ação em Educação Especial que guiariam governos e organizações.

Desta Conferência, resultou o documento comumente conhecido como Declaração de Salamanca que trata dos princípios, política e práticas na área das necessidades educativas especiais. Dentre outros pontos importantes, destacam-se:

1) O reconhecimento de que as diferenças humanas são normais e por isso mesmo a escola deve se adaptar às necessidades das crianças e não estas ao sistema escolar;

2) A necessidade de acomodar todas as crianças nas escolas independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. 3) O reconhecimento de que todas as crianças têm direito à educação e possuem

características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas. A educação deve estar centrada na criança a fim de garantir-lhe uma escolarização bem sucedida;

4) A necessidade de se adotar o princípio da educação inclusiva onde as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter;

5) A importância de se adaptar o sistema de ensino através da revisão das formas de avaliação e flexibilização curricular;

6) A necessidade do treinamento de professores através de uma orientação positiva frente à deficiência;

7) O compromisso dos políticos para com a inclusão através da mídia a fim de promover atitudes positivas frente à integração/inclusão de pessoas com deficiência na sociedade.

O Brasil se fez presente na Conferência de Salamanca através da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) – criada em 1986 - manifestando apoio publicando, divulgando amplamente o documento aprovado (Declaração de Salamanca) e elaborando planos, programas e projetos da Política Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência.

Pouco tempo depois, foi aprovada a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996) onde se percebe a influência de tais encontros, documentos e compromissos assumidos:

1) A Educação Especial é tratada em um capítulo autônomo;

2) A terminologia “portadores de deficiência” (Lei 7.853/89) é substituída por “portadores de necessidades especiais” e passa a englobar não só as pessoas com deficiência física, como também as de condutas típicas e as superdotadas (com altas habilidades).

3) A Educação Especial passa a ser entendida como modalidade de ensino oferecida preferencialmente na rede regular de ensino;

4) O atendimento em classes, escolas ou serviços especializados só será necessário se não for possível sua integração nas classes do ensino regular, em função das condições específicas do aluno.

a) currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender às necessidades individuais dos alunos. Desta forma, o foco não está mais no currículo único para todos os alunos. Os objetivos são traçados em relação ao grupo, mas com possibilidades de adequação para cada indivíduo de acordo com as suas necessidades;

b) terminalidade específica. Com isso, deve-se ter em mente os limites de cada aluno, até onde ele pode ir, o que ele pode fazer de melhor e de que forma potencializar ao máximo suas capacidades.

c) capacitação de professores para a integração desses alunos em classes comuns; d) serviços de apoio especializado na escola regular;

e) educação especial para o trabalho com vistas à sua integração na vida em sociedade.

A educação inclusiva foi regulamentada no Brasil em 2001 com a Resolução do Conselho Nacional de Educação/CEB no2, na qual foram instituídas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.

Já no segundo artigo indica que os sistemas de ensino deveriam matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com (não mais portadores) necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. Sendo assim, não cabe mais ao aluno uma preparação prévia como condição para sua matrícula e permanência na escola regular. A escola é que tem que adaptar-se e organizar-se para oferecer uma educação de qualidade a todos os alunos e corresponder às necessidades específicas de cada um deles.

Os princípios que norteiam a escola inclusiva são: 1) o respeito às diferenças e igualdade de direitos; 2) o exercício da cooperação, tolerância e solidariedade; 3) a

participação social e integração efetiva de todos; 4) a inclusão em oposição à exclusão no contexto escolar; 5) a promoção da inclusão social pela via da escola. (TIBALLI, 2003)

Parte-se do princípio de que todas as pessoas possuem limitações e são diferentes, e que estas diferenças podem e devem ser trabalhadas em sala para o benefício de todos.