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CAPÍTULO II. O Planeamento Estratégico em Portugal

2.3. O Modelo de Planeamento Estratégico de Defesa Nacional

2.3.1. Direcção Estratégica

A LDNFA e mais tarde a LDN de 2009, estabeleceram as competências e poderes dos diversos órgãos intervenientes na política de Defesa Nacional, descrevendo a estrutura da direcção estratégica (fig. 3) em Portugal e o processo de Planeamento Estratégico de Defesa Nacional em Portugal. O Governo, de acordo com o artigo 12.º da LDN, é o órgão de condução política de defesa nacional e das Forças Armadas e o

órgão superior da administração da defesa nacional e das Forças Armadas.

De acordo com a LDN, o primeiro passo para a aprovação do CEDN é o debate sobre as grandes opções do conceito na Assembleia da República (AR), por proposta do Governo, podendo ser também por iniciativa de um grupo parlamentar (art. 7.º n.º 3 LDN). Depois de aprovadas as grandes opções pela Assembleia da República, é apresentada para aprovação da AR, uma proposta de CEDN conjunta do primeiro- ministro e do ministro da defesa nacional, assessorado pelo Conselho Superior Militar (CSM), ouvido o Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN), e o Conselho de Chefes de Estado-Maior (art. 7.º n.º 2 LDN). Posteriormente, é ao Governo que compete definir o CEDN por deliberação do Conselho de Ministros. Finalmente é aprovado pelo Governo (art.12.º n.º 2 alínea h) LDN).

Na elaboração do CEDN, estamos ao nível da estratégia total que define a missão própria de cada uma das estratégias gerais (política, económica, diplomática e militar). Cada estratégia geral terá a função de distribuir e combinar as tarefas das acções dos diferentes ramos de actividade da área considerada, subordinando-se à estratégia total.

Em Portugal, de acordo com a Constituição, vigora um sistema de governo semi- presidencialista, em que o poder executivo é partilhado entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, daí que ao nível da estratégia total, a responsabilidade seja partilhada. O CEDN é constituído como proposta conjunta do 1º Ministro e do Ministro da Defesa Nacional, sendo que o Presidente da República só intervém no seu processo de produção, presidindo ao CSDN (art. 133.º alínea o) CRP), onde tem voto de qualidade (art. 16 n.º 2 LDN), competindo a este órgão emitir parecer sobre o projecto do CEDN (art. 17.º n.º 1 LDN). Verifica-se que o Presidente da República só actua no processo, num estado já avançado da elaboração do CEDN, quando as alterações a fazer são meramente de pormenor. De acordo com este sistema existe no domínio da Defesa

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uma preponderância do Governo, nas figuras do Primeiro-Ministro e do Ministro da Defesa Nacional. O Presidente da República, como Comandante Supremo das Forças Armadas, tem ainda o dever de aconselhar em privado o Governo acerca da condução da política de Defesa Nacional (art. 10.º n.º 1 LDN). A expressão Defesa Nacional pode ser entendida apenas como Defesa Militar, uma vez que o Presidente da República surge aqui na qualidade de Comandante Supremo das Forças Armadas. Esta preponderância do Governo na estratégia total, conforme vimos anteriormente, deve-se, na nossa opinião, à atribuição a este órgão de soberania, enquanto órgão condutor da política em geral do país, da direcção da defesa nacional (pela revisão constitucional de 1982), restringindo-se as Forças Armadas a um papel estritamente militar, tendo o Presidente da República como seu Comandante Supremo.

Estratégias Particulares

Chefes dos Estados Maiores

Conselho de Chefes

dos Estados Maiores Estados Maiores

Estratégias Gerais

Ministérios CSM (para o MDN) EMGFA

Estratégia Total

PR /1.º Ministro CSDN Gabinetes de Estudo

RESPONSÁVEIS ÓRGÃOS DE CONSELHO STAFF

Estrutura da Direcção Estratégica em Portugal

Como vimos, temos na estrutura da direcção estratégica em Portugal, três órgãos de consulta o CSDN, o CSM e o CCEM. O CSDN é o “órgão específico de consulta para

os assuntos relativos à Defesa Nacional e à organização, funcionamento e disciplina das Forças Armadas” (art. 16º n.º 1 LDN). Presidido pelo Presidente da República, é

composto por: Primeiro-Ministro, Vice-Primeiro Ministro e Ministros de Estado, se os houver, Ministro da Defesa Nacional, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Ministro da Administração Interna e Ministro das Finanças; Ministros responsáveis pelas áreas da indústria, energia, transportes e comunicações, CEMGFA, representantes da República para as Regiões Autónomas, Presidentes dos governos das regiões Autónomas dos

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Açores e da Madeira, Presidente da Comissão de Defesa Nacional da Assembleia da República, CEMA, CEME, CEMFA e dois Deputados (art. 16.º n.º 3 LDN). Este órgão tem competências de âmbito consultivo emitindo parecer, entre outras matérias, sobre: ―A declaração de guerra e feitura da paz; a política de defesa nacional (...) os projectos

e as propostas de leis de programação militar o projecto de conceito estratégico de defesa nacional, a participação de destacamentos das Forças Armadas em operações militares no exterior do território nacional (…)‖ (art. 17.º n.º 1 LDN). Tem igualmente

competências no âmbito administrativo, entre as quais salientamos: “Confirmar o

conceito estratégico militar e aprovar as missões específicas das Forças Armadas e os sistemas de forças necessários ao seu cumprimento, após proposta do Ministro da Defesa Nacional (...)” (art.º 17º n.º 2 LDN), “Assiste o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e o Ministro da Defesa Nacional na direcção da guerra (...)” (art.º

43º LDN).

O CSM é o principal órgão de consulta do Ministro da Defesa Nacional, sendo composto por: Ministro da Defesa Nacional (preside), CEMGFA, CEMA, CEME e CEMFA, Secretários de Estado que coadjuvam o Ministro da Defesa Nacional. As suas competências são: “Emitir pareceres sobre matérias relativas à defesa nacional e às

Forças Armadas que sejam da competência do Governo, do Conselho Superior de Defesa Nacional ou do Ministro da Defesa Nacional; Elaborar os projectos de proposta das leis de programação militar e do orçamento das Forças Armadas, de acordo com a orientação do Governo” (art.º 19.º LDN).

O Conselho de Chefes de Estado-Maior, é o principal órgão militar de carácter coordenador e tem as competências estabelecidas na LOBOFA21. Como órgão consultivo este conselho dá parecer sobre as propostas de definição do conceito estratégico de defesa nacional (art. 19 n.º 4 LOBOFA). É também este conselho que elabora o Conceito Estratégico Militar (CEM), submetido a aprovação do Ministro da Defesa Nacional e a confirmação pelo CSDN (art. 3.º n.º 2 LOBOFA).

Como veremos detalhadamente mais à frente, no que respeita ao CEM, encontramo- nos ao nível das estratégias gerais, ligadas a cada ramo de actividade subordinado à

estratégia total, subdividem-se em estratégias particulares, tendo em conta os sectores

e os meios utilizados. O CEM define a estratégia geral militar, subdividindo-se nas

estratégias particulares terrestre, marítima e aeroespacial, de acordo com os ambientes

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físicos onde são empregues os meios. No que respeita à estratégia estrutural, o CEM avalia as vulnerabilidades e potencialidades, das estruturas existentes, procurando definir as medidas mais adequadas à diminuição dessas vulnerabilidades e à optimização das potencialidades por forma, a maximizar o rendimento dos meios e recursos disponíveis.

O artigo 13.º, n.º 2, alíneas a) e e) da LDN, prevê a elaboração de uma Directiva Governamental de Defesa Nacional (DGDN), integrada no processo de elaboração estratégica de defesa nacional. Essa directiva deve ser elaborada pelo Primeiro-Ministro, ou pelo Ministro da Defesa Nacional em delegação de competências (art. 13.º n.º 3 LDN), para indicar os objectivos concretos e as linhas de acção de direcção superior do Estado, de natureza genética, estrutural e operacional a empreender pelos vários ministérios.

De acordo com o artigo art.º 15.º, n.º 2, b) da LDN, dessa directiva iriam dimanar as Directivas Ministeriais de Defesa Nacional dos ministérios com responsabilidades na Defesa Nacional, definidoras dos objectivos e linhas de acção sectoriais, correspondentes às áreas de cada ministério, para execução a curto prazo. Todavia, como estas directivas não estão claramente definidas na LDN, a Directiva Governamental, até à presente data, não foi produzida (Ribeiro, Março de 2010, p. 15).