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Directrizes para a construção de um modelo virtual

No documento Comunicação e Sociedade (páginas 122-128)

Da crítica acrítica à crítica panfletária e militante

4. Realidades paralelas: uma socialização híbrida

4.2. Directrizes para a construção de um modelo virtual

Conforme o exposto neste capítulo, acreditamos que uma hipótese para a transposição físico-virtual da temática do projecto deve ser guiada pelas seguintes directrizes (con- forme Figura 4):

• localização do outdoor – fornecer dados que permitam conhecer o local em que a peça está afixada, seu formato, suas dimensões, o nome e o CAE, as cores pre- dominantes, o produto e/ou serviço que anuncia, entre outras informações que auxiliam o reconhecimento da peça publicitária;

• visualização do outdoor – estamos convencidos de que a simulação do olhar do

indivíduo durante a recolha de imagens é o caminho mais coerente para simular a observação da publicidade. Neste sentido, a fotografia é uma técnica adequada para emular a experiência da visão. Com uma lente de 50º, em plano horizontal, Cartier-Bresson (2005) parece obter o enquadramento mais rigoroso. Também,

VISUALIZAÇÃO

(Exemplo: o campo de visão) Figura 4. Registo das categorias localização, visualização

e ambiência no mundo real e reproduzidas no virtual

Directrizes da experiência no mundo físico/real

LOCALIZAÇÃO

(Exemplo: Identifi cação da peça)

AMBIÊNCIA

(Exemplo: fl uxos e rotinas)

Narrativas digitais (a transposição)

Narrativa 1 (Exemplo: vídeo)

Narrativa 2 (Exemplo: fotografi

a)

Narrativa 3 (Exemplo: texto) Narrativa 4 (Exemplo: mapas) Narrativa 5 (Exemplo: animação) Narrativa 6 (Exemplo: áudio)...

Narrativa intermédia

unidade informativa

(protótipo virtual do outdoor personalizado)

Experiência no digital/virtual

com regras de posicionamento, incluindo distâncias flexíveis e ângulos de visão fixados em 30º, 90º e 150º, Lynch (2008 in Viana, 2009) explica que é possível fazer três registos fotográficos de um outdoor de forma a abranger os principais pontos de visão dos indivíduos;

• ambiência do outdoor: para fornecer um melhor entendimento do objecto em

análise, um vídeo com duração de quinze segundos será efectuado no local. O objectivo desta ferramenta é registar informação de movimento, luz e som no cenário original para apresentação no portal online. Numa perspectiva mais pro- funda, será desenvolvido um infográfico para cada outdoor da base de dados

vídeo, texto, ilustração 2D, animação 3D, cartografia, etc.) unificados numa narrativa com informações e simulações relevantes sobre a peça publicitária e elementos urbanos que possam intervir na mesma zona de acção.

Além de se centrar nestas directrizes, que identificam categorias de análise e seus itens de composição, consideramos que a próxima etapa sobre a virtualização da expe- riência da publicidade exterior, especificamente do outdoor personalizado, deve centrar- -se na definição dos itens importantes de cada uma das três directrizes sugeridas neste estudo. Mais do que isso, após a definição dos dados e acções a serem transpostos do físico para o virtual, a pesquisa deverá pensar na recolha e registo de cada elemento (vídeo, fotografia, ilustração, animação, etc.), bem como na reprodução dos mesmos em interface digital.

5. Conclusão

O outdoor personalizado está a marcar indelevelmente a publicidade contemporânea. A espectacularidade de formatos, do tamanho de imagens que veicula e da frequência crescente no espaço público, são, entre outras, razões que justificam interesse de análise.

Ao longo desta breve reflexão tentámos aflorar alguns dos assuntos que nos parecem mais relevantes, no contexto desta publicação. Ou seja, a semântica da terminologia utilizada e a base de dados online; os parâmetros de localização na cidade do Porto e a transposição do espaço físico para o virtual.

Definido que foi o que entendemos ser o outdoor personalizado, assinalaram-se os parâmetros gerais do bigposter, portal de internet focalizado exclusivamente nos gran- des cartazes de rua, que têm como principal característica serem idealizados, desenha- dos e produzidos para determinando local. São, neste contexto, imagens únicas.

A base de dados online de outdoors personalizados (http://bigposter.ufp.pt), a que fizemos referência no decorrer deste curto ensaio, é a grande plataforma que justifica este trabalho. Este instrumento permitir-nos-á contribuir para o estudo e problemati- zação do outdoor personalizado e propagar o seu conhecimento para investigadores, estudantes, profissionais da área e outros interessados. A transposição do espaço físico para a plataforma virtual, que mereceu a nossa atenção, é um factor determinante na valorização do portal. Quanto melhor for efectuada, tanto melhores resultados obtere- mos, na medida em que teremos uma representação do mundo real mais fidedigna. Esta é uma das problemáticas importantes no contexto da valorização do portal Bigposter.

Face à ausência de qualquer reflexão no nosso país sobre a temática aqui proposta, pensamos justificar-se por si só este trabalho. Um trabalho estruturado, com interesse científico, académico e profissional que iniciamos no nosso país, com a pretensão de ser extensível a outras paragens.

6. Bibliografia

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Comunicação e Sociedade, vol. 19, 2011, pp. 127-143

O despertar da publicidade cidadã

Sara Balonas*

Resumo: Comummente entendida como ferramenta de apologia ao consumo e, mui-

tas vezes, num sentido pejorativo, a publicidade está historicamente ligada à área da economia. Contudo, sempre foi muito mais do que um instrumento de vendas. O seu discurso fascina, envolve, emociona. É socialmente integrador. Compreender esta força persuasiva é uma premissa fundamental para se entender o alargamento da esfera da publicidade, do consumo para a intervenção na esfera social, quer numa perspectiva de responsabilidade social das empresas, quer numa perspectiva de cidadania, em muitos casos, sem intuitos comerciais.

Com efeito, a publicidade também é, e cada vez mais, um meio de informação e sensibilização para problemas que afectam os cidadãos e a sociedade, desde as questões ambientais (escassez de água, camada do ozono, espécies em vias de extinção, poluição, separação de lixos) às questões sociais (violência doméstica, racismo, fome, abandono, maus tratos, vítimas de catástrofes ou de conflitos). É um facto: a publicidade tem vindo a ser resgatada para fins sociais.

Compreender a sua efectiva contribuição passa por abordar outro tipo de proble- máticas, desde logo, a relação entre o cidadão e a publicidade. Mas também a relação entre os publicitários e o conceito de cidadão. Ou ainda a credibilidade da publicidade enquanto discurso persuasivo que pode ir para além da valorização do consumo. Ou, por fim, e mais paradoxal ainda, a publicidade sem fins lucrativos, inserida num sistema em que a causa social é um fim em sim mesmo, por contraponto à publicidade ao ser- viço da responsabilidade social empresarial, igualmente válida. São vários os ângulos a debater em torno deste novo atributo da publicidade. O presente artigo procura contri- buir para um debate que vai muito para além da comunicação, tocando nos valores e tendências das sociedades, na actualidade.

Palavras-chave: publicidade, credibilidade, causas sociais, responsabilidade social, cidadania. * Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, Centro de Estudos Comunicação e Sociedade (sarabalonas@ics. uminho.pt).

No documento Comunicação e Sociedade (páginas 122-128)