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1. DIMENSÕES DA PROTEÇÃO AOS DIREITOS DE CRIANÇAS E

1.3 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

1.3.7 Direito à convivência familiar e comunitária

A família natural33 compreende pais e filhos, ou apenas um dos genitores e seus filhos, constituindo esta uma família monoparental, sendo que não há distinção entre filhos havidos ou não na constância do casamento, diante do princípio da isonomia filial.

Mas a família, ainda, pode ser composta por parentes próximos e que a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade, constituindo a família extensa ou ampliada.

Cabe ressaltar que o parentesco não se constitui apenas com a consanguinidade, sendo constituída também pelo vínculo da afinidade com os ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge ou companheiro (BRASIL, 2002)34.

Portanto, a madrasta ou padrasto constituem a família extensa, que mantém o vínculo de afinidade com o sentimento e o convívio cotidiano.

Na ausência dos pais, a família extensa é a alternativa imediata para não ser imposta a convivência da criança ou do adolescente com pessoas desconhecidas, que não possuem o vínculo de afinidade e o afeto (MACIEL, 2018a). “Atualmente, a afetividade, aliada ao princípio da dignidade da pessoa humana, deve constituir a base das relações familiares. Traduz o dever de dedicação de uma para com o outro, sendo o vínculo biológico ou socioafetivo” (NICKNICH, 2015, p. 556).

33A definição de família natural está prevista no artigo 226 da Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988, bem como no artigo 25 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A família substituta35 é outra modalidade de família em que podem ser inseridas as crianças e os adolescentes, mediante guarda, tutela ou adoção, não estando nestes dois últimos institutos, o menor de dezoito anos, sujeito ao poder familiar.

À família acolhedora, como medida protetiva, compete zelar e cuidar, provisoriamente, a criança e o adolescente que se encontra com o direito violado. E, a família recomposta é formada por um casal onde um ou os dois tiveram filhos em uma relação anterior e todos formam uma nova família (MACIEL, 2018a).

A família recomposta é muito comum atualmente, diante do número elevado de divórcios e dissoluções de sociedade de fato, quantitativo que representa a facilidade de dissolver a relação afetiva entre duas pessoas e a reestruturação com outra, surgindo novos segmentos familiares: o padrasto, a madrasta e os enteados.

Com essa nova estrutura familiar surge a multiparentalidade, onde é permitido, inclusive administrativamente, através do Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais, o reconhecimento voluntário da paternidade e maternidade socioafetivo36. Os requisitos para o reconhecimento socioafetivo administrativo teve recente alteração, sendo possível somente quando o registrando contar com mais de doze anos de idade, após a verificação da existência da afetividade da paternidade ou maternidade socioafetiva, e com o parecer favorável do representante do Ministério Público. Cumpridos os requisitos determinados pelo Conselho Nacional da Justiça, o reconhecimento socioafetivo será averbado no registro de nascimento do adolescente ou maior de idade, mediante a anuência dos pais biológicos, quando o registrando contar com idade inferior a 18 anos, assim como da anuência do registrando (BRASIL, 2019a).

Diante da apresentação de todo este aparato familiar, cumpre salientar que a família natural é a regra e é através dela que deve ser garantida a convivência familiar na infância e na adolescência, sendo que não sendo possível a permanência da criança e do adolescente em sua família de origem buscar-se-á outras modalidades para manter o vínculo de afinidade e afeto.

35 As disposições gerais a respeito da família substituta estão dispostas nos artigos 28 a 32 do

Estatuto da Criança e do Adolescente.

36O reconhecimento extrajudicial voluntário da paternidade e maternidade socioafetiva está previsto

no Provimento n ° 63, de 14 de novembro de 2017, do Conselho Nacional da Justiça – CNJ, com as alterações determinadas no Provimento n ° 83, de 14 de agosto de 2019.

Excepcionalmente e por meio judicial, as crianças e adolescentes que não permaneçam no seio familiar terão proteção especial do Estado37, serão mantidos, quando possível, próximos da antiga residência para assegurar a convivência com a comunidade.

As medidas protetivas para crianças e adolescentes que estejam “[...] em situação de ameaça ou violação graves a sua integridade pelo grupo familiar – seja por ação, seja por omissão – foram alargadas e mais detalhadas com vistas a maior precisão e efetividade na proteção” (SANTOS; VERONESE, 2015, p. 182). Quando o afeto e a convivência familiar são depreciados e a indiferença humana é emergente, a função da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente é garantir a proteção especial e amenizar o desprezo e a angústia (NICKNICH, 2015).

A atuação do Poder Judiciário, como agente político fundamental no Sistema de Garantia de Direitos, efetiva e garante os direitos das crianças e dos adolescentes:

O Poder Judiciário, portanto, é agente imprescindível no sistema de garantias de direitos. Sua omissão ou o não reconhecimento dos direitos fundamentais da criança e do adolescente viola os próprios princípios de um Estado que se quer democrático e de direito. Assim, uma política de proteção aos direitos da criança e do adolescente somente será efetiva se tiver o apoio político e institucional do Poder Judiciário (CUSTÓDIO; VERONESE, 2009, p. 192).

Assim como a convivência familiar é essencial para o crescimento saudável e o desenvolvimento afetivo da criança e do adolescente, a convivência comunitária é fundamental para a formação da personalidade e a construção de valores e conceitos. É com o contato e convívio com outras pessoas que se aprende, desenvolve e se pratica a solidariedade, a paciência e a amizade, qualidades pessoais que engrandecem o cidadão (SANCHES; VERONESE, 2017).

O importante para as crianças e adolescentes é garantir a convivência familiar e comunitária, a fim de que sejam desenvolvidos os laços de afetividade, solidariedade e a preservação dos direitos fundamentais básicos.

Como visto, os direitos fundamentais são inerentes à pessoa humana, essenciais para o desenvolvimento da criança e do adolescente. Cada direito

37A proteção especial do Estado tem previsão no artigo 20 da Convenção Internacional dos Direitos

da Criança, assim como no artigo 226, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

fundamental estudado acima tem sua especialidade, sendo que um decorre da aplicação do outro, e todos formam um conjunto indispensável para a formação do cidadão.

No próximo tópico adentrar-se-á nos princípios jurídicos fundamentais do direito da criança e do adolescente para maior aprofundamento do estudo e compreensão do tema.

1.4 OS PRINCÍPIOS QUE SUSTENTAM O DIREITO DAS CRIANÇAS E DOS

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