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Direito à protecção dos interesses económicos

I. DIREITO DO CONSUMO EM ANGOLA

1. Legislação

1.2. Lei de Defesa do Consumidor

1.2.3. O direito do consumidor como direito fundamental

1.2.3.4. Direito à protecção dos interesses económicos

Este direito vem consagrado nos art.s 4.º, n.º 1, alínea a) e 15.º da LDC. Este é um dos direitos, tal como o direito à informação, que se pode considerar um pilar77, no âmbito

74 Decreto Executivo n.º 33/00, de 5 de Maio.

75 A Lei das Actividades Comerciais, no art. 23.º, também faz referência ao dever de se indicar o preço ao

público dos produtos expostos para a venda a retalho, bem como os meios pelos quais devem as indicações ser feitas. Estabelece ainda que a venda de bens ou a prestação de serviços por um preço superior aos constantes dos respectivos meios de indicação dos preços constitui uma infracção grave e punível. Art. 36.º, n.º 1 alínea d) e 2, do diploma citado.

76 Refere PRATA, Ana, Notas sobre Responsabilidade Pré-contratual, [s.n.], Lisboa,1991, p. 66, «constituindo a fase

dos preliminares o período destinado à maturação da vontade contratual e à busca do equilíbrio de interesses que constituirá o substrato do contrato, indispensável é que as partes possam dispor de liberdade para, através de formulações aproximativas, poderem ajustar progressivamente os seus pontos de vista divergentes, sendo- lhes, do mesmo passo, possível em qualquer momento desistir do projecto contratual concebido».

77 ALMEIDA, Carlos Ferreira de, Os Direitos dos Consumidores, p. 71, considera o desprezo pela protecção dos

da defesa do consumidor. Este direito tem particular importância na contratação78,

especialmente no que diz respeito aos contratos pré-redigidos, que abordaremos mais adiante, onde não há negociação entre comprador (consumidor) e vendedor (fornecedor). Todavia, existem certas normas que o vendedor tem de respeitar, como a redação clara e inequívoca das cláusulas do contrato e a não utilização de cláusulas que originem desequilíbrios e desigualdades79, como é o caso de cláusulas contratuais gerais abusivas que

são proibidas por lei (art.s 16.º da LDC e 10.º da LCGC), por desrespeitarem os direitos do consumidor.

O art. 15.º faz referência, nos seus vários números, a aspectos essenciais da defesa do consumidor, ao considerar que deve haver nas relações de consumo igualdade material dos intervenientes80, a lealdade e a boa fé. Esta igualdade é aferida nos preliminares, na

formação e na vigência do contrato81, protegendo assim o consumidor em relação a situações abusivas que ressaltam da elaboração dos contratos82.

Os contratos de consumo que não forem precedidos da informação necessária para que o consumidor tenha conhecimento prévio do conteúdo contratual e forem redigidos com o objectivo de dificultar a compreensão do seu sentido e alcance não o vinculam83.

Este direito visa prevenir os eventuais abusos por parte dos fornecedores de bens e serviços, impondo nas relações jurídicas de consumo a igualdade material dos intervenientes, a lealdade e a boa fé84, como acima referimos.

Este direito prevê que não se pode exigir do consumidor o pagamento de bens ou serviços que não tenha solicitado85 ou que não constitua cumprimento de um contrato

válido86. O fornecimento de um bem ou serviço ao consumidor, sem a sua prévia

78 Neste sentido, segundo CANOTILHO, José Joaquim Gomes. MOREIRA, Vital, Constituição República

Portuguesa Anotada, Vol. I, 4.ª Ed., p. 782, os princípios da igualdade e da lealdade implicam a protecção contra os danos resultantes da adopção de contratos pré-redigidos e métodos agressivos na promoção de vendas, que impedem o consumidor de fazer uma avaliação consciente das cláusulas contratuais e da formação livre da decisão de contratar.

79 Como refere ANDRADE, José Carlos Vieira, «Os Direitos Fundamentais dos Consumidores na

Constituição Portuguesa de 1976»: in Estudos de Direito do Consumidor, p. 146, «quando a Constituição se refere ao direito à protecção dos interesses económicos, não deve ser entendida como opção parcial a favor do consumo, mas como equilíbrio e garantia da legalidade e da igualdade material, sobretudo para a protecção dos desequilíbrios em detrimento do consumidor…».

80 Cfr. No mesmo sentido, refere LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes, «O Direito do Consumo:

Autonomização e Configuração Dogmática»: in Estudos do Instituto de Direito do Consumo, Vol. I, Almedina, Coimbra, 2002, p. 12, «para que este sistema possa funcionar eficazmente pressupõe-se uma igualdade absoluta entre as partes…».

81 Cfr. Art. 15.º, n.º 1 da LDC.

82 Cfr. CARDOSO, Elionora, Lei de Defesa do Consumidor..., p. 104. 83 Cfr. Art. 15.º, n.º 2 da LDC.

84 O art. 227.º, n.º 1 do CC, consagra o princípio da boa fé objectiva, estabelecendo que «quem negoceia com

outrem para a conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente causar a outra parte».

85 Cfr. CARVALHO, Jorge Morais, ob. cit., p. 258 e ss.

86 O art. 13.º do Decreto-Lei 57/2008, de 26 de Abril, do ordenamento jurídico português, que tem por

epígrafe «Envio de bens ou serviços não solicitados», determina que, «no caso de envio bens ou serviços não encomendados ou solicitados, que não constitua cumprimento de qualquer contrato válido, o destinatário desses bens ou serviços não fica obrigado à sua devolução ou pagamento, podendo conservá-los a título

solicitação, constitui uma prática comercial agressiva87, e, de acordo com a LDC, o

consumidor não tem o dever de proceder à sua devolução ou compensação, nem tem a responsabilidade pelo risco ou perecimento da coisa88.

Relativamente aos contratos celebrados fora do estabelecimento comercial, seja por meio de correspondência ou outro equivalente89, a LDC prevê um prazo de sete dias para a

resolução do contrato por parte do consumidor, a contar da data de recebimento do bem ou serviço. Entendemos que o legislador, com esta norma, teve como pretensão proteger o consumidor dos contratos celebrados no domicílio e outros equiparados90, nomeadamente

os celebrados no local de trabalho do consumidor, celebrados em reuniões e celebrados durante uma deslocação organizada pelo fornecedor ou em lugar indicado pelo fornecedor.