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Evidencia-se que além de ser um direito universal, consubstanciado em diversos diplomas, o direito ao trabalho afeta de forma tão intensa e peculiar a vida das pessoas, que a ausência do trabalho está associada à perda da dignidade humana.

Não obstante, o direito do trabalho desdobra-se em dois aspectos, direito do trabalho subjetivo e objetivo; de forma que todo indivíduo tem direito e acesso ao mercado de trabalho, sendo este seu direito individual subjetivo. No pertinente a caracterização como direito do trabalho objetivo, trata-se o direito enquanto disciplina e/ou matéria, ou seja, sem pessoas envolvidas.

Com efeito, analisando as inovações trazidas pela Constituição Federal de 1988, evidencia-se a distinção constitucional das expressões direito do trabalho e direito ao trabalho, em razão de que ambas parecem similares, mas não se confundem. A disciplina jurídica que dá vazão aos estudos das relações de trabalho, suas peculiaridades e características é o direito do trabalho, que possui amparo no art. 7º, da Constituição Federal.

Já ao estudar o direito ao trabalho, tal propósito vai além de limitá-lo a uma ação em si, mas abarca o direito a subsistência, o direito a políticas de pleno emprego, bem como a contraprestação salarial. José Afonso da Silva (2012) complementa que envolve a liberdade de escolher o trabalho, de forma que se coadune com as habilidades do trabalhador. Trata-se também ao direito de permanência no emprego, bem como, o acesso ao mercado de trabalho para aqueles que estão à procura de um emprego (MACHADO, 2011, p.57).

Nesse sentido, conceituar o direito ao trabalho está relacionado ao art. 6º que irá definí-lo como direito social, o que não permite dissociá-lo do art. 170 da Constituição Federal, o qual preconiza que a ordem econômica está amparada na valorização do trabalho.

Veja-se que devem ser assegurados aos trabalhadores os direitos consignados no art. 7º da Constituição Federal, contudo muitos desses direitos necessitam de regulamentação, motivo pelo qual gera impedimento na efetivação dessas garantias constitucionais.

Para tanto, este tem sido o objetivo do direito do trabalho: concretizar condições para que o trabalhador desenvolva suas atividades com dignidade.

Segundo Pinto Martins (2014, p. 4), “o direito do trabalho pretende corrigir as deficiências encontradas no âmbito da empresa, não só no que diz respeito as condições de trabalho, mas também assegurar uma remuneração condigna. [...]”.

Com, isso sabe-se que as relações de trabalho são disciplinadas pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, o que permite enquanto legislação limitar e assegurar os direitos dos trabalhadores.

Contudo, o direito do trabalho não se limita à disparidade na relação empregatícia, à aplicação da CLT e demais leis extravagantes. O direito juslaboral estende-se para além do individual e coletivo, abrangendo a visão econômica, política e social. (CASSAR, 2013).

Por sua vez, Maurício Delgado (2006, p. 143) aduz que o direito do trabalho deve dar efetividade ao que se propõe, que é amparar as relações de trabalho:

A generalização do Direito do Trabalho é o veículo para a afirmação do caminho do desenvolvimento econômico com justiça social. A principal das ações afirmativas de combate à exclusão social no Brasil, desse modo, é a própria efetividade do Direito do Trabalho.

Destarte, vivencia-se no cenário atual um alarmante número de pessoas que se encontram desempregadas, trabalhando na informalidade ou até em condições precárias, análogas à escravidão. Neste quadrante, tem-se que os direitos fundamentais não se limitam a garantir sobrevivência do ser humano e mantê-lo à

patamares mínimos de vida, mas convergem para que o ser humano desfrute de uma vida saudável, em plenas condições existenciais (BROD, SANTOS, 2014)

Entretanto, verifica-se que o trabalho informal e em condições precárias possuem substrato na economia fragilizada que o país tem suportado.

Segundo apontam os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015), em Julho de 2015 a taxa de desocupação no Brasil esteve em 7,5%, tendo aumentado em 2,6 pontos percentuais se comparado com o mesmo período do ano passado, (passou de 4,9% para 7,5%). Tal dado revela que existe um alarmante número de pessoas que estão trabalhando sem carteira assinada bem como há uma projeção de que ocorreu um acréscimo de pessoas que buscam emprego; em torno de 56,0% equivalendo a 662 mil pessoas em busca de trabalho, o que evidencia que no Brasil, a crise do desemprego também foi sentida.

Estudos jamais dissociaram que o direito do trabalho possui ligação com a economia. Pinto Martins (2014) aduz que o Estado ao intervir no sistema produtivo, consequentemente estabelece políticas que atingem o nível de emprego. Nessa perspectiva, não se pode ignorar a lei da oferta e da procura que coloca o salário em posição de barganha.

Por essas razões o direito ao trabalho, estipulado na carta constitucional para ser um direito social fundamental de aplicabilidade imediata acaba, por vezes, não alcançando sua finalidade, conforme se observa os dados acima expostos. Nesse ínterim, e por deixar de ser concretizado, o trabalho acaba por ser marginalizado, abrindo brechas para as irregularidades do trabalho forçado e degradante.

Volia Bomfim Cassar (2014) leciona que os salários ínfimos aliados a jornadas intermináveis refletem na superexploração, o que permite que as forças de trabalho sejam utilizadas em uma absurda escala. Ademais, a superexploração é vista por Ianni como:

[...] salários ínfimos, longas jornadas de trabalho [...] aceleração do ritmo de trabalho e pela manipulação da velocidade das maquinas e equipamentos produtivos, ausência ou escassez de proteção ao trabalhador em ambientes de trabalho (IANNI, 1997, p. 174).

Ainda, convém destacar, que o direito do trabalho enquanto disciplina jurídica a qual enseja estudos sobre as relações de trabalho e suas peculiaridades, passou por um processo de reconhecimento até chegar ao status de disciplina autônoma, amparada no art. 7º, da Constituição Federal.

Inicialmente, o Direito Civil regia as relações de trabalho por meio do contrato, o qual fazia lei entre as partes, sendo o direito do trabalho eminentemente privado.

O pacta sunt servanda fazia emergir uma desigualdade entre os sujeitos da relação de trabalho ao cabo que, uma vez realizado o contrato, as partes obrigatoriamente cumpririam o que fora avençado, não cabendo ao estado intervir ou modificar.

Nesse sentido, as relações de trabalho continham previsão nos estatutos civilistas, inexistindo lei ou principio que conferisse proteção ao trabalhador, ou seja, tudo que fosse convencionado entre as partes era pautado pela força da igualdade formal.

O direito do trabalho foi atingido por mudanças decorrentes da efemeridade das relações sociais, que modificaram a mentalidade coletiva e como consequência alteraram as conjecturas relacionais e sociais.

Após 28 anos da promulgação da Constituição Federal, o cenário trabalhista experimentou a implementação de novas relações de trabalho, uma vez que a legislação tem que adequar-se ao fato concreto. A globalização é uma realidade irreversível e seus efeitos foram estendidos a todas as áreas da vida, inclusive no que tange ao trabalho. A produção em larga escala, a integração econômica, e a forma de prestar o trabalho é uma realidade latente nos dias atuais.

Sobre esse aspecto, o capítulo a seguir cuidará acerca dos avanços tecnológicos, especialmente no diz respeito à sociedade da informação e como ela atinge frontalmente a vida das pessoas e o trabalho. A sociedade pós-industrial possui instantaneidade para o trabalhador e para a maneira de prestar o trabalho.

3 TRABALHO ANÁLOGO AO ESCRAVO DESCORTINADO PELA SOCIEDADE