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CAPÍTULO IV UMA ANÁLISE CRÍTICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS

4.2 Dos direitos fundamentais associados à população extrativista como uma análise

4.2.1 Direitos sociais: saúde, educação e a propriedade das terras ocupadas

4.2.1.2 O direito humano à educação

No que tange aos direitos à educação, vale dizer que o acesso a esse bem é reduzido, primeiro pelas grandes distâncias a serem percorridas pelos estudantes, demonstrado no item (4.1.3.4), depois, pelas imensas dificuldades existentes devido as peculiaridades da Amazônia rural, como exemplo, as grandes distancias existentes entre as residências, e destas, entre as escolas, o que se agrava pela ausência do Estado gestor da RECM, pois não se teve percepção nos diagnósticos pesquisados, de qualquer tipo de apoio eficiente a esse respeito. Inclusive, a ausência de uma escola técnica profissional encerra as possibilidades de uma educação continuada, adequada ao aproveitamento racional dos recursos naturais, além de outras atividades econômicas, o que degrada as perspectivas dos jovens, pois não têm uma expectativa de futuro profissional, bem como dos adultos, que não veem alternativas econômicas viáveis, por meio de técnicas para potencializar a produção.

É certo, que a DUDH (1946), em seu artigo 26, assegura a toda pessoa o direito à instrução. Assevera que a educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente aos graus elementares, sendo este compulsório. Determina ainda, que o ensino técnico e profissional deve ser acessível a todos, bem como o acesso a educação de nível superior, esta com base no mérito. Assegura ainda, que “a educação será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais” (DUDH, 1946), o que não exclui a RECM. Assegura, por fim, que “a educação promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e

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WHO, Address [to the World Conference on Human Rights] by the Representative of the World Health Organization (Mr. A. Bindari-Harumad) (Viena, 14-25.06.1993) pp. 2-3 (mimeografado, circulação intertna).

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grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das nações unidas em prol da manutenção da paz.” (DUDH, 1946).

A educação não é neutra em matéria de valores, especialmente quando postulada como um direito humano. Para tanto, a DUDH (1946) expressa três finalidades na formulação desse direito, sendo a primeira delas, atingir o avanço da personalidade em sua plenitude, tema que permeia toda a declaração com um raciocínio temático. Seu significado na sedimentação de um conceito que busca um entendimento integral dos fenômenos da natureza humana, de seres livres, socialmente e dotados de conhecimento e aptos a participar de tomadas de decisões de caráter essencial e determinante. Já a segunda finalidade tem base no comando, pelo qual a educação deve promover a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, excluindo preceitos negativos como combater o ódio, porém, vinculando o direito à educação ao objetivo positivo de impulsionar a percepção, a tolerância e o apreço entre as nações e grupos raciais ou religiosos. Por fim, a terceira finalidade, prescrita no artigo 26 prescreve que a educação deve apoiar as atividades da ONU em favor da manutenção da paz.

Igualmente, nos termos do PIDESC (1976), o reconhecimento do direito à educação, não apenas a determinados grupos, mas, destinados a todas as pessoas, com o fim de estabelecer um desenvolvimento pleno de sua personalidade e dignidade, além de fortalecer laços respeitosos pelas liberdades fundamentais, bem como direitos inerentes a pessoa humana, favorecendo a capacitação de todos os seres humanos para uma sociedade livre, compreensiva, tolerante e amistosa entre as nações e as minorias oprimidas, além da promoção da paz mundial. Ademais, se prima pelo reconhecimento do Estado, para fazer valer o pleno exercício do direito à educação de maneira obrigatória e gratuita da educação primária, garantindo ainda a educação secundária, sem excluir a formação os cursos técnicos profissionais, com acessibilidade garantida, por meios apropriados, sem desprezar a implementação sucessiva do ensino gratuito, o mesmo tratamento dispensando, nos moldes das capacidades individuais, além de prescrever a educação de base para as pessoas que não tiveram acesso à educação primária, ou não concluíram a educação secundária. Oportuno dizer ainda, que no seio da compreensão de dignidade da pessoa humana, o direito à educação, no pensar de Veltroni (2010, p. 15) “foi alçado a um patamar de valor ampliado, passando a ser enfocado não somente como uma possibilidade ou uma faculdade do ser humano, mas se tornando um direito a ser exigido pelo homem e um dever a ser cumprido

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pelo Estado.” Não há dúvidas que tais comandos protetivos internacionais vêm ao encontro dos direitos, anseios e necessidades dos moradores da RECM.

Sem lugar a dúvidas, o direito à educação é inerente à pessoa humana, não podendo dela ser divorciado, e que a ausência de acesso pleno a tão propalado direito, frustra as possibilidade da obtenção de gozo de direitos sociais, econômicos e culturais, frente a vulnerabilidade das pessoas que são excluídas da instrução, e retira ademais, vários pressupostos do princípio da dignidade da pessoa humana, dada a sua importância no contexto dos direitos sociais.

Aliás, Marshall (1967) clarifica tal assertiva, dizer que “o elemento social é o que está entre o direito a um menor nível de segurança e bem-estar econômico, e o direito de participação na herança social, com os padrões que prevalecem na sociedade”. Para esse autor, uma das instituições mais intimamente ligadas com o elemento social é o sistema educacional.

Enfim, é consenso que cabe ao Estado manter uma educação de qualidade e acessível a todos. Não pode haver ponderações, nem quaisquer exceções no atendimento a esse direito. E sob qualquer pretexto deixar de facilitar e de favorecer o acesso à educação, com condições dignas aos sujeitos desse direito, no caso em foco, os residentes do interior das matas da RECM. Evidente, que os moradores das áreas próximas às cidades têm mais garantia de acesso à escola, o que certamente, não ocorre com os moradores que vivem mais isolados, ou mesmo os ribeirinhos, devido às grandes distâncias a serem percorridas, ou mesmo por fatores ligados aos meios de transportes, o que os diferencia sobremaneira, dos estudantes que residem nas cidades vizinhas, porque as famílias extrativistas, na sua maioria, não têm as condições mínimas, nem o aproveitamento satisfatório das garantias educacionais, prescritas pelas declarações dos direitos humanos, como já analisado no item (4.1.3).