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Direito a ser esquecido como garante do direito à honra

No documento Flávia Alexandra Ferreira Félix (páginas 87-90)

3. Proteção do Direito a ser esquecido no âmbito dos Direitos de

3.3. Direito a ser esquecido como garante do direito à honra

O direito à honra assume-se como um dos mais importantes direitos de personalidade.

Não estando previsto no CC como um dos “direitos especiais” de personalidade, a honra é um dos direitos de personalidade abrangidos pelo art.70º do CC. Com efeito, a violação à honra traduz-se numa violação à personalidade moral das pessoas. Este direito é ainda reconhecido enquanto direito de personalidade pelo art.26º da CRP, mediante a designação “Direito ao bom nome e reputação”. Também encontramos a sua tutela em matéria de responsabilidade civil, pelo art.484º do CC cuja epígrafe é “Ofensa do crédito ou do bom nome”.

O direito à honra goza também de proteção penal, nomeadamente através dos tipos incriminadores relativos à difamação (art.180ºCP) e à injúria (art.181ºCP).

Dada a dificuldade em definir o conceito de «honra», esta é geralmente dividida em duas vertentes233: uma vertente pessoal e uma vertente social. Na primeira, a «honra» traduz-se na própria dignidade pessoal, na consideração/estima que cada pessoa tem de si mesma234; na segunda, a «honra» traduz-se na reputação que cada pessoa tem perante os outros, na opinião que os outros têm sobre nós.

A reputação da pessoa constitui um elemento essencial para que ela possa atingir a posição pretendida na sociedade, tanto ao nível profissional, como social. Assim, é essencial que não esteja “manchada”. 235

consegue impedir cópias feitas anteriormente ao apagamento. No entanto, reduz muito significativamente essa continuidade, até que alguém volte a colocar a mesma informação outrora copiada para o seu computador. Isto demonstra que a eficácia do direito a ser esquecido dependerá também em grande parte da rapidez com que este seja pedido e deferido.

233 Neste sentido ver, por exemplo, PEDRO PAIS VASCONCELOS,Direito de Personalidade, cit., p.76.

234 Vista desta vertente, a honra da pessoa (ou dizendo por outras palavras, a imagem que a pessoa tem de si mesma) pode ser ofendida mediante a atribuição à mesma de qualidades e/ou atos eticamente desapreciados.

235 Quando se fala em reputação, poder-se-á estar a referir a reputação pessoal, reputação profissional, reputação familiar, reputação política, etc. - ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado..., cit., pp.191 e 193.

Direito a ser esquecido na Internet: uma nova realidade?

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A honra é um direito inerente ao ser humano, não necessitando de qualquer requisito adicional para além do pressuposto da personalidade236 . Por essa razão, a ninguém deve ser negado, independentemente de as pessoas serem honestas ou desonestas, de terem boa ou má reputação237. No entanto, poderá haver lugar à deterioração da reputação238 , resultante da diminuição da consideração que a pessoa tinha por si mesma ou de que usufruía na sociedade, proporcionada por atos, considerados reprováveis, praticados pela própria pessoa ou que lhe sejam imputados por terceiros. Serão ilícitas as ofensas à honra, tanto as que se traduzam numa agravação da consideração que a pessoa tem por si própria, como aquelas que agravem a sua reputação no meio social239.

Coloca-se a questão de saber se o direito à honra, apenas, pode ser invocado nos casos em que a afirmação divulgada acerca de uma pessoa não corresponda à verdade, ou se, ao invés, quando o agente consiga provar a verdade daquilo que afirmou, o direito à honra não deve proceder. No entendimento de ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO240, “Tudo o que seja amputar a

verdade, transmiti-la a sugerir algo diverso do que dela resulte, redigi-la de modo a provocar valorações tendenciosas, levantar dúvidas ou reticências ou fabricar notícias por qualquer modo, não pode reivindicar a veritas”. Na verdade, defender uma «exceptio veritatis» como regra geral, tornaria o âmbito de aplicação deste direito muito mais reduzido, ao não abranger as situações em que as violações ocorrem de forma indireta e subtil241. Com efeito, a par de uma

236 ADRIANO DE CUPIS,ob.cit. p.115.

237 JOSÉ LUIS CONCEPCIÓN RODRÍGUES,ob.cit., p.294.

238 No sentido em que pode ocorrer também a perda da reputação, PEDRO PAIS DE VASCONCELOS,Direito de

personalidade, cit., p.77.

239 Ibidem, p.77.

240 Em Tratado..., cit., p.197.

241 É frequente as revistas colocarem na capa das mesmas títulos sugestivos por forma a atrair a atenção de potenciais leitores. No entanto, o que se verifica é que muitas vezes esses títulos são enganosos, não correspondendo ao conteúdo do artigo da revista para o qual remetem. No artigo podem constar informações verdadeiras mas o leitor que leia apenas o título, presente na capa da revista, ficará com uma ideia incorreta do que realmente aconteceu. São esses títulos enganosos que geralmente ferem a honra de alguém.

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informação falsa, tendenciosa ou incompleta, também, em determinadas circunstâncias, uma informação verdadeira pode ferir a honra de alguém.

Contudo, apesar de não constituir regra no nosso oj, também, não pode ser negada, de todo, a «exceptio veritatis», atendendo que a mesma existe em determinados casos específicos, nomeadamente no tipo incriminador relativo à difamação (contemplado no art.180ºCP), quando a divulgação da informação seja feita com vista a realizar interesses legítimos (incluindo-se aqui o interesse público)242.

O direito a ser esquecido pode estar relacionado com o direito à honra. Na Era virtual, em que vivemos, onde as informações, não sujeitas a qualquer teste de polígrafo ou qualquer outro controlo, são divulgadas a uma velocidade extraordinária, é bastante previsível a existência de violações à honra das pessoas que por essas informações são afetadas.

O fator tempo assume-se também como preponderante na aferição da violação ou não deste direito, visto que, no momento em que uma informação pessoal é publicada e divulgada na Internet, ela pode ser verdadeira (ainda que prejudicial, no que diz respeito à reputação da pessoa a que se refere) e ser considerado relevante o seu conhecimento pelos demais mas, com o passar do tempo, ela poderá deixar de corresponder à verdade ou deixar de ser relevante o seu conhecimento pelos outros. Nesta situação, a manutenção da informação, num espaço acessível a grande parte das pessoas de todo o mundo, pode por sua vez atentar contra a honra dessa pessoa, na medida em que se vê impossibilitada de recuperar a reputação perdida.

242“Artigo 180º - Difamação:

1 - Quem, dirigindo-se a terceiro, imputar a outra pessoa, mesmo sob a forma de suspeita, um facto, ou formular sobre ela um juízo, ofensivos da sua honra ou consideração, ou reproduzir uma tal imputação ou juízo, é punido com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 240 dias. 2 - A conduta não é punível quando:

a)A imputação for feita para realizar interesses legítimos; e

b) O agente provar a verdade da mesma imputação ou tiver tido fundamento sério para, em boa fé, a reputar verdadeira.”

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Perante esta situação, este direito só se tornaria verdadeiramente eficaz com o apagamento ou a atualização dessa informação. Portanto, também, aqui o direito a ser esquecido é chamado a agir por forma a conferir uma maior efetividade a este direito de personalidade. Desta forma, é possível afirmar que o direito a ser esquecido contribuiria, de forma significativa, para a garantia deste direito de personalidade.

3.4. Direito a ser esquecido como garante do Direito ao livre

No documento Flávia Alexandra Ferreira Félix (páginas 87-90)