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Direitos de Personalidade no Direito do Trabalho

No documento Ana Carolina Perdigão Villanova (páginas 72-75)

220 TEPEDINO, Gustavo. A tutela da personalidade no ordenamento civil-constitucional brasileiro. In Temas de Direito Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 13.

221 ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. Direitos da personalidade do trabalhador e poder empregatício. São Paulo: LTr, 2013. p. 105.

Conforme analisado no tópico anterior, os direitos de personalidade são direitos que dizem respeito aos atributos que definem e individualizam o ser humano, visando a proteção de seus valores mais íntimos.

No âmbito do Direito do Trabalho, segundo Rúbia Zanotelli de Alvarenga, a CLT dispõe expressamente sobre direitos da personalidade no art. 371-A, introduzido pela Lei n. 9.799 de 1999, o qual veda a revista íntima em empregadas; e os artigos 482, alíneas j e k, e art. 483, alíneas a, b, c, d, e e f222.

Salienta Estevão Mallet, citado por Bezerra Leite, que

(...) a visão reducionista do legislador, que tratou da relação de emprego como se nela as obrigações das partes se restringissem à prestação do trabalho pelo empregado, de um lado, e ao pagamento da remuneração pelo empregador, de outro lado. Tudo ficou limitado ao plano meramente patrimonial, o que se mostra tanto mais injustificável quanto é certo que, sendo o empregado, sempre e necessariamente, pessoa física (CLT, art. 3º), os direitos de personalidade encontram-se inevitavelmente em causa em todo e qualquer contrato de trabalho.223

Evidencia-se, portanto, a existência de uma lacuna na legislação trabalhista quanto aos direitos de personalidade. No entanto, com fundamento no parágrafo único do artigo 8º da CLT224, redação da qual decorre o princípio da subsidiariedade, admite-se a aplicação

subsidiária das normas do direito comum, face a inexistência de norma específica que tutele os direitos de personalidade do empregado na legislação trabalhista.

Ademais, de acordo com Leite, citado por Rúbia Zanotelli de Alvarenga

própria Constituição Federal, por ser fonte de todo o ordenamento jurídico brasileiro, já é condição suficiente para sanar a lacuna do texto consolidado 225. Na seara constitucional,

conforme aponta a autora, também merece destaque o fato de que os direitos da personalidade, por se inserirem no rol das cláusulas pétreas (art. 60, §4º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988226), não podem sofrer alteração in pejus pelo legislador constituinte derivado227.

Na realidade, conforme o disposto no art. 1º, inciso IV, da Constituição Federal, junto com a dignidade da pessoa humana (inciso III), o valor social do trabalho é também um dos

222 ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. Direitos da personalidade do trabalhador e poder empregatício. São Paulo: LTr, 2013. p. 87.

223 MALLET apud LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito do trabalho. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 75.

224 Art. 8º - § 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.

225 LEITE apud ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. Direitos da personalidade do trabalhador e poder empregatício. São Paulo: LTr, 2013. p. 90.

226 Art. 60 - § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV os direitos e garantias individuais.

227 ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. Direitos da personalidade do trabalhador e poder empregatício. São Paulo: LTr, 2013. p. 91.

pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito. Além disso, de acordo com o art. 193 o bem- No mesmo contexto, acrescenta-se o disposto no art. 170 da Carta Magna, o qual dispõe que

humano e tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça

Da redação dos dispositivos legais anteriores entende-se que, sem trabalho digno e valorizado socialmente, não há que se falar em bem-estar social, muito menos em justiça social. Evidencia-se, dessa forma, o papel dos direitos de personalidade, tendo em vista que o contrato de trabalho não pode ser um instrumento legitimador de supressão de direitos fundamentais constitucionalmente assegurados ao empregado como pessoa humana. Através dos direitos da personalidade tem-se uma proteção efetiva à dignidade do trabalhador. Portanto, ao exercer o poder empregatício, o empregador deve fazê-lo em estrita observância aos direitos de personalidade do empregado, de modo a garantir-lhe a sua dignidade.

De acordo com Delgado os direitos de personalidade atuam como contrapontos ao poder empregatício228. Assim, o poder empregatíci

princípios, regras e institutos constitucionais que asseguram tutela aos direitos de personalidade

229. Ademais, conclui o autor

que a atenuação do poder empregatício não vai contra o direito de propriedade e a livre iniciativa, direitos esses igualmente resguardados pela Constituição da República de 1988, mas colocando a livre iniciativa como valor social realmente ao lado e não acima do valor

230.

Conclui-se, portanto, que é tarefa do empregador prover o trabalho de forma adequada, possibilitando a prestação de serviços de maneira harmoniosa, com respeito à integridade física, moral e intelectual do trabalhador. Porém, considerando a posição desigual na qual se encontram os sujeitos da relação empregatícia, o ambiente laboral, sendo este físico ou virtual, configura-se como um cenário propício a possíveis lesões a direitos de personalidade do trabalhador.

228 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores. 18. ed., São Paulo: LTr, 2019. p. 763. 229 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores. 18. ed., São Paulo: LTr, 2019. p. 764. 230 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores. 18. ed., São Paulo: LTr, 2019. p. 764.

Outrossim, agravando ainda mais este cenário, o que vem sendo observado no âmbito legislativo é uma tentativa de redução da interpretação e aplicação de normas constitucionais no cenário trabalhista em prejuízo do trabalhador. Dessa forma, surge uma nova preocupação no Direito do Trabalho contemporâneo, qual seja, a efetiva tutela aos direitos de personalidade do empregado no contexto das recentes figuras contratuais laborais decorrente das novas modalidades de trabalho como, por exemplo, o teletrabalho.

4.3 O possível abuso do poder empregatício e consequente prejuízos ao exercício dos

No documento Ana Carolina Perdigão Villanova (páginas 72-75)