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3. OS DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

3.2. DIREITOS DIFUSOS

O artigo 81, parágrafo único, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, conceitua os direitos difusos como aqueles de natureza indivisível, com titulares indeterminados e indetermináveis, ligados por circunstâncias de fato.

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; (Brasil, 2014 - d).

Os direitos difusos são transindividuais, metaindividuais, supraindividuais, pertencentes à coletividade, não sendo possível serem mensurados individualmente. A natureza deste direito é indivisível na medida em que só podem ser considerados como um todo, sendo os titulares deste direito pessoas indeterminadas e indetermináveis, não havendo a possibilidade de identificá-los um a um. Estes titulares são ligados por circunstâncias de fato, não havendo qualquer vínculo jurídico entre eles.

Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr., exemplificam os direitos difusos da seguinte forma:

[...] v.g., a publicidade enganosa ou abusiva, veiculada através de imprensa falada, escrita ou televisionada, a afetar número incalculável de pessoas, sem que entre elas exista uma relação jurídica base, a proteção ao meio ambiente e a preservação da moralidade administrativa. (2010, pg. 74). Os direitos difusos, se comparados com o interesse geral ou público, apresentam dimensão coletiva mais estendida, pois enquanto o interesse geral ou público têm a balizá-los certos valores, os interesses difusos, por sua vez, ensejam posicionamentos diversos, de conteúdo cambiante. (DIDIER JÚNIOR; ZANETI JÚNIOR, 2013).

Assim ensina Mancuso:

Desse modo, os interesses difusos "excedem" ao interesse público ou geral, configurando-se no quinto e último grau daquela ordem escalonada, notabilizando-se por um alto índice de desagregação ou de "atomização", que lhes permite referirem-se a um contingente indefinido de indivíduos e a cada qual deles, ao mesmo tempo. (2013, p. 92).

Em sua obra, o doutrinador Hugo Nigro Mazzilli, compara os direitos difusos dos demais direitos, exemplificando cada um deles. Vejamos:

Há interesses difusos: a) tão abrangentes que chegam a coincidir com o interesse público (como o do meio ambiente como um todo); b) menos abrangentes que o interesse público, por dizerem respeito a um grupo disperso, mas que não chegam a confundir-se com o interesse geral da coletividade (como os de consumidores de um produto); c) em conflito com o interesse geral da coletividade com umtodo (como os interesses dos trabalhadores na indústria de tabaco); d) em conflito com o interesse do Estado, enquanto pessoa jurídica (como os interesses dos contribuintes); e) atinentes a grupos que mantêm conflitos entre si (interesses transindividuais reciprocamente conflitantes, como os dos que desfrutam do conforto dos aeroportos urbanos, ou da animação dos chamados trios elétricos carnavalescos, em oposição aos interesses dos que se sentem prejudicados pela correspondente poluição sonora). (2012, pg.53).

São características dos direitos difusos a indeterminação dos sujeitos, a indivisibilidade do objeto, a intensa conflituosidade e a duração efêmera, contingencial. (MANCUSO, 2013).

Em regra, para que os interesses sejam juridicamente protegidos se faz necessário que guardem uma relação necessária com a sua titularidade, sendo suscetíveis de tutela estatal apenas aqueles em que sejam relevantes a ordem jurídica e pertencentes a um titular determinado, visto que nesta hipótese será possível aplicar uma sanção para o caso de não serem respeitados. (MANCUSO, 2013).

Os interesses difusos fogem a regra, visto que seus titulares são indeterminados e indetermináveis, não tendo como parâmetro para a sua proteção a titularidade, mas sim a relevância do interesse, ou seja, sua transcendência social, como parâmetro para a tutela processual. (MANCUSO, 2013).

Assim leciona Mancuso:

Altera-se, assim, fundamentalmente o esquema tradicional: a relevância jurídica do interesse não mais advém de sua afetação a um titular determinado, mas do fato do interesse concernir a toda coletividade ou ao menos a um segmento dela, por aí se justificando o trato coletivo do conflito. (2013, pg. 98).

Outra característica marcante dos interesses difusos é a indivisibilidade do objeto, não sendo suscetíveis de participação em quotas atribuíveis a pessoas ou grupos preestabelecidos, ou seja, a satisfação de um só implica na satisfação de

todos os titulares, assim como a lesão de um só implica na lesão de todos os demais titulares. (MANCUSO, 2013).

Com efeito, no caso de um aeroporto supersônico em vias de instalar-se em local inadequado, verifica-se que o interesse difuso contrário à sua instalação poderá ser exercido via ação popular, por meio de um dos habitantes do local ou, via ação civil pública, pela comunidade, desta feita representada por associações; de qualquer modo, o eventual sucesso da ação espraiará benefício em face de todos os envolvidos, e não somente daquele indivíduoou daquela entidade que se dispôs a operar como paladino da comunidade; do mesmo modo, o fracasso da investida judicial frustrará, a um tempo, os portadores judiciais e os cidadãos que perfilhavam o mesmo entendimento. Daí, essa nota da indivisibilidade. (MANCUSO, 2013, p. 103).

Os interesses difusos são interesses indivisíveis, pois embora pertençam a uma categoria mais ou menos abrangente de pessoas, não é possível determinar a quem pertence este direito, muito menos a parcela destinada a cada um destes integrantes do grupo. (MANCUSO, 2013).

A intensa litigiosidade interna advém basicamente pelo fato dessas pretensões metaindividuais não derivarem de um vínculo jurídico e sim de situações de fato, muitas vezes até ocasionais. Por não se tratarem de direitos subjetivos violados e sim de interesses relevantes, verifica-se que diversas posições, por mais contrastantes que sejam, a princípio parecem ser sustentáveis. Não há um parâmetro jurídico que me permita preliminarmente avaliar a posição certa e a errada. (MANCUSO, 2013).

Exemplo sugestivo ocorreu no Rio de Janeiro, quando da construção do chamado "sambódromo", o qual gerou conflitos metaindividuais entre os interesses ligados à indústria do turismo versus os interesses dos cidadãos e associações, contrários à construção de um local permanente para os desfiles das escolas de samba. Algo semelhante se passa, presentemente, com a polêmica sobre a inversão de dinheiro público na construção e reforma de estádios, visando a Copa do Mundo de Futebol, no Brasil, em 2014. (MANCUSO, p. 107).

Os interesses difusos são interesses mutáveis, visto que não derivam de uma situação jurídica base, mas sim de situações de fato, modificando-se em simetria com essas situações. Esses interesses podem desaparecer, de modo a acompanhar a extinção da situação fática, como também podem reaparecer futuramente. (MANCUSO, 2013).

Aí, aliás, uma diferença entre os interesses e os direitos: aquelas, oriundos do plano fático ("existência-utilidade") tendem a repetir-se e a transformar- se indefinidamente; estes, presos ao plano ético-normativo, não têm a mesma plasticidade e esgotam sua função a partir do momento em que outorgam uma situação de vantagem a seu titular, ou inovam na ordem jurídica, criando, extinguindo ou modificando o status quo ante. (MANCUSO, p. 110).

Diante do exposto, pode se afirmar que dentre as espécies de direitos transindividuais os direitos difusos são os mais amplos, pois além de terem titulares indeterminados e indetermináveis, o objeto da lide é indivisível, pertencente a todo o grupo, sendo impossível mensurar a lesão de cada um e consecutivamente a indenização devida a cada titular.

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