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Diretoria, comissões e reuniões: organização e espaços de sociabilidades entres os foliões e folionas

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A diretoria é o grupo que assumia a agremiação, cuidando para que a participação no préstito carnavalesco fosse viável. A função da diretoria, para além da organização da apresentação da agremiação nos dias de carnavais, era realizar atividades extras como piqueniques, danças, passeios e outro tipo de diversão de interesse do grupo. Para organizar

esse conjunto de atividades e funções, cargos administrativos eram instituídos e assumidos mediante votação por aqueles sócios ou sócias que se colocavam à disposição.

Bloco Faz Que Olha – Promete dar a nota distinta, ou seja uma das mais brilhantes, nos três dias de carnaval, o “Bloco faz que olha!”, recentemente organizado por um punhado de foliões e distintas senhorinhas de nossa sociedade.

O quartel general do citado bloco é na casa do Capitão Francisco de Paula Carvalho, à rua da Palma n. 149, tendo sido proclamada duas diretorias, uma do sexo feminino e outra do sexo masculino.

A do sexo feminino: Senhorinha Luiza Antonia de Carvalho, Ruth Tavares, Esmeracy Tavares, Severina Carvalho, Alzira Cooper e Irene Ferreira, respectivamente, presidente, vice, 1ª e 2ª secretárias, oradora e vice-oradora.

A diretoria dos marmanjos: presidente, J. Álvaro Alves; vice, Francisco de Paula de Carvalho; 1º secretário, Erasmo de V. Gomes; 2º dito, Gumercindo Tompson Nascimento; tesoureiro, Laudelino Pereira; orador, Abel Freire (...) (A Província, 13/01/1922, p. 3).

O Bloco Faz Que Olha é um exemplo de agremiação que possuía uma diretoria feminina e outra masculina. Mas nem todos os Blocos Carnavalescos Mistos, ainda que admitindo mulheres em sua formação, possuíam diretorias femininas. Em alguns deles, anunciava-se a presença das mulheres, mas essas não exerciam papéis de liderança. No caso acima, há um detalhe intrigante, os cargos entre as diretorias femininas e masculinas são diferentes: não há mulher ocupando a função de tesoureira, por exemplo. Talvez, em alguns Blocos Carnavalescos Mistos, os cargos das mulheres não tivessem tanta força ou importância como os dos homens. Isso pode ser percebido em notas de Blocos Carnavalescos Mistos que fazem a distinção entre “Diretoria Efetiva”, que era composta pelos homens, e a diretoria feminina, como é o caso do Bloco Só Brinca Uma Vez que “tem três diretorias, uma efetiva, outra feminina, e ainda outra de honra” (A Província, 10/01/1925, p. 7). Assim, tem-se a impressão que apenas os homens agiam “efetivamente” dentro dos Blocos Carnavalescos Mistos, e as mulheres eram mais corpos representativos que ativos.

Na leitura da documentação, observou-se alguns episódios interessantes: nos Blocos Carnavalescos Mistos que não havia diretoria feminina passou-se a votar pela sua instauração.

Cartomantes do Recife - caríssimo Gettoni - com nossa linguagem simples e sincera, amena e sonhadora, viemos comunicar-vos que, por unanimidade de nossos associados, este bloco vem de eleger a sua diretoria feminina composta das seguintes senhorinhas: Maria da Glória Lima (Choris), presidente; Nynpha Travassos (thalia), secretária; Christina Monteiro (Therpsychora), tesoureira; Carmen Santos (Diana), oradora. (...) Abraços e saudações. Thalia, secretária (A Província, 14/02/1924, p. 3). O Bloco Carnavalesco Cartomantes do Recife, que apareceu na mídia impressa da cidade por volta do ano 1923, apesar de apresentar mulheres em seu meio, não tinham ainda

uma diretoria feminina. A carta enviada ao jornal A Província, e assinada pela secretária “Thalia”, afirma que por “unanimidade” o pessoal concordou com a eleição de uma diretoria formada por mulheres no ano de 1924. Essa “unanimidade” dos votos indica uma aceitação social por parte dos demais membros masculinos para que essas mulheres participassem da organização da festa, bem como da ação dessas mulheres na busca por um lugar de destaque.

Alguns Blocos Carnavalescos Mistos possuíam diretorias exclusivamente formada por mulheres, como o Bloco Concórdia.

Bloco Concórdia - vai de "vento em popa" este bloco que promete dar a nota piramidal no próximo carnaval que será recebido com a máxima solenidade no último trecho da Rua da Concórdia entre a Rua de S. João e à Campinas do Bodé. Ascende a 60 as inscrições das componentes, senhoritas da elite social, residente naquele trecho, às quais estão muito entusiasmadas. (...)

No dia 26, realizou-se um acerto cutuba, ficando deliberado vários assuntos atinentes ao próximo o carnaval, entre eles a escolha do figurino e marcada a próxima quinta- feira, 2 de fevereiro, para eleição da diretoria, que será exclusivamente feminina e para qual reina grande animação entre as bloquistas.

Após a eleição, e respectiva posse, terá lugar o primeiro ensaio oficial, estando a orquestra sob a batuta do maestro Carlos Menezes que, ao lado do Capitão Álvaro de Almeida, do maestro Mário Ribeiro, Arnaldo C. Ribeiro, Luiz Ferreira Filho e tantos outros tem sido incansável para que o bloco se destaque dos seus congêneres do carnaval de 1922 o que, aliais, outra não é de se esperar desde que a frente do referido bloco, acham se elementos tais como Pedro Bomfim, Álvaro de Almeida, Carlos de Menezes e outros (A Província, 01/02/1922, p. 2).

Não é por acaso, que essas “senhoritas da elite social” integrantes do Bloco Concórdia estavam “animadas”, pois o Bloco Carnavalesco Misto acabava por definir a data de eleição da diretoria “que será exclusivamente feminina”. A eleição dessa diretoria exclusiva para mulheres aponta para o desenrolar da incorporação delas às atividades efetivas de organização dentro do grupo, o que lhes garantiam um papel importante dentro da agremiação. Mas, ao mesmo tempo que se caminha para o entendimento do Bloco Concórdia como exclusivo para as mulheres, devido à essa eleição da diretoria e a alusão à sua formação por senhoritas, a nota elenca alguns nomes de homens que estavam “a frente do referido bloco”. A presença desses homens torna o Bloco da Concórdia uma agremiação mista, em que homens e mulheres participavam como brincantes, e também como líderes. A documentação permite visualizar que os Blocos Carnavalescos Mistos foram progressivamente incorporando as mulheres nos cargos de direção, em diretorias paralelas ou em diretorias efetivas.

A diretoria era composta por vários cargos, os mais comuns entre os Blocos Carnavalescos Mistos encontrados eram: os presidentes ou diretores, e os respectivos vices; oradores; secretários; e tesoureiros, e em alguns casos esses cargos também possuíam vices.

Os diretores ou diretoras eram os responsáveis por convocar e presidir as reuniões ou assembleias gerais. Organizavam as pautas das reuniões levando ao conhecimento dos

associados e associadas os assuntos gerais pertinentes ao Bloco Carnavalesco Misto, bem como as eleições de nova diretoria, a escolha do tema do desfile do carnaval do ano, a definição de figurinos. Notas publicadas nos jornais convocavam os sócios para essas reuniões:

Batutas da Boa Vista - o Sr. Presidente convida a todos os sócios a comparecerem hoje, a sua sede, a rua José de Alencar n. 637, afim de serem tratados assuntos referentes ao bloco (Diário de Pernambuco, 03/02/1922, p. 2).

A divulgação na imprensa era uma forma do aviso chegar aos sócios e sócias, e registrar para os foliões que o Bloco Carnavalesco Misto estava em atividade.

O presidente também tinha como responsabilidade assinar todos os documentos relacionados ao Bloco Carnavalesco Misto e tinha função de representá-lo nas relações sociais e políticas. Nesses casos de relações sociais e políticas, muitos desses presidentes eram as figuras marcantes nos encontros entre os Blocos Carnavalescos Mistos ou outros tipos de associações carnavalescas nas ruas e nas visitas às sedes em atos solenes e festivos.

O cargo de presidência parecia estar relacionado à uma posição de destaque na folia. Na maioria dos casos esses presidentes apareciam como foliões incansáveis, capazes de realizar qualquer coisa para alcançar a vitória do Bloco Carnavalesco Misto no carnaval, entusiasmando o folião que lia as notas nas páginas dos jornais. Eles tornavam-se um elemento simbólico de garra e alegria, empolgando os admiradores. Esse é o caso do “Coronel Pedro Salgado” do “Bloco das Flores”, reconhecido como “esforçado presidente” (Jornal do Comércio, 19/01/1923, p. 3); assim como o quarteto do Bloco Apois, Fum! “Fenelon, Raymundo, Guilherme e Felinto, esse quadrilátero apoisfunisiado não tem poupado esforços para que esse bloco dê a nota chique no próximo carnaval” (A Província, 17/02/1924, p. 3).

As diretorias dos Blocos Carnavalescos Mistos possuíam o cargo de secretário ou secretária que eram responsáveis pela redação dos documentos referentes à agremiação, sejam as pautas e atas da reunião, os editais e os avisos publicados nos jornais. A redação desses avisos são as ações que mais se percebem nos jornais. Muito dos avisos de fundação, ensaio ou reuniões vinham assinados por esses membros dando sinal de que foram por eles redigidos e encaminhados às redações dos jornais.Como o caso da secretária “Thalia”, que assina a nota de aviso da eleição da diretoria feminina publicada no jornal A Província em 1924 (A Província, 14/02/1924, p. 3), ou o exemplo da secretária “Djanira Florentina” do Bloco Cadê Você fundado em 1922:

Bloco Carnavalesco Misto Cadê você – Amigos e senhores Forrobodó & Companhia. Estando reunida ontem uma plêiade de moços, verdadeiros foliões e folionas, resolveram tomar parte no Deus Momo que se aproxima e fundaram desta forma o Bloco Carnavalesco Misto “Cadê Você”, sendo a sede do mesmo sita à Rua Vidal de

Negreiros n. 44, 1º andar, residência do folião Sr. Dr. Netto. (...) Sendo Proclamadas duas diretorias, sendo uma de foliões (...) e das folionas (...).

Forrobodó & Companhia ficamos bastante agradecidos pela publicação desta e aproveitamos o ensejo para convidá-los a virem tomar um copo de cerveja no nosso ensaio que se realizará no dia 8, as 20 horas, na Rua Vidal de Negreiros n. 170 - a secretária, Djanira Florentina (Jornal do Recife, 05/02/1922, p. 4).

Na nota completa encaminhada para o Jornal do Recife a secretária “Djanira” oferece ao público as informações sobre a agremiação: local da sede, horário do ensaio e a organização da diretoria. A nota apresenta o cumprimento de uma das obrigações da secretária da agremiação, atestando que brincar carnaval em um Bloco Carnavalesco Misto e participar de sua organização era coisa séria, que demandava dedicação, cobrava obrigações e merecia respeito.

Os tesoureiros eram os responsáveis pelas finanças do Bloco Carnavalesco Misto. Cuidavam e regulavam o que era gasto e o que era ganho, assinavam os recibos e faziam as escrituras de posse da associação, além de dar satisfações públicas aos associados e colaboradores da associação carnavalesca.

O Sr. Raymundo Silva, um dos baluartes e tesoureiro do Bloco “Apois Fum” pede- nos para declarar que o bloco nada deve e os prejudicados e credores se houverem podem procura-lo, no “Salão Elite”, a Praça da Independência n. 40, que serão atendidos (Jornal do Recife, 06/03/1924, p. 3).

Nessa nota o tesoureiro “Raymundo Silva” chama a si a responsabilidade financeira do Bloco Apois, Fum! e se coloca à disposição de todos os interessados para resolver qualquer pendência de pagamentos. Desta forma percebe-se que os Blocos Carnavalescos Mistos gerenciavam recursos para financiar a brincadeira.

Os oradores tinham como obrigação tomar parte nas reuniões festivas ou solenes, usando de suas palavras para gerar comoção e cordialidade entre os membros e as associações congêneres. Tanto moças como os rapazes podiam assumir a responsabilidade pelos discursos proferidos nos eventos a fim de fazer votos de boas-vindas, agradecimentos e promoção da harmonia.

O Bloco Carnavalesco Andaluzas em Folia, ao realizar um Bal Masqué em homenagem ao Gettoni, cronista carnavalesco do jornal A Província, tem o seguinte trecho publicado:

Andaluzas: Haverá somente dois discursos, um da oradora do bloco, senhorita Malvina de Souza Lima, e outro - cá do Dégas, em agradecimento (A Província, 27/01/1922, p. 3).

Coube a “Senhorita Malvina” realizar o discurso da festa em homenagem ao cronista, cuja função seria, nesse momento tão festivo, agradecer e homenagear o jornalista que

noticiava o carnaval e que tanto podia colaborar com a promoção do Bloco Andaluzas. Estratégia de fortalecimento dos laços sociais que pareceu alcançar resultados positivos, pois antes mesmo da festa, Gettoni já se apresentava satisfeito e prometendo discursar em agradecimento.

Percebeu-se também que era comum aos Blocos Carnavalescos Mistos a formação de comissões representativas cujo propósito era colaborar com as atividades que eram de responsabilidade da diretoria. Essas comissões eram organizações menores dentro do Bloco Carnavalesco Misto, geralmente formada por três a cinco associados ou associadas, que realizavam as mais diversas atividades, como: pedir apoio ao comércio, receber visitantes nas festas solenes, fazer a decoração, arrecadar dinheiro e muitas outras. No Anexo 3, no desenho publicado no Jornal do Recife em 1924, tem-se a imagem de uma moça associada ao Bloco Andaluzas em Folia, que junto ao presidente da agremiação, caminhava pelas ruas da cidade rumo à sede, para verificar como estava a organização da orquestra. Pode-se entender como uma indicação desse trabalho em conjunto entre diretoria e associados que formavam comissões, bem como a participação efetiva de mulheres nos trabalhos dos Blocos Carnavalescos Mistos.

A nota que avisa aos foliões sobre ensaio do Bloco Assanhados da Madalena relata que:

a sua confortável sede no apreciado arrabalde [bairro da Madalena] apresenta linda ornamentação, caprichosamente feita pelos associados e pela diretoria feminina, que não tem poupado esforços no sentido que esse bloco alcance, no próximo carnaval, o êxito esperado pelo público (A Província, 10/02/1924, p. 3).

Nesse caso, tem-se na “diretoria feminina” o grupo que ficou responsável pela ornamentação da sede, que seria uma atividade não relacionada as atribuições dos cargos de direção. Assim, tem-se uma impressão que mesmo na diretoria as funções das mulheres estavam mais ligadas a esse universo considerado feminino do zelo, cuidado, criatividade e delicadeza do que as atividades burocráticas de uma diretoria.

Já no caso do Bloco Faz que Olha tem-se um exemplo de “comissão de recepção” eleita pelos membros do Bloco Carnavalesco Misto em 1922, formada pelas mulheres “Alzira Couper, Consuelo Braga, Irene Ferreira, Harpalice Trindade, Maria Inaah Trindade” (Jornal do Recife, 13/01/1922, p. 3), sendo elas encarregadas de receber os convidados e convidadas ilustres nas festas e atividades realizadas pela agremiação, atividade distinta das funções executadas pelas mulheres eleitas para a diretoria feminina nessa mesma nota.

Um outro exemplo conta que o Bloco Carnavalesco Pyrilampos de Tejipió escolheu uma comissão onde “Guima, Siqueira, Paulo e Alecrin, estão encarregados, o 1º das moças e o 2º da chupitilha, e os dois da arrecadação do arame” (A Província, 23/01/1926, p. 5), assim tem- se o “Guima” responsável pelo cuidado das moças; o “Siqueira” pela “chupitilha”, que provavelmente se trata das bebidas a serem oferecidas no ensaio; e o “Paulo e Alecrin” pela arrecadação do “arame”, que se trata do dinheiro para manter as festividades do Bloco Carnavalesco Misto.

As comissões são cargos colaborativos com a diretoria para o funcionamento e ordem dos Blocos Carnavalescos Mistos. Na nota publicada na coluna “Notas Sociais” do jornal A Província, o Bloco Batutas da Boa Vista, no ano de 1927, passado o carnaval, apresentou sua nova diretoria com a seguinte formação:

Presidente, Manoel Alleluia; Vice-dito, João Bayma; 1º secretário, Etelvino Apollonnio dos Anjos; 2º, José Mendes; orador, cirurgião dentista Antônio Neto; vice- dito, Aurelio Silva; fiscal, Arnaldo Santos; tesoureiro, João Alleluia; vice, Rufino Obdon; diretor, Manoel Gomes; vice, Antônio da Silva Coelho.

Comissão de sindicância: Roderick Cirne Rocha (delator); 1º adjunto, João Santos; 2º, José Fernandes de Carvalho.

Conselho deliberativo: Coronel José Miguel dos Santos, Capitão Joaquim Rodrigues da Fonseca, Coronel Augusto da Silva Guimarães.

Regente da orquestra, professor Raul C. Moraes; substituto, Thephilo Bandeira; regente do coro feminino, professor Agripino Lima (A Província, 16/03/1927, p. 5). Para a eleição de 1927 o Bloco Batutas da Boa Vista definiu além da diretoria uma “comissão de sindicância” e um “conselho deliberativo” que possuía funções colaborativas à regência do grupo. Na nota também se observa cargos como “Regente da orquestra” e “regente do coro feminino” que são instituídos para melhor preparação e execução da parte musical do Bloco Carnavalesco Misto.

Então, percebe-se que, além desses cargos mais comuns na formação de uma diretoria de Blocos Carnavalescos Mistos que eram complementados em algumas ocasiões pela formação de comissões, aparecem algumas notas publicadas por esse estilo de agremiação que elencavam outras atividades que não estavam necessariamente vinculadas a direção.

Na nota do Bloco Das Flores Brancas em 1922, antes da mudança do nome para Bloco das Flores, reuniu-se em sua sede para organizar a nova diretoria, que foi composta da seguinte maneira:

Presidente, P. Salgado; vice presidente, A. Guerra; 1. secretário, J. Pyrro; 2. secretário, O. Sant’Ana; orador, G. Machado; vice-dito, A Falcão; tesoureiro, R. Lima; vice tesoureiro, T. Araújo; diretor do cordão, L. Costa; vice-diretor do cordão, E. Guerra; diretor da orquestra, A. Costa; vice-diretor de orquestra, E. Barroso; arquivista, P. Salgado Filho; cobrador, Manoel Moreira (Jornal do Recife, 24/01/1922, p. 3).

Nessa nota os cargos de diretor de orquestra, diretor de cordão, cobrador e arquivista foram estabelecidas pelo grupo diante de votação. Essas nomeações de cargos constam como uma parte particular de cada grupo.

Além da diretoria efetiva, compostas por homens ou mulheres, havia também a chamada diretoria de Honra, ou Honorária, que era composta por pessoas selecionadas pelos membros do Bloco Carnavalesco Misto ou pelos fundadores ou sócios mais antigos que acrescentariam distinção à agremiação.

Bloco Só Brinca uma Vez – O Só brinca uma vez tem três diretorias, uma efetiva, outra feminina, e ainda outra de honra. A sua diretoria efetiva está assim organizada: presidente, o Sr. Guilherme de Araújo; vice dito, o Sr. Miguel Tavares de lima; 1º secretário, o Sr. José Martins Freitas filho; 2º dito Sr. Leôncio Lobato; tesoureiro, Sr. Manoel Araújo; vice dito, Sr. Wenceslau Tavares de Lima Júnior; orador, Sr. Antônio Pereira.

A diretoria feminina é seguinte: presidente, Nair Rodrigues; vice dita, Gisella Lobato; 1ª secretária, Maria de Lourdes Sampaio, 2ª dita, Maria da Conceição Lima; tesoureira, Enoé Lobato; vice dita, Maria augusta Sampaio.

Diretoria de Honra fazem parte os Srs. Drs. Amaury de Medeiros, Coaracy de Medeiros, Aníbal Fernandes, Odilon de Souza Leão, Alberto Machado, coronel João Nunes e Mrs. Town e Smith (A Província, 10/01/1925, p. 7).

Este caso do Bloco Só Brinca Uma Vez parece ser o exemplo dessa diretoria de honra formada a partir da seleção de indivíduos distintos, pois os nomes listados são de homens que tinham uma vida pública bem atuante na cidade do Recife e no Estado de Pernambuco, começando pelo “Amaury de Medeiros”, médico sanitarista que a convite de Sérgio Teixeira Lins de Barros Loreto governador de Pernambuco entre os anos de 1922 a 1926 liderou o Departamento de Saúde e Assistência de Pernambuco (DSA). Ou ainda “Anibal Fernandes”, professor, jornalista e também político vinculado à Sergio Loreto, e o “coronel João Nunes”, que era comandante da Força Pública. Às vezes, até os políticos atuantes e influentes no momento figuravam nessas listas de honra, como o “Coronel Eduardo Lima e Castro”, prefeito da cidade do Recife entre 1919 e 1922, que tornou-se presidente de honra do Bloco das Flores em nota publicada no Jornal do Recife em 24/01/1922, p. 3.

Já o “Coronel Sá Leitão” ganhou o título de presidente de honra por ser muito presente no Bloco Apois, Fum!, ao lado das importantes figuras de “Fenelon Moreira”, “Felinto de Morais” e “Guilherme de Araújo", cedendo sua residência no bairro da Torre para os inúmeros ensaios da agremiação. “Hoje haverá ensaio na Torre, na residência do Coronel Sá Leitão, presidente de honra do Apois Fum. Desarma a rede, Raymundo; às 19 horas” (A Província, 13/02/1924, p.3).

Para estar dentro da diretoria, os foliões ou folionas precisavam estar associados ao Bloco Carnavalesco Misto. Para associarem-se, esses homens e mulheres precisavam pagar

uma cota e assim desfrutariam de direitos, bem como exerceriam os deveres para com o grupo. O Bloco Dois Contigo, fundado no ano 1924 no bairro de Tejipió, após eleger sua diretoria efetiva e de sugerir os sócios honorários, fixou os valores a serem pagos pelos sócios: “Sobe proposta do orador do bloco, ficou definitivamente aprovado que a cota quer dos sócios efetivos, quer dos sócios honorários, fosse de 10 mil réis (...)” (A Província, 24/01/1924, p. 1). Ainda nesta nota, eles elencam uma grande lista de sócios honorários. Estes sócios também eram escolhidos com desvelo, e para serem aceitos era necessário a aprovação de todos os presentes.

Como na diretoria honorária, os sócios honorários, beneméritos ou distintos serviam de apoio moral e propagandista aos Blocos Carnavalescos Mistos. Apesar da nota anterior afirmar que os sócios honorários do Bloco Dois Contigo pagariam quantia igual à dos sócios efetivos, há os casos em que essa qualidade de sócio honorário estava livre dos

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