2 OS CAMINHOS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
3.1 DIRETRIZES NACIONAIS DA POLÍTICA DE FORMAÇÃO
A Resolução n. 225 do CNJ, quanto à formação para facilitadores em JR, determina-a como continuada, por meio de cursos (capítulo VI e artigo 13). Como diretriz, prevê formação “que conterá, na essência, respostas a situações de vulnerabilidade e de atos infracionais que deverão constar dentro de uma lógica de fluxo interinstitucional e sistêmica, em articulação com a Rede de Garantia de Direitos” (artigo 5°, III).
Aos órgãos criados em cada tribunal para implementar os programas de JR, caberia promover os cursos de seus facilitadores (artigo 16), estabelecer o “plano pedagógico”, com conteúdo programático contendo número de exercícios simulados e carga horária mínima conforme deliberado pelo Comitê Gestor da JR, e estágio supervisionado como estabelecido pelas Escolas Judiciais e Escolas da Magistratura (artigo 17) (BRASIL, 2016b).
Os documentos de regulamentação básica a nível nacional, previstos pela resolução 225/2016 (BRASIL, 2016b), quais sejam “Conteúdo Programático Mínimo”, “Plano de Ensino Básico” e “Plano Disciplinar Básico”, não foram editados (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2018a).
Em 2019, o CNJ, por meio da portaria 137/2018 (BRASIL, 2018), e o TJPR, pela portaria 8/2019 (PARANÁ, 2019), instituíram novas composições para os comitês gestores, tendo como uma das principais atribuições a regulamentação das diretrizes da formação, as quais vinham sendo deliberadas desde 2016, a partir da publicação da portaria 91/2016, do CNJ (BRASIL, 2016a).
A formação prevista na Emenda 2, de 08/03/2016, a resolução 125 do CNJ refere ao terceiro facilitador, tratando de mediadores e conciliadores, e incluindo no conteúdo programático (com doze pontos a serem desenvolvidos em quarenta por cento do curso) tópico sobre a JR, conforme item 1.1 do anexo I do documento:
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O curso é dividido em duas etapas: 1) Módulo Teórico e 2) Módulo Prático (Estágio Supervisionado).
1. Módulo Teórico
No módulo teórico, serão desenvolvidos determinados temas (a seguir elencados) pelos professores e indicada a leitura obrigatória de obras de natureza introdutória (livros-texto) ligados às principais linhas técnico- metodológicas para a conciliação e mediação, com a realização de simulações pelos alunos.
1.1 Conteúdo Programático
No módulo teórico deverão ser desenvolvidos os seguintes temas:
a) Panorama histórico dos métodos consensuais de solução de conflitos. Legislação brasileira. Projetos de lei. Lei dos Juizados Especiais. Resolução CNJ 125/2010. Novo Código de Processo Civil, Lei de Mediação.
b) A Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos
Objetivos: acesso à justiça, mudança de mentalidade, qualidade do serviço de conciliadores e mediadores. Estruturação - CNJ, Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos e Cejusc. A audiência de conciliação e mediação do novo Código de Processo Civil. Capacitação e remuneração de conciliadores e mediadores.
c) Cultura da Paz e Métodos de Solução de Conflitos
Panorama nacional e internacional. Autocomposição e Heterocomposição. Prisma (ou espectro) de processos de resolução de disputas: negociação, conciliação, mediação, arbitragem, processo judicial, processos híbridos. d) Teoria da Comunicação/Teoria dos Jogos
Axiomas da comunicação. Comunicação verbal e não verbal. Escuta ativa. Comunicação nas pautas de interação e no estudo do interrelacionamento humano: aspectos sociológicos e aspectos psicológicos. Premissas conceituais da autocomposição.
e) Moderna Teoria do Conflito
Conceito e estrutura. Aspectos objetivos e subjetivos. f) Negociação
Conceito: Integração e distribuição do valor das negociações. Técnicas básicas de negociação (a barganha de posições; a separação de pessoas de problemas; concentração em interesses; desenvolvimento de opções de ganho mútuo; critérios objetivos; melhor alternativa para acordos negociados).
Técnicas intermediárias de negociação (estratégias de estabelecimento de rapport; transformação de adversários em parceiros; comunicação efetiva). g) Conciliação
Conceito e filosofia. Conciliação judicial e extrajudicial. Técnicas (recontextualização, identificação das propostas implícitas, afago, escuta ativa, espelhamento, produção de opção, acondicionamento das questões e interesses das partes, teste de realidade). Finalização da conciliação. Formalização do acordo. Dados essenciais do termo de conciliação (qualificação das partes, número de identificação, natureza do conflito...). Redação do acordo: requisitos mínimos e exequibilidade. Encaminhamentos e estatística.
Etapas (planejamento da sessão, apresentação ou abertura, esclarecimentos ou investigação das propostas das partes, criação de opções, escolha da opção, lavratura do acordo).
h) Mediação
Definição e conceitualização. Conceito e filosofia. Mediação judicial e extrajudicial, prévia e incidental; Etapas - Pré-mediação e Mediação propriamente dita (acolhida, declaração inicial das partes, planejamento, esclarecimentos dos interesses ocultos e negociação do acordo). Técnicas ou ferramentas (co-mediação, recontextualização, identificação das propostas implícitas, formas de perguntas, escuta ativa, produção de opção, acondicionamento das questões e interesses das partes, teste de realidade ou reflexão).
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Empresarial, familiar, civil (consumeirista, trabalhista, previdenciária, etc.), penal e justiça restaurativa; o envolvimento com outras áreas do conhecimento.
j) Interdisciplinaridade da mediação
Conceitos das diferentes áreas do conhecimento que sustentam a prática: sociologia, psicologia, antropologia e direito.
k) O papel do conciliador/mediador e sua relação com os envolvidos (ou agentes) na conciliação e na mediação
Os operadores do direito (o magistrado, o promotor, o advogado, o defensor público, etc) e a conciliação/mediação. Técnicas para estimular advogados a atuarem de forma eficiente na conciliação/mediação. Contornando as dificuldades: situações de desequilíbrio, descontrole emocional, embriaguez, desrespeito.
l) Ética de conciliadores e mediadores
O terceiro facilitador: funções, postura, atribuições, limites de atuação. Código de Ética - Resolução CNJ 125/2010 (anexo). (BRASIL, 2010b).
A formação para facilitação em JR, especificamente, está prevista somente desde 2016, na resolução 225 do CNJ, nos moldes já delineados. Há exemplos da variedade de composições para cursos de formação, a partir das possibilidades da ausência de uma regulamentação nacional.
No âmbito do TJPR, até 2015, os formados o eram a partir de instrutores da AJURIS. A partir de tal ano, o Paraná se dedicou à formação de seu corpo próprio de instrutores para ministrar cursos de facilitadores em JR. Passou-se a realizar os cursos em parceria com a Escola da Magistratura do Paraná - EMAP. (PARANÁ, 2016)
Entre 2015 e 2016, essas capacitações foram realizadas em Curitiba, Londrina, Foz do Iguaçu, Realeza, Toledo, Cascavel, Guarapuava e Ponta Grossa, somando dezessete, com 316 pessoas capacitadas. (PARANÁ, 2016).
Até o fim de 2016, sobre o formato das capacitações, havia apenas definições iniciais apresentadas pelo Grupo de Trabalho do CNJ, integrado por alguns membros da Comissão Estadual. (PARANÁ, 2016).
Não há ainda a regulamentação nacional sobre as Capacitações e elas deverão, segundo as propostas aprovadas pelo grupo de trabalho, ser desenvolvidas diretamente pelos tribunais, até que advenha a normativa pelo CNJ. Nas discussões do Grupo de Trabalho de JR do CNJ, ressaltou-se a necessidade de os Tribunais, por seus setores competentes, juntamente com Escolas judiciais e de Magistratura, organizarem e promoverem seus cursos específicos de JR, atendendo às necessidades e peculiaridades locais. (PARANÁ, 2016).
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Na minuta de resolução proposta pelo Grupo de Trabalho de JR (art. 18), há previsão de que essas capacitações ficarão a cargo de órgão próprio de cada tribunal. (PARANÁ, 2016).
A comissão buscou desenvolver conteúdo programático básico. Segundo a minuta de resolução do CNJ, ao futuro Comitê Gestor da Justiça Restaurativa, do qual faz parte a juíza paranaense Laryssa Angélica Copack Muniz (pelo TJPR), caberia a deliberação sobre os conteúdos mínimos e o estabelecimento dos detalhes a serem observados (como carga horária, exercícios simulados, estágio). (PARANÁ, 2016).
Em 2016, a implementação de projeto de JR com equipe capacitada, fez parte das oito metas20 nacionais do Judiciário, dispostas por presidentes e corregedores de todos os tribunais brasileiros, de acordo com os planos estratégicos do Poder Judiciário (PARANÁ, 2016). A meta oito, referente à JR, ficou assim formulada: “Implementar projeto com equipe capacitada para oferecer práticas de Justiça Restaurativa, implantando ou qualificando pelo menos uma unidade para esse fim, até 31.12.2016.” (BRASIL, 2016c).
Em 2015, a Escola da Magistratura do Paraná- EMAP/Núcleo Curitiba, ofereceu curso de 40 horas, com o seguinte conteúdo programático (EMAP, 2015): “Introdução e diferenciação entre a Justiça Restaurativa e Mediação; Círculo de Construção da Paz; Conceitos, princípios, fundamentos e valores; Construção de Círculos na prática; Procedimentos circulares”.
20 De acordo com as resoluções aprovadas no 9º Encontro Nacional do Poder Judiciário (BRASIL,
2016c):
META 1 – Julgar mais processos que os distribuídos (Todos os segmentos) META 2 – Julgar processos mais antigos (Todos os segmentos)
META 3 – Aumentar os casos solucionados por conciliação (Justiça Federal, Justiça Estadual e Justiça do Trabalho) • Justiça Federal: Aumentar o percentual de casos encerrados por conciliação em relação ao ano anterior. • Justiça Estadual: Aumentar os casos resolvidos por conciliação em relação ao ano anterior e aumentar o número de CEJUSCs. • Justiça do Trabalho: Aumentar o índice de Conciliação na Fase de Conhecimento, em relação à média do biênio 2013/2014, em 2 pontos Percentuais.
META 4 – Priorizar o julgamento dos processos relativos à corrupção e à improbidade administrativa. META 5 – Impulsionar processos à execução (Justiça do Trabalho, Justiça Federal e Justiça Estadual)
META 6 – Priorizar o julgamento das ações coletivas (STJ, Justiça Estadual, Justiça Federal e Justiça do Trabalho)
META 7 – Priorizar o julgamento dos processos dos maiores litigantes e dos recursos repetitivos META 8 – Implementar práticas de Justiça Restaurativa
• Justiça Estadual: Implementar projeto com equipe capacitada para oferecer práticas de Justiça Restaurativa, implantando ou qualificando pelo menos uma unidade para esse fim, até 31.12.2016.
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No mesmo ano, o conteúdo programático dos cursos de formação de Instrutores (de cursos de métodos alternativos de solução de conflito), divulgado pelo CNJ (BRASIL, 2015a), era composto de três partes, sendo a terceira, referente à “Mediação Penal, Círculos e Justiça Restaurativa”, disposta da seguinte maneira: “Introdução e Visão Geral: Panorama da Justiça Restaurativa; Conceito de Justiça Restaurativa; Conceito de Processo Restaurativo; Justiça Retributiva e Justiça Restaurativa. 2. Procedimento da Mediação Vítima-Ofensor. 3. Conclusão”.
O material didático desta parte do curso demonstra carga horária de 24h/aula, e contém conceito, indicação dos valores, panorama dos procedimentos e requisitos. (BRASIL, 2015b)
Como se verificou, as capacitações pioneiras no Paraná, se deram por meio de instrutores do TJRS, cuja experiência inicial de formação foi descrita anteriormente, e não refere a esta formação geral para instrutores de cursos de métodos de solução de conflito realizada pelo CNJ.
O conteúdo programático do “Curso de Capacitação em Justiça Restaurativa e Círculos de Construção de Paz” promovido no fim de 2016, pelo Ministério Público do Estado do Paraná e pelo Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional- CEAF, em Curitiba, com instrutoras atuantes no CEJUSC de Ponta Grossa, Paraná, foi (CEAF, 2016):
Introdução e diferenciação entre a Justiça Restaurativa e a mediação; 2h Círculo de Construção da Paz; 5h
Conceitos, princípios, fundamentos e valores; 3h Construção de Círculos na prática; 20h
Procedimentos circulares. 10h
A ementa foi assim disposta (CEAF, 2016):
Conceito, princípios, fundamentos e valores da Justiça Restaurativa e dos Círculos de Construção de Paz;
Práticas restaurativas com exemplos; círculos de construção de paz: origem, princípios, relação com a Justiça Restaurativa e suas diferentes aplicações;
Elementos estruturais dos círculos de construção de paz; Valores e diretrizes, cerimônias de abertura e encerramento, objeto da palavra, check in e check out e perguntas norteadoras, contação de histórias e a construção de consensos;
Apresentação de técnicas consensuais de resolução de conflitos;
Fluxo de processo circular; vivência do papel de facilitador no planejamento dos círculos; e Estudos de caso e práticas.
Um curso oferecido pela AJURIS, de 20h/aula, em parceria com o Instituto Nacional de Mediação e Conciliação- INAMEC, com supervisão pedagógica de Leoberto Brancher, teve a seguinte ementa, em 2018:
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Conceito, princípios, fundamentos e valores da Justiça Restaurativa e dos Círculos de Construção de Paz;
• Práticas restaurativas, com exemplos;
• Círculos de Construção de Paz: origem, princípios filosóficos e suas diferentes aplicações;
• Círculos de Construção de Paz e sua relação com a Justiça Restaurativa; • Elementos estruturais dos Círculos de Construção de Paz:
- Valores e diretrizes;
- Cerimônias de abertura e de encerramento; - Objeto da palavra;
- Check-in e check-out e perguntas norteadoras; - Contação de histórias;
• Vivência do papel de Facilitador no planejamento de Círculos. (INAMEC, 2018, p. 3)
Em março de 2018, realizou-se o primeiro curso nacional (com 87 juízes divididos em quatro turmas) de facilidores em JR, tendo como professores Leoberto Brancher e Evelyn Zellerer, do Canadá, em formato de 20h/aula, com certificação pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados- ENFAM (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2018b). Não houve divulgação quanto ao conteúdo programático.
3.2 FORMAÇÃO DE FACILITADORES DA JUSTIÇA RESTAURATIVA DO