Para discursar em público, sem anotações, siga as seguintes orientações:
a) Você deve conhecer bem o assunto sobre o qual deseja falar, pois, do contrário, sentir-se-á inseguro e não conseguirá transmitir o mínimo do que deseja, assim como não conseguirá convencer aos seus ouvintes do valor de suas palavras. Ponto essencial: Fale apenas sobre o que conhece
bem!
b) Faça um resumo do discurso, utilizando as idéias principais, relacio- nando-as por itens.
c) Se possível, associe cada idéia com uma localização do próprio ambien- te onde você irá discursar. Para isto, observe antecipadamente o local, do ponto onde você ficará diante do público, a fim de que possa acompanhar, seqüencialmente, no momento de se apresentar, todas as localizações onde as idéias principais estarão associadas, enquanto você fala sobre o que ca- da uma transmite. Somente quando não for possível verificar previamente “in loco” é que as localizações familiares poderão ser utilizadas.
Este é o macete: quando você olhar para o lugar da associação, a idéia “saltará”
de sua memória, como milho em panela quente. Assim, você falará sobre essa idéia pelo tempo que lhe convier ou conforme à sua preparação a respeito, antes de observar a localização seguinte. Vou exemplificar isto apresentando as idéias principais de um discurso hipotético e as associações correspondentes. Imagine- se uma autoridade municipal que apresenta para a comunidade, em um auditório, os seguintes assuntos:
1.Área verde e poluição (problema ecológico). 2.Construção de parques e praças (solução). 3.Saneamento.
4.Organização do transporte urbano. 5.Construção de escolas.
6.Assistência Médico-Odontológica.
Antes de fazer o seu discurso, você deve dar uma passadinha pelo auditório e observar algumas localizações fixas, para “enganchar” as seis idéias que pretende apresentar. É óbvio que você deve se preparar antecipadamente para falar sobre elas. As localizações escolhidas como exemplo, são as seguintes:
a) A mesa do orador.
b) Degraus que dá acesso à plataforma onde fica o orador. c) Janela.
d) Mesa de recepção. e) Porta.
f) Cadeiras.
Agora, verifique como fazer as associações:
1a) Mesa do orador — Área verde e poluição.
Veja sobre a mesa uma área verde, com muitas árvores, muita lama e fumaça ao redor.
2b) Degraus — Construção de parques e praças.
Imagine sendo construídos parques e praças sobre os degraus.
3c) Janela — Saneamento.
Imagine-se observando, da janela, um trabalho de saneamento.
4d) Mesa de recepção — Organização do transporte urbano.
Imagine-se organizando o transporte urbano sobre a mesa.
5e) Porta — Construção de escolas.
Imagine-se chegando à porta e vendo a construção de escolas.
6f) Cadeiras — Assistência Médico-Odontológica.
Veja mentalmente um médico e um odontólogo atendendo as pessoas que estão sentadas nas cadeiras.
Reveja algumas vezes as imagens mentais, relacionando-as com as idéias secun- dárias e com os símbolos que representem os exemplos que você deseje usar par ilustrar cada idéia principal.
Certo de que está seguro quanto às associações, prepare-se para apresentar o dis- curso, seguindo as seguintes orientações:
1. Lembre-se de que o discurso representa um contato direto entre o ora- dor e o público. Portanto, não pronuncie suas palavras com exagero nem timidamente, isto é, não grite nem fale baixinho. Dê ênfase às palavras que você considera importantes para chamar a atenção dos presentes, po- rém, repito, sem exagerar.
2. Olhe diretamente para o público, sem, no entanto, querer hipnotizá-lo. Olhe sempre para pessoas diferentes quando desejar chamar a atenção pa- ra tópicos diferentes do discurso.
3. Não fique parado como uma estátua; movimente-se com naturalidade. Lembre-se de que as mãos têm um papel fundamental no discurso. Se você agitá- las fortemente, enquanto fala de banalidades ou de coisas suaves, dará a impres- são de estar com “areia na catraca”, com muito barulho prá pouco movimento.
4. Cuidado com os discursos longos, pois, se eles não forem bastante inte- ressantes, podem deixar o auditório vazio.
5. Não se aborreça com os apartes, aceite-os normalmente e aproveite es- ses momentos para enriquecer sua mensagem.
6. lembre-se de saber concluir uma idéia, passando para a próxima sempre que achar que foi compreendido. Não se entusiasme demais por achar que está “abafando”, sendo o “gás nobre”. Não deixe de olhar para a próxima localização.
7. Se, na expectativa de discursar, estiver tenso, mesmo estando seguro do que vai apresentar, faça o seguinte:
a) Um pouco antes de se apresentar ao público, faça uma autoprogra- mação mental, sentando-se relaxadamente, de olhos fechados, com o olhar levemente voltados para cima, dentro das pálpebras, dedos cru- zados diante do ventre, com as pontas dos polegares unidas. Tome uma inspiração profunda e solte-a lentamente, dizendo mentalmente:
“Quando eu respirar outra vez, juntar as pontas dos dedos polegar e indicador da mão direita e contar de 5 a 1, eu estarei tranqüilo e pronto!”
b) Tão logo aproxime-se o momento, faça uma respiração profunda, imagine-se envolvendo todo o auditório com a sua energia mental, jun- te as pontas dos dedos polegar e indicador e conte mentalmente: 5-4-3-
2-1. Pronto, você sentirá a força da determinação surgir e a sua mente ficará completamente lúcida.
Isto pode parecer bruxaria, mas funciona que é uma beleza. Experimente!
Para enriquecimento deste capítulo, transcreverei a seguir o discurso “Apelo aos Homens”, do filme de Charles Chaplin, “O Grande Ditador”. Se desejar memori- zá-lo, utilize as técnicas que ensinamos anteriormente. Observe que ele é repleto de idéias principais coordenadas com um mesmo objetivo, que é sensibilizar o ser humano para valores elevados. Utilize-o como exercício, procurando compreen- der sua mensagem.
APELO AOS HOMENS
Charles Chaplin
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é este o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos — se possível — judeus... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim.. Desejamos viver para a felicidade do próximo — não para o seu infortúnio. Por que have- mos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e o da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da velocidade; mas nos sentimos en- clausurados dentro dela. A máquina que produz abun- dância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimen- tos fizeram-nos céticos, nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdi- do.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A pró- pria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bon- dade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós.
Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes.
Aos que me podem ouvir, eu digo: “Não desespereis!” A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que pro- duto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano.
Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores su- cumbem e o poder que do povo arrebataram há de retor- nar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liber- dade nunca perecerá.
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela li- berdade!
No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem — não de um só homem ou de um grupo de homens, mas dos homens to- dos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, ten- des o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa,
Portanto, em nome da democracia, usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice...
Lutemos agora para libertar o mundo, abater as frontei- ras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio, e à prepotên- cia.
Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ci- ência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!