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Conforme vimos no capítulo I, o perfil dos imigrantes etíopes estimulou considerações e cuidados especiais do Ministério da Absorção, da Agência Judaica e de outras organizações israelenses com a absorção desses imigrantes, que foram interpretados como “problema social” a ser solucionado através de medidas especiais. A absorção indireta, realizada em Centros de Absorção, foi a solução apresentada para facilitar a adaptação e a integração desses imigrantes, que nos Centros de Absorção seriam introduzidos à “modernidade” e a cultura e modo de vida israelense, bem como atualizariam suas práticas religiosas adequando-se ao judaísmo normativo em Israel. Estas e outras políticas especiais adotadas no caso da imigração etíope nem sempre demonstraram ser meios eficazes de lidar com os imigrantes e de lhes favorecer a inclusão social.

A política de financiamento facilitado para a aquisição de casa própria é um bom exemplo disso. Apesar de ter facilitado o acesso de imigrantes etíopes à moradia, o valor relativamente baixo do financiamento acabou contribuindo para a concentração desses imigrantes em cidades mais periféricas e em bairros mais pobres1 onde conseguiram encontrar imóveis compatíveis com o valor disponibilizado pelo governo2.

Muito embora a concentração de etíopes israelenses em determinadas cidades, bairros e escolas possa ser entendida como desdobramento da política de financiamento imobiliário, ela não é sempre apenas subproduto desta política. Em muitas circunstâncias tal concentração é resultado da rejeição de etíopes israelenses por certos israelenses e certas instituições.

1 A elevada concentração de imigrantes e de outras populações em situação de vulnerabilidade social e econômica

nesses bairros, por sua vez, estimulou a queda nos preços dos imóveis, transformando essas regiões em pólos atratores de imigrantes etíopes. (Offer, 2007). Apesar de seus méritos o programa de auxílio moradia não resultou em mobilidade social para os imigrantes etíopes, uma vez que, o baixo valor de revenda de seus imóveis contribui para suas permanências em bairros periféricos. Apesar de o percentual de casas próprias entre a população israelense em geral - dos quais 69,2% têm casas próprias - e a população etíope israelense (66.3%) ser bem semelhante, os valores dos imóveis de propriedade de etíopes israelenses se mostram bem abaixo dos valores médios dos imóveis de outros israelenses. Enquanto o valor médio das casas de etíopes israelenses é 521 mil shkalim, o valor médio das casas de outros israelenses é 1 milhão duzentos e trinta e sete shkalim (relatório divulgado pelo Myers-JDC-Brookdale Institute em fevereiro de 2012). Tal diferença de valor dificulta a mobilidade social de famílias etíopes para bairros mais nobres e favorece suas permanências nas mesmas localidades onde adquiriram imóvel.

2 Atualmente o montante máximo deste tipo de empréstimo é 450 mil shkalim, valor muito abaixo do valor do

mercado. Uma vez adquirido o imóvel a dívida com o governo é paga pelo imigrante beneficiado mediante prestações mensais durante período de 28 anos.

De maneira parecida com observado no contexto do processo de absorção quando crianças etíopes recém imigradas são usualmente alocadas em classes separadas (ditas “especiais”), a separação entre alunos “etíopes” - inclusive imigrantes veteranos e nascidos em Israel - e “israelenses” em diferentes salas de aula ainda continua a ser prática comum. E a presença de “etíopes” - usualmente percebidos como estudantes mais “fracos” e dependentes de auxílio adicional na aprendizagem - em determinadas escolas é muitas vezes considerada como algo prejudicial à qualidade do ensino oferecido, e em outras interpretada como sintoma de baixa qualidade de ensino.3

A evitação de etíopes israelenses em instituições de ensino ou sua alocação em classes separadas, em algumas circunstâncias é justificada pela diferença de cultura4, por questionamentos a respeito da “judaicidade” de indivíduos de origem etíope e em outras se mostra influenciada pela percepção da “comunidade” como “problema social” a ser evitado. De maneira que parece indicar que cidadãos etíopes israelenses continuam, em muitas circunstâncias, a ser percebidos como “primitivos”, portadores de “judaicidade” contestável e dependentes de auxílio, tal como foram recebidos pelo Estado e suas agências no início da imigração etíope.

Episódios de discriminação e de segregação de etíopes israelenses em bairros, instituições de ensino e no mercado de trabalho fazem parte da experiência de etíopes israelenses

3 A porcentagem de estudantes de origem etíope que concluíram o ensino médio e obtiveram o certificado de bagrut, necessário para a admissão em instituições de ensino superior em Israel foi de 54% do total de examinados em comparação com 73% de todos os examinados do sistema educacional hebraico (isto é, israelenses judeus). A fim de obter o certificado é necessário acertar no mínimo 56% em cada um dos exames. A porcentagem dos estudantes etíopes que não só obtiveram o certificado de bagrut como também obtiveram notas que atingiram os pré-requisitos para a matrícula em universidades foi de 56%, enquanto que entre os estudantes do sistema educacional hebraico a porcentagem foi de 84%. (The Ethiopian Population in Israel Selected Data on the Occasion of the Sigd Holiday Central Bureau of statistics. Publicado em 2013. Dados referentes ao final de 2012)

4 Apesar de ser tratada como algo a ser descartado ao longo do processo de absorção, a “cultura” (tarbut) continua

a ser frequentemente acionada para explicar “diferenças” de comportamento e mesmo de status social entre “etíopes” e “israelenses” e culpabilizada pelas dificuldades enfrentadas pela “comunidade etíope” em Israel. De modo que sugere a coexistência de dois conceitos de cultura - um dinâmico e outro estático - nos discursos do Estado e dos israelenses. Durante o processo de absorção a cultura do imigrante etíope (interpretada como “primitiva” e “atrasada”) é descrita como marcador diacrítico passageiro – uma vez que o conceito de “absorção” se constrói sobre a premissa de que o imigrante se encontra apto a se tornar parte do “melting pot” israelense – e tem seu papel minimizado a fim de evitar que atue como obstáculo à sua integração no novo e “moderno” contexto. No contexto da absorção a segregação destes imigrantes é justificada pelo Estado e por funcionários dos Centros de Absorção como maneira de auxiliá-los em sua adaptação no novo país de maneira a ultrapassar os “abismos culturais” que separariam a “mentalidade etíope” da “mentalidade israelense”. A situação se inverte, entretanto, em momento posterior ao fim processo de absorção quando podemos observar o predomínio de interpretação mais estática da cultura etíope e de suas características e a maximização da importância do elemento cultural, sobretudo em circunstâncias nas quais a integração dos “etíopes” na sociedade israelense é posta em xeque. Nestas circunstâncias a posição periférica ocupada pela “comunidade” na sociedade israelense é muitas vezes atribuída à “diferença de cultura” e ao caráter distintivo da “comunidade etíope” e de sua “cultura” sem considerar o impacto de políticas públicas equivocadas (ou ineficazes) sobre a “comunidade”.

em Israel e são muitas vezes atribuídos por esses sujeitos ao “racismo” (guizanut)5. É como

“racismo” que muitos desses episódios são também descritos pela mídia israelense.

Discriminação de etíopes israelenses em Kiriat Malachi

Em janeiro de 2012 a existência de um acordo de não locação ou venda de imóveis para “etíopes”, que havia sido assinado por alguns moradores (mais de 120 famílias) de um dos bairros de Kiriat Malachi, veio à tona na mídia israelense. Durante a reportagem o telespectador teve acesso às conversas entre o jornalista e alguns moradores que, sem saberem que estavam sendo filmados, deram vazão às suas opiniões a respeito dos “etíopes”. Ao ser perguntado sobre o motivo de não querer etíopes no bairro um dos moradores respondeu que “etíope bom é etíope

morto” e emendou dizendo: “eles são piores que os árabes”. Para um outro o problema com

“eles” era o cheiro, que descreveu como “cheiro de bomba atômica”. A presença de etíopes no prédio seria sinônimo de “desvalorização do imóvel”, disse um terceiro. Além da preocupação com a desvalorização imobiliária, um dos moradores se mostrou temeroso de que os “etíopes” transformassem o bairro numa aldeia dizendo que eles iriam “armar barraca aqui no meio da

rua, cozinhar, sacrificar gado aqui como eles faziam lá”.

Ainda que percepções negativas a respeito dos “etíopes” não tenham se mostrado difíceis de encontrar em conversas com “israelenses”, o tom de hostilidade que caracterizou a maioria das declarações dos moradores favoreceu a singularização do episódio e a identificação daqueles moradores como “racistas” ao mesmo tempo que os distanciou dos demais “israelenses”.

Na reportagem o episódio foi descrito como “racismo” e a atitude daqueles moradores recriminada. Apesar de seu tom crítico, a reportagem se ateve ao ocorrido sem atentar para o caráter mais pervasivo do preconceito, nem tampouco para a influência de políticas públicas na exclusão e na segregação de etíopes israelenses nos âmbitos nacional e municipal6.

5 Apesar das variações na maneira como diferentes sujeitos etíopes interpretaram o episódio o termo “racismo”

foi usualmente utilizado com o sentido de “discriminação racial”. E tanto os discursos na horta quanto nas ruas se caracterizaram pela polarização entre “etíopes” e “israelenses” e entre “pretos” e “brancos”.

6 Muitas prefeituras compartilham do mesmo desinteresse em receber “etíopes” que foi manifestado por aqueles

moradores de Kiriat Malachi. O próprio prefeito de Kiriat Malachi havia declarado em 2004 que o município não podia mais “absorver” imigrantes etíopes e solicitou que Kiriat Malachi fosse retirada da lista das localidades beneficiadas pelo auxílio moradia do governo. Atitude que precisa ser entendida no contexto de políticas mais amplas adotadas com relação à imigração etíope. Um dos principais fatores que contribuem para a concentração de imigrantes etíopes em municípios mais pobres como Kiriat Malachi é o baixo valor do financiamento garantido pelo governo a imigrantes etíopes para a aquisição de imóveis. A alocação de imigrantes etíopes em municípios de orçamento mais limitado que geralmente se caracterizam por índice mais alto de pobreza e de desemprego, por sua vez, contribui para a manutenção destas populações às margens da sociedade israelense e oneram ainda mais estas localidades mais pobres. Em decorrência destas políticas muitas prefeituras tratam a presença de israelenses

O episódio de Kiriat Malachi foi recebido e interpretado de diferentes formas por etíopes israelenses. Alguns o viram como exemplo de ação ignorante de indivíduos racistas – como também fez Binyamin Netanyahu ao descrever o episódio como caso isolado e afirmar que “no

Estado de Israel não há lugar para racismo”7 - enquanto outros o interpretaram como apenas mais um exemplo de discriminação que caracteriza não só a atitude de “israelenses” como também políticas do Estado com relação aos “etíopes”8.

Repercussão do episódio de Kiriat Malachi na horta

O episódio de Kiriat Malachi e a enxurrada de experiências de discriminação contra etíopes israelenses que tomou conta da mídia israelense no início de 20129 imprimiram mudanças no discurso dos participantes da horta. Referências ao “racismo” se tornaram recorrentes em nossas interações após o episódio. Em alguns momentos eu mencionava o acontecido, em outros eles abordavam a questão em variadas circunstâncias a partir de conversas que, apesar de não estarem diretamente relacionadas ao ocorrido em Kiriat Malachi, demonstravam a importância do episódio enquanto contexto capaz de explicitar questões até então obscurecidas.

O ocorrido em Kiriat Malachi trouxe a temática do preconceito racial à tona com mais vigor de maneira que conturbou a imagem muitas vezes idílica e idealizada de alguns etíopes israelenses mais velhos a respeito de Israel. Da mesma maneira que suas impressões de Israel foram muitas vezes revistas em meio ao contexto de discriminação, a Etiópia também foi reimaginada e algumas vezes idealizada nestas ocasiões. Quanto mais os participantes da horta se sentiam discriminados em Israel mais frequentes se tornavam suas menções à existência de

de origem etíope como sinônimo de “prejuízo econômico” e de “problema social” de maneira bem parecida com o observado entre os moradores de Kiriat Malachi preocupados com a desvalorização de seus imóveis.

7 Em declaração feita durante celebração do Dia da Memória etíope de 2012.

8 Muito embora tenha encontrado estes tipos de interpretação tanto entre etíopes israelenses mais velhos quanto

entre mais jovens observei ser mais comum encontrar descrições de episódios de discriminação como algo circunstancial entre homens e mulheres etíopes israelenses de meia e terceira idade. Entre eles era mais comum também encontrar descrições favoráveis a respeito do governo e de seu cuidado com os cidadãos e suas necessidades do que entre os mais jovens. Nas conversas com meus interlocutores mais velhos o Estado foi frequentemente apresentado como benfeitor e distribuidor de benefícios. Como me explicou Avraham: “Se alguém não consegue trabalhar, por exemplo, o governo paga salário. Se ficam doentes o governo ajuda, arruma acompanhante (caregiver), ajudam mãe solteira, dão dinheiro para ajudar na criação dos filhos... Igual a Israel não tem! ”

9 Entre os episódios noticiados no período estavam: casos recorrentes de etíopes sendo barrados na entrada de

bares e casas noturnas, recusa de matrícula de alunos etíopes em escolas e discriminação em entrevistas de emprego.

relacionamentos amistosos entre “diferentes” na Etiópia10. Em reação ao ocorrido em Kiriat

Malachi Amira me disse que “Lá [na Etiópia] todo mundo era tratado igual, não tinha

discriminação. ”11

Sob influência de episódios de preconceito, a cor de suas peles não só se tornou assunto mais frequente como foi inserida em contexto de relações no interior do qual era estigmatizada. Mudança que foi acompanhada pela utilização mais frequente da categoria “cushi” a fim de expressar a opinião/percepção dos “outros” - “israelenses”, “brancos” (levanim/farengim) - a respeito “deles”. Referências ao “racismo” se tornaram recorrentes em nossas interações naquele período.

Em visita a Yesharag o preconceito racial fez aparição em meio a conversa sobre relacionamentos quando ela me tascou um “você se casaria com um etíope? ”que me pegou de surpresa. Ao responder-lhe que sim, ela continuou, sem se dar por satisfeita: “mas e a sua

família? Eles iam gostar de lhe ver casada com um shachor? ”, e novamente sem me dar brecha

para resposta acrescentou: “eles iam dizer: 'por que é que ela foi casar com um cushi?!”. Michal lembrou com olhos tristes “chamavam a gente de cushi no caminho para o

trabalho”, e Tova disse que na época que chegaram, na década de 1980, “muitos diziam que não acreditavam que existissem judeus pretos (sh’chorim) ”. Mazal, por sua vez, contou-me

incidente vivido quando ela e sua família deixaram o centro de absorção e se mudaram para Carmiel: “Quando a gente chegou lá com a mudança os vizinhos chamaram a polícia. Eles

viram 'sh'chorim' chegando e tiveram medo, ligaram para a polícia. Quando a gente chegou eles não tinham visto “pretos”, daí os os funcionários da Agência Judaica e do Centro de

10 Diferentes versões da Etiópia surgiam nas conversas com homens e mulheres da horta sob influência não só de

suas experiências no “lá” etíope, como também de seus presentes em Israel. Notei variações nas descrições dos mesmos sujeitos acerca dos tempos de outrora em diferentes circunstâncias. Ao se sentirem particularmente deslocados no contexto israelense, seja por ocasião de algum episódio que consideravam como “racismo” ou diante de questionamento de suas judaicidades, era mais comum que suas vidas na Etiópia e suas relações com seus vizinhos não judeus fossem descritas de maneira mais positiva e harmoniosa. Nestes contextos as relações com não judeus foram relembradas por participantes da horta como amistosas, respeitosas e geralmente sem menções aos atritos ou às acusações de feitiçaria que eram muitas vezes lhes dirigidas por seus vizinhos. Já quando o conflito com Gaza era assunto, ou por ocasião de algum atentado contra israelenses - como o que aconteceu em ônibus de Jerusalém em 2011 ou em 2012 na Bulgária - eu notei um retorno mais pessimista ao contexto etíope que era descrito como parte de experiência de perseguição compartilhada por outros grupos judeus em outros contextos. Nestas circunstâncias era mais comum que descrevessem atritos e hostilidades experimentadas por eles no contexto etíope através de paralelos como esse criado por Aviva “Todo mundo odeia os judeus. Lá na Etiópia também tiveram guerras contra os judeus como a de Hitler na Alemanha”. A sensação de ameaça constante e iminente fazia com que neste tipo de circunstâncias eles enfatizassem a importância da existência de Israel e que afirmassem orgulhosos que “não existe país como Israel” e “o nosso país é aqui”.

11 É preciso mencionar que Amira é de origem chewa e como tal sua experiência com discriminação com base na

Absorção explicaram para eles que a gente era 'judeus pretos' e que era para eles deixarem a gente em paz”.

Além das mudanças nas conversas pude notar mudança no comportamento dos participantes da horta que passaram a demonstrar posicionamento menos amistoso e mais confrontador em suas relações com os funcionários. Em final de 2011 as sugestões oferecidas por Natan, israelense especialista em horticultura, foram recebidas com entusiasmo. À época, o interesse de Natan em conciliar técnicas etíopes com práticas agrícolas correntes em Israel provocou reação de Uvnesh que disse ser a Etiópia “parte do passado” e manifestou de modo enfático o desejo de “aprender como se faz aqui”12.

Quando dois novos especialistas em cultivo apareceram no início de 2012 para trabalhar na ONG no lugar de Natan eles foram recebidos de maneira que não poderia ser mais distinta. A recepção calorosa do ano anterior deu lugar a atitude distinta da polidez geralmente utilizada por eles em seus encontros com desconhecidos. Em meio a reunião Yesharag tomou a palavra e se dirigindo aos novatos Anat e Nadav foi direto ao ponto: “com todo o respeito ao trabalho de

vocês, mas o que é que vocês têm para ensinar para a gente? Nós éramos agricultores na Etiópia! ”13

Yesharag não apenas questionou a contribuição que Anat e Nadav poderiam oferecer à horta, uma vez que ela e os demais eram agricultores experientes, mas chegou inclusive a dizer que “em lugar de nos ensinar vocês deveriam era aprender” de maneira que me remeteu ao discurso de jovens de origem etíope que tomaram parte em manifestações14 que foram realizadas

em Tel Aviv, Jerusalém e Kiriat Malachi em resposta à reportagem. Jovens como Mulu, Yaron e Alemito que acreditavam que uma das soluções para o “racismo” era “ensinar os israelenses” sobre a história e modo de vida da “comunidade etíope”.

12 Apesar do entusiasmo demonstrado por eles com as sugestões de Natan e suas manifestações de apreço por sua

ajuda, técnicas como a reutilização da matéria orgânica oriunda do restolho da colheita foram encaradas com descrédito por parte considerável dos participantes que preferiram não a aplicar em seus canteiros. Como fez Aviva que me explicou sua decisão dizendo que “aquilo era bobagem”.

13 Em várias de minhas conversas com Yesharag ela reclamou de modo aborrecido a respeito da maneira como

“eles” eram tratados como “crianças pequenas” que não sabem nada demonstrando perceber com clareza o tom paternalista que caracteriza muitos dos encontros entre “etíopes” e “não etíopes” em Israel. Aparentemente o fato de Nadav e Anat serem muito jovens (entre 20 e 30 anos) agravou sua irritação naquele dia. Não bastasse serem sempre ensinados como crianças, agora também estavam sendo ensinados por crianças. Apesar de ser também jovem minha atuação como ajudante geral favoreceu minha aceitação entre os participantes por ser esta função mais condizente com o que era esperado dos mais novos.

14 As manifestações foram organizadas sobretudo através da redes sociais e fóruns de discussões criados por jovens

etíopes-israelenses. Uma das principais comunidades virtuais envolvidas na mobilização foi a “etíopes unidos”

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