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Os resultados apresentados referem-se apenas aos Bombeiros Municipais de Tavira, não pretendem ser representativos da população de bombeiros portugueses, pelo que qualquer extrapolação carece da replicação do presente estudo.

A literatura esclarece que o tipo de exposição diária a que os operacionais de socorro estão sujeitos, bem como o grau da mesma, o contexto e condições em que desenvolvem a atividade e as exigências psicossociais associadas à prestação de socorro configuram importantes fatores de risco para o seu bem-estar psicológico, estando frequentemente ligadas ao surgimento de sintomatologia diversa (Marcelino, & Figueiras, 2012; Marcelino, Figueiras, & Claudino, 2012). A exposição a incidentes críticos e a experiência de trauma pode levar ao desenvolvimento de modificações biopsicossociais com consequências na saúde dos sujeitos, de que a ansiedade, os comportamentos aditivos, a fadiga, a depressão, o burnout, as dificuldades de relacionamento interpessoal, a dor física, as queixas subjetivas de saúde, com maior prevalência das dores músculo-esqueléticas (Marcelino & Figueiras, 2012), e uma perceção de se ter uma parca saúde são diagnósticos frequentes (Aasa et al., 2005; Alexander & Klein, 2001; Bennett, Williams, Page, Hood, Woollard & Vetter, 2005; Fullerton, Ursano, & Wang, 2004; Marcelino, 2011; Marcelino, Figueiras & Claudino, 2012; Sterud, Ekeberg & Hem, 2006; Van der Ploeg & Kleber, 2003; Van der Velden, Kleber & Koenen, 2008; Wagner, Heinrichs & Ehlert, 1998).

A comunidade científica tem procurado compreender quais os fatores que melhor predizem o surgimento de sintomas desadaptativos resultantes da exposição a situações potencialmente traumáticas, tendo sido identificadas variáveis importantes como idade, género, estado civil, habilitações literárias ou história psiquiátrica anterior (Brewin, Andrews & Valentine, 2000; Schaffer, 2010), porém são poucos os estudos exclusivamente dedicados à população de bombeiros, pelo que deve ser destacada a ausência de forte suporte empírico da relação dessas variáveis face aos bombeiros (Del Ben et al., 2006)

Neste estudo, apenas 17,6% dos bombeiros apresenta um funcionamento alexitímico, ao passo que 52,9% não expressa alexitimia, sendo que não foi possível estabelecer, de forma significativa, a ausência ou a presença de alexitimia em 29,4% dos participantes. Tal pode advir de preocupações relativas à rejeição social que estão na base do evitamento de muitos bombeiros em verbalizar sentimentos e emoções e mesmo em procurar apoio junto dos colegas em matérias referentes ao stress profissional (Ângelo, 2010; Lowery & Stokes, 2005).

Embora não tenham sido encontradas diferenças estatisticamente significativas de prevalência da alexitimia em função das variáveis sociodemográficas e de saúde, verificou-se uma

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correlação negativa moderada entre as habilitações literárias e a dificuldade na identificação e distinção de sentimentos face às reações químicas e neurais decorrentes da ativação da emoção. Ou seja, estes resultados sugerem que sujeitos com mais habilitações literárias têm mais facilidade em diferenciar o estado corporal inconsciente (emoção) e o estado corporal consciente (sentimentos).

De acordo com Bechara, Damásio & Damásio (2000) e considerando que o processo de decisão assenta em emoções conscientes, em 17,6% dos bombeiros tal revela-se limitado, dada a presença confirmada de alexitimia, já que as emoções desenvolvem um papel primordial na capacidade do indivíduo imaginar (Freire, 2010) e utilizar estratégias de coping adequadas à situação (Carneiro & Yoshida, 2009).

Diversas investigações encontraram indicadores de alexitimia em sujeitos com patologia associada ao abuso e dependência de substâncias (Caldas, 1999; cit. por Freire, 2010; Gomez, Eizaguirre & Aresti, 1997; cit. por Silva & Vasco, 2010, p. 676; Haviland et al., 1994; cit. por Silva & Vasco, 2010, p. 676; Speranza et al., 2004; Uzun, 2003), porém este estudo não encontrou qualquer associação estatisticamente significativa entre o funcionamento alexitímico e os hábitos tabágicos e etanólicos.

Os resultados do Inventário de Burnout de Maslach, nas suas dimensões "exaustão emocional", "despersonalização" e "realização pessoal" permitem identificar a prevalência da síndrome nos Bombeiros Municipais de Tavira, mediante a apresentação de valores elevados nas duas primeiras dimensões e valores reduzidos para a última.

A população em estudo manifesta, maioritariamente, baixos níveis de exaustão emocional (75,8%), porém 15,2% revela sentir um esgotamento dos seus recursos individuais, emocionais e psicológicos, e apenas 9,1% revela níveis médios de exaustão emocional, à semelhança dos resultados obtidos por Amaro (2010), Silva, Lima & Caixeta (2010) e Rodrigues (2011). No respeitante à despersonalização, 48,5% dos bombeiros apresenta níveis baixos desta dimensão, contudo 27,3% demonstra níveis médios e 24,2% níveis altos, resultados em similitude com o demonstrado por Amaro (2010). Por último, 60,0% dos bombeiros manifesta elevada realização pessoal, 15,2% níveis médios e 24,2% níveis reduzidos dos sentimentos de competência ou prazer associados ao desempenho da atividade. Estes resultados vão ao encontro dos obtidos por Vara & Queirós (2008), que apontavam para valores mais baixos de exaustão emocional e de despersonalização nos bombeiros municipais e nos bombeiros da região sul do país, assim como níveis mais altos de realização pessoal na região do Algarve. Esta particularidade pode ser explicada pela sazonalidade que caracteriza os fluxos populacionais da região algarvia, com maior expressão nos meses de verão e, concomitantemente, com o maior número de ocorrências

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registadas nesse período, registando-se um menor número de pedidos de socorro fora da designada época balnear. Adicionalmente o modelo de organização das equipas adotado pelos Bombeiros Municipais de Tavira pode contribuir para a apresentação de menores níveis de

burnout, uma vez que são fixadas durante um determinado período de tempo ao invés da sua

determinação diária, circunstância que pode ser promotora da relação de confiança, fortalecimento de laços e consequente apoio e suporte entre pares da mesma equipa.

A evidência indica que os sujeitos casados têm níveis de burnout mais reduzidos que os solteiros (Golembiewski et al., 1986; cit. por García, 1990, p. 12; Maslach, 1982; cit. por García, 1990, p. 12; Maslach et al., 1995; cit. por Queirós, 2005, p. 261; Seltzer y Numerof, 1988; cit. por García, 1990, p. 12). Indivíduos solteiros, divorciados ou viúvos apresentam maior risco de atingir níveis elevados de burnout (Maslach, Schaufeli & Leiter, 2001; Nagy & Davis, 1985; cit. por Trigo, Teng & Hallak, 2007, p. 227; Raquepaw, 1989; cit. por Trigo, Teng & Hallak, 2007, p. 227), porém, esta associação positiva não recebeu, até agora, consenso científico, na medida em que outros estudos revelaram o seu contrário (Ross & Russel, 1989; cit. por Trigo, Teng & Hallak, 2007, p. 227; Schaufeli, 1999; cit. por Trigo, Teng & Hallak, 2007, p. 227).

Não foi possível confirmar, na presente investigação, os estudos realizados relativos às diferenças tendo em conta a idade (Cordes & Dougherty, 2008; Portelada & João, 2012; Queirós, 2005; Queirós, Silva & Vara, 2012; Rodrigues, 2011), o estado civil (Maslasch, Schaufeli & Leiter, 2001; Queirós, Silva & Vara, 2012; Rodrigues, 2011), o número de filhos (Queirós, Silva & Vara, 2012), o nível educacional (Maslasch, Schaufeli & Leiter, 2001), o consumo de substâncias (Benevides-Pereira, 2002; cit. por Silva, Lima, & Caixeta, 2010, p. 93; Blair & Ramones, 1996; cit. por Trigo, Teng & Hallak, 2006, p. 230; Juntunen et al. 1988; cit. por Trigo, Teng & Hallak, 2006, p. 229), queixas de saúde (Benevides-Pereira, 2002; cit. por Silva, Lima, & Caixeta, 2010, p. 93), na medida em que não foram encontradas quaisquer diferenças ou relações estatisticamente significativas tendo em conta as variáveis sociodemográficas e de saúde, à semelhança do ocorrido com Amaro (2010), Servino (2010; cit. por Portelada & João, 2012, p. 495) e Silva, Lima & Caixeta (2010).

Embora tenha sido somente identificado um caso passível de ser classificado como síndrome de burnout, o risco para o seu desenvolvimento está presente em cinco bombeiros, evidenciados nos valores de duas das três dimensões que caracterizam o construto.

A despersonalização é considerada por Moreno-Jiménez (1999; cit. por Sousa, 2008, p. 33) a demonstração específica do burnout nas designadas profissões de ajuda, uma vez que as restantes componentes da síndrome, exaustão emocional e a redução da realização pessoal, podem ser encontradas noutras síndromes patológicas do quadro depressivo. Atendendo a que a

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despersonalização se traduz em distanciação afetiva ou indiferença emocional em relação aos outros, valores elevados desta componente são particularmente preocupantes no contexto das atividades assistenciais (Vara & Queirós, 2008) e que foram encontradas em 24,2% dos bombeiros municipais de Tavira, na medida em que as suas implicações recaem não só sobre cada sujeito em particular, como podem igualmente num decréscimo da eficácia e qualidade do socorro prestado às populações.

Esta investigação corrobora os estudos que identificam a presença de sintomatologia dissociativa em profissionais frequentemente expostos a eventos potencialmente traumáticos (Carvalho & Maia, 2009b; Horta-Moreira, 2004; cit. por Carvalho & Maia, 2009b, p. 277; Maia, Moreira & Fernandes, 2009; Marcelino, Figueiras & Claudino, 2012; Sterud, Ekeberg, & Hem, 2006), uma vez que 50% dos bombeiros participantes evidenciam sintomatologia dissociativa peritraumática significativa.

Os sujeitos separados ou divorciados apresentam mais sintomas dissociativos peritraumáticos, comparativamente com os indivíduos casados ou a viver em união de facto, e as experiências dissociativas peritraumáticas tendem a ser mais frequentes quanto maior for a categoria na carreira de bombeiro a que o sujeito pertence e quanto menos anos de experiência tiver, não tendo sido identificadas diferenças ou relações estatisticamente significativas para as restantes variáveis sociodemográficas e de saúde.

Asseverando a dissociação como importante fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologia e stress pós-traumático (Bennett et al., 2005; Carvalho & Maia, 2009b; Maia, Moreira & Fernandes, 2009; Weiss et al., 1995), nomeadamente devido ao facto da sua presença eventualmente impedir a integração dos acontecimentos adversos na narrativa pessoal dos sujeitos (Carvalho & Maia, 2009b; Maia, Moreira & Fernandes, 2009; Weiss et al., 1995), os resultados encontrados nos bombeiros municipais de Tavira merecem alguma preocupação, já que a dissociação continuada influencia a capacidade do indivíduo em explorar novos mecanismos de coping e, consequentemente, de se adaptar a novos contextos e situações (Carvalho & Maia, 2009b; Maia, Moreira & Fernandes, 2009).

Recorde-se que alguns estudos desenvolvidos em Portugal demonstraram a presença de sintomas significativos de perturbação pós-stress traumático em bombeiros e socorristas (Fernandes, & Pinheiro, 2004; Marcelino & Figueiras, 2007).

Se é certo que o diagnóstico, tratamento e avaliação de resultados em saúde se encontram definidos por protocolos, a avaliação da saúde em si recai, ainda que de forma mais ou menos controversa, sobre a perceção que o sujeito tem sobre a mesma (Ribeiro, 2005). Idler, & Benyamini (1997; cit. por Ribeiro, 2005) verificaram que a autoavaliação de saúde constitui

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melhor preditor de sobrevivência dos sujeitos, comparativamente a registos médicos ou descrição da doença.

A exposição a incidentes críticos está, geralmente, associada a uma maior presença de sintomatologia, pior avaliação de saúde e menor sensação de bem-estar psicológico (Marcelino, Figueiras & Claudino, 2012). Os bombeiros municipais de Tavira consideram, na sua larga maioria a sua saúde como boa (91,2%), tanto a nível físico (88,2%) como a nível mental (91,2%). Apenas um participante apresentou uma perceção do estado de saúde física ótima e somente três participantes revelaram uma perceção do estado de saúde total e de ambas as componentes razoável. Nenhum bombeiro demonstrou baixos valores de perceção do estado de saúde.

Em média, e para um valor máximo de 100%, os sujeitos revelam um nível médio do estado de saúde total e das componentes física e mental na ordem dos 60%, a que corresponde uma classificação como boa.

Numa abordagem da componente física, os valores obtidos indicam que os participantes realizam todos os tipos de atividade física, incluindo atividades de maior exigência, sem limitações por motivos de saúde (pontuação média de 86,32%), não tendo muitos problemas na realização das atividades de vida diária ou de tarefas laborais decorrentes da sua saúde física (pontuação média de 65%), nem manifestando frequentemente dor intensa ou limitações devido à presença de dor (pontuação média de 21,47%). Quando questionados sobre o estado de saúde geral, englobando a perceção de resistência à doença e de perceção saudável, os sujeitos apresentam uma média de 48,44%, denotando uma perceção do estado de saúde geral como sendo razoável e com tendência para deteriorar num futuro próximo.

Quanto à componente mental da saúde, os indivíduos manifestam um valor médio de vitalidade de 54,60%, apontando para um nível bom de energia, contudo, em média, sentem que os seus problemas emocionais e físicos interferem com alguma frequência nas suas atividades sociais normais (pontuação média de 49,26) mas não sentem dificuldades com o trabalho ou com o desenvolvimento das atividades de vida diária (pontuação média de 82,60%). A avaliação da dimensão de saúde mental, que engloba sentimentos de ansiedade, depressão ou perda de controlo emocional ou comportamental, o valor médio obtido é de 58,38%, indicando uma tendência para sentimentos de bem-estar e tranquilidade. Estes dados não vão ao encontro dos estudos que apontam para um menor sentimento de bem-estar psicológico por parte dos bombeiros (Brough, 2004, cit. por Queirós, Silva & Vara, 2012; Queirós, Silva & Vara, 2012; Schaffer, 2010; Slotje et. al, 2008, cit. por Queirós, Silva & Vara, 2012).

Vale a pena salientar que apenas na dor corporal e no funcionamento social foram verificados valores zero, o que significa que há indivíduos sem qualquer queixa de dor física e

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indivíduos que sentem que os seus problemas emocionais e físicos comprometem de forma extrema as suas atividades sociais.

A comparação da perceção do estado de saúde em função das variáveis sociodemográficas e de saúde não revelou diferenças estatisticamente significativas, todavia foi determinado que categorias mais elevadas na carreira de bombeiro apresentam melhor perceção do estado de saúde física e que esta diminui com o tempo de atividade como bombeiro, assim como a perceção das limitações no desenvolvimento de atividades físicas por motivos de saúde Níveis mais elevados de habilitações literárias estão associados a valores mais baixos do estado de saúde percebido pelos sujeitos.

Embora não de forma estatisticamente significativa, foram igualmente encontradas correlações positivas moderadas da função física em função do grupo etário e das habilitações literárias, da perceção geral de saúde em função do grupo etário e da função social em função do estado civil. Ou seja, a função física dos sujeitos tende a diminuir com a idade e a aumentar com o nível de habilitação literária. A perceção geral de saúde parece aumentar com a idade, ao passo que a função social é percecionada de forma mais elevada pelos participantes separados ou divorciados comparativamente com os indivíduos solteiros.

Para a compreensão global dos construtos de alexitimia, burnout, dissociação e perceção do estado de saúde nos bombeiro municipais de Tavira, procedeu-se ao estabelecimento de correlações entre as diferentes variáveis, tendo sido identificadas algumas associações estatisticamente significativas.

Quanto maior o nível de alexitimia apresentado pelos sujeitos, maior é o índice de despersonalização, explicado pela associação positiva forte entre esta dimensão do burnout e as dificuldades na identificação e distinção de sentimentos face às sensações corporais produzidas pela ativação da emoção. O aumento destas dificuldades traduz-se num incremento do sentimento de esgotamento dos seus recursos individuais e numa degradação do estado de saúde total por parte dos sujeitos, degradação essa salientada por Bach, Bohmer & Nutzinger (1994; cit. por Freire, 2010, p. 21), Jula, Salminen & Saarijärvi (1999), Lumley et al. (1996), Nada (1997; cit. por Freire, 2010, p. 21) e Spitzer et al. (2005; cit. por Freire, 2010, p. 21), Schaffer (2010).

Por outro lado a despersonalização refere-se ao distanciamento afetivo ou indiferença emocional que os indivíduos podem apresentar face ao trabalho ou às pessoas, muitas vezes utilizada como defesa em que a indiferença é entendida como protetora face à exaustão experienciada (Lima et al., 2007).

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No mesmo sentido, os resultados sugerem quanto mais frequentes são as experiências de despersonalização, pior é o estado de saúde total percebido pelos sujeitos, nas suas componentes física e mental, e nas limitações percebidas na execução de atividades físicas.

Um estado de saúde mental percebido como pior relaciona-se com o aumento da dificuldade em identificar e destrinçar sentimentos de sensações corporais decorrente da emoção, dos sentimentos de despersonalização e da exaustão emocional.

Um estilo de pensamento desprovido de fantasia e orientado para o exterior está associado a uma menor frequência de sentimentos de realização pessoal dos indivíduos. Este estilo de pensamento, pensamento operacional, desligado dos sentimentos despertados pelo acontecimento resulta numa diminuição da capacidade adaptativa dos sujeitos na resolução de problemas e na procura de soluções para situações novas, já que a emoção assume um papel preponderante na sobrevivência, na capacidade de reação e no processo de decisão (Bechara, Damásio & Damásio, 2000; Candland, 2003; cit. por Freire, 2010, p. 20; Carneiro & Yoshida, 2009; Freire, 2010; Greenberg, 2002; cit. por Silva & Vasco, 2010, p. 677). Limitado na tomada de decisão, o indivíduo perde confiança nas suas capacidades, sente-se ineficiente ou incompetente na execução das suas tarefas, sentindo cada vez menos prazer na sua profissão, elementos que definem a redução de realização pessoal no inventário de burnout de Maslach (Benevides-Pereira, 2002; cit. por Silva, Bezerra & Beresin, 2009; Gomes & Quintão; 2011; Lima & Caixeta, 2010, p. 92; Lima et al., 2007; Marôco et al., 2008; Maslach & Jackson, 1981; Queirós, 2005; Sousa, 2008).

Um aumento da frequência dos sintomas dissociativos peritraumáticos está associado ao incremento da sensação de incapacidade em dar mais de si percebida pelos bombeiros, incremento esse que resulta na perceção de limitações na efetivação das atividades de vida diária que pode advir do sentimento de excesso de solicitação ou esgotamento dos recursos individuais (Maslach, Shaufeli & Leiter, 2001; Vara & Queirós, 2008).

O desenvolvimento de atividades físicas e a execução das atividades de vida diária, sem limitações, correlaciona-se com baixos níveis de alexitimia e de despersonalização, bem como com a capacidade de diferenciar emoções e sentimentos.

Nesta amostra, os sujeitos com funcionamento alexitímico e com dificuldades em determinar e estabelecer a diferença entre sentimentos e as sensações corporais resultantes da emoção apresentam mais queixas de dor corporal, resultado que se integra no exposto por Carneiro & Yoshida (2009) na associação entre alexitimia e o desenvolvimento de diversos psicossomáticos.

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A perceção de limitações no trabalho ou nas atividades de vida diária mais elevadas estão associadas a bombeiros com mais dificuldades em identificar e diferenciar sentimentos de emoções e nos que revelam níveis mais elevados de exaustão emocional e de despersonalização.

Estes resultados corroboram a relação entre indivíduos com níveis elevados de exaustão emocional e a frequência na apresentação de queixas psicossomáticas (Venturi et al., 1994; cit. por Trigo, Teng & Hallak, 2007, p. 230). Segundo Bennett et al. (2005) e Sterud, Ekeberg & Hem (2006), a exposição a eventos traumáticos e o desgaste contínuo que caracteriza as profissões de prestação de serviços de saúde e socorro tem como consequências o incremento de queixas de saúde e a redução dos níveis de bem-estar psicológico e da avaliação do estado de saúde dos sujeitos. Os efeitos na saúde referenciados pelos autores são sugeridos pela investigação em apreço.

Não obstante as correlações encontradas, importa determinar qual o impacto do funcionamento alexitímico, da exaustão emocional, da despersonalização, da realização pessoal e da frequência de sintomas dissociativos peritraumáticos na perceção do estado de saúde dos Bombeiros Municipais de Tavira.

Das cinco variáveis preditoras, apenas a despersonalização se manteve, pelo que o modelo que a inclui é o que melhor explica a perceção do estado de saúde nesta população. A despersonalização aclara 36,7% da variabilidade total do estado de saúde percebido, sendo que quando esta aumenta, o estado de saúde total percebido pelos sujeitos tende a diminuir.

Limitações

A dimensão da amostra pode ser considerada uma limitação do presente estudo, na medida em que apenas se cingiu aos Bombeiros Municipais de Tavira, não configurando uma amostra representativa da população de bombeiros portugueses. Por outro lado, a reduzida dimensão amostral compromete a análise dos resultados, nomeadamente no respeitante à comparação entre grupos e estabelecimento de associações, que seria tanto mais interessante e estatisticamente significativa quanto maior fosse a amostragem.

A ausência da investigadora no momento do preenchimento dos questionários pode consubstanciar um enviesamento dos dados obtidos, uma vez que tal não permite assegurar o preenchimento individual por parte de todos os participantes.

O recurso único ao autorrelato para a avaliação das variáveis em estudo depende, por si só, da consciência dos participantes relativamente às suas capacidades no domínio emocional e físico, sendo que do autopreenchimento de questionários pode advir os efeitos da desejabilidade

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social, na medida em que o sujeito pode ter tendência a dar a resposta que considera ser socialmente mais aprovada.

Nesta medida, o recurso a outras técnicas de recolha de dados, designadamente, a entrevista, poderiam complementar a informação, oferecer maior riqueza nos dados colhidos e, consequentemente, possibilitar uma análise mais completa das experiência dos sujeitos. Por outro lado, a inclusão de medidas fisiológicas (pressão arterial, frequência cardíaca, níveis hormonais ou estudo da imunidade) para avaliar os níveis de bem-estar dos sujeitos proporcionaria uma análise

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