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O objetivo do estudo foi avaliar a cinética e cinemática da articulação do tornozelo em pacientes submetidos à reconstrução do tendão do calcâneo através de enxerto livre do tendão do músculo semitendíneo. Cavanagh PR. et al (42) demonstraram pequena relação entre análise estática da estrutura do pé e sua função em movimentos com descarga de peso como, por exemplo, durante o ciclo da marcha. Métodos dinâmicos de avaliação da função do pé e tornozelo, como análise da marcha, são necessárias para avaliar a natureza e nível de impacto sobre essas estruturas. Modelos multissegmentares de análise do pé têm sido propostos, entretanto não há consenso na literatura de como o pé deva ser subdividido para avaliação. A configuração dos segmentos do pé escolhida é crucialmente importante desde que isso determine quais articulações serão avaliadas (6). O modelo OFM (Oxford Foot Model) comumente utilizado na análise de marcha de indivíduos saudáveis e patológicos apresenta forte confiabilidade em adultos e crianças, além de fácil interpretação. Entretanto não avalia dados cinéticos do pé e tornozelo (6).

Estudos biomecânicos após o reparo do tendão do calcâneo descrevem a função isolada do tendão, como o comportamento da unidade dos músculos responsáveis pela flexão plantar (39), circunferência da panturrilha (39), pico de torque (38) e o desempenho ao subir na ponta do pé (38). Poucos estudos com dados cinéticos e cinemáticos após o reparo do tendão estão disponíveis e são relacionados, em sua maioria, à outra técnica de reconstrução. Naim F. et al (16) analisaram a marcha e a força muscular isocinética de 15 pacientes com ruptura de tendão do calcâneo operados através de duas técnicas de reconstrução: Bosworth e Lindholm (16). Embora não tenham mostrado diferença significativa no pico de torque de flexão plantar e amplitude de movimento do tornozelo na fase de apoio e de balanço, comparando lado operado ao lado não operado, os autores

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utilizaram duas técnicas cirúrgicas diferentes, dificultando a comparação com os dados do presente estudo. Além disso, não foram disponibilizadas tabelas com os resultados obtidos para cada situação.

O presente estudo observou aumento na amplitude de movimento de ambos os tornozelos, que ocorreu entre seis e doze meses após cirurgia. Isso pode estar relacionado à redução de edema local e consequente melhora da atividade mecanoceptora e resposta sensório-motora e, no caso do pé não operado, melhora na distribuição de descarga de peso e adaptação a cirurgia ao longo do tempo. Durante a fase de balanço, os subgrupos pé Operado 6M e 12M evoluíram com menor amplitude de movimento que o tornozelo dos subgrupos pé Normal 6M e 12M nos dois períodos analisados. As amplitudes de movimento dos tornozelos operados em nenhum momento foram maiores que as encontradas nos tornozelos de indivíduos saudáveis, caso contrário seria motivo de grande preocupação para os ortopedistas, pois poderia significar excesso de alongamento do tendão reconstruído ou até mesmo ineficácia do enxerto utilizado.

Hahn F. et al (5) não encontraram assimetria clínica na marcha de 13 indivíduos submetidos à reconstrução do tendão do calcâneo com transferência e reforço do músculo flexor longo do hálux (FLH). A baropodometria feita nesse estudo mostrou a transferência de peso do primeiro artelho para a cabeça dos quatro últimos metatarsais dos membros operados na fase de impulso (5). Embora os autores não tenham coletado dados cinéticos e cinemáticos, o estudo mostra importante alteração no padrão da marcha, uma vez que o flexor longo do hálux é o mais importante músculo da fase de impulso. Essa transferência

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de peso poderá trazer consequências ao complexo lateral do pé e tornozelo ao longo do tempo como entorses em inversão. O sítio doador distante é uma vantagem que a reconstrução do tendão do calcâneo através de enxerto livre do tendão do músculo semitendíneo apresenta, pois a biomecânica do tornozelo foi alterada somente pela ruptura do tendão e sua reconstrução. O subgrupo pé Normal 6M apresentou diferença significativa quando comparado ao grupo Controle em relação à porcentagem da fase de apoio, ou seja, o pé normal do paciente ficou mais tempo apoiado no solo durante o ciclo da marcha. A provável causa desse aumento pode ter sido a intenção de proteção feita pelo paciente em relação ao pé operado, principalmente nos primeiros seis meses de pós-operatório, uma vez que esse aumento não foi observado na segunda coleta feita aos doze meses após o procedimento.

Wegrzyn J. et al (22) utilizaram o questionário de função AOFAS em 11 pacientes com ruptura de tendão do calcâneo operados através da técnica de transferência modificada do músculo FLH. Demonstraram melhora de 64 para 98 pontos em seis anos de seguimento, mas todos os pacientes apresentaram diminuição na amplitude de movimento ativa da articulação interfalangeana do primeiro raio sem subsequente hiperextensão. Entretanto nenhum paciente se queixou de fraqueza funcional no hálux durante atividades físicas ou cotidianas (22). Mahajan et al (40) demonstraram 88 pontos no questionário de função AOFAS em 36 pacientes operados através da transferência do músculo FLH no mesmo período de seguimento do presente estudo, que obteve 85 pontos em 13 pacientes. El Shewy MT et al (3) aplicaram o questionário AOFAS em 11 pacientes também após seis

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anos de seguimento, porém com técnica que utilizou duas porções intratendíneas do complexo gastrocnêmio-solear.

Ozkaya U. et al (48) estudaram 25 pacientes submetidos à reconstrução do tendão do calcâneo por técnica minimamente invasiva. Os participantes foram acompanhados por 34 meses de seguimento através do questionário de função AOFAS, amplitude do tornozelo, circunferência da panturrilha e tornozelo do membro operado e contralateral, além do tempo de retorno às atividades de trabalho e esportivas. Os pacientes atingiram 93 pontos no questionário AOFAS, flexão plantar de 49,68 graus e dorsiflexão de 20,2 graus.

Ji JH et al. (7) e Maffulli N. et al. (11) descreveram o procedimento de reconstrução do tendão do calcâneo através de enxerto livre do tendão do músculo semitendíneo pela primeira vez na literatura, porém, nenhum desses estudos foram analisados biomecanicamente. Em 2011 Sarzaeem et al (20) demonstraram aumento de 22 pontos (70 para 92) no AOFAS em 11 pacientes submetidos à mesma técnica cirúrgica utilizada no presente estudo. Amplitude de movimento em dorsiflexão foi considerada limitada pelos autores com média de treze graus (±4) no lado operado em comparação com indivíduos normais que atingiram dezessete graus (±4). Todos os pacientes estavam aptos a subir na ponta do pé do membro operado. Infelizmente o estudo não avaliou a marcha dos participantes.

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Don R. et al (41) avaliaram 49 adultos jovens que sofreram ruptura completa do tendão do calcâneo durante atividades esportivas recreacionais. Todos os pacientes foram operados através da sutura de Kessler e reavaliados após três, seis, doze e vinte e quatro meses do procedimento cirúrgico. Nos dados espaço-temporais os autores observaram valores significativamente mais baixos no lado operado que o lado não-operado no que se referia ao comprimento do passo em três, seis e doze meses de seguimento. No presente estudo não houve diferença estatística entre os membros relacionados ao comprimento do passo. Por outro lado, os tamanhos das amostras são diferentes, o que dificulta comparações entre os dois estudos. Observou-se no presente estudo que o grupo Controle foi mais rápido que o grupo Paciente pelas variáveis de velocidade, cadência e comprimento de passo. Ainda no presente estudo os movimentos de inversão e eversão que envolvem a articulação subtalar mostraram aumento significante entre os períodos analisados (efeito de tempo). Isso corrobora com o que foi encontrado no questionário de função AOFAS, que apontou aumento da mobilidade no plano frontal.

Embora não se tenha observado diferença estatística entre os grupos do presente estudo nos dados cinéticos, os números apresentam grande diferença quando analisados caso a caso. Assim, verificou-se que os valores numéricos do momento do choque do calcâneo variaram muito entre eles (-0,01 a 0,505). O mesmo ocorreu com o grupo Controle. Neste caso se faz necessário maior número da amostra apresentada.

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Não foram encontrados estudos na literatura que avaliaram parâmetros cinéticos em pacientes submetidos a outras técnicas cirúrgicas para reconstrução de ruptura de tendão do calcâneo em condições pós-operatórias.

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