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Dentre os resultados obtidos, foi demonstrado um prejuízo na memória social, avaliada pelo teste de reconhecimento social, isso pode ser observado pelo maior RID, que reflete que o animal tem um prejuízo em lembrar o que foi apresentado para ele anteriormente (rato jovem). Lembrando que o RID é a razão entre as identificações, então, quanto menor o RID, maior a capacidade em lembrar o que foi apresentado. Os animais expostos ao PQ e combinações apresentaram maior RID quando comparado ao controle, no entanto, nenhuma associação foi capaz de potencializar e/ou minimizar esse efeito.

Além disso, houve prejuízo na memória declarativa que pode ser observada pelo teste de reconhecimento de objetos. Esse teste tem como parâmetro de avaliação o escore de discriminação, quanto maior esse escore, melhor é a capacidade em lembrar do objeto que foi apresentado anteriormente. Os grupos expostos ao PQ e associações, tiveram um menor ED quando comparados ao controle, ou seja, tiveram dificuldade em reconhecer o objeto que foi apresentado anteriormente. No entanto, nenhuma associação foi capaz de minimizar e/ou potencializar esse efeito.

Esse efeito observado nos testes de memória pode estar envolvido com o hipocampo. O PQ causa déficits na memória e aprendizado, no entanto, o mecanismo desse efeito é incerto, uma das hipóteses é que exista o envolvimento do hipocampo que é uma das regiões responsáveis pela memória e aprendizado. Um estudo realizado por PINO em 2017 demonstrou que a exposição ao Paraquat causou alteração na transmissão colinérgica e glutamatérgica e ainda, perda neuronal no hipocampo. Outro estudo realizado em 2017 foi o de LI que teve como objetivo conhecer a via que causa essas alterações na memória. Nesse estudo foi verificado que as administrações de PQ na dose de 1,25 mg/kg por via intraperitoneal em ratos causaram inibição da proliferação de células progenitoras alterando a formação de novas células no hipocampo, prejudicando dessa forma a neurogênese nessa região.

Além disso, um estudo realizado por LI em 2016 avaliou os efeitos da exposição do PQ e Maneb (MB) na dose 10 e 15 mg/kg, respectivamente, por via

oral (gavagem). A administração ocorria duas vezes na semana nas ratas prenhas, porém, foram avaliados a prole destas ratas. Nesse estudo foi verificada diferenças morfológicas nos neurônios do hipocampo, tendo como mecanismo a via cAMP-PKA-CREB. A combinação de PQ +MB faz com que cAMP reduza a produção de PKA o que reduz a fosforilação do CREB que inibe também a ativação do BDNF, c-jun e c-fos. Porém, existem outros mecanismos propostos, um estudo realizado por CHAN em 2010 afirmou que o PQ exerce influência no hipocampo dos camundongos, tendo como mecanismo a lesão mitocondrial induzido por estresse oxidativo.

Além dos déficits de memória, foi demonstrado no nosso estudo que a administração do Paraquat e das associações causaram sinais do tipo ansiogênicos, isso pode ser observado pelo teste de labirinto em cruz elevado. Nesse teste, o animal é colocado no aparato durante cinco minutos, para análise do comportamento é utilizado a porcentagem de tempo no braço fechado. A maior permanência do animal no braço fechado, caracteriza um sinal do tipo ansiogênico, pois, em condições fisiológicas o animal explora todas as regiões do aparato e ainda tem preferência pelo braço aberto. Como resultado, os animais do nosso estudo tiveram maior % de tempo no braço fechado quando comparados ao controle, o que caracteriza um sinal do tipo ansiogênico.

Foi manifestado também nos animais presentes no nosso estudo, sinais do tipo depressivos, isso pode ser analisado no teste de natação forçada. Durante o teste, é contabilizado o tempo de natação, escalada e imobilidade, sendo este último preditivo de sinais do tipo depressivos, pois, o tempo de imobilidade é caracterizado pela realização de movimentos mínimos do animal, quando o animal se movimenta apenas para garantir a sobrevivência. Em condições fisiológicas, o animal passa maior tempo realizando natação ou escalada, que são os movimentos de e fuga da situação aversiva que o teste proporciona, no entanto, os animais expostos ao PQ e associações apresentaram maior tempo de imobilidade quando comparados ao controle, o que caracteriza um sinal do tipo depressivo.

Além das alterações comportamentais citadas anteriormente, foi manifestado também alterações motoras que foi evidenciada pelo teste de Campo Aberto. A análise do padrão motor do animal é dada pelo número de

58 linhas cruzadas durante os cinco minutos de teste. O animal que é colocado no campo aberto, em condições normais, tem o instinto de explorar o ambiente novo. No entanto, o animal que tem comprometimento motor, não explora tanto esse ambiente. Os animais que foram expostos a associação com MZ e CPF apresentaram esse comprometimento, observado pelo menor número de linhas cruzadas quando comparados ao controle.

Além disso, o grupo PQ e MZ apresentou diferença estatisticamente significativa quando comparados ao grupo PQ, ou seja, a associação com MZ foi capaz de potencializar o efeito do PQ. Esse achado corrobora com o estudo realizado por MANNING-BOG (2002) onde foi verificado que o Maneb parece interagir de forma sinérgica com o PQ. Isso ocorre devido a um aumento na concentração do Maneb devido a redução do clearence do PQ (DUTY; JENNER, 2011).

No que se refere às toxinas, foi realizado um estudo por QIU em 2017 que avaliou o impacto da exposição do CPF em peixes (Oryzias Latipes) a exposição durou 3 semanas e o agente tóxico ficou no aquário na dose de 0,024 mg/ml. Como resultado, eles encontraram que a exposição causou prejuízo na locomoção no 7o dia e a manifestação dos sinais do tipo ansiogênicos ocorreu no 4º dia.

Um estudo realizado por SILVA em 2017 avaliou os efeitos na prole da exposição gestacional ao CPF nas doses de 0,01, 0,1 e 1 mg/kg diariamente por via oral e foi verificado que a prole apresentou sinais do tipo ansiogênicos, porém, não do tipo depressivos ou motores. Sugere-se que além da causa ser pela hiperexcitabilidade muscarínica ocorra alteração no hipocampo e que os outros sintomas do tipo depressivos e motores não foram observados devido a neuroplasticidade.

Ademais, outra pesquisa corrobora com os achados do nosso estudo, uma pesquisa realizada por SANCHEZ em 2001 demonstra que injeções por via subcutânea (SC) de diferentes doses de CPF são capazes de induzir sinais do tipo ansiogênicos demonstrados no teste de labirinto em cruz elevado. Além disso, quando expostos a doses de 10mg/kg apresentaram maior tempo de imobilidade no teste de natação forçada.

Em relação ao PQ isoladamente, foi realizado um estudo por CZERNICZYNIEC em 2011 que avaliou em ratos o efeito da exposição de PQ na dose de 10 mg/kg semanalmente durante um mês por via IP. Nesse estudo foi manifestado comportamentos do tipo ansiogênicos, depressivos e motores e estes, foram associados a disfunção mitocondrial, aumento de espécies reativas à oxigênio que ativa uma cascata de neurodegeneração.

No que se refere a exposição associada do PQ e MB, um estudo realizado por TINAKOUA em 2015 avaliou a exposição da administração de PQ e MB nas doses de 10 mg/kg e 30 mg/kg, respectivamente. Com isso foi verificado que os animais submetidos a essa exposição apresentaram sinais do tipo ansiogênicos no labirinto em cruz elevado, do tipo depressivos no teste de natação forçada e comprometimento motor, observados pelo menor número de linhas cruzadas no teste de campo aberto. Esse achado foi associado com morte de neurônios dopaminérgicos no estriado e mudanças neuronais no núcleo subtalâmico.

Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a exposição combinada do PQ e MB representa um risco ainda maior para o desenvolvimento da DP, quando comparados a administração desses compostos isoladamente. O PQ atravessa a barreira hematoencefálica e afeta neurônios dopaminérgicos e de forma similar, o MB também causa morte desses neurônios.

Ademais, foi verificado em um estudo realizado por LIYAN em 2017 que o PQ associado com o MB por via IP na dose de 10 mg/kg e 30 mg/kg, respectivamente, causa degeneração de neurônios noradrenérgicos do locus coeruleus e essa região precede a perda dopaminérgica, sendo responsável pela manifestação de sintomas não motores. Além desse mecanismo, a exposição a toxinas pode implicar em um perfil de inflamação crônica, causando uma neuroinflamação com ativação da micróglia e isso, libera fatores inflamatórios que causam neurodegeneração dopaminérgica. Além disso, o PQ e o MB ativam NADPH e consequentemente, ocorre a formação de ROS que amplifica a resposta neuroinflamatória resultando em maior dano neuronal sendo o NADPH o responsável por manter esse processo ativo.

Além do PQ atravessar a barreira hematoencefálica por transportadores de aminoácidos, ter preferência por células da via nigroestriatal, inibir o complexo I

60 da cadeia mitocondrial, entrar no ciclo redox e produzir superóxido, um estudo realizado por KUMAR em 2016 demonstrou que a exposição a associação de PQ e MB na dose de 10 e 30 mg/kg respectivamente foi capaz de causar a formação de agregados de α-sinucleína nos animais expostos e sabe-se que essa proteína está presente em algumas doenças neurodegenerativas. O primeiro mecanismo proposto é a alteração do ubiquitina proteassoma, quando este está modificado, ocorre predisposição a formação de agregados de proteínas, formando então, estes agregados em neurônios dopaminérgicos.

Um estudo realizado com outro modelo, por MARTIN em 2014 verificou a exposição em Drosophilla de PQ e MB em associação e isolados por via IP. Como resultado, foi verificado a perda de neurônios dopaminérgicos após 6 semanas de exposição, no entanto, apenas na associação, a exposição isolada não causou esse efeito. O mecanismo proposto é que o PQ + MB causam a inibição da E1 da ubiquitina-proteassoma, gerando estresse oxidativo.

Normalmente, os indivíduos estão expostos a diversos pesticidas, isso se deve a necessidade de combate a diversos tipos de pragas na lavoura. Uma pesquisa realizada pela PARA verificou que de 2013 a 2015, 58% apresentavam resíduos de pesticidas e que dentro desse número, 38,3% estavam dentro do limite máximo e 3% estavam acima do limite máximo. Além disso, foi verificado que 18,3% apresentavam resíduos de pesticidas não autorizados para aquela cultura. Ademais, algumas amostras apresentaram vários resíduos simultâneos, 1% da amostra apresentava 10 ingredientes ativos diferentes. Ou seja, naquela amostra tinha vários pesticidas com mecanismos semelhantes ou diferentes que poderia causar a potencialização da toxicidade exercida sobre o organismo (ANVISA,2016).

Com base na exposição simultânea a diversos pesticidas, foi realizado um estudo por SU em 2015 que avalia a exposição a PQ, MZ e CPF na dose de 10, 30 e 3 mg/kg, respectivamente por via IP duas vezes na semana durante 4 semanas. Nesse estudo, as exposições não geraram a formação de agregados de α-sinucleína. Na associação com o CPF houve também aumento de outros parâmetros, o que demonstrou que a associação deste foi mais prejudicial do que o PQ isolado ou associado com o MB.

Os resultados deste estudo são comportamentais e demonstram a presença de alguns sinais, no entanto, se fazem necessário análises bioquímicas para averiguar se as alterações comportamentais manifestadas nesse estudo são devido a alterações a nível de SNC e caso seja, se seriam manifestações semelhantes as observadas na DP ou a manifestações presentes no escopo dos sintomas relacionados a exposição.

Essas vias propostas nos estudos citados anteriormente são invasivas, sendo normalmente IP o até mesmo IC e não se relaciona com a forma de exposição do morador e/ou trabalhador da zona rural que normalmente são por via cutânea ou oral.

Nosso trabalho buscou verificar a interação da exposição oral (gavagem) com o desenvolvimento de alterações comportamentais, buscando mimetizar a exposição do trabalhador/morador da zona rural. Os estudos epidemiológicos relacionam a exposição dos pesticidas com DP, demonstrando que pode existir algum mecanismo que ligue esses os pesticidas com alterações comportamentais, no entanto, quando as administrações são realizadas por vias invasivas não há como provar essa relação.

Nosso estudo encontrou alterações comportamentais que podem ter como via de indução os mecanismos aqui citados, no entanto, é necessário avaliação bioquímica para compreender os mecanismos de indução dessas alterações comportamentais.

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