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Durante os ensaios piloto, a praticidade da manipulação da resina de poliuretano em função da sua apresentação pré-dosada, aliada a facilidade de visualização de detalhes reproduzidos nos modelos e troquéis, revelou-se a necessidade de analisar e comparar seu comportamento dimensional e superficial aos materiais já utilizados para modelagem odontológica, com o objetivo de certificar o potencial de utilização da resina de poliuretano.

As moldagens para obtenção dos corpos-de-prova foram realizadas com silicona de polimerização por adição, opção feita devido as informações encontradas na literatura mostrarem este material como material de moldagem que exibe excelente estabilidade dimensional, compatibilidade com os materiais analisados e, dentre os elastômeros é aquele que apresenta maior capacidade em reproduzir detalhes, de acordo com Eduardo et al., (1991)eDonavan, Chee (2004).

O projeto da matriz multifuncional objetivou, segundo Hondrum (1994), proporcionar espessura uniforme do material de moldagem ao redor da área a ser moldada, permitindo suportar o tracionamento de separação do conjunto molde/modelo sem que ocorresse ruptura do material. Ainda, o processo de “desrosqueamento” da moldeira, específico da matriz, permitiu que os moldes fossem removidos sem que tensões excessivas fossem geradas.

Os materiais de moldagem e modelagem trazem consigo informações quanto à sua correta manipulação. Seguindo as recomendações propostas por Rudd, Strunk, Morrow (1969) quanto a importância da correta dosagem entre gesso e água, relação água/pó, foram empregados neste estudo balança digital de precisão para pesagem dos materiais, e a água destilada medida em pipeta milimetrada. As especificações de dosagem e manipulação também foram atendidas para os polímeros empregados no estudo.

De acordo com Derrien, Sturtz (1995)b, as exigências de materiais para modelos dentários incluem exatidão dimensional, reprodução de detalhe aceitável, resistência abrasiva, dureza de superfície, eficiência e facilidade de manipulação, compatibilidade com o material de impressão, falta de toxicidade e resistência transversal. Os autores destacam que precisão dimensional é uma propriedade crítica, isso porque influencia diretamente a precisão, retenção friccional e adaptação marginal dos trabalhos protéticos. Almeida et al., (2002) afirmaram que o conhecimento da

alteração e estabilidade dimensional de materiais para a obtenção de troquéis é importante na precisão e justeza da adaptação de trabalhos protéticos laboratoriais.

Segundo Bailey, Donovan, Preston em (1988) a literatura sobre precisão dimensional dos materiais para modelagem odontológica é equívoca, já que resultados diferentes são encontrados, isso provavelmente devido à diversidade de metodologias empregadas nos estudos.

Quando se analisa o comportamento dimensional de materiais de modelagem, deve-se também considerar o comportamento dimensional dos materiais de moldagem. Os resultados obtidos nesse estudo são específicos para modelos confeccionados a partir de moldes com um único material de impressão, silicona de polimerização por adição, material que teve sua estabilidade dimensional analisada por McCrosson et al.,(1987) e Donavan, Chee (2004) onde verificaram melhor comportamento dimensional dentre os elastômeros. Condição também demonstrada por Naback (2001), que constatou a possibilidade de um segundo vazamento para moldagens em silicona de polimerização por adição, sem alterações dimensionais.

Os valores obtidos para as mensurações horizontais realizadas para cada material de modelagem, comparando-os às medidas da matriz metálica revelaram que: todos os gessos expandiram, Durone tipo IV 0,051µm, Durone tipo V 0,021µm, Rock Plus 0,023µm, Fuji Rock 0,020µm; a resina Epoxiglass 1504 contraiu 0,018µm; enquanto a resina Sikadur 32 expandiu 0,038µm. Vale ressaltar que Zani (1993) e Zani (1994), quando avaliou a resina epóxica Sikadur 32 verificou contração para o material, e expansão quando associada ao gesso tipo V, no mesmo troquel. A resina de poliuretano apresentou contração de 0,001 micrômetro e baseando-se nas dimensões da matriz pode-se considerar um comportamento dimensional excelente.

Os valores obtidos para as mensurações verticais realizadas para cada material de modelagem, comparando-os às medidas da matriz metálica revelaram que: os gessos apresentaram comportamento divergente, o gesso Durone tipo IV expandiu 0,01 e tipo V expandiu 0,01, o gesso Rock Plus resinado contraiu 0,04, enquanto o gesso Fuji Rock apresentou resultado idêntico à matriz metálica. A resina Sikadur 32 contraiu 0,01, a resina Epoxiglass 1504 expandiu 0,09, e a resina de poliuretano que expandiu 0,01. Sendo assim, a gesso Fuji Rock apresentou melhor comportamento dimensional na direção vertical, o que pode ser verificado no quadro 4.

Ao serem submetidos à análise estatística, estes materiais não apresentaram diferenças estatisticamente significantes entre eles quanto ao comportamento dimensional vertical e horizontal (nível de significância - 5%).

Kenyon et al., (2005), ao avaliarem a precisão dimensional de sete materiais para confecção de troquéis, constataram uma combinação de expansão e contração da resina de poliuretano, condição também encontrada no presente trabalho.

Os seguintes pesquisadores verificaram expansão dos gessos e contração das resinas epóxicas quando empregada na confecção de modelos Palmqvist (1970); Spratley, Combe (1973); Price et al., (1976); Aiach, Malone, Sandrik (1984); Campbel, Riley, Sozio (1985); Bailey, Donovan, Preston (1988); Dumfahrt, Schaffer, Roider (1989); Soares et al., (1998).

Encontra-se na literatura avaliada divergências com relação ao comportamento dimensional dos gessos tipo IV e V, que apresentaram expansão nos trabalhos de Toreskog et al., (1966); Bailey, Donovan, Preston (1988); Laguilar et al., (1999); e Dias (2003). Entretanto, Stevens, Spratley (1987) e Dias (2000)a verificaram contração para troquéis de gesso tipo IV e V. Bonachela (1991) verificou diferenças estatísticas, em alterações dimensionais, ao analisar seis diferentes marcas de gesso tipo IV.

Quando submetidos à análise estatística, quadro 3 e 5, as resinas e os gessos, não apresentaram diferenças estatisticamente significantes quanto ao comportamento dimensional, o que também foi verificado por Dias (2003), quando comparou resinas epóxicas modificadas com diatomita a gessos odontológicos e Rodrigues et al., (1999), quando comparou gessos odontológicos a resina epóxica Sikadur 32. Chaffee, Bailey, Sherrard (1997) a e b, constataram que modelos em resina epóxica e em produtos de gipsita, tanto para arcos completos como para troquéis unitários, proporcionam grau de precisão dimensional semelhante.

A resina epóxica foi testada como material restaurador por Bowen (1956), e seu uso em troquéis foi iniciado através do trabalho de Östlund e Akesson (1960). Nomura, Reisbick, Preston (1980) sugeriram o uso de espaçadores para compensar os inconvenientes da contração dimensional das resinas epóxicas. Os autores consideraram que o material pode ser clinicamente utilizado com sucesso. Como os polímeros analisados apresentaram medidas precisas, comparando-as ao padrão metálico, sugere-se estudos para avaliação da necessidade ou não do uso de espaçadores para garantir a adaptação marginal das peças protéticas.

Bloem et al., (1989) ao determinar a precisão dimensional de 3 sistemas para obtenção de troquéis, concluíram que os modelos metalizados foram mais precisos que os obtidos com resina epóxica e poliuretano. Entretanto, devido à freqüência de utilização e praticidade da confecção de modelos em gesso, resina epóxica e poliuretano, não foram utilizados, neste estudo, modelos metalizados.

A manipulação criteriosa do material de modelagem confere ao modelo de trabalho diferenças quanto ao seu comportamento dimensional e superficial. A resina de poliuretano apresentou-se como material de fácil mistura e homogeneização entre seus componentes A e B e, além disto, a forma de embalagem pré-dosada da resina Exakto-Form (Bredent) facilita a proporção correta destes componentes. O produto resultante da mistura dos componentes A e B é um líquido muito fluido, que ao ser vertido na moldagem tem a capacidade de escoamento por toda a superfície da silicona de adição, preenchendo os seus detalhes e copiando a superfície, dessa forma, não houve a necessidade de vibração mecânica para o vazamento da resina de poliuretano devido à fluidez apresentada pelo material. A fluidez da resina de poliuretano foi compatível com a resina epóxica Epoxiglasss 1504 modificada com diatomita que apresentou grande potencial de escoamento, sendo assim, também não foi necessário a utilização de vibração mecânica no momento do vazamento do modelo. Vale ressaltar que a resina epóxica Sikadur 32 é viscosa, o que torna seu vazamento mais complexo. Assim, foi necessário o auxílio de gotejador de Peter Thomas e de bolinhas de isopor para acomodar a resina à moldagem, simultaneamente ao ser submetida à vibração mecânica. Realizando o vazamento como descrito, os modelos obtidos com os três diferentes polímeros não apresentaram diferenças superficiais, conforme figura 27.

Williams (1972) pesquisou uma forma de vazamento de troquéis em resina epóxica objetivando a redução de bolhas, que podem ser incorporadas na massa de resina, e que podem comprometer bordas finas do troquel. O autor propôs que o vazamento fosse feito com auxílio de uma centrífuga, e salientou que para a maioria das resinas um tempo não superior a 2 minutos com motor em baixa rotação foi suficiente para o vazamento.

Rodrigues e Dias (2001) sugeriram a associação da resina epóxica Sikadur 32 a um casquete de resina acrílica (Duralay), que resultou em estabilidade dimensional semelhante a associação poliéter e gesso tipo IV. O casquete de resina acrílica permite que o material seja

acomodado sobre toda sua extensão, mesmo com a viscosidade apresentada pela resina Sikadur 32.

Ullo, Whist (1983) publicaram um trabalho onde descreveram uma técnica para obtenção de modelos; utilizaram a resina epóxica Epoxident, e o vazamento dos modelos foi realizado com auxílio de vibrador, com aplicação de pequenos incrementos do material. Os autores ressaltaram que devido à viscosidade do material epóxico, deve-se tomar o cuidado para que não ocorra aprisionamento de ar em áreas críticas do preparo. Sugeriram a utilização de uma centrífuga durante 1 a 2 minutos, o que impulsiona a resina para reproduzir todos os detalhes da impressão.

O tempo de polimerização das resinas e de reação de presa dos gessos também deve ser respeitado para que o modelo possa ser removido do molde sem provocar fraturas ou distorções. Observou-se um longo tempo para polimerização completa das resinas epóxicas, sendo 12 horas para a Sikadur 32 e 24 horas para Epoxiglass 1504. Dessa forma, a escolha de um material de moldagem estável, em função do tempo, é imprescindível para que não haja a possibilidade de imperfeições e alterações dimensionais de modelos e troquéis. O tempo de polimerização da resina de poliuretano é semelhante ao dos gessos, o que permite que modelos obtidos com esse material estejam prontos para serem separados da impressão e manipulados em uma hora após a mistura inicial. Essa propriedade diminui o tempo de trabalho e reduz riscos de distorções em desmoldagens precipitadas, uma vez que os modelos odontológicos estão sujeitos a várias tensões, segundo Dias e Panzeri (2000)c.

Paquette, Taniguchi, White (2000) sugeriram o uso de um retardador da reação de cura da resina epóxica, condição que melhorou seu comportamento dimensional. Entretanto, o prolongamento da polimerização das resinas epóxicas pode expor os modelos à tensões prematuras.

Para que o modelo obtido seja uma cópia fiel do padrão moldado não devem existir interações entre os materiais envolvidos. Uma das razões para a ampla utilização do gesso odontológico é sua grande compatibilidade com os materiais de modelagem, condição verificada por Schelb et al., (1987). Pereira (2005) avaliou a compatibilidade da resina poliuretano e verificou que esse material apresenta compatibilidade com vários materiais de moldagem (hidrocolóide irreversível; godiva; silicona de condensação; silicona de adição; pasta zincoenólica; mercaptana), entretanto, houve a necessidade do uso de um separador ou isolante quando colocada em contato com um poliéter (Impregnum). A resina epóxica Epoxiglass 1504

apresentou perfeita compatibilidade com a silicona de adição, de acordo com Dias (2003); condição também demonstrada por Pereira (2005) com relação à compatibilidade do poliuretano com a silicona de adição.

Segundo Aiach, Malone, Sandrik (1984), muitas resinas epóxicas avaliadas para confecção de modelos apresentam-se pobres com relação à compatibilidade com materiais de moldagem, não produzindo boa qualidade de superfície, em geral alcançando propriedades positivas somente quando utilizadas com siliconas e poliéter, condição também verificada por Schwartz et al., (1981). A compatibilidade do material de modelagem pode ser avaliada sobre vários aspectos, dentre eles a análise do comportamento superficial do modelo obtido, conforme sugerido por Dias (2003).

Um modelo que apresente uma superfície livre de imperfeições (superfície lisa) proporciona ao técnico de laboratório tranqüilidade na execução de trabalhos protéticos. A lisura de superfície do modelo depende não só das características particulares dos materiais de modelagem, como também de propriedades que devem ser exibidas pelos materiais de moldagem. No presente estudo a avaliação da rugosidade de superfície ocorreu em caráter particular para os materiais de modelagem, uma vez que os mesmos não foram colocados em contato com nenhuma superfície.

Dias (2003) ao analisar a rugosidade superficial de materiais de modelagem constatou que dentre os gessos analisados o gesso tipo IV Fuji Rock apresentou a melhor qualidade de superfície, isto provavelmente devido à regularidade de seus cristais, condição confirmada no presente estudo.

Ribas, Macchi (1983) realizaram uma pesquisa onde uma resina epóxica (Epoxydie), foi comparada com os resultados obtidos com um gesso tipo IV para troquel (Vel-mix) e concluíram que a resina epóxica apresenta superior lisura de superfície, condição também verificada por Kozono et al., (1983), e Dias (2003) e confirmada no presente estudo, quadro 6.

Os polímeros analisados e o gesso tipo IV Fuji Rock apresentaram maior lisura de superfície (não houve diferenças estatisticamente significantes, a nível de 5%) que os demais gessos analisados. Vale ressaltar a superioridade, em valores absolutos, da resina de poliuretano, condição que pode ser verificada na figura 26.

O gesso tipo V Durone foi o mais rugoso entre todos os materiais estudados. O gesso tipo IV Rock Plus resinado e o gesso tipo IV Durone não apresentaram diferenças estatisticamente

significantes, mostrando-se mais lisos apenas que o gesso tipo V Durone, conforme representado na figura 27.

Scotti et al., (1994) encontraram resultados semelhantes aos apresentados neste estudo, mesmo tendo utilizado metodologia diferente para análise da rugosidade superficial. Os autores utilizaram um microscópio com aumento de 40 vezes, enquanto um rugosímetro foi utilizado para leitura do presente estudo e por Stolf et al., (2004). O rugosímetro permite que as leituras realizadas sejam representadas por um número, definido pela média encontrada no trajeto entre os picos e vales das superfícies analisadas, favorecendo a comparação entre elas.

Dias (2003) afirmou que a alta fluidez da resina Epoxiglass 1504 proporciona um material livre de imperfeições, permitindo que o material escoe penetrando em todos os detalhes da impressão. A superior capacidade das resinas epóxicas foi descrita por Derrien e Le Menn (1995)a que demonstraram que a resina epóxica e poliuretano reproduziram detalhes de 1 a 2 micrômetros, enquanto que o gesso não reproduziu detalhes menores que 20 micrômetros, devido à sua estrutura cristalina. Schelb et al., (1991) também verificaram que os gessos se limitam a reproduzir detalhes maiores que 20 micrômetros.

Em função da alta fluidez apresentada pela resina de poliuretano, dos bons resultados verificados neste trabalho (comportamento superficial e dimensional), e da crescente utilização industrial mundial deste polímero (VILAR, 1999), sugere-se a avaliação da capacidade de cópia e de manutenção de detalhes proporcionados pela resina de poliuretano.

Os três polímeros analisados apresentaram, na sua composição, partículas de carga, mas o carregamento do material não produziu imperfeições na superfície. A carga ficou contida na massa do material e este exibiu uma superfície com aspecto vítreo, o que justifica a lisura superficial apresentada por esses materiais. Já com relação os gessos analisados, a maior lisura de superfície expressa pelo gesso tipo IV Fuji Rock se deve a maior regularidade de seus cristais, condição verificada por Dias (2003).

A literatura ainda é carente com relação ao emprego da resina de poliuretano na modelagem odontológica, o que justifica futuros estudos para avaliar o seu comportamento mecânico e clínico, quando empregada na confecção de restaurações indiretas.

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