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No presente estudo os resultados mostram que pacientes com DPOC tem um nível de AVD medido pelo sensor de movimento inferior à população controle e que a distância, o número de passos e o tempo de caminhada diários registrados no acelerômetro tem correlação linear estatisticamente significante com o TC6. O questionário LCADL igualmente identificou esta diferença entre grupos. O trabalho também mostrou que a falta de estrutura, a falta de vontade e a influência social são as principais barreiras/motivos para essa população não ser mais ativa fisicamente.

No que se refere a AVD estes resultados reforçam o que já foi apresentado em estudos prévios. 54 Revisão bibliográfica de pacientes com DPOC mostram uma significante redução da duração e intensidade da AVD quando comparados a controles saudáveis . O nível da atividade física dos controles também é semelhante a de outros estudos com idosos e tabagistas. 16,55 Nos estudos com DPOcs, a maioria dos indivíduos era do sexo masculino. No presente estudo, os 80 indivíduos estavam bem distribuídos tanto por sexo quanto por faixa etária, e a maioria dos controles eram conjugues dos DPOC, ou seja, do mesmo convívio social. Nossos achados reforçam a eficiência dos acelerômetros de detectar o menor nível de AVD em portadores de DPOC de maneira simples e de fácil repetição.

O presente estudo mostrou que o instrumento acelerômetro é mais sensível para registrar objetivamente o nível de atividade de vida diária quando comparado ao pedômetro, confirmando achados da literatura. 19

O TC6 confirmou achados da literatura que pacientes com DPOC tem menor capacidade ao exercício. E reiterou a correlação do TC6 com a AVD registrada em maior número de dias, em especial com a distância caminhada neste trabalho, já demonstrada anteriormente com sensor multiaxial. 56 A lembrar que o baixo nível de AVD leva a maior risco de mortalidade e hospitalização. 57 Este presente trabalho mostrou tendência de correlação negativa com os passos power registrados no acelerômetro, isto sugere que pacientes com DPOC que caminham mais rápido pode ter um menor prognóstico de mortalidade registrados no BODE. Estes resultados reforçam achados no estudo de Garcia_Rio et al 57 que acompanharam 173 pacientes com DPOC por um período de 5 a 8 anos e concluíram que o nível de atividade física é um preditor de hospitalização e mortalidade. No nosso estudo o número de pacientes incluídos foi relativamente menor e isso pode justificar não ter dado maior correlação, talvez seja necessária uma casuística maior para confirmar estes achados. Desta forma seria muito mais fácil prever o prognostico de pacientes com DPOC já que fornecer um acelerômetro é mais simples do que fazer um TC6.

O BDI mostrou tendência de correlação com a distância do acelerômetro, indicando que pode ser mais sensível na avaliação desta relação. Entretanto, a dispneia durante AVD diária registradas no LCADL não pareceu interferir, já que não foram encontradas correlações entre o LCADL e os dados obtidos no acelerômetro. Por outro lado, ainda que o LCADL pareça melhor para variações auto mensuradas em pacientes com

DPOC submetidos a programas de treinamento do que o MMRC, 58 a diferença do mesmo entre os pacientes e os controles neste estudo é quatro vezes maior que a mudança obtida por programas desta natureza.

Em trabalhos prévios para avaliar a confiabilidade e sensibilidade, o LCADL mostrou uma correlação fraca porem estatisticamente significante com o shuttle walk test (SWT). 43 Neste trabalho, o TC6 mostrou uma tendência de correlação entre e o escore total do LCADL, já demonstrada na validação para o Português deste instrumento. 44 Talvez seja necessária uma casuística maior para que possamos confirmar estes achados.

Um desafio atual é conhecer quais são os fatores externos que podem influenciar a não praticar atividade física. As causas mais comuns citadas pela população em geral são 59 : a) não ter tempo suficiente para o exercício; b) não gostar de fazer exercício (achar inconveniente); c) falta de auto-motivação; d) achar desagradável; e) achar chato; f) baixa auto- eficácia: falta de confiança na sua capacidade de ser fisicamente ativo; g) medo de se machucar ou ter se machucado recentemente; h) falta de habilidade pessoal para definir objetivos, monitorar o progresso ou entender as recompensas obtidas ao alcançar os objetivos; i) falta incentivo, apoio, companheirismo ou de familiares e amigos, e j) não tem parques, calçadas, ciclovias, ou percursos pedestres convenientes, seguros e agradáveis para suas casas ou escritórios. O Center of Diseases Control (CDC) americano há 20 anos procura medir e incentivar a pratica de atividade física. O questionário de barreiras utilizado neste estudo originou-se destas recomendações. 60

A falta de estrutura, a influência social e a falta de habilidades foram as maiores barreiras para a prática de atividade física identificada pelos portadores de DPOC neste trabalho, entretanto note-se que grande percentual de participantes do grupo controle referiu a falta de estrutura, a falta de vontade e a influência social igualmente como barreiras. A ausência de habilidade para um atividade física pode estar diretamente relacionada a insegurança para realizar atividades físicas. Estudo com 28 pacientes (22 homens e 6 mulheres) portadores de DOPC procurou identificar através de entrevistas as principais barreiras e facilitadores para atividade física após uma internação hospitalar. 10 Apos sistematização, as barreiras foram divididas em 3 grandes categorias: saúde, meio ambiente e individuais.

Na categoria saúde incluem-se as comorbidades, a própria DPOC (gravidade) e a saúde ou status físico. Na categoria meio ambiente destacaram-se o clima, poeiras (domiciliar) ou polens, assim como as dificuldades de transporte (considerada grande barreira para reabilitação pulmonar) e/ou financeiras também relacionada ao custo transporte, especialmente se usuário de oxigênio domiciliar (custo do oxigênio também foi referido). Na categoria individual foram relatadas a idade avançada, falta de acesso-prescrição de oxigenioterapia e problemas em seguir um programa de atividade física ou reabilitação. Os autores sugerem ser necessário reconhecer ativamente as barreiras e tentar vencê-las para garantir o aumento da AVD ou participação na reabilitação pulmonar.

Tanto quanto a gravidade da DPOC, o número reduzido de centros de reabilitação no país voltados para doentes pulmonares representa uma

barreira real, já que a maioria dos pacientes deste estudo relatou voluntariamente que realizariam atividade física se tivessem mais estrutura e mais incentivo. Mas, a simples existência deles não garante que se consiga mudar o nível de AVD. Não poder compartilhar a AVD com uma pessoa não portadora de DPOC, dada as diferenças funcionais, levando a uma sensação de incompetência física pode ser fator agravador do quadro de depressão que frequentemente associa-se a DPOC. Medo e/ou falta de conhecimento de familiares e amigos em relação a incapacidade do portador de DPOC também influenciam diretamente nestas barreiras.

Este trabalho tem limitações por tratar-se de estudo transversal, com casuística pequena. Porem utiliza um instrumento objetivo para medir barreiras que ajuda a planejar como interferir no sedentarismo dos portadores de DPOC e suas consequência. Diagnosticar o nível de sedentarismo e as barreiras para atividade física tem implicação imediata na prática clínica, para que se criem medidas de intervenção precoce neste grupo de pacientes. A busca pela independência através da manutenção das atividades de vida diária, indicam a prática de exercício físico (caminhada por exemplo) como tratamento. Tornando-os mais ativos fisicamente, diminuindo o impacto da própria DPOC e modificando o prognóstico.

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