• Nenhum resultado encontrado

O perfil dos doentes com neoplasia oral para o IPO- Porto no ano de 2013, coincide com estudos realizados. No que concerne, ao género mais afetado verificamos que é o sexo masculino com 159 (74%) dos doentes, muito devido à exposição aos fatores de risco, como o tabaco e o álcool. Em relação ao género, a nossa amostra reforça os estudos já existentes na literatura que demonstram maior incidência desta neoplasia no sexo masculino. De acordo com o estudo realizado por Silva et al. (2009), também houve predomínio do género masculino, (86,5%) dos doentes eram do sexo masculino. Em relação, ao grupo etário verificou-se que existem duas faixas etárias predominantes, sendo que 57 (26,5%) dos doentes tem uma idade compreendida entre os 55 e os 64 anos e 56 (26,0%) doentes entre a faixa etária dos 45 aos 54 anos. No estudo de Santos et al. (2010), observou também maior frequência na faixa etária acima dos 60 anos.

Um dos grandes objetivos deste estudo foi descobrir relativamente ao ano de 2013, quais eram os profissionais de saúde responsáveis pelo diagnóstico das neoplasias orais e que mais referenciavam os doentes para o IPO-Porto. Verificou-se que na presente amostra, os médicos otorrinolaringologistas, foram os profissionais de saúde a referenciar mais doentes com cancro oral 64 (29,8%), seguido pelo médico de família com 58 (26,9%) e o médico dentista que apenas referenciou 14 (6,5%) doentes. No estudo de Jaqueline et

al. (2009) demonstrou que dos 65 pacientes avaliados com cancro oral apenas 2 (7,14%)

foram referenciados por médicos dentistas, os restantes foram por médicos generalistas (Jaqueline et al., 2009).

As razões que estão na base deste perfil de referenciadores estão eventualmente associadas a ausência de conhecimentos de oncologia oral, o fato dos doentes de risco, geralmente com classes sociais com menor poder económico não recorrerem ao médico dentista dado que na sua maioria são privados. A ausência de conhecimento por parte da população sobre oncologia em geral e oral em particular e o desconhecimento dos programas de Saúde Pública nacionais dedicados o cancro oral.

O presente estudo demonstrou que a localização anatómica do cancro oral, mais prevalente nesta amostra foi a língua com 71 (33%) dos casos, enquanto que a segunda localização mais frequente foi outras localizações da boca com (28,4%) (inclui gengiva, assoalho da boca, palato e outras partes não especificadas da boca). Quando comparado, através de diversos estudos constatamos que a língua é o local mais acometido. Segundo Nogueira et al, (2012), avaliou 340 pacientes com carcinoma espinocelular sendo que a localização mais frequente com 95 casos (27,9%) foi a língua. Por outro lado, Teixeira et

al. (2009), no seu estudo verificou que os locais mais afetados foram o assoalho da boca

51(22,7%) de doentes e a língua com 49 (21,8%) dos casos (Teixeira et al., 2009). Segundo Breyner et al. (2007), consoante a localização anatómica do tumor, estes apresentam um comportamento clínico diferente, conforme a sua localização.

Relativamente ao tipo histológico, a amostra indicou que 185 (86%) doentes após a realização do exame histológico, o resultado mais prevalente foi o carcinoma espinocelular. De acordo com o estudo realizado por Ordóñez et al. (2013), o tipo histológico mais frequente foi também o carcinoma espinocelular com 66% (Ordóñez et

al., 2013).

Ao analisar os resultados obtidos, no que diz respeito, ao estádio em que se encontravam os doentes no momento da referenciação, podemos verificar que a maioria (48,3%) dos doentes apresentavam-se no estádio IVA, doença localmente avançada, com envolvimento ganglionar e sem metástases. Ou seja, podemos afirmar que os pacientes referenciados chegaram ao IPO num estádio avançado, consequência de um diagnóstico tardio, provocado muito provavelmente devido a falta de informação acerca dos sinais e sintomas da doença por parte do doente e também porque muitas destas lesões permanecem assintomáticas durante algum tempo e quando estes procuram ajuda médica já chegam com a doença avançada. Num estudo elaborado por Teixeira et al. (2009), verificou-se que na amostra de 225 doentes atendidos na Santa Casa de Fortaleza, cerca de (52,4%) dos doentes encontravam-se com um estádio avançado III ou IV (Teixeira et al., 2009). Um estudo também realizado no IPO-Porto com 136 doentes relativamente aos anos 1992 a 2002, demonstrou que 51(39%) dos doentes tinha o estádio IV (Monteiro et al.,2012). Comparando com o presente estudo podemos verificar que existem mais

Avaliação do perfil de referenciação dos doentes com neoplasia oral para o Instituto Português de Oncologia do Porto no ano de 2013

doentes com estádio IV (48,3%), logo o diagnóstico tem sido realizado cada vez mais tarde.

Quanto ao TNM, podemos verificar que o T (tumor primário) na nossa amostra evidencia o T2 como mais prevalente, com 53 (25,6%) de doentes e T4a com 45 (21,7%) doentes. Segundo Jotz et al., (2007) obtiveram resultados semelhantes, neste caso, o T2 foi também o mais prevalente, com 43% dos doentes e seguido de T4 com 28% (Jotz et al., 2009). No que concerne à presença de gânglios linfáticos, a amostra revelou 76 (36,7%) dos doentes não apresenta gânglios clinicamente metastásicos. Em relação à presença de metástases verificou-se que 166 (80,2) % dos doentes não apresenta metástases.

Atualmente o Grupo de Estudos Cancro de Cabeça e Pescoço está a realizar uma campanha de sensibilização a nível nacional, onde pretende alertar para os fatores de risco, sinais e sintomas desta patologia. A prevenção primária constitui um desafio para alcançar a modificação do perfil dos doentes com cancro da cabeça e pescoço. O auto- exame da cavidade oral assume um papel fundamental na educação para a saúde, e neste caso, para a oncologia oral pois é a única forma de atuar na deteção precoce desta patologia. Importante também realizar campanhas de sensibilização para os fatores de risco: tabaco, álcool, vírus HPV.

V. Conclusão

O perfil dos doentes com neoplasia orais referenciados para IPO-Porto em 2013, foram na sua maioria do sexo masculino, o grupo etário mais frequente foi o de 55 a 64 anos de idade, o distrito do Porto foi o distrito mais de onde provinham mais doentes , as lesões mais frequentes localizam-se na língua, o tipo histológico mais prevalente nos doentes é o carcinoma espinocelular. O médico otorrinolaringologista foi o especialista mais vezes responsável pela referenciação destes doentes. O estádio IV foi o mais frequente, demonstrando que o diagnóstico é realizado em fases muito avançadas e com taxas de sobrevivência muito baixas.

Torna-se necessário um programa que informe a população sobre oncologia oral, é necessário viabilizar o acesso dos doentes de risco ao médico dentista, é importante treinar todos os especialistas que potencialmente podem contactar com estes doentes no sentido de minimizar o número de doentes com patologia avançada no momento do diagnóstico, permitindo maiores sobrevivências e menor sofrimento.

Avaliação do perfil de referenciação dos doentes com neoplasia oral para o Instituto Português de Oncologia do Porto no ano de 2013

VI. Bibliografia

American Joint Comittee on Cancer. [Em linha]. Disponível em <http://cancerstaging.org>. [Consultado em 21/06/2015].

Buelvas, A. (2009). Cáncer oral: el papel del odontólogo en la detección temprana y control, Revista Facultad de Odontología Universidad de Antioquia, 21(1), pp. 112-121.

Castro, T. Filho, I. (2006) Prevalência do papilomavírus humano (HPV) na cavidade oral e na orofaringe, Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 72(2).

Chang, J. et alii. (2013). Investigating the association between oral hygiene and head and neck cancer, Oral Oncology, 49, pp. 1010-1017.

Dar, N. et alii. (2013) Poor oral hygiene and risk of esophageal squamous cell carcinoma in Kashmir, British Journal of Cancer, 109, pp. 1367-1372.

Esmaelbeigi, F. et alii. (2014). Factors Affecting Professional Delay in Diagnosis and Treatment of Oral Cancer in Iran, Arch Iran Med, 17(4), pp. 253-257.

Epstein, J., Cabay, R. e Glick, M. (2005). Oral malignancies in HIV disease: Changes in disease presentation, increasing understanding of molecular pathogenesis, and current management, Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and

Endodontology, 100(5), pp. 571-578.

Farah, C. et alii. (2014). Oral Cancer and Oral Potentially Malignant Disorders,

International Journal of Dentistry, pp. 1-6.

Feller, L. Lemmer, J. (2011). Oral Leukoplakia as It Relates to HPV Infection: A Review,

Galbiatti, A. et alii. (2013). Head and neck cancer: causes, prevention and treatment,

Brasilian Journal Otorhinolaryngology, 79(2), pp. 239-247.

Han, S., et alii. (2010). Epidemiology and cost analysis for patients with oral cancer in a university hospital in China, BMC Public Health, 10(196), pp. 1471-2458.

Hernández, J. (2015). Cáncer de cabeza y cuello, Gaceta Mexicana De Oncologia, 14(1), pp. 1-2.

Herrero, J., Hernández, E. e Gómez, J. (2010) Espectro clínico de las infecciones por el vírus de Epstein-Barr, Medicine, 10(58), pp. 3968-3976.

Herrero, R. et alii. (2003) Human papillomavirus and oral cancer: the international Agency for Research on cancer Multicenter Study, J Natl Cancer Int, 95(23), pp. 1772- 1783.

Hosni, E. et alii. (2009). Eritroplasia e leucoeritroplasia, Brazilian Journal of

Otothinolarygology,75(2), pp. 295-299.

Jaqueline, E. e Fontanella, V. (2009). Perfil Epidemiológico dos pacientes portadores de cancer bucal atendidos no Hospital Santa Rita, Porto Alegre/RS, Stomatos, 15(28), pp. 3- 16.

Jotz, G. et alii. (2007). Prognóstico em dois anos do câncer de cavidade oral, Rev. Bras.

Cir. Cabeça Pescoço, 36(3), pp. 146-151.

Junior, C. et alii. (2013). Oral cancer based on scientific evidences, Rev Assoc Paul Cir

Dent, 67(3), pp. 178-86.

Larizadeh, M., Damghani, M. e Shabani, M. (2014). Epidemiological Characteristics of Head and Neck Cancers in Southeast of Iran, Iran Journal Cancer Prev, 7(2), pp. 80-86.

Avaliação do perfil de referenciação dos doentes com neoplasia oral para o Instituto Português de Oncologia do Porto no ano de 2013

Leite, A., Guerra, E, e Melo, N. (2005). Fatores de risco relacionados com o desenvolvimento do câncer bucal: revisão, Rev. De Clín. Pesq. Odontol, 1(3), pp. 31-36.

López, J., Cepeda, C. e Salas, E. (2015). Precáncer y cáncer bucal, Med Clin (Bar), 11(14), pp. 1-5.

Messadi, D. (2013). Diagnostic aids for detection of oral precancerous conditions,

International Journal of Oral Science, 5, pp. 59-65.

Meurman, J. (2010). Infectious and dietary risk factors of oral cancer, Oral Oncology, 46, pp. 441-413.

Mortazavi, H., Baharvand, M. e Mehdipour, M. (2014). Oral Potentially Malignant Disorders: An Overview of More than 20 Entities, Journal of Dental Research, Dental

Clinics, Dental Prospects, 8(1), pp. 6-14.

Monteiro, L. et alii. (2012). Fatores de prognóstico em neoplasias malignas de glândulas salivares, Rev Port Estomatol Med Dent Cir MaxiloFac, 53(4), pp. 199-205.

Montenegro, L., Veloso, H. e Cunha, P. (2014). Papiloma vírus humano como fator carcinogénico e co-carcinogénico do câncer oral e da orofaringe, Rev Odontol Bras

Central, 23(67).

Nogueira, A. et alii. (2012). Perfil Epidemiológico de 23 casos de neoplasias malignas da cavidade oral atendidos em uma instituição odontológica de nível secundário, Rev. Bras.

Cir. Cabeça Pescoço, 41(4), pp. 181-185.

National Cancer Institute. [Em linha]. Disponível em <http://www. cancer.gov/>. [Consultado em 13/06/2015].

Ordóñez, D. et alii. (2014). Cáncer oral en Santiago de Cali, Colombia: análisis poblacional de la tendencia de incidencia y mortalidad, Salud Pública de México, 56(5), pp. 465-472.

Oliveira, L., Silva, A. e Zucoloto, S. (2006). Perfil de incidência e da sobrevida de pacientes com carcinoma epidermóide oral em uma população brasileira, J Bras Patol

Med Lab, 42(5), pp. 385-392.

Oliveira, J. et alii. (2008). A exposição ocupacional como fator de risco no câncer de cavidade oral e orofaringe no Estado de Goiás, Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, 37(2), pp. 82-87.

Ordem dos Médicos Dentistas. [Em linha]. Disponível em <http://www.omd.pt/>. [Consultado em 18/07/2015].

Ordem dos Médicos. [Em linha]. Disponível em <http://www.ordemdosmedicos.pt>. [Consultado em 27/07/2015].

Patel, S., Shah, J. (2005). TNM Staging of Cancers of the Head and Neck: Striving for Uniformity Among Diversity, A Cancer Journal for Clinicians,55(4), pp. 242-258.

Prieto, I., Fenech, A. e Martínez, A. (2006). Cancer oral, Med Clin (Bar), 127(7), pp. 258- 264.

Pereira, G. et alii. (2010). Clinical and histopathological diagnosis of the oral erythroplasia, MEDISAN, 14(4), pp. 433-438.

Petti, S. (2009). Lifestyle risk factors for oral cancer, Oral Oncology, Journal Elsevier ,45, pp. 340-350.

Avaliação do perfil de referenciação dos doentes com neoplasia oral para o Instituto Português de Oncologia do Porto no ano de 2013

Petersen, P. (2009). Oral cancer prevention and control – The approach of the World Health Organization, Oral Oncology, 45, pp. 454-460.

Rodrigues, T. et alii. (2000). Leucoplasias bucais: relação clínico- histopatológica, Pesqui

Odontol Bras, 14(4), pp. 357-361.

Registo Oncológico Nacional (2008). [Em linha]. Disponível em <http://www.roreno.com.pt/pt/publicacoes/publicacoes-nacionais.html>. [Consultado em 25/05/2015].

Registo Oncológico Nacional (2009). [Em linha]. Disponível em <http://www.roreno.com.pt/pt/publicacoes/publicacoes-nacionais.html>. [Consultado em 25/05/2015].

Registo Oncológico Nacional (2010). [Em linha]. Disponível em <http://www.roreno.com.pt/pt/publicacoes/publicacoes-nacionais.html>. [Consultado em 25/05/2015].

Registo Oncológico Nacional (2011). [Em linha]. Disponível em <http://www.roreno.com.pt/pt/publicacoes/publicacoes-nacionais.html>. [Consultado em 25/05/2015].

Registo Oncológico Nacional (2012). [Em linha]. Disponível em <http://www.roreno.com.pt/pt/publicacoes/publicacoes-nacionais.html>. [Consultado em 25/05/2015].

Registo Oncológico Nacional (2013). [Em linha]. Disponível em <http://www.roreno.com.pt/pt/publicacoes/publicacoes-nacionais.html>. [Consultado em 25/05/2015].

Santos, L, Batista, O e Cangussu, M. (2010). Characterization of oral diagnostic delay in the state of Alagoas, Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, 76(4), pp. 416-422.

Silva, M. et alii. (2009). Fatores Relacionados ao Atraso no Diagnóstico de Câncer de Boca e Orofaringe em Juiz de Fora/MG, Revista Brasileira de Cancerologia, 55(4), pp. 329-335.

Teixeira, A. et alii. (2009). Carcinoma Espinocelular da Cavidade Bucal: um Estudo Epidemiológico na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, Revista Brasileira de

Cancerologia, 55(3), pp. 229-236.

Varoni, E., Lodi, G e Iriti, M. (2015). Ethanol versus Phytochemicals in Wine: Oral Cancer Risk in a Light Drinking Perspective, International Journal of Molecular

Sciences, 16, pp. 17029-17047.

van der Vall, I. (2014). Oral potentially malignant disorders: Is malignant transformation predictable and preventable? Med Oral Patol Oral Cir Bucal, 19(4), pp. 386-390.

Wamakulasuriya, S. (2009). Global epidemiology of oral and oropharyngeal cancer, Oral

Oncology, 45, pp. 309-316.

World Health Organization. [Em linha]. Disponível em <http://www.who.int/en/>. [Consultado em 09/06/2015].

Yardimci, G. et alii. (2014). Precancerous lesions of oral mucosa, World Journal of

Avaliação do perfil de referenciação dos doentes com neoplasia oral para o Instituto Português de Oncologia do Porto no ano de 2013

Avaliação do perfil de referenciação dos doentes com neoplasia oral para o Instituto Português de Oncologia do Porto no ano de 2013

Avaliação do perfil de referenciação dos doentes com neoplasia oral para o Instituto Português de Oncologia do Porto no ano de 2013

Avaliação do perfil de referenciação dos doentes com neoplasia oral para o Instituto Português de Oncologia do Porto no ano de 2013

Anexo 4- Autorização do Trabalho de Investigação do Instituto Português de Oncologia do Porto - Pedido de listagens

Documentos relacionados