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Na análise da incompletude das informações relativas as notificações realizadas nos anos de 2010 a 2016, das fichas de Varicela Complicada, constataram-se algumas variáveis em branco/ignorado, dificultando a avaliação pormenorizada dos casos. O acesso a dados confiáveis permite verificar, as condições de internações, óbitos e variáveis epidemiológicas. A disponibilidade de informações com qualidade adequada favorece a análise da situação de saúde e as ações de planejamento das doenças infecto-contagiosa (MARQUES; OLIVEIRA; BONFIM, 2016). Meirelles, Lopes e Lima (2016) relatam que deve- se investir na qualificação dos profissionais e dos setores de vigilância epidemiológica envolvidos com a notificação e registro do agravo de forma que os serviços de saúde que fornecem esses dados possam estar preparados para evitar, detectar e reparar erros que porventura aconteçam em alguma fase da coleta, notificação e registro. A maior proximidade com os locais onde as notificações ocorrem poderia facilitar a identificação e a correção das falhas, diminuindo a incompletude, subnotificação ou a duplicidade de notificações, otimizando o desenvolvimento de políticas públicas capazes de diminuir seu impacto na saúde da população.

Destacamos que não houve predomínio de gênero em nosso estudo. Em uma pesquisa realizada no período de maio a outubro de 2005, em um hospital de Recife, observou uma maior prevalência nos casos de varicela entre o sexo masculino, com 53%, em relação ao sexo feminino, com 47% (p = 0,546) (ANJOS et al., 2009).

Considerando a caracterização sociodemográfica para os 1.635 casos registrados de varicela complicada, entre 2010 a 2016, a faixa etária de maior incidência foi de 1 a 4 anos com 789 (54,7%) casos, seguidos pela faixa etária de menores de 1 ano com um total de 291 casos (20,0%). Dos casos notificados, 57 evoluíram para óbito. A varicela no Brasil é responsável por uma média de 155 óbitos por ano, representando quase um óbito a cada dois dias pela doença, gera uma média de 34 internações por dia. Na população de crianças entre 1-4

anos, foi relatada uma média de nove internações por dia pela doença. Embora a maioria dos óbitos tenha ocorrido em crianças de 1-4 anos, a taxa de mortalidade é mais alta em neonatos com menos de 1 ano. Os dados sugerem que o risco de uma criança falecer de varicela é duas vezes maior em neonatos com menos de 1 ano do que em crianças de 1-4 anos. Contudo, a vacina SCRV no PNI é fornecida a crianças de 15 meses (MOTA; COSTA, 2016).

Tal como descrito na literatura, a origem da infecção, foi vinculada a domicílio e escolas e a imunização ainda é falha em mais de 40% da população estudada. Um estudo realizado em um hospital de Portugal, com uma amostra de 105 crianças internadas por varicela, 80 foram hospitalizadas com complicações desta doença, 16 por fatores de risco e 9 por manifestações sistémicas relevantes. Das crianças internadas, 71,4% eram previamente saudáveis e nenhuma tinha a vacina anti-varicela. O contexto epidemiológico apenas era conhecido em 44 crianças (41,9%). Houve transmissão escolar em 22 casos, intra-familiar em 21, e um dos casos ocorreu no centro de saúde (RATOLA, 2014).

Observou-se no estudo, complicações cutâneas secundárias a varicela, a celulite apresenta-se em 652 casos (44%), seguida do impetigo com 623 relatos (41,6). Um outro estudo relata complicações por varicela distribuídas por sistemas, observou-se que, dos 255 pacientes, 154 (60,4%) apresentaram complicações decorrentes da doença. Uma maior proporção por complicações dermatológicas foi representada por 119 casos (77,3%), sendo a celulite a complicação mais predominante (48,1%); em seguida, as doenças do aparelho respiratório, que constituíram a segunda complicação mais frequente. 4 casos (2,6%) evoluíram para septicemia referentes a outras complicações (ANJOS et al., 2009).

Em um estudo investigativo sobre a relação de granizo nos pulmões e varicela, descreve que o surgimento de múltiplas calcificações nodulares pequenas e difusas em ambos os pulmões, com linfonodos não calcificados, é uma sequela incomum de pneumonia por varicela (REA; COSTIGLIOLA E

CALABRESE, 2017). Complicações respiratórias, apresentaram no presente estudo um índice importante, dentre as complicações por varicela. A pneumonia é a mais frequente das complicações respiratórias e deve-se na maioria dos casos a infeção bacteriana ou ao próprio vírus VVZ (o que ocorre raramente na criança). Relativamente às complicações respiratórias (n=12), as idades estavam compreendidas entre seis meses e oito anos (mediana de 23 meses). Destes, nove apresentavam pneumonia e três crianças agudizações de asma. Derrame pleural de grande volume e atelectasia do campo pulmonar direito foram as complicações registadas em dois dos casos de pneumonia (RATOLA, 2014).

O presente estudo apresentou a complicação neurológica, encefalite como implicações neurológicas graves, conforme estudos observacionais sobre as complicações por varicela. Corti et al. (2015) realizam um estudo em um hospital na Argentina, observando quadro clínico de pacientes com complicações neurológicas recorrente do vírus varicela-zoster (VVZ) relacionado ao comprometimento do sistema nervoso central (SNC), concluindo que, a reativação do VZV no SNC é uma complicação grave e potencialmente fatal em pacientes. Os infectologistas devem considerar a presença de DNA VZV em LCR concomitantemente com outros vírus, ou simultaneamente com a ocorrência de complicações neurológicas do HIV, na presença ou ausência de lesões mucocutâneas de VZV.

Sobre as demais complicações, neste estudo, destacam-se a hematológica 70 casos (4,6%), hepáticas 29 casos (1,9%) e cardíaca com 20 casos (1,3%). Verificou-se um caso de complicação hematológica – púrpura trombocitopénica (plaquetas: 5x1012/L) numa criança de três anos. Não respondeu ao tratamento imunomodulador com imunoglobulina, tendo tido necessidade de efetuar corticoterapia. Dentro das complicações mais raras salientam-se as hematológicas, nomeadamente a púrpura trombocitopénica (RATOLA, 2014). Destaca-se que não há muitos relatos na literatura sobre estas notificações.

No período pré-vacinação, a varicela sempre foi associada a um número significativo de óbitos e internações. A introdução do SCRV no PNI criou expectativas de um impacto positivo, principalmente sobre crianças. Portanto a vacinação contra a varicela é totalmente justificada no país sendo necessário acompanhamento epidemiológico dos casos de varicela complicada nos próximos anos possibilitando discutir a inclusão de uma segunda dose de vacina contra a varicela no PNI (MOTA; COSTA, 2016). No presente estudo, sugere-se que a diminuição da taxa de incidência após 2014 pode ter sido recorrente a cobertura vacinal, porém há necessidade de ter um maior período de estudo pós vacinal fomentando dados reais do impacto indireto da vacinação em Minas Gerais. Recomenda-se o incentivo de pesquisas científicas no sentido de avaliar o benefício do uso da vacinação, para que todas as unidades federativas implementem a investigação epidemiológica, otimizem os dados de investigação e fundamente as decisões sobre as estratégias de vacinação contra a varicela no Brasil, visto que a doença pode apresentar um número de complicações importantes e óbitos (ANJOS et al., 2009).

Este estudo apresenta como limitação o uso de dados secundários, de abrangência estadual, o que impossibilita a busca por informações incompletas ou ausentes. O curto período de implantação da vacina no PNI, dificultou a verificação de relação entre incidência da doença e cobertura vacinal.

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