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A biomassa de G. birdiae não apresentou uma variação sazonal bem definida ao longo do estudo. No entanto, ao comparar os dois períodos estudados (chuvoso/seco) foi observada uma leve redução da produtividade nos meses em que foram registrados os maiores valores de precipitação pluviométrica. Apesar da relação entre esses dois parâmetros, nenhuma correlação significativa foi observada. Nas Filipinas, Luhan (1992), observou o mesmo padrão de variação para G. heteroclada. No entanto, ele observou que havia perda de biomassa durante o período de grandes tempestades naquela região. A ausência de um modelo sazonal marcante em espécies de Gracilaria de regiões tropicais já foi observada anteriormente por outros autores (Pondevida & Hurtado-Ponce, 1996; Marinho-Soriano et al., 2001). Em geral esse comportamento tem sido explicado pela constância dos parâmetros ambientais ao longo do ano, fator característico de águas tropicais.

O crescimento de espécies do gênero Gracilaria pode diferir de uma área à outra, dependendo da variação dos parâmetros ambientais. Nesse estudo pode-se observar que o crescimento apresentou praticamente a mesma evolução da biomassa com valores ligeiramente mais elevados no período chuvoso. Os valores médios de 4,4% d-1 (período chuvoso) e 4,3% d-1 (período seco), foram superiores aos encontrados por Marinho-Soriano (2005), para a mesma espécie em estudos realizados em mar aberto e em estuário (Marinho- Soriano et al., 2006). Valores semelhantes foram encontrados por De Casabianca et al., (1997), para G. bursa-pastoris no sul da França e Wakibia et al., (2001) para G. gracilis na África do Sul.

O valor máximo de crescimento registrado nesse estudo, coincidiu com o aumento da concentração do amônio na água, demonstrando a influência desse parâmetro sobre a produtividade da espécie. Esta observação foi comprovada através da correlação positiva registrada entre a concentração do íon amônio e a variável biomassa (r=0,39; p<0,01) e TCR (r=0,40; p<0,01). Resultados similares foram encontrados por Gleen et al., (1998) no Havaí. Eles demonstraram que os talos de G. parvispora expostos a altas concentrações de amônio respondiam com um imediato aumento na biomassa e crescimento. O efeito de nutrientes, e em especial das formas nitrogenadas sobre o crescimento de macroalgas, tem sido descrito por vários autores (Nelson et al., 2001; Yang et al., 2005; Yang et al., 2006), como de fundamental importância para o desenvolvimento das espécies. Esses estudos também

cultivo de Gracilaria em larga escala a partir de taxas de crescimento acima de 5% dia , o que está em acordo aos resultados obtidos no presente estudo (média superior a 4% dia-1).

Vários estudos têm demonstrado que a variação no rendimento e qualidade do ágar é dependente da estação do ano, condições ambientais e ciclo de vida (Lahaye & Yaphe, 1988; Chirapart & Ohno, 1993; Marinho-Soriano et al., 1999a). Com relação a esse estudo, foi observada uma variação significativa (p<0,001) entre os dois períodos estudados, com valores máximos registrados no período chuvoso (22%), e mínimos no período seco (16%). O maior pico ocorreu no mês de junho e o menor no final do mês de agosto. Esta variação pode ser atribuída aos diferentes procedimentos de extração (Marinho-Soriano et al., 1999b), diferenças genéticas entre as populações ou as diferentes condições ambientais as quais estiveram submetidas as algas antes da colheita. Mudança do rendimento do ágar em relação às estações do ano, também foi mencionada em estudos realizados anteriormente (Buriyo &. Kivaisi, 2003).

A espécie G. birdiae apresentou uma média de rendimento de ágar modesto, quando comparado ao rendimento de outras agarófitas congêneres, que são tradicionalmente empregadas na indústria de ficocolóides, tais como G. edulis (Nelson et al., 1983), G.

chilensis (Matsuhiro & Urzúa, 1990) e G. bursa-pastoris (Marinho-Soriano, 1999b). Os

valores de rendimento alcançados nesse estudo foram bem próximos aos obtidos por Montaño et al., (1999) para G. arcuata, nas Filipinas, e por Araño et al., (2000), para G. firma, também nas Filipinas. Apesar dos modestos valores encontrados, G. birdiae apresentou uma produção de ágar superior à encontrada para G. heteroclada (Luhan, 1992) e G. gracilis (Rebello et al., 1996).

O rendimento do ágar também varia em resposta as mudanças dos parâmetros ambientais na água. No presente estudo, foi observado uma diminuição da produção do ágar quando a concentração do amônio se encontrava no seu nível mais alto. Esta relação ficou bastante evidenciada através da correlação negativa entre produção de ágar e concentração do íon amônio (r= -0,58; p<0,01). Nessa ocasião, foi observada também uma correlação negativa entre o rendimento do ágar e a salinidade (r=-0,33; p<0,05).

A força do gel é um parâmetro utilizado pela indústria para classificar a qualidade do ágar. Em geral, espécies de Gracilaria produzem ágar de qualidade inferior em relação a espécies de Gelidium e Pterocladiella. Isso ocorre porque o ágar produzido por espécies de

Gracilaria, normalmente apresentam um grande conteúdo de sulfato (Perez et al., 1992).

Assim como para o rendimento do ágar, a força do gel também apresentou os valores mais elevados na estação chuvosa (750 g cm2). Tal variação pode ser atribuída às mudanças ambientais como anteriormente observada por Marinho-Soriano & Bourret (2003). No período seco, G. birdiae apresentou a menor força do gel, este comportamento pode está relacionado ao conteúdo interno de nitrogênio nos tecidos algais que por sua vez, apresenta uma relação com o peso molecular do polímero (Bird, 1988).

De acordo com os resultados obtidos, os valores de crescimento alcançados por G.

birdiae foram bastante satisfatórios e pode ser usado como referência para a implantação de

cultivos em escala comercial. Além disso, os dados obtidos sobre o rendimento e qualidade do ágar (força do gel), demonstra que a alga tem potencial para ser utilizada pela industria de ficocolóides como produtora de ágar.

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CAPÍTULO 2

AVANÇOS E DESAFIOS DA IMPLANTAÇÃO DE UM PROJETO DE

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