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EXPRESSÃO DE C-KIT COMO CRITÉRIO DE DIFERENCIAÇÃO DOS MASTOCITOMAS CUTÂNEOS CANINOS

5. Discussão e Conclusão

O maior percentual geral de animais acometidos foi SRD (25%), uma vez que estes representam a maior população de cães encaminhados ao Hospital Veterinário da FMVZ, Unesp, Botucatu. No entanto quando se consideram apenas cães com raça definida o Boxer, Pitt Bull e Pinscher também apresentaram uma alta incidência de mastocitomas, assim como demonstra a literatura (ROGERS, 1996; GROSS et al. 2005).

Não houve diferença entre o sexo dos animais acometidos por mastocitomas, onde 17 (38%) eram fêmeas e 28 (62%) eram machos. A maioria dos animais (22 cães) acometidos pela neoplasia era adulta, dos 4 aos 8 anos, fatos esses que também estão de acordo com a literatura (ROGERS, 1996; GROSS et al. 2005).

A classificação histopatológica dos mastocitomas cutâneos caninos é o critério mais importante na determinação do estágio e escolha da terapia,

44 sendo a quimioterapia recomendada para cães com mastocitomas de alto grau (grau III) e não para os de baixo grau (grau I) (NORTHRUP et al., 2005).

A coloração de azul de toluidina (AT) nem sempre marca os grânulos de mastócitos e os tumores indiferenciados podem não apresentar granulações citoplasmáticas, por isso é necessária a realização da técnica de imunoistoquímica com o anticorpo CD117.

A imunomarcação com CD117 permitiu a confirmação diagnóstica de casos duvidosos nas colorações de HE e AT.

Em estudo realizado por Zemke et al. (2002), a intensidade de marcação dos mastocitomas foi maior em graus menos diferenciados da neoplasia, mostrando que estes devem apresentar uma alteração gênica mais significativa para o aumento da produção e consequentemente expressão do onco-gene c- KIT. No entanto, neste trabalho observaram-se resultados discordantes, onde os mastocitomas grau I apresentaram os maiores percentuais de tumores com +++ e ++++ de intensidade de marcação.

Contudo, devem-se considerar as limitações da técnica de imunoistoquímica, uma vez que o tempo de fixação da amostra interfere diretamente na intensidade de marcação dos diferentes anticorpos. Neste estudo, como utilizou-se material de arquivo não se pode aferir sobre o tempo de fixação de cada uma das amostras.

Ao avaliar a expressão de c-KIT, está sendo investigado um provável gene alterado, um proto-oncogene que se tornou um onco-gene, com isso já é de se esperar que a produção da proteína KIT esteja intensificada, levando a uma progressão maior da neoplasia e assim levando á um pior prognóstico.

De acordo com Webster et al. (2007), mastocitomas mais indiferenciados tendem a apresentar um padrão de marcação citoplasmático, que está relacionado a um menor intervalo livre da doença e menor tempo de sobrevida. No caso dos mastocitomas diferenciados há um predomínio de marcação membranosa. Tal fato foi corroborado em nosso trabalho, onde foi encontrado um número maior de mastocitomas grau I com marcação membranosa, com um total de 86% (6 casos de 7). Mastocitomas grau II obtiveram um número maior de marcação citoplasmática, totalizando 79% (19 de 24), sendo destes 75% (18 de 24) de marcação citoplasmática difusa. Em mastocitomas grau III também, conforme a literatura, observou-se uma maior

45 expressão citoplasmática de c-KIT, com um total de 92% de marcação (11 de 12), sendo destes 42% (5 de 12) de marcação focal e 50% (6 de 12) de marcação difusa.

O comportamento biológico dos mastocitomas é muito variável, e a habilidade de se estabelecer um prognóstico preciso para tais tumores é comprometida pelo grande número de neoplasias de graus intermediários. Sendo assim, a avaliação imunoistoquímica, como demonstrado por Kiupel et

al. (2004) é de fundamental importância para definição de tal prognóstico.

Kiupel et al. (2004) propõem o uso do padrão de expressão do c-KIT como uma nova variável para classificação dos mastocitomas, uma vez que observaram a marcação membranosa em mastocitomas com melhor prognóstico clínico (sem recorrência e maior tempo de sobrevida) e marcação citoplasmática associada com aumento de recorrência e menor tempo de sobrevida.

A graduação baseada na coloração de HE com os parâmetros propostos por Patnaik et al. (1984) serviram como base até o momento, porém Kiupel et

al. (2004) e Northrup et al. (2005) ressaltaram que há uma ambigüidade no sistema de graduação histológica usado atualmente na classificação dos mastocitomas, o mesmo ocorreu neste estudo, principalmente nos mastocitomas grau II.

A graduação dos mastocitomas caninos tendo como base critérios morfológicos, não é a mais adequada quando se procura o estabelecimento de ferramentas prognósticas, devendo-se levar em consideração a correlação de aspectos morfológicos, moleculares, imunológicos e clínicos.

A realização da técnica de imunoistoquímica com o anticorpo primário anti c-KIT (CD-117) é de fácil execução e não necessita de amostras especialmente preparadas para esta técnica, o que torna viável seu uso rotineiro como auxílio na graduação dos mastocitomas e sua possível correlação com o prognóstico.

De acordo com o tipo de marcação pode-se tentar estabelecer uma classificação mais acurada, pois mastocitomas que apresentaram marcação citoplasmática focal foram classificados predominantemente em grau III, e os que apresentaram marcação membranosa foram predominantemente classificados como grau I, portanto mastocitomas grau II que apresentarem

46 marcação citoplasmática focal devem apresentar um comportamento biológico mais agressivo quando comparados aqueles com marcação citoplasmática difusa. Da mesma forma os mastocitomas grau II que apresentarem marcação membranosa devem possuir um comportamento biológico menos agressivos, podendo talvez ser inclusos no grau I.

Com isso pode-se subdividir os mastocitomas grau II em três categorias, o mastocitoma grau II com marcação membranosa, menos agressivo, podendo ser incluso no grau I, o mastocitoma com marcação citoplasmática difusa, sendo o de agressividade moderada e os com marcação citoplasmática focal, esses com comportamento biológico mais agressivo e talvez devessem ser classificados como grau III.

A coloração pelo método de HE, onde a morfologia da neoplasia é avaliada, ainda é o melhor método de classificação dos mastocitomas, no entanto a técnica de imunoistoquímica, onde o padrão de marcação de c-KIT é demonstrado, serve como uma ferramenta extremamente importante para auxiliar em casos dúbios (que ocorrem frequentemente nos mastocitomas grau II) e estabelecer portanto um prognóstico acurado da neoplasia.

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6. Referências

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EXPRESSÃO DE PGE2 E VEGF EM MASTOCITOMAS CUTÂNEOS

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