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De forma similar à apresentação dos resultados dessa pesquisa e visando tornar a leitura mais facilitada, esse capítulo é composto de três tópicos: caracterização sócio-familiar e demográfica dos entrevistados, conhecimentos dos entrevistados sobre a Fisioterapia, e percepções dos entrevistados quanto às suas principais necessidades em relação à atuação do fisioterapeuta.

6.1 Caracterização sócio-familiar e demográfica dos entrevistados

As pessoas entrevistadas concentraram-se na faixa etária de 18 a 39 anos, em todas as Microáreas dessa pesquisa, correspondendo a 50% dentre os pesquisados e estando em conformidade com os dados encontrados nos relatórios do SIAB de consolidação das famílias cadastradas do ano de 2008. Nesse documento, todas as Microáreas apresentaram mais de 30% dos seus indivíduos nessa faixa etária. Também foi verificado que 66,5% dos entrevistados apresentavam de 20 a 50 anos, número que é semelhante ao do estudo de Ferri (2006), realizada nessa mesma USF, ao constatar que 68% da população adscrita tinham essa faixa de idade.

Nessa mesma direção, vem a constatação de que os indivíduos da Microárea III demonstraram ser mais velhos em relação às demais, com 55% deles com mais de 50. Esse dado pode ser confirmado através do documento da SIAB, em que, também, se verifica essa relação, apresentando 26% da população dessa Microárea, com mais de 50 anos.

No tocante ao sexo, a população entrevistada foi essencialmente feminina, configurando 82% dos entrevistados, valor semelhante aos 80% encontrados na pesquisa de Ferri (2006), embora o documento do SIAB demonstre equilibro entre a presença de ambos os sexos em todas as Microáreas, com cerca de 50% para cada opção. Nesse particular, vale à pena salientar que, no intuito de apresentar uma população mais próxima da realidade, a aplicação do questionário ocorreu nos fins de semana, quando haveria maior chance de se encontrar todos os membros da família em casa. Mesmo assim, apresentou-se esse predomínio do sexo feminino, que foi referido à pesquisadora pelos próprios entrevistadores, que afirmaram que as mulheres se mostraram mais solícitas em responder as entrevistas e em se ocupar das questões da saúde familiar.

Dessa mesma forma, a pesquisa de Jorge et al. (2007) não só demonstrou maior demanda de pessoas do sexo feminino nas USF dos municípios do Ceará, como também

atribuiu às mulheres maior responsabilidade em procurar atendimento para seus familiares e/ou amigos na sua comunidade, considerando-as boas avaliadoras de serviços de saúde.

Os entrevistados, em sua maioria, se declararam pardos (59,6%), de religião católica (54,2%) ou evangélica (38,2%), moravam com companheiros (58%) e trabalhavam no próprio lar (41%) ou como prestadores de serviços, em geral (33%). Essas ocupações não exigiam alto grau de escolaridade, já que 78% desses apresentavam no máximo, o ginásio incompleto. A baixa escolaridade e o tipo de ocupação da maioria dos entrevistados são aspectos que reafirmam a predominância de pessoas das classes econômicas C e D nesse estudo (86%). Ressalta-se que nessa pesquisa, 4% e 2% dos entrevistados, respectivamente, da Microárea I e V foram categorizados como pertencentes à classe econômica A. No entanto, na população da área de abrangência da UBDS do Sumarezinho não consta indivíduos que ocupem essa classificação econômica (informação verbal) 2. Uma vez que não se trata de uma porcentagem pequena, essa discrepância se torna irrelevante, já que em ABEP (2008) está descrito a possibilidade de ocorrer erro de classificação, mas pouco numeroso de forma a não distorcer significativamente os resultados investigados.

Dos entrevistados, o tempo de moradia na área adstrita a USF predominou entre 6 e 10 anos (28%), novamente com exceção da Microárea III, onde prevaleceu os que moravam na área há 20 anos ou mais (48%). Através dos dados, pôde-se, ainda, verificar que 66% dos entrevistados moravam nesse local há, no mínimo, seis anos. Considerando que a Unidade estudada foi implantada em 2001, há sete anos, concluí-se que a maioria dos entrevistados acompanhou o seu desenvolvimento e, por isso, agregam condições favoráveis para responder corretamente essa e outras pesquisas lá desenvolvidas.

A presença de pessoas portadoras de deficiência física ou doenças graves na família foi mencionada por apenas 7% dos entrevistados, com maior índice na Microárea III (17%). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 10% da população de qualquer país é constituída de pessoas com deficiência, e atribui 2% desses aos deficientes físicos (BRASIL, 2003). Assim, percebe-se que, em todas as microáreas, essa porcentagem é igual ou superior ao estimado. No entanto, salientamos que, em nosso estudo, nesse percentual estão, também, incluídas pessoas com doenças graves.

Especificamente em relação a Ribeirão Preto, o Estudo de Prevalência de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens realizadas em 1996, constatou que 4,3% das

2

Informação fornecida pelo Professor Doutor Altacílio Aparecido Nunes, atual Coordenador do Núcleo de Saúde da Família IV da UBDS Sumarezinho, em Ribeirão Preto, em 2008.

pessoas pesquisadas são suspeitas de apresentar deficiências ou incapacidades. No bairro do Sumarezinho, onde está localizada a Unidade estudada, a prevalência de deficiência constatada por uma equipe multiprofissional foi de 1,8% (RIBEIRÃO PRETO, 2008c). O fato da presente pesquisa ter obtido percentuais maiores pode ser justificada pelo uso do método de deficiência auto-referida, por incluir doenças graves e, também, porque aquele estudo não retrata a realidade atual, já que foi realizado há 12 anos.

Os entrevistados da Microárea III apresentaram algumas características peculiares e que podem ser importantes para a discussão nos próximos tópicos desse capítulo. Contaram com indivíduos de idade mais avançada, moravam a mais tempo na área adstrita à unidade estudada, e apresentavam maior número de familiares portadores de deficiência física ou doenças graves.

6.2 Conhecimentos dos entrevistados sobre a Fisioterapia

A maioria dos entrevistados, em todas as Microáreas, já ouviu falar em Fisioterapia (90%), fato bastante importante, visto tratar-se de uma profissão relativamente nova, embora não suficiente para garantir a qualidade dos conhecimentos construídos sobre a Fisioterapia.

Nessa divulgação, os profissionais de saúde tiveram um importante papel (51% dos entrevistados ouviram por meio desses), o que aponta para um dado essencial, visto que os profissionais da ESF necessitam ter conhecimentos sobre Fisioterapia para que possam detectar, na população, situações que exijam a atuação do fisioterapeuta e, assim, encaminhar as pessoas para os serviços existentes. A pesquisa de Aguiar (2005) constatou que um em cada três dos profissionais das ESF da área da UBDS do Sumarezinho apresenta um bom grau de conhecimento sobre a atuação do fisioterapeuta.

Essa mesma pesquisa de Aguiar (2005) mencionou, também, que a Unidade em estudo já contou com a atuação de um fisioterapeuta, mas de forma voluntária, em média de apenas uma vez na semana, e voltada para reabilitação, realizando, principalmente, atividades domiciliares e individuais. Mesmo com atuação descontínua, esse pode ser um aspecto importante para que os entrevistados já tenham ouvido falar em Fisioterapia e por meio de profissionais de saúde. No entanto, o tipo de atividade realizada também pode ter influenciado uma idéia restrita do campo de atuação do fisioterapeuta.

Os meios de comunicação, também, representaram um aspecto importante na disseminação de informações sobre a Fisioterapia, visto que foram mencionados por 41% dos entrevistados. Para nós, esse dado foi surpreendente, ao considerarmos que ainda não há uma

mobilização efetiva dos Conselhos e Órgãos responsáveis pela divulgação da Fisioterapia para a sociedade, havendo poucas campanhas publicitárias veiculadas nos meios de comunicação. No entanto, o número de cursos de Fisioterapia é crescente em todo o país. Em Ribeirão Preto, há uma faculdade estadual e quatro particulares que oferecem esse curso e, portanto, o divulgam diretamente, pelos meios de comunicação; ou indiretamente, através de eventos em praças públicas, shoppings, etc. com ações sociais em que são realizados exames simples (pressão, diabetes, etc.), exercícios e orientações.

A maioria dos entrevistados referiu que gostaria de saber mais sobre a Fisioterapia, (70%). Provavelmente, esse fato relaciona-se à divulgação sobre a Fisioterapia que ainda é superficial e, muitas vezes, de caráter mais comercial, como a relacionada aos eventos das faculdades. Ao mesmo tempo, ratifica-se o interesse da população sobre o assunto, já que apenas 3% dos entrevistados demonstraram não achar necessário saber sobre o tema. A soma dos entrevistados que auto-avaliaram não ter qualquer conhecimento sobre a Fisioterapia com os que não souberam responder esta questão equivale a 18%, sendo inferior ao encontrado na pesquisa de Blascovi-Assis e Peixoto (2002), que constataram que 35,2% dos pacientes de Fisioterapia não tinham conhecimento algum sobre esse assunto, antes de iniciar o tratamento. Na apresentação dos resultados, constatamos a grande semelhança nas respostas das questões “o que é Fisioterapia?” e “para que serve a Fisioterapia?”, tanto em relação às categorias existentes, quanto às respectivas porcentagens. Por isso, optamos em abordá-las juntas.

Nessas duas questões, a categoria mais mencionada foi a que vinculou a Fisioterapia a uma forma de reabilitação e/ou tratamento. Em contrapartida, a prevenção foi citada, apenas, por 4% dos entrevistados em ambas as questões. Esses dados retomam o estigma essencialmente reabilitador que acompanha a Fisioterapia desde sua origem. Na pesquisa de Blascovi-Assis e Peixoto (2002), também, foi constatado que 53,9% dos usuários de um serviço de Fisioterapia a relacionavam à reabilitação, recuperação, recursos para evitar cirurgias, exercícios ou forma de tratamento. No entanto, salientamos que o conceito atual de Fisioterapia é bem mais amplo e não se restringe ao tratamento e reabilitação, considerando-a como uma Ciência da Saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, causados por alterações genéticas, traumas e doenças adquiridas (COFFITO, 2008). Contudo, destacamos que ações preventivas podem ser feitas, também, junto a atividades de tratamento e reabilitação.

Ainda sobre essas duas questões, a segunda categoria mais mencionada pelos entrevistados foi a que incluía exercício e/ou massagens. Viana et al. (2003) também

constataram essa associação em um estudo em que 54% dos pacientes atendidos em um serviço de Fisioterapia associaram o tratamento fisioterápico à utilização de exercícios, ginástica e movimento. No entanto, esses pesquisados se referiram à Fisioterapia como um trabalho de nível técnico.

Esse vínculo da Fisioterapia com o exercício está fundamentado, já que para Hall e Brody (2001), o exercício terapêutico é um elemento central presente na maioria das atividades fisioterápicas, com o objetivo de aprimorar a função e reduzir uma incapacidade. Kisner e Colby (2005) acrescentam que o exercício é uma das ferramentas-chave utilizadas pelo fisioterapeuta para restaurar e melhorar o bem-estar musculoesquelético ou cardiopulmonar do paciente.

A terceira categoria mais mencionada relacionou a Fisioterapia aos benefícios à saúde em geral, destacando que para esses entrevistados a Fisioterapia apresenta impacto positivo nas condições físicas ou mesmo de vida.

A relação da Fisioterapia com a psicoterapia ou aspectos similares foi pouco cotada. No entanto, optamos por discuti-la já que é um indicativo de que alguns entrevistados confundam o papel do fisioterapeuta com o do psicólogo, necessitando, portanto, de maior esclarecimento sobre essas duas profissões. Outra hipótese leva em consideração o grande vínculo que existe entre o fisioterapeuta e seus clientes ou pacientes, uma vez que os serviços de Fisioterapia necessitam de regularidade e continuidade para serem eficazes, permitindo o estabelecimento de vínculos positivos entre profissionais e usuários.

Verificou-se que 90% dentre os pesquisados consideraram a Fisioterapia muito importante. Fato esse que, provavelmente, justifica o interesse dos mesmos em saber mais sobre a Fisioterapia, como constatado anteriormente.

A maioria dos entrevistados de todas as Microáreas considerou o exercício e/ou massagem (45%) e os aparelhos e agentes elétricos e/ou térmicos (44%) como principais recursos que o fisioterapeuta utiliza. Possivelmente, foi esse conhecimento sobre o constante uso do exercício como recurso fisioterápico que influenciou os entrevistados a responderem “o que é Fisioterapia?”, abordando-o. Na ausência de pesquisa similar, citamos o estudo de Blascovi-Assis e Peixoto (2002) que se diferenciou por entrevistar indivíduos que estavam em atendimento fisioterápico. Nesse estudo, verificou-se que o recurso mais utilizado também foi o exercício, categorizado como cinesioterapia (73,3%), seguido da eletroterapia (60,52%). Diante da semelhança das respostas, podemos inferir que o conhecimento dos entrevistados da presente pesquisa sobre os recursos da Fisioterapia são equivalentes aos recursos utilizados na prática do atendimento.

No tocante às pessoas ou situações que precisam de Fisioterapia, a maioria dos entrevistados (76%) mencionou a categoria de “deficientes físicos, lesão e/ou algias músculo- esquelético”. Essa resposta pode ser justificada, de forma generalizada, pelos estudos que indicam a superior demanda de encaminhamento fisioterápico dos pacientes de ortopedia. As pesquisas de Viana et al. (2003) indicaram que 43% dos pacientes atendidos em um serviço de Fisioterapia apresentavam diagnóstico de ortopedia. No estudo de Blascovi-Assis e Peixoto (2002), em Sorocaba, esse número correspondeu a 94,7%. Para esses autores, a ortopedia inclui: traumatismos, lesões músculo-ligamentares, alterações posturais, etc.

A segunda categoria mais mencionada das pessoas ou situações que precisam de Fisioterapia foi a que abrangia “acamados, idosos, ou doenças geriátricas” (31%). Supõe-se que esse fato seja resultante de uma visão cultural do idoso como um indivíduo doente. No entanto, Cianciarullo et al. (2002) indicam que a velhice não pode ser considerada como sinônimo de doença, mesmo sabendo que o aumento da idade é diretamente proporcional ao aumento do risco de comprometimento funcional e a conseqüente perda de qualidade de vida.

Salientamos ainda que a categoria de pessoas sadias só foi referida por 2% dos entrevistados, retomando o grande vínculo da Fisioterapia com o tratamento e a reabilitação, já mencionado. Para Botomé e Rebellato (1999), a origem dessa profissão fez com que a Fisioterapia não apresentasse uma nítida definição do seu objeto de estudo ou de sua intervenção, gerando um foco de atenção maior na doença e suas seqüelas, e conseqüentemente, limitando a atuação fisioterápica ao tratamento e à reabilitação do indivíduo.

Em relação ao lugar ode fisioterapeuta trabalha, o hospital foi o mais mencionado (59%), seguido pela clínica (42%). Esses são locais em que predominam a demanda por tratamento e reabilitação, novamente estabelecendo a ligação entre a Fisioterapia e ações com essa finalidade. O posto de saúde foi citado por 38% dos pesquisados. Essa resposta surpreende porque a atuação do fisioterapeuta nas USF ainda encontra-se em consolidação e, atualmente, no município de Ribeirão Preto, não há presença desse profissional atuando diretamente nessas unidades. É valido lembrar que na área pesquisada já houve atuação de um fisioterapeuta de forma voluntária e que os entrevistadores desse estudo eram os agentes de saúde da família, fatores que podem ter influenciado a resposta.

O tipo de atividade, mais mencionada, que o fisioterapeuta realiza foi a de forma individual (51%), mas com pouca diferença em relação às atividades de grupo (48%). Essa resposta pode estar relacionada ao número de atividades dessa natureza empregada na Unidade em estudo (grupos com gestantes; de atividade física; de reeducação alimentar e de

saúde da mulher) e a sua adesão pela população. Consideramos esse dado importante porque as atividades de grupo, muitas vezes, estão associadas à promoção da saúde e prevenção de agravos. Para essas finalidades, as atividades de grupo são estimuladas pela EsSF, sendo constantemente empregadas, também, por fisioterapeutas que atuam junto à comunidade, como demonstram algumas pesquisas.

Para Ribeiro (2002), o trabalho de grupo tem-se mostrado uma boa possibilidade de atuação da Fisioterapia na atenção básica, já que se adequa às necessidades dos usuários e à disponibilidade de profissionais e, por isso, representa uma estratégia de atender a uma demanda reprimida. Essa atuação foi verificada na pesquisa de Viana et al. (2003), realizada no Centro de Saúde São Gabriel, ao constatar que 67% dos usuários dos serviços de Fisioterapia foram encaminhados para atividades de grupo.

A atividade domiciliar do fisioterapeuta foi citada por 36% dos entrevistados. Consideramos esta uma relação entre o atendimento domiciliar e a dificuldade de deslocamento que algumas doenças ou situações acarretam. Para Ragasson et al. (2006) o fisioterapeuta apresenta aptidões e competências inerentes à sua formação profissional, e uma delas é realizar atendimentos domiciliares em pacientes portadores de enfermidades crônicas e/ou degenerativas, pacientes acamados ou impossibilitados. Ribeiro (2002) também considera este tipo de atendimento imprescindível, principalmente, na atenção básica, para a assistência de pessoas que precisam da Fisioterapia e não podem se deslocar ao serviço. E acrescenta que esse atendimento requer do profissional uma maior disponibilidade de tempo, pois, além do tempo necessário ao deslocamento ao domicílio do indivíduo, há a necessidade de adaptação dos procedimentos às condições do ambiente.

As ações de educação em saúde foram mencionadas por apenas 9% dos entrevistados. Assim, pôde-se supor que a maioria dos pesquisados não consideraram que essas atividades façam parte do âmbito da Fisioterapia. No entanto, para Ragasson et al. (2006), a Fisioterapia apresenta missão essencial através da aplicação de meios terapêuticos físicos, na prevenção, eliminação ou melhora de estados patológicos do homem, na promoção e na educação em saúde.

Outra justificativa para esse baixo índice relativo às ações de educação em saúde é a pouca valorização dessas atividades por parte dos entrevistados. A pesquisa de Ferri (2006), realizada na mesma UFS desse estudo, constatou que 66,2% dos usuários procuravam os serviços dessa unidade visando a uma consulta médica e 25%, para acompanhamento, prevenção e promoção da saúde. Então concluímos que a maioria dos entrevistados dessa pesquisa ainda apresenta em sua concepção de saúde resquícios importantes do modelo

hospitalocêntrico, curativo e reabilitador, ao mesmo tempo em que também observamos uma significativa adesão às ações de promoção e prevenção.

Embora os resultados dessa pesquisa tenham indicado que os usuários da Microárea III apresentaram algumas especificidades em relação às demais, o fato de apresentarem idade mais avançada e terem maior número de entrevistados com presença, na família, de portadores de deficiências físicas ou doenças graves, poderia levar a uma maior necessidade de atendimento visando ao tratamento e à reabilitação, mas observou-se, justamente, o contrário. Os entrevistados dessa Microárea, ao responderem à questão “para que serve a Fisioterapia”, enfocaram mais os benefícios à saúde, em geral, e prevenção, como também, foram os únicos a indicar indivíduos sadios como pessoas ou situações que precisam de Fisioterapia. Assim, consideramos que esses indivíduos, mesmo apresentando necessidades relacionadas ao tratamento e reabilitação, atribuem importância maior à prevenção de doenças ou agravos em relação aos indivíduos das outras Microáreas, que são mais jovens e apresentam menos familiares com deficiência física ou doença grave.

6.3 Percepções dos entrevistados quanto às suas principais necessidades em relação à atuação do fisioterapeuta

Os entrevistados, em sua maioria, (98%) consideraram necessária a inclusão do fisioterapeuta na equipe da USF em que eles estão cadastrados. Vale destacar que, durante a entrevista, os entrevistadores, agentes comunitários de saúde, não citaram tratar-se de pesquisa realizada por fisioterapeuta.

A grande porcentagem de usuários que achou necessária a inclusão do fisioterapeuta na EsSF pode estar relacionada à demanda existente, à grande dificuldade de acesso à esses serviços, à atuação anterior de um fisioterapeuta voluntário nessa unidade, e às atitudes dos demais profissionais da saúde que valorizam a atuação do fisioterapeuta, conforme mostraram os resultados da pesquisa de Aguiar (2005), onde 48,6% dos profissionais das ESF do Sumarezinho acharam necessária essa inclusão e apresentaram bom conhecimento e atitudes em relação à Fisioterapia.

Silva et al. (2006), em estudo com ESF de Florianópolis, constataram que a inclusão de outros profissionais nessas equipes, depende, principalmente, das ações de educação em saúde realizadas por parte dos membros já inseridos, que teriam a função de mostrar para a população a necessidade de outras categorias profissionais, objetivando a realização de um atendimento integral. Para esses autores, o usuário não consegue identificar que profissional

poderia melhor atender à sua necessidade e, por isso, procura os que estão ao seu alcance na USF. Dessa forma, a equipe mínima acaba executando funções que não lhe cabem especificamente e, assim, contribui para aumentar a opacidade em relação às limitações que sua atual composição acarreta para a população.

Entre os entrevistados que consideraram necessária a inclusão do fisioterapeuta na ESF, 84% justificaram sua opinião, tendo em vista suprir as necessidades instaladas na população e facilitar o acesso e melhorar as condições de acessibilidade a esses serviços. Consideramos que essa seja uma justificativa plausível visto que a prática assistencial nas Unidades de Saúde de Ribeirão Preto indica que o tempo médio para se obter consulta de Fisioterapia atinge um ano.

Em relação a esse fato, a pesquisa de Lins (2003) realizada em Recife-PE constatou

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