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CAPÍTULO 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.3 Discussão

Oliveira (1999) e Oliveira & Carneiro (2001) subdividiram o Complexo Metamórfico Campo Belo em seis unidades litodêmicas, sendo três delas gnáissicas, uma anfibolítica, uma supracrustal (vulcâno-sedimentar) e uma máfica fissural.

De acordo com esses autores, essas unidades foram geradas no decorrer de cinco eventos tectonotermais. O primeiro evento está relacionado ao período de formação do protólito das unidades gnáissicas. O segundo está relacionado a um evento extensional com posterior deposição da unidade vulcâno-sedimentar. O terceiro evento, de alto grau metamórfico e considerado o mais importante, foi o responsável pelo rigoroso processo de migmatização que afetou a região. O mesmo evento foi o responsável pela geração da Zona de Cisalhamento Cláudio com cinemática transpressiva destral. Em termos geocronológicos, esse evento deveria ser anterior a 2658 Ma, pois essa foi a idade encontrada por Pinese (1997), para os diques de gabronorito indeformados da região de Lavras. O quarto evento foi caracterizado como fraturamento crustal e colocação da unidade máfica fissural que corta as unidades arqueanas. Esses diques são indeformados, apresentam grau metamórfico incipiente e são correlatos aos diques estudados por Pinese (1997). O quinto evento foi o retrometamorfismo regional para xisto verde.

Com os novos dados geoquímicos apresentados nesta tese, o padrão geoquímico das rochas félsicas do Complexo Metamórfico Campo Belo, principalmente em se tratando dos gnaisses de fácies granulito (enderbitos) e charnoquitos, mostra particularidades distintas se comparados com metagranitóides arqueanos típicos ou com a média das crostas superior e inferior e crosta total. Observam-se também uma grande mobilidade para alguns dos elementos traços incompatíveis (e.g. Cs, Rb, U, Nb, Ta e W). Essa mobilidade seria causada por desidratação devido ao aumento de temperatura, atingindo a fácies granulito.

Os elementos Nb e Ta, por exemplo, são considerados imóveis no decorrer dos processos de desidratação crustal por aumento de temperatura e perda de fluídos. Entretanto, as rochas do Complexo Metamórfico Campo Belo são empobrecidas nesses elementos e as razões Nb/Ta são altíssimas sendo comparadas com alguns eclogitos (ver Capítulo 3). Disso conclui-se que os enderbitos e charnockitos, em questão, não são formados, exclusivamente, de componentes oriundos

da crosta inferior, como mencionado por vários autores (e.g. Harris & Bickle 1989, Santosh et al. 1991a, b, Rudnick & Fountain 1995, Kramers & Tolstikhin 1997, Satish-Kumar & Santosh 1998). Mesmo porque, se assim fosse, as rochas estudadas deveriam ser empobrecidas nos heat production

elements (U, K e Th) o que não é o caso, a excessão do U. Sendo assim, possivelmente, formação dos

enderbitos e charnockitos ocorreu a partir da desidratação de granitóides, durante um processo metamórfico de alto grau.

Os resultados U-Pb dos zircões das rochas gnáissicas (enderbitos inclusive), mostraram idades para o intercepto superior situadas entre 2,9-2,7 Ga. Todavia, as idades aparentes 207Pb-206Pb, obtidas em diferentes posições nos cristais de zircão, mostraram distúrbios isotópicos situados em 2,6 Ga, 2,2 Ga e 1,9 Ga. Isso sugere, a princípio, que se tratam da época de geração dos protólitos dos gnaisses e de eventos tectônicos posteriores, superimpostos às rochas da região em estudo.

Idades situadas entre 2,60-2,55 Ga foram obtidas pelos métodos Rb-Sr e Sm-Nd nessas rochas, por meio de isócronas e errócronas, numa combinação de rochas cogenéticas e não cogenéticas. No entanto, todas as amostras tinham as mesmas características: eram deformadas e migmatizadas. Idade semelhante foi encontrada por Teixeira (1985) no enderbito da Pedreira Oliveira, que é o mesmo enderbito estudado nesse trabalho. Trata de uma idade isocrônica Rb-Sr de 2566 ± 53 Ma (Ri= 0,706). Uma idade U-Pb dessa mesma ordem foi encontrada por Campos et al. (2003) em zircões do leucossoma e mesossoma de um migmatito do Complexo Metamórfico Passa Tempo (sudeste da área estudada). Esse conjunto de características está apontando, então, para um evento de migmatização do substrato gnáissico situado por volta de 2,60-2,55 Ga. Então, aparentemente, sendo um do(s) evento(s) de migmatização.

Aparentemente, então, o evento de migmatização antecede o evento de fácies granulito, pois o resultado mais conciso e relevante foi obtido no charnockito da Pedreira Alemão. O conjunto das razões U/Pb dessa rocha, quando tratada no diagrama Concórdia, forneceram uma discórdia que apresenta, para o intercepto superior, uma idade U-Pb de 2066 +24/-18 Ma. Adicionalmente, as idades aparentes 207Pb-206Pb mostram um padrão muito coerente e situado à volta de 2049 a 1999 Ma, independentemente, se forem obtidas nas bordas ou porções mais centrais dos cristais. As idades Ar- Ar, em anfibólios e biotitas dos gnaisses e anfibolitos, situadas entre 2027 - 1950 Ma, corroboram essa interpretação, marcando o final de um evento de alto grau que teve lugar ao término do Paleoproterozóico, uma vez que, a temperatura de fechamento do sistema Ar em anfibólio é em torno de 500oC.

Idades U-Pb semelhantes a essa, em rochas similares, foram obtidas por Silva et al. (2002), para a porção setentrional do Cráton São Francisco (cinturões Itabuna e Salvador-Curaçá e no Bloco Jequié). Tais idades foram interpretadas como retrabalhamento crustal, com recristalização

metamórfica sob altas temperaturas e pressões, no decorrer da fase colisional do Cinturão Bahia Oriental.

Situação semelhante também foi encontrada por Kamber et al. (1995 a, b) para o cinturão Limpopo, na África do Sul. Esses autores caracterizaram uma sutura proterozóica de 2,2-2,0 Ga, gerada em condições metamórficas de alto grau (fácies granulito), que foi o maior evento tectôno- metamórfico que atingiu a região. As técnicas utilizadas por eles foram Pb-Pb e Sm-Nd (em granadas) e Ar-Ar (em anfibólios).

Já os resultados Ar-Ar, principalmente em anfibólios, dos gabronoritos e gabros, mostraram que eles se posicionaram na crosta em dois períodos distintos. O primeiro período ocorreu por volta de 1,7 Ga e pode ser correlacionado ao Rifte Espinhaço (ver Capítulo 5). O segundo período ocorreu por volta de 1,0 Ga e podem ser correlacionadas ao Rifte Macaúbas. Sendo assim, fica evidente que os diques de gabronorito, anteriormente datados por Pinese (1997), não são neoarqueanos, mas do final do Paleoproterozóico – início Mesoproterozóico e final do Mesoproterozóico.

O último evento termal que afetou a área foi aquele responsável pelo distúrbio isotópico identificado nas rochas estudadas. Isso fica evidente através dos interceptos inferiores nos diagramas Concórdia que mostraram de idades U-Pb correlacionáveis ao Evento Brasiliano. As rochas félsicas, à exceção do charnockito, mostraram perdas intensas de chumbo desde o Arqueano, como pode ser visto no diagrama das Figuras 7.1 e 7.2.

Figura 7.2 – Diagrama das razões 207

Pb/235U versus 206Pb/238U mostrando o distúrbio isotópico a que foi submetidas as rochas estudadas do Arqueano ao Paleozóico.

No documento FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 145-148)

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