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6 DISCUSSÃO

6.4 DISCUSSÃO DA CORRELAÇÃO ENTRE FE E DESEMPENHO

Dados da literatura mostram correlação positiva entre melhores escores de FE com melhores notas escolares. Blair e colaboradores (2007) examinaram 141 crianças, de 3 a 5 anos, relacionando escores de FE às medidas de habilidades de matemática e alfabetização na pré-escola. Os resultados sugeriram que o controle inibitório é um correlato proeminente da capacidade de matemática e leitura precoce, apontaram ainda, que currículos elaborados para melhorar as habilidades de autorregulação, podem ser mais eficazes para ajudar as crianças a serem bem sucedidas na escola.

Por sua vez, Pascual e colaboradores (2019) em meta-análise com 21 estudos, apresentaram resultados valiosos para o meio acadêmico, dentre eles uma correlação moderada (r = 0,365) entre FE e desempenho acadêmico. A disciplina de Matemática obteve efeito ligeiramente maior do que linguagem (r = 0,350 e r = 0,3365, respectivamente), segundo o autor, esse fato se sustenta especialmente pela capacidade de codificação, organização e recuperação imediata de informações. Em relação aos componentes específicos das FE, a memória de trabalho, foi a que apresentou maior presença e peso preditivo de desempenho (r = 0,370, nível moderado de correlação).

No presente estudo notou-se no teste de Trilhas parte A e B, correlação significativa com Matemática, possivelmente pela necessidade de se memorizar a ordem alfabética e numérica do teste. Percebe-se ainda, correlação significativa (p<0,001) com o TAC total, reforçando a ideia da possível relação dos níveis de atenção com os cálculos matemáticos. Ou seja, quanto maior o escore nos testes de Trilhas e TAC,

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moires as notas dos alunos. Já na disciplina de Português, houve correlação apenas no TAC parte 2, TAC total e na parte A do teste de Trilhas.

Muito interessante a resposta do IFERA-I respondido pelos professores de sala, já que se percebe correlação significativa das notas, em ambas as disciplinas, com quase todos os constructos das FE, sendo elas: Memória de trabalho, flexibilidade cognitiva, aversão à demora, regulação e escore total. Apenas o controle inibitório não obteve relevância. Possivelmente, os professores regentes fizeram uma boa leitura dos seus respectivos alunos, já que os estudantes com piores notas, também apresentaram mais problemas de FE. Esses resultados, entretanto, se assemelham em alguns pontos e divergem em outros, quando comparados aos encontrados em dissertação de mestrado de Correia (2017). Na disciplina de Português por exemplo, os resultados foram semelhantes, a pesquisadora encontrou correlação com a memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. Por outro lado, na matemática, o resultado foi exatamente o contrário, houve apenas correlação significativa com o controle inibitório.

León e colaboradores (2013) investigaram a relação entre FE e desempenho acadêmico de 40 crianças de 6 a 9 anos de uma escola pública de São Paulo. Foram utilizados como instrumentos o IFERA-I e as notas bimestrais do ano letivo. Verificou-se que as crianças avaliadas por Verificou-seus pais e professores como possuindo melhores habilidades executivas possuem também melhor desempenho escolar, mesmo em fases iniciais do Ensino Fundamental, corroborando assim, com os resultados do presente estudo.

6.5 Discussão da correlação entre desenvolvimento motor e índices de comportamento motor

Ao realizar a correlação do desenvolvimento motor com os índices de comportamento motor, partiu-se da hipótese de que melhores indicadores de desempenho motor estariam associados a menores índices de problemas indicados pelo MBC, ou seja, quanto menos queixas o aluno apresentasse pelo professor de educação física, melhor seriam os seus escores nas habilidades motoras. Entretanto, os resultados não mostraram isso, foram encontradas poucas correlações significativas, contrariando a

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hipótese desse objetivo específico. Verificamos algumas associações significativas e outros com tendência significativa que envolvem o desempenho na habilidade específica de Jogar/Pegar da MABC2 e no constructo específico de Baixa Energia no MBC. Esses resultados indicaram que alunos com melhor desempenho na tarefa de jogar/pegar são aqueles em que há melhor relato de problemas relacionados à baixa energia (Ex.: Item 4 “Apresenta cansaço, até mesmo, após um mínimo de esforço” ou item 24 “Apresenta falta de energia”).

Por outro lado, houve também correlações significativas positivas do desempenho na mesma habilidade da MABC2, jogar/pegar, com problemas de quebra de regras e hiperatividade/impulsividade, de modo que os alunos com melhor desempenho nesta tarefa do MABC2 são aqueles que apresentam relatos de mais problemas de comportamento desse tipo. Há necessidade de continuar esse estudo utilizando-se inventários de comportamento mais específicos para melhor compreender a relação entre problemas comportamentais e emocionais e indicadores de desenvolvimento motor.

6.6 Considerações Finais

Primeiramente, sabemos a importância de analisar o desenvolvimento da criança como um todo, entretanto, diversos fatores não foram levados em conta no presente estudo, como por exemplo os desenvolvimentos sociais e emocionais. Portanto, futuramente, um possível estudo com intervenção motora, poderá gerar um maior esclarecimento sobre os reais impactos das habilidades motoras no desenvolvimento cognitivo das crianças.

Em segundo lugar, a pesquisa contou com uma amostra pequena e extremamente específica, já que os alunos participantes da pesquisa foram de uma escola particular de nível socioeconômico alto, portanto que não representam a realidade da maioria das crianças brasileiras. Acredita-se que, possivelmente, os participantes deste estudo recebam melhores estímulos em comparação com outras crianças do país. Outros fatores que contribuem para o desenvolvimento global das crianças, como por exemplo aspectos sociais e emocionais, não foram discutidos na presente pesquisa.

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Por muitos anos, apesar de todos os benefícios aqui discutidos, a Educação Física era considerada uma atividade complementar e relativamente isolada nos currículos escolares. Essa concepção, nos dias de hoje, demonstra sinais de esgotamento, dentre inúmeros fatores, a ascensão da cultura corporal e esportiva, como um dos fenômenos mais importantes nos meios de comunicação em massa e na economia (BETTI, 2002).

No ambiente escolar, especificamente, valoriza-se muito pouco o possível benefício da Educação Física nas habilidades cognitivas. Por outro lado, sempre se enfatizou a importância da disciplina nos aspectos sócio emocionais. Conceitos como:

sociabilização, respeito ao próximo e às regras, responsabilidade, honestidade, saber ganhar e perder, fair play, cooperação, superação, dentre outros, estavam presentes no discurso dos educadores, de uma disciplina importante na formação plena do cidadão.

Este trabalho propôs, dentro das suas limitações, valorizar a Educação Física sob o olhar do desenvolvimento cognitivo e evidenciar suas possíveis contribuições.

Portanto, a partir dos resultados apresentados, pode-se considerar que a motricidade deve ser tratada com relevância no contexto da Educação e que o trabalho realizado nas aulas de Educação Física deve ser reconhecido e integrado cada vez mais ao planejamento escolar. Torna-se imprescindível a interdisciplinaridade entre o desenvolvimento motor e cognitivo.

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