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5 FOOTINGS DA (IM)POLIDEZ EM DISCUSSÕES NO FACEBOOK

5.4 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Esta seção, conforme anunciei em seu início, tem particular interesse na descrição da (im)polidez nos dados da amostra por meio da análise em três categorias de Footings de (im)polidez: agressão, preservação e ridicularização. De modo geral, esta seção atende ao objetivo geral da pesquisa: descrever a configuração e o funcionamento da (im)polidez em discussões no Facebook a partir do aparato teórico desenvolvido para abordar o tema em interações on-line.

Para tanto, as análises se pautaram na descrição dos processos de ataque a identidades e faces, processos de preservação das faces, análise das marcas linguísticas associadas à (im)polidez, bem como a explicação do processo de ofender-se em interações on-line. Além disso, a ridicularização foi definida como um alinhamento híbrido que se localiza no entremeio da polidez e da impolidez.

Essa subseção, por sua vez, pretende resumir os principais achados da pesquisa e relacioná-los às questões das funcionalidades técnicas e carcaterísticas interacionais da interação mediada pelo Facebook. Por conseguinte, apresento aqui a discussão dos resultados das análises, bem como os desdobramentos que esses achados representam para área de estudos da (im)polidez e para a descrição das interações on-line, as quais estão intimamente relacionadas aos hábitos de uso da internet no Brasil.

O primeiro achado a ser considerado foi a maior produtividade dos Footings de agressão em comparação aos demais. Conforme já comentei anteriormente, a nossa análise não permite, mesmo porque não objetiva, concluir que as pessoas em geral são mais agressivas no Facebook. Essa conclusão não pode ser feita, em função do tamanho da amostra e da metodologia empregada, primeiramente porque a quantidade de textos e de participantes não foi pensada para representar demograficamente os usuários de internet entre brasileiros e, em segundo lugar, porque foi adotada uma abordagem qualitativo-interpretativista que não visou a uma investigação macro das discussões no Facebook, pelo contrário, investiu na análise minunciosa de situações que, embora fossem particulares, pudessem ser replicadas a outros contextos. Além disso, a categoria de footing, conforme já discutido anteriormente, não pode ser quantificada, pois não se pode determinar exatamente onde o footing começa ou termina, pode-se, na verdade, inferi-lo a partir da análise das ações dos interlocutores reveladas pelas suas escolhas linguísticas dentro de um contexto de análise situada.

A nossa análise da agressão, no entanto, pode chegar à definição de que esses Footings se carcaterizam pelo uso da linguagem para deliberadamente causar ofensa, normalmente embasando avaliações de impolidez por parte dos interactantes. Em outras palavras, as agressões são caracterizadas por ataques deliberados, normalmente configurados pelo uso de marcas de impolidez que deflagram avaliações impolidas por parte dos participantes. Portanto, ao identificarmos Footings de agressão, normalmente existem reações visíveis de participantes relacionadas a emoções negativas, o que coaduna com a noção de impolidez em Culpeper (2011).

As análises também revelaram uma das características fundamentais da impolidez no Facebook: a de que ela se caracteriza majoritariamente por ataques direcionados às identificações, normalmente político-ideológicas, dos participantes, em detrimento dos ataques direcionados às faces individuais dos interlocutores. Essa conclusão é suportada pelos diversos exemplos em que os participantes criam insultos ou críticas que não são endereçadas a um participante em particular, mas a uma identidade. São comuns, nos nossos dados, por exemplo, casos em que partidos ou figuras políticas como o PT, Lula, Bolsonaro, etc. são atacados.

Igualmente comuns são os casos em que essas ofensas são tomadas para si, por parte de participantes específicos, mesmo que eles não tenham sido endereçados na conversa. É como se os usuários do Facebook normalmente se ofendessem porque ―vestem a carapuça‖, como diz a expressão popular. As análises demonstraram que boa parte das ofensas são tomadas por meio de um processo inferencial, em que os usuários que se sentem atacados porque interpretam indexadores identitários (BUCHOLTZ e HALL, 2005), muitas vezes implícitos nos textos. Por muitas vezes, os usuários do Facebook, ao verem uma crítica a um determinado partido político ou mesmo representante político de um posicionamento ideológico, ofendem-se e respondem por meio de agressões geradoras de impolidez.

As respostas que surgem a partir dos insultos direcionados às identidades podem ser direcionadas às faces individuais dos interlocutores, ou às suas identidades políticas. A análise do direcionamento das marcas comprovou que, em realidade, a maior parte das marcas de impolidez estão direcionadas às identidades dos participantes, o que revela certa preferência por agredir posicionamentos ideológicos em detrimento de indivíduos.

Esses resultados estão intimamente ligados a carcaterísticas da interação on-line, como, por exemplo, o caráter público das interações no Facebook, que implica a ausência de destinatários específicos nos posts e a forte influência da audiência nas interações em discussões on-line no Facebook. Conforme argumentei na seção 4 deste trabalho, a estrutura de participação (GOFFMAN, 1981) no Facebook é modificada, pois há uma dissolução da noção de ouvintes ratificados, uma vez que praticamente não há ouvintes não ratificados. No caso dos posts analisados nesta tese, praticamente todos os usuários da internet são ouvintes ratificados, ou seja, têm capacidade técnica de não apenas acompanhar os conteúdos das interações, bem como de participar eventualmente no papel de falantes.

É justamente essa mudança na interação que, a meu ver, estimula que haja mais discussões de interesse público, como política, e que consequentemente os ataques sejam mais direcionados às identidades do que as faces, tendo em vista que, neste trabalho adotei a noção de faces como projeção individual do eu (GOFFMAN, 1967) e identidades como posicionamento social do eu e dos outros na interação (BUCHOLTZ e HALL, 2005).

Dessa maneira, o primeiro desdobramento dessa pesquisa em relação à sua contribuição empírica para descrição dos hábitos dos brasileiros em relação à impolidez é que os usuários atacam mais as identidades e menos as faces, ou seja, atacam-se mais os grupos (posições ideológicas) que os indivíduos. A descrição dos Footings de agressão foi particularmente útil para esse desdobramento, o que revelou como a linguagem é utilizada para causar ofensa nas interações on-line.

No que tange à questão da preservação, esses Footings demonstraram-se menos produtivos em relação à agressão, o que implicou uma presença menor de marcas de polidez nos textos da amostragem. Ao contrário da agressão, a preservação foi completamente direcionada às faces individuais dos participantes, o que demonstrou a necessidade interacional de proteger indivíduos em vez de identidades ideológicas.

Particularmente, a preservação normalmente apareceu nos momentos em que as interações se concentraram em assuntos de ordem pessoal. Assuntos com informações sensíveis demandaram o aparecimento da polidez, sobretudo o de marcas de concordância e compreensão. Essas marcas estão particularmente ligadas ao gênero dos textos pesquisados, pois, como aponta Leech (1983), as máximas de concordância e compreensão são mais comuns em asserções, comuns em debates.

A concordância apareceu quando os interactantes afirmavam concordar com um ponto defendido pelos seus interlocutores, ao passo que discordavam de outros pontos. Normalmente, a concordância serviu como uma prefaciação de discordâncias, ou seja, os interactantes concordavam para logo em seguida discordar. Por sua vez, a compreensão apareceu quando os interactentes forneciam informações extras para que suas mensagens não fossem interpretadas como ataques, como, por exemplo, colocar entre parênteses um trecho do tipo (isso não é um ataque).

Embora menos produtivos, os Footings de preservação mostraram que a discordância não é sinônimo de impolidez na internet. É possível discordar considerando a face dos

interlocutores de modo a evitar conflitos. Foi particularmente interessante observar que a polidez foi menos inovadora do que a impolidez, no sentido de que a pesquisa demonstrou a manutenção da ideia, muito difundida na literatura, de que a polidez é o uso da linguagem para preservação de faces. Nesse sentido, cabe ratificar a necessidade de usar aparatos teóricos diferenciados para tratar da polidez e de impolidez. Embora eu continue defendendo a ideia de continuum quando falo sobre (im)polidez, na concepção de Spencer-Oatey (2005), percebo a necessidade de investir em aparatos teóricos específicos para tratar dos assuntos, uma vez que fui levado, em função dos dados, a trabalhar com o conceito de identidades nos casos de impolidez. Em observância ao exposto, percebe-se a necessidade de investigar e descrever a polidez e a impolidez por meio de aparatos teóricos específicos, porém inter- relacionados, o que foi o caso do aparato de análise empregado nesta pesquisa.

Finalmente, esta seção também se dedicou à análise dos Footings de ridicularização, os quais são caracterizados pelo humor e deslegitimação da seriedade dos argumentos dos interlocutores. Essa categoria foi particularmente criada para dar conta de interações em que os ataques são camuflados por meio do humor. Em geral, esses Footings caracterizam-se pelo uso da ironia e do sarcasmo, não há, portanto, marcas de (im)polidez que sirvam de indícios da ridicularização, mas sim o uso irônico dessas marcas.

Essa categoria é aqui considerada como híbrida, pois está no entremeio entre a polidez e a impolidez, pois marca simultaneamente a presença de ataques suavizados pelos efeitos de humor. Em algumas vezes, a ridicularização pode pender mais para o lado da polidez, em outras vezes, da impolidez, conforme pode-se perceber pela análise das reações visíveis dos participantes nos exemplos trazidos na subseção anterior.

Além do uso da ironia, a ridicularização foi normalmente associada a marcas multimodais que funcionam como pistas de contextualização (GUMPERZ, 1982), principalmente emoticons e outras marcas imagéticas que designam risos. Não se pode definir, sem a análise de contextos específicos, que os emoticons e as marcas de risos são necessariamente indicadores de ridicularização, contudo a análise de dados mostrou certa regularidade nesse padrão: geralmente os emoticons e as marcas de risos representaram Footings de ridicularização.

Sobre esse assunto, cabe ressaltar que o uso dos recursos multimodais são possibilidades apresentadas pelo design do website, e os usuários enxergam esses affordances (GIBSON, 1986) como forma de criação de ridicularização. A ridicularização parece ser uma

estratégia de ataque às faces ou às identidades mais suave do que a agressão em si, que marca uma tentativa deliberada de ataque. Os dados de ridicularização analisados nesta seção mostraram que às vezes, numa mesma interação, o mesmo enunciado pode ser avalido polida ou impolidademente, a depender do interactante. A ridicularização, portanto, envidencia o princípio da variabilidade nas avaliações prevista na literatura da área, de linha sociointeracional (EELEN, 2001; HAUGH, 2010, 2013).

Em resumo, esta seção tratou principalmente do objetivo de descrição da (im)polidez em interações no Facebook por meio da análise de três categorias: agressão, preservação e ridicularização. As análises apresentadas, de maneira geral, coadunam para o resultado geral da pesquisa, o qual demonstra que, em relação à (im)polidez, em discussões no Facebook, há predomínio de ataques direcionados às identidades e preservações direcionadas às faces, o que implica uma maior frequência de ataques a grupos e de preservação de indivíduos. A seção seguinte reforça os achados da pesquisa e ratifica os desdobramentos e consequências do trabalho empreendido tanto para a elucidação de características das interações on-line quanto para a contribuição teórica à área de estudos da (im)polidez.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho teve como principal objetivo descrever a configuração e o funcionamento da (im)polidez em discussões públicas no Facebook. Dessa maneira, foi empregada uma metodologia que combinou análises qualitativas de cunho interpretativista e uma análise das marcas de (im)polidez utilizadas nos textos por meio da contagem dessas em relação à sua presença, quantidade e direcionamento. Ambas análises reforçaram o resultado geral de que a impolidez, nas discussões do Facebook, é mais direcionada às identidades dos interactantes, ao passo que a polidez se dirige às faces, preservando indivíduos em detrimento de grupos.

Em vista desse resultado central, pode-se dizer que a tese contribui para o entendimento dos hábitos de usuários brasileiros em discussões no Facebook, pois as análises demonstram, como já defendido, que há mais ataques a grupos e posições ideológicas que a indivíduos em separado. Além disso, também foi demonstrado que a preservação de faces surge normalmente quando são abordados temas mais particulares e individuais. Além disso, o processo de ofensa também foi elucidado porque os resultados da pesquisa apontam que para se ofender, no Facebook, se faz necessário um processo de identificação com as ideologias e grupos atacados.

Como desdobramentos, esses resultados podem explicar a impressão corrente de que o Facebook é um palco de inimizades e brigas porque, como as ofensas não são em geral direcionadas, elas podem atingir um número muito maior de pessoas – todas aquelas que se identificarem com as identidades atacadas. No que diz respeito ao processo de ofender-se, foi detectado que este está relacionado à interpretação inferencial das identidades atacadas, o que normalmente ocorre em função da identificação de indexadores identitários implícitos nas marcas de impolidez.

Dessa maneira, ao refletir sobre as perguntas ―O que é considerado impolido no Facebook?‖e ―Como a impolidez se inicia?‖ (seção 2.1), os resultados demonstram que, na maior parte das vezes, a impolidez é iniciada por um processo de ―vestir a carapuça‖, ou seja, o interlocutor, ao inferir que sua identidade está sendo atacada, veste a carapuça e responde com impolidez. Esse tipo de padrão foi constante nos dados analisados, o que contribui para o entendimento dos hábitos de uso em discussões do Facebook.

Outras perguntas lançadas inicialmente foram ―Como os interactantes atacam ou preservam verbal e multimodalmente no Facebook?‖e ―Quais marcas linguístico-discursivas são mobilizadas em situações de (im)polidez?‖. Conforme apontam os resultados da pesquisa,

a maioria dos ataques e das preservações ocorreram a partir do uso de marcas de polidez e impolidez, empregados em contextos que favoreciam a sua interpretação como polida ou impolida. As marcas de impolidez mais empregadas foram as críticas e insultos, e as de polidez foram a concordância e compreensão. O uso dessas marcas coadunou com o resultado central da pesquisa, principalmente porque as marcas de impolidez destacadas, em sua maioria, se direcionaram a identidades. Podemos concluir, portanto, que as escolhas linguísticas mais comuns no Facebook são as duas apontadas acima.

Sobre o uso da multimodalidade, percebeu-se que ela foi constantemente empregada nos casos de ridicularização, marcados pela presença da ironia e do humor. Essa observação é também pertinente à explicação dos hábitos de uso da internet no Brasil, pois a pesquisa apresenta um indício de que os recursos multimodais no Facebook, como emoticons, memes e gifs, estão relacionados ao uso da ironia e do humor, enquanto, ao atacar ou preservar as faces e identidades, os usuários preferem o uso da linguagem verbal.

Embora esse achado seja uma conclusão pertinente aos nossos dados de pesquisa, seriam necessários mais trabalhos empíricos, cujo foco principal fosse o uso da multimodalidade no Facebook, para que pudéssemos comprovar essa conclusão de que os recursos multimodais são mais relacionados ao humor. Entretanto, inicialmente pode-se dizer que, nos textos da amostra, a multimodalidade foi empregada majoritariamente com o objetivo de ridicularizar.

Em resumo, a pesquisa é capaz de contribuir empiricamente porque apresenta um conjunto de resultados capaz de lançar luz sobre os hábitos de uso do Facebook, no Brasil. Embora tenhamos usado uma análise qualitativo-interpretativista, as análises aqui desempenhadas podem ser replicadas a outros contextos, uma vez que abordamos dados do cotidiano de práticas vernaculares na internet.

Além das contribuições empíricas, a pesquisa também apresentou avanços para a literatura da área de estudos da (im)polidez. Em primeiro lugar, foi construído aqui um aparato de análise a partir da análise de dados reais de uso da língua, o que fortalece a qualidade interna das categorias cunhadas, já que foram criadas a partir de uma realidade emergente, que é o uso da linguagem nos sites de redes sociais.

Além disso, a abordagem teórica se pautou em temas pouco explorados nos estudos da (im)polidez, sobretudo em relação aos pontos de convergência das teorias pragmáticas e sociodiscursivas e aos estudos sobre ideologia, identidade e interação on-line. Os estudos da (im)polidez vêm de uma longa tradição que pesquisa a (im)polidez em diálogos bipartidários,

na modalidade oral, face a face. Como caráter inovador, apresentei um estudo em interação mediada por novas tecnologias, em diálogos multipartidários e multimodais.

Para tanto, a abordagem não se pautou apenas na aplicação de categorias pré- -estabelecidas vindas da literatura. Em oposição, a tese construiu uma abordagem híbrida que

utilizou ferramentas de análise tanto das abordagens pragmáticas da (im)polidez (LEECH, 1983), quanto das abordagens discursivas (WATTS, 2003; SPENCER-OATEY, 2005; MILLS, 2011). Além disso, o trabalho de pesquisa também recorreu a estudos que, embora não sejam centrados exclusivamente na questão da (im)polidez, foram pensados de forma complementares, nas seções 3 e 4, em função de demandas dos dados pesquisados, como, por exemplo: identidades, aspectos da interação social e footing, esquema de participação e formato de produção.

Deve-se ressaltar, mais uma vez, o caráter inovador da pesquisa, que desenvolveu um aparato de análise para textos on-line publicados no Facebook. Esse aparato de análise marca uma contribuição teórica para os estudos da (im)polidez, tendo em vista que são parcos os estudos sobre essa temática, sobretudo em contexto de interações on-line, no Brasil.

Além disso, a fundamentação teórica, em conjunto com a metodologia aqui utilizada, sustenta o resultado central do trabalho, por meio da análise dos aspectos relacionados à construção e indexação de identidades, através dos discursos (BUCHOLTZ e HALL, 2005) evindenciados nos espaços de escrita (BARTON e LEE, 2015), das postagens, dos comentários e das réplicas, conforme demonstram as nossas análises qualitativas. Ademais, também deve ser ressaltada a maior presença de marcas de impolidez direcionadas às identidades, em detrimento das marcas direcionadas às faces. Dessa maneira, evidencia-se que tanto as análises qualitativas quanto as numéricas coadunam para o mesmo resultado.

No entanto, no que tange à polidez, a pesquisa ratificou o posicionamento da literatura da área, que tradicionalmente a enxerga como um processo de preservação das faces. Dessa forma, ambas as análises evidenciaram que a polidez é de fato usada para manutenção da harmonia entre indivíduos, mesmo que haja nas discussões bastantes ataques a identidades e posicionamentos ideológicos.

Além dos achados centrais descritos acima, a pesquisa também pode contribuir em relação ao conhecimento que se tem acerca da interação on-line de maneira geral. O modelo de Goffman (1981), por exemplo, foi readaptado ao contexto de interações em rede por meio do exercício de análise e ilustração das características sociointeracionais das interações em sites de redes sociais, como o Facebook. Os conceitos de esquema de participação e formato

de produção foram repensados a partir de uma realidade mediada pelas novas tecnologias em rede e recebeu reinterpretações, a exemplo das reflexões sobre a dissolução do conceito de ouvinte ratificado nas redes e da presença maciça da animação de textos no Facebook, estimulada pela funcionalidade dos compartilhamentos. O exercício de adaptação feito aqui deve ser incitado em estudos futuros para que possamos vislumbrar a possibilidade de rever conceitos tradicionais na Linguística, frente às suas mudanças em decorrência da transformação desempenhada pelas novas tecnologias.

A relação entre impolidez e identidade também foi um empreendimento relativamente novo na literatura, haja vista as considerações de Blitvich e Sifanou (2017) de que, em geral, as áreas de estudos da (im)polidez sempre estiveram muito concentradas na ideia de preservação e ataque de faces individuais. Neste trabalho, foi necessário encontrar uma definição teórica de identidades que estivesse relacionada à análise de interações, e esse objetivo foi particularmente atingido por meio da escolha de Bucholtz e Hall (2004a, 2004b e 2005), as quais advogam uma abordagem interacionista das identidades. Em função da natureza inferencial dos insultos e críticas no Facebook, os exemplos foram muito ricos em