• Nenhum resultado encontrado

Através da análise dos dados obtidos neste estudo foi possível inferir a influência das variáveis temperaturas, estados fenológicos da cultura, e presença de estruturas ecológicas nas explorações, em diferentes escalas, na dinâmica populacional da

Drosophila suzukii.

5.1 Estudo DRAPN

Pela análise das curvas de voo de D. suzukii, verificou-se que o número de capturas de D. suzukii aumentou com a permanência de temperaturas máximas entre os 15 °C e os 20 °C e com humidade relativa entre 65 e 75%. Esta observação é apoiada por Sakai (2005), Kanzawa (1939), Walsh et al. (2011) e Kinjo et al. (2014) que afirmam que o número anual de gerações é variável, e está dependente da temperatura e humidade relativa do ar.

Apesar da importância da humidade relativa e da temperatura na sobrevivência e longevidade da praga, sendo esta espécie altamente sensível à dessecação e condições de baixa humidade (Leach et al., 2019; Tochen et al., 2016), os dados obtidos demonstraram que a humidade não é uma variável significativamente influente na dinâmica populacional da D. suzukii, nas condições estudadas. O estudo foi realizado na Região Entre Douro e Minho, em que a humidade relativa mínima registada foi de 53.25 % em agosto de 2018, não tendo sido avaliadas condições extremas de baixa humidade relativa que se esperaria terem um impacto significativo na sobrevivência da praga. Neste sentido, é notório que em regiões com um clima atlântico e humidades relativas elevadas, a D. suzukii se desenvolve facilmente e são outros os fatores ambientais que determinam a sobrevivência da população.

Com o aumento da temperatura registado na primavera/verão (temperatura máxima registada 34,98 °C em agosto) o número de indivíduos capturados foi 0. A atividade reprodutiva da D. suzukii é reduzida a temperaturas superiores a 30 ° C sendo que temperaturas acima de 32° C suprimem a postura das fêmeas e a fertilidade dos machos (Kinjo et al. 2013; Sakai 2005; Walsh et al. 2011). A temperatura e a humidade provavelmente afetam D. suzukii de forma combinada, sendo que registo de humidades altas pode aumentar a sobrevivência a temperaturas elevadas (Tochen et al., 2016).

Com o aumento das temperaturas os estados fenológicos avançaram simultaneamente nas 4 explorações atingindo a fase ideal da maturação do fruto para a

postura da D. suzukii, havendo consequentemente uma redução no número de capturas nas armadilhas.

Esta redução do número de capturas nos meses em que os estados fenológicos estão mais avançados (entre a fase de maturação e colheita), pode ser explicado pela preferência da D. suzukii por aromas de fruta fresca, que liberta compostos voláteis mais atrativos para as fêmeas em fase de postura, do que os aromas libertados pelo atrativo alimentar da armadilha (Leach et al., 2019; Lee et al., 2012; Revadi et al., 2013; Sward et al., 2016; Swoboda-Bhattarai et al., 2017; Wong et al., 2018). Isto é confirmado pelos resultados obtidos na análise de componentes principais em que se verifica uma correlação significativa negativa entre a variável “Estados Fenológicos” e a variável “Capturas Médias Mensais D. suzukii fêmeas”, o que não acontece com a variável “Temperaturas Médias Mensais Máxima”. Esta hipótese é ainda confirmada por Swoboda-Bhattarai et al. (2017) e Mori et al. (2017) que afirmam que D. suzukii fêmea após o acasalamento e em fase de postura é mais provável de ser encontrada em frutas maduras do que nas armadilhas mosqueiras à base de soluções com odores de fermentação.

O elevado número de indivíduos capturados durante a primavera pode ser explicado pelo fim da diapausa reprodutiva das fêmeas, que sobrevivem ao inverno, e reinfectam a cultura levando ao desenvolvimento da primeira geração de morfótipos de verão, atingindo um máximo de efetivo populacional no final da primavera (Panel et al., 2018). Assim sendo, as estruturas ecológicas servem como fonte alternativa de alimento e postura, pela existência tanto de vegetação silvestre como de culturas adjacentes ou de bordadura. Sendo confirmada pela observação dos resultados obtidos na ACP em que se verificou uma correlação significativa positiva entre as variáveis: “Área das Estruturas Ecológicas” e “Média Total de D. suzukii” com a variável “Média Total de Potenciais Auxiliares”, demonstrando que quanto maior é área das estruturas ecológicas existentes na exploração maior é o número de capturas de D. suzukii e potenciais auxiliares nas armadilhas. As áreas seminaturais podem promover a dinâmica populacional de D. suzukii, fornecendo recursos alternativos de alimento, abrigo, habitats de inverno e áreas de refúgio durante períodos de frio (Santoiemma et al., 2018; Tonina et al., 2018).

5.2 Estudo Campus de Vairão

Pela análise das curvas de voo D. suzukii verifica-se que os meses julho (T=24,05 ° C; HR=83,58%) e agosto (T=24,51 ° C; HR=82,26%) registaram menor número de capturas de D. suzukii nas armadilhas. Tal como se verifica no estudo da DRAPN, apesar do número reduzido de capturas de D. suzukii, pressupõe-se a sua presença no pomar pela existência de frutos em estado de maturação, ideal para a postura (Revadi et al., 2013; Sward et al., 2016). As armadilhas colocadas junto aos pequenos frutos foram as que apresentaram no total o maior número de capturas de D.

suzukii. Os pequenos frutos (groselha, amora, framboesa remontante e não

remontante), apresentaram frutos maduros nos meses junho, julho e novembro, coincidindo com uma diminuição acentuada de indivíduos capturados nas armadilhas. Sendo os pequenos frutos os hospedeiros preferenciais da D. suzukii, confirma-se novamente que a presença de frutos em estado de maturação pré-colheita influencia as opções alimentares da mosca.

Em todas as armadilhas foi notório que, na fase de maturação dos frutos até à colheita o número de capturas de D. suzukii decresce. Estes resultados são apoiados por Swoboda-Bhattarai et al. (2017), Mori et al. (2017), Wong et al. (2018) e Sward et al. (2016), que tal como discutido anteriormente no estudo da DRAPN, quando há recursos para postura, ou seja, existência de fruta no pomar as fêmeas podem ter alterações no seu comportamento e serem mais atraídas por voláteis libertados pelos frutos maduros.

O aumento da temperatura contribui diretamente para o avanço dos estados fenológicos e o amadurecimento dos frutos no pomar, favorecendo a reprodução da praga. Assim as temperaturas podem ser interpretadas como um fator de influência e modificação da paisagem envolvente e da exploração. Pela observação dos resultados da ACP de primavera/verão observa-se uma correlação significativa negativa entre as variáveis das temperaturas e as variáveis: “Total Outras Drosófilas” e “Total D. suzukii”. Ainda, as variáveis relativas às temperaturas apresentam uma correlação significativa positiva com a variável “Estados Fenológicos” indicando a influência da temperatura no avanço dos estados fenológicos e na evolução da dinâmica populacional.

Este estudo foi realizado no litoral, onde se registam temperaturas amenas com baixas amplitudes térmicas nas diferentes estações do ano, talvez a mesma análise conduzida numa zona de clima marcadamente continental, com temperaturas extremas e humidades relativas baixas, ou a combinação de ambas, seriam o fator de maior

influência na sobrevivência e reprodução da mosca (Kinjo et al., 2014; Walsh et al., 2011). No início da primavera, o número de capturas é elevado, atingindo 432 D. suzukii capturadas, coincidindo com o aumento das temperaturas para valores ideais para o desenvolvimento dos adultos, marcando o fim da diapausa reprodutiva da D. suzukii, quando as condições climáticas se tornam favoráveis à reprodução (Wallingford & Loeb, 2016).

Ainda, através da análise de componentes principais observa-se uma correlação significativa negativa entre a variável “distância das estruturas ecológicas” e “total de D.

suzukii” e “total de outras drosófilas”. Verificando-se que as armadilhas mais próximas

das estruturas ecológicas têm um maior número de capturas no início da primavera. As moscas que passaram o inverno em diapausa reprodutiva, abrigadas nas estruturas ecológicas envolventes do pomar, têm nesta fase condições ideais para a reinfestação (Panel et al., 2018; Santoiemma et al., 2018).

Ainda, na análise de componentes principais outono/inverno verifica-se que as temperaturas (máxima, média e mínima) tem uma correlação significativa positiva com as variáveis “total outras drosófilas” e “total D. suzukii”. As temperaturas ideais para a sua sobrevivência e longevidade aproximam-se dos 20 ° C (Kanzawa, 1939; Walsh et al., 2011) no final do inverno quando as temperaturas começam a aproximar-se deste ótimo, o número de capturas aumenta.

As estruturas ecológicas mostraram novamente ser uma variável importante, existindo uma correlação significativa negativa entre a distância das estruturas ecológicas e o número de capturas de D. suzukii, mostrando que quanto menor a distância das estruturas ecológicas à armadilha maior é o número de capturas de outras drosófilas, D. suzukii e potenciais auxiliares Tonina et al. (2018), Santoiemma et al. (2018) e Mitsui et al. (2010). Isto é especialmente relevante no final do inverno e início da primavera, em que as estruturas ecológicas que serviram de abrigo durante os meses mais frios e promovem a reinfestação do pomar quando as temperaturas aumentam e a diapausa reprodutiva termina. Assim, é possível afirmar que D. suzukii esteve sempre presente no pomar mesmo no outono/inverno, sendo provável que procure nos meses mais frios abrigo, (Jakobs et al., 2015), suportado por Kanzawa (1939) que sugere que os adultos que surgem a partir do final de setembro entram em diapausa reprodutiva em locais abrigados (Asplen et al., 2015; Klick et al., 2016; Santoiemma et al., 2018).

Documentos relacionados