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O alto número de espécies amostradas com um único indivíduo confirma a tendência de que cerca de 1/4 a 1/3 das espécies nas florestas tropicais são amostradas com baixa densidade (HARTSHORN, 1990) e se aproxima do encontrado em outras florestas ripárias brasileiras, amostradas com semelhante intensidade amostral e critério de inclusão (BERTANI et al., 2001; BUDKE et al., 2004; DIAS et al., 1998; DORNELES; WAECHTER, 2004; GUEDES; BARBOSA; MARTINS, 2006; LOURES et al., 2007; PINTO; HAY, 2005; TEIXEIRA; ASSIS, 2005; TONIATO; LEITÃO FILHO; RODRIGUES, 1998). Normalmente, essas florestas são caracterizadas não só pela alta riqueza de espécies, mas também pela baixa densidade com que muitas delas são encontradas, o que possibilita a coexistência de inúmeras espécies por unidade de área (HARTSHORN, 1990). Assim, o elevado número de espécies amostradas com baixa densidade também contribuiu para a alta riqueza de espécies na mata de Coqueiral.

O número de indivíduos de espécies excluídas e inclusas, que variou de um a quatro, não causou grandes mudanças na dinâmica da população e nem diferenças entres os ambientes encosta e paludoso. Espécies mais abundantes recrutam mais indivíduos do que as espécies raras (FELFILI, 1994; PINTO; HAY, 2005) e, assim, espera-se que essas espécies, na ausência de grandes distúrbios, alterem pouco sua participação na estruturação da comunidade. As espécies mais abundantes estão sujeitas às maiores taxas de mortalidade, mas também às maiores taxas de recrutamento, mantendo assim a sua supremacia na área (FELFILI, 1995).

Pequenas alterações na densidade das espécies mais abundantes também foram observadas em outras áreas (BERG, 2001; BERTANI et al., 2001; FELFILI, 1994, 2000; OLIVEIRA FILHO; MELLO; SCOLFORO, 1997; PINTO; HAY, 2005), causando poucas mudanças na ordem hierárquica das

espécies, baseando-se em seus valores de importância. Mesmo sendo pequenas, as mudanças na densidade e na área basal das espécies mais abundantes indicam que a estrutura fitossociológica da comunidade tem um caráter dinâmico e as espécies dominantes podem se alterar com o tempo, mudando, assim, a estrutura fitossociológica da comunidade.

No primeiro levantamento, Rocha et al. (2005) observaram diferenças estruturais entre os ambientes paludoso e de encosta. No segundo levantamento, as taxas de dinâmica, em número de indivíduos e em área basal, não foram afetadas por nenhuma das variáveis ambientais analisadas, inclusive por aquelas que melhor se correlacionaram com a abundância das espécies, que foram, segundo Rocha et al. (2005): Al, índice de saturação de bases, pH, matéria orgânica, drenagem, cota e margem.

A densidade no ambiente paludoso foi maior do que no ambiente de encosta, porém, com menor riqueza. Isso comprova que, em ambientes saturados hidricamente, encontra-se alta densidade de indivíduos de menor diâmetro com um número reduzido de espécies (DORNELES; WAECHTER, 2004; LOURES et al., 2007; TEIXEIRA; ASSIS, 2005), confirmando também a hipótese de que em florestas paludosas existe menor riqueza (SILVA et al., 2007), quando comparadas a outras formações com solos secos, provavelmente devido ao menor número de espécies adaptadas aos ambientes saturados de água (CARDOSO; SCHIAVINI, 2002; JOLY, 1991; TONIATO; LEITÃO FILHO; RODRIGUES, 1998).

Houve uma tendência de declínio no número de árvores e estabilidade em área basal, durante o período de estudo, na amostra total, sendo reflexo do ocorrido na área de encosta. Isso ocorreu porque a proporção de indivíduos mortos foi maior do que a de indivíduos recrutados para o ambiente de encosta. A estabilidade da área basal, apesar da redução em densidade, ocorreu devido ao crescimento acentuado das árvores sobreviventes. Esse padrão, redução do

número de indivíduos e manutenção ou aumento da área basal devido ao crescimento das árvores sobreviventes, é típico de florestas tropicais em recuperação pós-distúrbio e em estádio avançado de sucessão (PHILLIPS et al., 2002).

O processo de autodesbaste, ocorrido em função da competição entre as árvores que estão se desenvolvendo na área, pode explicar a alta mortalidade de indivíduos, visto que esse padrão é muito comum em fragmentos com baixa perturbação antrópica, como mostrado em alguns trabalhos realizados em fragmentos florestais no sudeste do Brasil (APPOLINÁRIO; OLIVEIRA FILHO; GUILHERME, 2005; CHAGAS et al., 2001; GUIMARÃES et al., 2008; HIGUCHI et al., 2008b; OLIVEIRA FILHO et al., 2007). Esse evento pode estar vinculado a duas hipóteses: autodesbaste causado pelo distúrbio advindo da fragmentação da área ou ciclos rítmicos que ocorrem em algumas florestas tropicais não perturbadas, onde o balanço é alcançado por meio de períodos com maior mortalidade ou perda em área basal, alternados com períodos de maior recrutamento ou aumento da área basal, os quais podem estar associados a flutuações climáticas (FELFILI, 1995; GUILHERME et al., 2004; OLIVEIRA FILHO et al., 2007; SWAINE, 1990).

Em florestas tropicais maduras e não perturbadas é esperado, a longo prazo, que haja um equilíbrio no balanço entre as taxas de dinâmica da comunidade, tanto em número de indivíduos (mortalidade e recrutamento) quanto em área basal (perda e ganho), indicando a existência de uma estabilidade estrutural da comunidade arbórea (FELFILI, 1995; GUIMARÃES et al., 2008; LIEBERMAN et al., 1985; OLIVEIRA FILHO et al., 2007; SWAINE; LIEBERMAN; PUTZ, 1987), que foi confirmada, na mata paludosa em Coqueiral, pela inexistência de diferença entre a quantidade de indivíduos imigrantes e emigrantes por classe diamétrica, nos dois levantamentos. Essa estabilidade encontrada no ambiente paludoso foge do padrão encontrado em

outras formações no sul de Minas Gerais sob impactos antrópicos diretos e ou da fragmentação, caracterizadas pelo autodesbaste, em florestas estacionais semideciduais, por Chagas et al. (2001), Higuchi et al. (2008b) e Oliveira Filho et al. (2007) e em florestas riparias tropicais, por Appolinário, Oliveira Filho e Guilherme (2005) e Guimarães et al. (2008). Como as florestas paludosas correspondem a áreas naturalmente fragmentadas (RODRIGUES, 2000), no sentido de ocuparem áreas restritas e desconectadas entre si na paisagem, os dados indicam tratar-se de formações que, já adaptadas ao isolamento, são mais resistentes aos impactos da fragmentação dos ecossistemas onde se inserem. Além disso, na área estudada, a mata paludosa localiza-se não no interior do fragmento, mas em sua borda ripária, onde se esperaria uma instabilidade advinda dos efeitos de borda.

Apesar de mais estável, a área paludosa não se diferenciou, em seus valores de rotatividade, da área de encosta e de outras formações (e.g. em florestas estacionais semideciduais), como as citadas por Chagas et al. (2001) e Oliveira Filho et al. (2007), para borda; em florestas riparias tropicais, por Appolinário, Oliveira Filho e Guilherme (2005) e Guimarães et al. (2008), para borda; por Guilherme et al. (2004) e Oliveira e Felfili (2008), tanto em número quanto em área basal, contrariando a hipótese de que áreas inundáveis possuem dinâmica mais lenta do que áreas secas. Como as matas paludosas são constituídas de espécies adaptadas aos limites impostos pela saturação hídrica (GUILHERME et al., 2004; JOLY, 1991; RODRIGUES; SHEPHERD, 2000; SILVA et al., 2007), cuja presença é confirmada na área estudada (ROCHA, 2003), para as matas paludosas não deve ser esperada uma dinâmica influenciada pelas limitações da água ao crescimento dos indivíduos, mais uma vez indicando a adaptação dessa comunidade arbórea ao ambiente paludoso. Oliveira e Felfili (2008) chamam a atenção para a alta rotatividade associada à estabilidade em florestas de galeria, atribuindo a situação ao fato de serem

bordas naturais, com alta luminosidade. Neste caso, a afirmação deve ser válida ao menos para as florestas paludosas não interiorizadas em formações florestais sobre solos não saturados.

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