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DISCUSSÃO DO MODELO TEÓRICO DE ESCUDO DO COLOIDE

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4. DISCUSSÃO DO MODELO TEÓRICO DE ESCUDO DO COLOIDE

Na análise da parte experimental desta tese de doutorado, especialmente nessa discussão mais completa do PEG 2 foram produzidos dados objetivos, que trouxeram novos elementos de

Amostra 20/04 = 1 dia 26/04 = 7 dias 17/05 = 28 dias 25/05 = 36 dias Olfat pH Viscos Olfat pH Viscos Olfat pH Viscos Olfat pH Viscos

LAB 9 8,5 - 9 8,5 3 9 8,3 8,5 Coag - -

HA Am 9,2 - Coag Coag Coag Coag Coag Coag Coag - -

TaBL 10 8,2 - 8 7,4 3,1 6 6,9 5,4 7 6,8 5

TaBR 10 7,9 - 8 7,1 35,5 10 6,9 23 9 7,1 20,5

TmBL 10 8,0 - 10 7,2 3 7 6,7 5,4 5 6,7 5,6

85 construção teórica, mas que também confirmaram resultados obtidos em mais de um plano na primeira fase dos trabalhos de pesquisa, os quais são enunciados a seguir:

1) um látex de campo, invulgarmente instável, foi estabilizado com base em tratamentos com tanino, bórax, um surfactante iônico ou não iônico e hidróxido de potássio, em variadas formulações e ordens de adição dos reagentes;

2) enquanto os tratamentos controle com amônia permaneceram sem coagular menos do que 17 dias, sete tratamentos de nove com tanino ficaram estáveis e fluidos mesmo após mais de seis meses de instalação do experimento;

3) a liberação de ácidos graxos voláteis (AGV), resultante da degradação do látex, é muito menor nos tratamentos com tanino do que na amostra controle com amônia;

4) como consequência dessa menor liberação de AGV, o odor das amostras tratadas com tanino é razoável, caracteristicamente não putrefato, após meses de experimentação, enquanto os controles com amônia apresentaram o odor forte característico da degradação bacteriana de matéria orgânica;

5) os valores de pH das amostras com tanino situavam-se em um intervalo onde o LBN normalmente já deveriam estar coagulados, o que não foi observado;

6) as medições do potencial zeta de amostras com tanino situaram-se em uma faixa de proteção coloidal onde elas já deveriam ter colapsado, mas estavam fluidas;

7) o tratamento de tanino com surfactante não iônico resultou, em geral, melhores resultados de estabilidade do que o seu similar iônico;

8) a amostra de tanino com surfactante não iônico apresentou maiores valores de viscosidade dinâmica do que com surfactante iônico;

9) observou-se comportamento semelhante com as medições de diâmetro hidrodinâmico das partículas de elastômero: o tratamento com surfactante não iônico resultou em valores maiores do que a amostra tratada com surfactante iônico.

O conjunto destes fatos experimentais pode ser tomado como sinais de suporte ao modelo sugerido onde as moléculas de tanino complexam com as proteínas envolvendo as partículas de borracha no LBN, de modo a constituir uma espécie de escudo que, com base em impedimento estéreo, impede as partículas de coalescerem entre si, proporcionando estabilidade biológica e mecânica ao látex de hevea. Esta condição manteria o sistema coloidal fluido e em bom estado, em contraste com a proteção às partículas do coloide normalmente observada quando atuam somente as forças iónicas, como no caso da amônia. As moléculas de

86 água atraídas pelas hidroxilas do tanino, pelo lado oposto das partículas, trariam ainda mais resistência ao escudo de proteção do sistema coloidal.

Este modelo de escudo propicia boa explicação ao fato experimental de que o látex de campo foi estabilizado contra a coagulação sem usar a amônia tradicional como conservante. Portanto, este escudo tanino-proteico construído em torno das partículas estaria impedindo-as de se fundirem umas com as outras, bem como evitando o ataque bacteriano às proteínas que rodeiam as mesmas partículas de borracha, o que está associado à deterioração do látex. A proteção do látex natural pode ser considerada uma conclusão inequívoca a partir de fatos experimentais que vão em linha com o esperável teoricamente a partir da reação entre tanino e proteínas. Se a proteção do coloide acontece é porque a reação de complexação entre tanino e proteína acontece, conforme a teoria, e a confirma.

Se esta reação acontece com as proteínas adjacentes às partículas, também deve estar acontecendo com aquelas que estão distribuídas no soro. Portanto, está acontecendo na prática a proposta básica desta tese, qual seja a mudança na condição das proteínas do LBN em dois sentidos, primeiro torná-las inviáveis para serem substrato da digestão bacteriana, e em segundo, que elas não reagissem mais como proteínas normais, especialmente as reações específicas de sensibilização alergênica.

Por outro lado, se este modelo é aceitável para explicar os resultados obtidos, pode-se esperar que proteínas ligadas às moléculas de tanino, sendo parte do próprio escudo, não atuem como alérgenos. Por limitações experimentais, este resultado não foi possível de produzir a partir dos planos experimentais como foi o caso da proteção do LBN contra deterioração biológica e coalescência sem utilização de amônia como conservante. Um quadro mais completo da diminuição da ação alergênica do LBN em função do tratamento com taninos será mais adequadamente produzido com procedimento experimentais específicos, incluindo metodologia e ferramentas científicas apropriadas e, até mesmo, a produção piloto de artigos como luvas para testes práticos. No entanto, os sinais que foram possíveis de se obter nesta experiência a partir do ensaio ELISA estão alinhados com o raciocínio de que o tanino está realmente bloqueando as proteínas em geral, inviabilizando sua atuação como proteínas, incluindo as reações alérgicas, sejam aquelas que envolvem as partículas, construindo o escudo, sejam aquelas que compõem o soro do látex.

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