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7 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7.2 DISCUSSÃO DOS ACHADOS DA ETAPA 2 DA PESQUISA

Nessa seção, serão apresentados os procedimentos que envolveram a elaboração de uma proposta de instrumento avaliativo da leitura para os alunos do 2º ano do Ensino Fundamental, contemplando o objetivo específico 2 (identificar os aspectos principais do desenvolvimento da competência leitora em crianças).

A discussão e apresentação dos documentos elaborados seguiram as orientações de Vianna (1978) quanto à organização e aplicação do teste, assim como dos estudos no campo da leitura com Solé (1998), Colomer e Camps (2002), Koch e Elias (2011) e sobre fluência com Rasinski (2004), dentre outros.

A organização dessa seção seguiu a ordem das fases de elaboração do teste identificadas a seguir.

a) Fase 1 – Elaboração da Matriz de referência

Inicialmente, ocorreu uma consulta aos seguintes documentos: Matriz de Referência para Avaliação da Alfabetização e do Letramento Inicial – Provinha Brasil (INEP), Matriz de Referência para a Avaliação – Provinha PAIC e a Proposta Curricular de Língua Portuguesa do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental e Pró Letramento: Programa de Formação Continuada de Professores dos anos/séries iniciais do Ensino Fundamental. Tal consulta teve o intuito de elencar as habilidades que seriam avaliadas no teste. Também foi consultado o acervo bibliográfico de Solé (1998), que sugere formas de avaliar a compreensão dos alunos com perguntas de resposta literal e perguntas para pensar e buscar.

Considerando, ainda, o que a atual ADR de leitura vem desenvolvendo e as sugestões dadas pelas professoras na entrevista durante a Etapa 1 da pesquisa, foi elaborada a Matriz de Referência para a avaliação da competência leitora exposta a seguir.

Quadro 9 ─ Matriz de Referência para a avaliação da competência leitora – 2º ano do Ensino Fundamental

EIXO 1 – APROPRIAÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA

Competência Habilidade (descritor) Detalhamento Reconhecimento

de letras.

Identificar as letras do alfabeto.

Avaliar a capacidade da criança de reconhecer uma determinada letra.

Desenvolvimento da consciência fonológica. Reconhecer unidades na dimensão fonológica como sílabas e rimas.

Avaliar a capacidade da criança de identificar: as rimas e sílabas em sons semelhantes no início, meio e fim da palavra.

EIXO 2 – LEITURA

Competência Habilidade (descritor) Detalhamento

Leitura de palavras

Ler palavras com sílabas no padrão

canônico.

Avaliar a capacidade da criança de ler palavras com sílabas simples (sílabas

canônicas). Ex.: sa-pa-to. Ler palavras com

sílabas no padrão

Avaliar a capacidade da criança de ler palavras com sílabas complexas

não canônico. (sílabas não canônicas). Ex.: pe-dra.

Leitura de frases Ler frases

Avaliar a capacidade da criança de ler frases com estrutura sintática simples

(sujeito, verbo e complemento) na ordem direta.

Leitura de texto Ler com fluência

Avaliar a capacidade da criança de ler com fluência o texto (precisão,

velocidade e prosódia) Localizar informação

explícita

Avaliar a capacidade da criança em localizar informação explícita em

diferentes gêneros textuais. Identificar finalidade

de um texto de diferentes gêneros.

Avaliar a capacidade da criança em identificar a finalidade ou “para quê” de

textos de diferentes gêneros.

Inferir informação em texto verbal

Avaliar a capacidade da criança em associar elementos presentes no texto

ou que se relacionem com a sua vivência, para compreender informações não explicitadas. Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Definindo-se as habilidades que compuseram a Matriz de Referência para a avaliação da competência leitora, foi possível elaborar o instrumental de avaliação, visto que a Matriz é o guia para a elaboração do teste.

b) Fase 2 – Elaboração do instrumental de avaliação da competência leitora – 2º ano do Ensino Fundamental

O instrumental da avaliação da competência leitora caracteriza-se por ser uma ação guiada pelo aplicador durante todo o teste.

A proposta foi organizada em 5 partes que estão descritas a seguir. Para avaliar as habilidades do eixo 1 – Apropriação do sistema de escrita dos descritores: identificar as letras do alfabeto e identificar as vogais, o teste traz a seguinte proposta:

Figura 7 ─ Guia de aplicação/Competência Reconhecimento de letras

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

O conhecimento das letras faz parte da etapa inicial do processo de alfabetização e possui forte relação com o posterior desempenho na leitura. O domínio do princípio alfabético integra as capacidades envolvidas na “leitura e na compreensão da grafia das palavras” (BRASIL, 2007, p. 28), sendo, assim, necessária a identificação de letras, compreendendo que esse processo envolve a correspondência som-letra, ou seja, cada fonema corresponde a um grafema. As letras que fizeram parte da avaliação foram as vogais e as consoantes quanto a uma única e mais de uma correspondência sonora.

Ainda nesse eixo, a proposta de avaliar o descritor Reconhecer unidades na dimensão fonológicas, como sílabas e rimas, foi a seguinte:

Figura 8 ─ Guia de aplicação/Competência Desenvolvimento da consciência fonológica

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

Como já destacado anteriormente, dada a importância no complexo processo que envolve a apreensão dos fonemas e o modo de representá-los, segue- se para a avaliação das unidades fonológicas, como as sílabas, começos e finais de palavras e rimas. Tal habilidade integra as unidades do sistema fonológico.

Na segunda parte do instrumento, no eixo 2 de leitura, foi avaliada a leitura de palavras, frases e texto.

A próxima etapa da avaliação é a leitura de palavras. Segue o item referente a essa habilidade.

Figura 9 ─ Guia de aplicação/Competência Leitura de palavras

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

Essa habilidade envolve o processo de decodificação de palavras que, em alguns casos, apresenta-se por meio de se decifrar letra por letra ou por unidades fonológicas, como as sílabas. A análise das palavras concretiza-se como momento importante, tanto pelo leitor inicial, quanto para o leitor maduro, ao ter contato com palavras nunca vistas antes. O avanço no processo de decifração segue para a etapa seguinte, ao ler reconhecendo globalmente as palavras. Aqui, a criança supera a análise dos componentes internos, favorecendo uma rápida leitura. Isso se deve ao repertório que ela vai acumulando. Ao ler um texto que possui uma frequência de palavras familiares, favorece-se uma leitura rápida e compreensiva.

Gradualmente, a criança adquire a capacidade de ler reconhecendo globalmente as palavras, que seria outro procedimento básico que ajuda a compreender, já que não é necessário analisar cada parte das palavras ou textos (BRASIL, 2007, p. 42).

Nesse item, tem-se a avaliação de palavras na estrutura canônica e não canônica. A intenção foi oferecer uma ampla combinação de estruturas silábicas para que, assim, o professor pudesse discernir as diferentes capacidades dos alunos diante da leitura dessas estruturas.

A etapa seguinte é a leitura de frases. Segue o item. Figura 10 ─ Guia de aplicação/Competência Leitura de frases

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

A leitura de frases envolve habilidades importantes como a decodificação de uma sequência de palavras, o reconhecimento dos espaços entre as palavras, cabendo esclarecer que a leitura está intrinsecamente relacionada à compreensão. Tais habilidades, para os leitores proficientes, passam despercebidas, dando o grau de automaticidade ao processo.

Na sequência, é realizada a avaliação da leitura de textos. Seguem os itens.

Figura 11 ─ Guia de aplicação/Competência Leitura de texto (fluência)

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

Para esse momento do teste, foi inicialmente solicitado à criança que realizasse uma leitura silenciosa, antes da leitura em voz alta. Solé (1998, p. 98, grifo da autora) ressalta que, antes de observar os aspectos que envolvem a fluência, faz-se necessário oportunizar à criança uma “leitura individual, silenciosa, permitindo que o leitor siga seu ritmo, para atingir o objetivo ‘compreensão’”. Seguir tais recomendações favorece a eficácia da leitura em voz alta e com compreensão do texto, pois permite que a criança, no primeiro contato com o texto, silenciosamente e individualmente, construa significados antes de oralizar. Tradicionalmente, nas salas de aula e em momentos de avaliação da leitura, ocorre

a solicitação da leitura em voz alta da criança, sem ter lhe oportunizado uma leitura prévia do texto. Tal procedimento didático pode desencadear uma compreensão errônea para os aprendizes iniciantes, os quais acreditam que ler é dizer o que está escrito em voz alta.

[...] a leitura em voz alta não passa de um tipo de leitura que permite cobrir algumas necessidades, objetivos ou finalidades de leitura. A “preparação” da leitura em voz alta, permitindo que as crianças façam uma primeira leitura individual e silenciosa, antes da oralidade, parece-me um recurso que deveria ser utilizado (SOLÉ, 1998, p. 99, grifo da autora).

Considerando a importância desse momento inicial, foi solicitada à criança uma leitura silenciosa e, em seguida, em voz alta para, então, observar os aspectos que constituem a fluência: precisão, velocidade e prosódia. O gênero escolhido foi uma poesia de três estrofes, com o tema: animais.

No segundo momento, foi solicitado à criança que respondesse a algumas perguntas com o intuito de verificar o que compreendeu do texto.

Figura 12 ─ Guia de aplicação/Competência Leitura de texto (compreensão do texto)

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

A estratégia de formular perguntas para serem respondidas pelos alunos é uma das formas de conhecer o que aluno compreendeu do texto lido. Solé (1998), Colomer e Camps (2002) indicam, também, outras estratégias, como a ideia principal e a elaboração do resumo, para serem trabalhadas em sala de aula. Para o teste, optou-se por elaborar perguntas que avaliam as habilidades de localizar informação explícita, identificar finalidade de um texto de diferentes gêneros e inferir informação em texto verbal.

c) Fase 3 – Elaboração do Guia de elaboração da avaliação da competência leitora – 2º ano do Ensino Fundamental

O guia de aplicação foi elaborado a partir de um conjunto de recomendações e instruções para a padronização da aplicação do teste. De acordo

com Vianna (1978), uma aplicação viciosa do teste, além de comprometer os resultados, impossibilita a comparação entre grupos ou indivíduos examinados.

O guia de aplicação elaborado apresenta todo o material que será utilizado do Kit “Já sei ler!” (nome escolhido para o material de aplicação) que se constitui dos seguintes itens: a) uma caixa grande e colorida; b) letras em MDF; c) fichas com figuras, palavras, frases e texto. Há também um manual que orienta os procedimentos antes, durante e depois de cada etapa do teste, associado a cada item, como visto no tópico anterior.

Figura 13 ─ Protótipo do Kit “Já sei ler!”

Fonte: Elaborada pela autora.

d) Fase 4 - Elaboração da folha de registro para a avaliação da competência leitora – 2º ano do Ensino Fundamental

A folha de registro tem a função de sistematizar os resultados observados durante a aplicação do teste, sendo um item necessário para o acompanhamento da aprendizagem em posteriores aplicações. Tal recurso pode vir a ser utilizado para alimentar o sistema de avaliação de uma Rede de ensino.

Figura 14 ─ Folha de registro

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

No verso da folha de registro, tem-se, no primeiro momento, (Figura 14) o registro da avaliação da dimensão “Fluência”, que se subdivide em três aspectos: precisão, velocidade e prosódia (RASISKI, 2004).

Para a avaliação do primeiro aspecto, o professor deve observar o número total de palavras presentes no texto e registrar o número de palavras lidas corretamente pelo aluno. Acerca do segundo aspecto, velocidade, deve-se anotar o tempo da leitura realizada pelo aluno.

Quanto aos elementos da prosódia, é necessário observar as pausas e entonações que as crianças realizam ao longo da leitura. É preciso registrar se a criança respeita as vírgulas e pontos finais na leitura e, ainda, se dá a real entonação nas sentenças indicadas pelos pontos de exclamação e interrogação.

Há também um quadro no final da folha de registro para que o (a) professor (a) registre as palavras lidas incorretamente pelo aluno. Assim, ele pode verificar a incidência de erros do aluno numa primeira instância e depois verificar de toda a turma. Esse diagnóstico a mais favorece o trabalho do (a) professor (a) para o planejamento das intervenções pedagógicas acerca de dificuldades na

descodificação, ou seja, erros na leitura de letras, sílabas e palavras, assim como leitura lenta com vacilações e repetições.

Em relação à compreensão do texto, tem-se a condição do aluno apresentar ou não as habilidades escolhidas para o teste, a partir das análises das respostas dos alunos.

Figura 15 ─ Verso da Folha de registro

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.