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Discussão dos resultados do estudo comparativo entre as diferentes etnias

Parte II – Estudo Empírico

Capítulo 7 – Discussão

7.7 Discussão dos resultados do estudo comparativo entre as diferentes etnias

A presente investigação teve também como quarto e último objetivo, investigar se existiriam diferenças na utilização das estratégias de regulação emocional em função da etnia e se cada uma delas se relacionava com algum tipo de estratégia de regulação emocional em particular. Neste âmbito, foram colocadas quatro questões de investigação11:

(1) será que as crianças e adolescentes de etnia portuguesa utilizam mais a Reavaliação

Cognitiva do que as crianças e adolescentes de etnia africana ou Cigana?

A realidade comparativa obtida em função da etnia, permitiu perceber que existiam diferenças estatisticamente significativas apenas ao nível da utilização da Supresão Emocional, pelo que a resposta a esta questão é negativa, não se tendo constatado diferenças no que respeita à utilização da estratégia de Reavaliação Cognitiva.

11 Todas as questões foram formuladas tendo por base os resultados dos estudos anteriores realizados com a

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A partir da análise das comparações múltiplas dos testes post-hoc, verificou-se a superioridade na utilização da supressão nas crianças e adolescentes de etnia Cigana em relação às crianças e adolescentes de etnia portuguesa e africana. Foi possível perceber que as crianças e adolescentes de etnia portuguesa e africana não apresentam diferenças entre si em termos de estratégias de auto-regulação emocional utilizadas, o que não é concordante com os resultados obtidos em estudos anteriores realizados com adultos, tendo em conta a dimensão Individualismo/Coletivismo. Uma possível explicação para os resultados obtidos, é que estes possam ter refletido aspetos associados à integração social, uma vez que, considerando o que foi dito por Magano e Silva (2009), os indivíduos portugueses de etnia Cigana apresentam tendencialmente um nível inferior de integração social que os portugueses de etnia africana. Deste modo, parece haver uma maior aproximação dos indivíduos portugueses de cultura africana aos valores individualistas da etnia portuguesa, enquanto os indivíduos de etnia Cigana provavelmente mantêm uma cultura arraigada aos valores colectivistas. Por um lado, são frequentemente alvo de fenómenos de exclusão e marginalização e, por outro, são os próprios que ao procurar manter a sua identidade cultural e coesão grupal, tendem a não procurar estabelecer relações sociais com os outros grupos étnicos. Ambas as situações parecem poder explicar a maior frequência de utilização da Supressão Emocional, que poderá cumprir uma função essencialmente defensiva e protetora. Esta explicação, permite responder à segunda questão:

(2) As crianças e adolescentes de etnia africana ou Cigana (colectivistas) recorrem mais

à Supresão Emocional, do que as crianças e adolescentes de etnia portuguesa, (individualistas)?

A resposta é negativa, particularmente porque apesar de terem sido identificadas diferenças, estas não parecem ser explicadas pelo critério utilizado para distinguir as etnias (dimensão Individualismo/Coletivismo).

(3) Será que as crianças e adolescentes de etnia portuguesa utilizam preferencialmente a

Reavaliação Cognitiva como estratégia de autoregulação emocional?

Os resultados mostram que as crianças e adolescentes de etnia portuguesa utilizam como estratégia preferencial de autoregulação emocional a Distracção, pelo que a resposta a esta questão é negativa. Contudo, salienta-se o facto desta estratégia estar integrada na dimensão Reavaliação Cognitiva na estrutura do estudo original, o que permite supor que, caso a estrutura

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de dois factores se revelasse ajustada, iria surgir a Reavaliação Cognitiva como sendo a estratégia mais utilizada por estas crianças e adolescentes.

(4) será que as crianças e adolescentes de etnia africana ou Cigana, colectivistas, utilizam

preferencialmente a supressão para regularem as suas emoções?

Tanto as crianças de etnia africana como Cigana utilizam preferencialmente a estratégia de Distracção, o que permite responder negativamente a esta última questão.

Ainda no âmbito do terceiro objetivo de estudo, investigou-se a existência de diferenças em função da etnia relativamente aos níveis de Bem-estar psicológico e Satisfação com a Vida entre etnias.

Em relação ao Bem-estar psicológico, verificou-se que a etnia teve um peso significativo na diferenciação dos grupos, ao nível da dimensão Cognitiva Emocional Negativa, do Apoio Social e do Indicador Total de Bem-estar psicológico, sendo que a significância estatística foi encontrada na diferença entre a etnia Cigana e a portuguesa na dimensão Apoio Social e que a etnia Cigana se distingue ainda da etnia portuguesa e da africana na dimensão Cognitiva Emocional Negativa e quanto ao Indicador Total de Bem-estar psicológico.

Quanto à maior frequência de auto-verbalizações e emoções de valência negativa nas crianças e adolescentes de etnia Cigana comparativamente às crianças e adolescentes de etnia portuguesa e africana, esta poderia associar-se à maior utilização da supressão enquanto estratégia de regulação emocional, tal como está descrito na literatura. No entanto, aquando o estudo correlacional, não emergiu uma relação significativa entre estas duas dimensões, o que permite supor que a utilização da supressão não foi preponderante nos resultados obtidos ao nível da escala Cognitiva Emocional Negativa, surgindo novamente como hipótese de variável influente, a integração social.

A constatação do menor Bem-estar psicológico geral das crianças e adolescentes de etnia Cigana, comparativamente ao das crianças e adolescentes de etnia portuguesa e também africana, está em concordância com o que está documentado em estudos anteriores realizados com adultos, em que a maior presença de emoções de valência negativa surgiu associada a um menor Bem-estar psicológico, suportando a descoberta anteriormente mencionada. A questão equacionada relativa à integração social, remete para o facto das crianças e adolescentes de etnia Cigana serem parte do grupo étnico com o menor estatuto social percebido em Portugal (Cabecinhas, 2003), cujas comunidades têm frequentemente piores condições de vida, o que

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poderá contribuir para a experiência de emoções e pensamentos de carácter negativo e menor Bem-estar quando em comparação com as crianças e adolescentes da etnia africana (que embora constituam o segundo grupo étnico com menor estatuto social percebido, se encontram, comparativamente, mais integradas) e com as crianças de etnia portuguesa que pertencem ao grupo étnico com maior estatuto social percebido no país. A diferença encontrada relativamente ao Apoio Social percebido, que foi menor nas crianças e adolescentes de etnia Cigana que nas de etnia portuguesa e africana, poderá associar-se a este último aspeto, na medida em que ao estarem eventualmente menos integrados, poderão percecionar as fontes de apoio como não estando disponíveis, como por exemplo no meio escolar em que são frequentemente alvos de maior rejeição (Martins, 2007).

Por último, concluindo a análise que permite cumprir na totalidade o terceiro objetivo definido para este estudo, não foram encontradas diferenças entre crianças e adolescentes das etnias portuguesa, africana e Cigana, quanto à Satisfação com a Vida.